Depoimento de agradecimento

Cerca de 106610 depoimento agradecimento Depoimento de

Um homen não é mais que o outro, apenas um faz mais que o outro.

Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

Álvaro de Campos

Nota: Trecho do poema "Acordar"

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!

Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!

Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?

A inércia é o meu ato principal.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Eu não devia te dizer , mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo.

Nada fixa alguma coisa tão intensamente na memória como o desejo de esquecê-la.

O que muda na mudança,
se tudo em volta é uma dança
no trajeto da esperança,
junto ao que nunca se alcança?

Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.

A uma mulher

Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.

Rio de Janeiro, 1933

Não há mal pior que a descrença, mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão.

Vinicius de Moraes
Álbum "Como dizia o poeta"

Nota: Trecho da música "Como dizia o poeta"

...Mais

Achar-se situada à margem do mundo não é posição favorável para quem quer recriá-lo.

Simone de Beauvoir
BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo Vol 1: Fatos e Mitos, Difusão Européia do Livro, 1967

Que suavidade encontraria nestes olhos verdes se os tivesse amado!

Todo homem que teve amores verdadeiros, revoltas verdadeiras, desejos verdadeiros, e vontades verdadeiras, sabe muito bem que não tem necessidade de nenhuma garantia extrema para ter certeza dos seus objetivos; a certeza provém das próprias forças propulsoras.

Simone de Beauvoir
BEAUVOIR, S. The Ethics of Ambiguity,1947

Cheiro de cama quente, corpo ardente e perfumado recendente.

Mário de Andrade
ANDRADE, M., Contos Novos, 1947

A ignorância, a cobiça e a má-fé também elegem seus representantes políticos.

"Você não se sente sozinha aqui no deserto?"
"No meio da multidão também nos sentimos sozinhos."

As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Nunca fique implorando por aquilo que você tem o poder de obter.

Endechas a Bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.

Se acolho um amigo à minha mesa, peço que se assente e, se é coxo, não peço que comece a dançar.