Dedicatoria para uma Filha na Bencao das Fitas

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Pode até
Parecer poesia
Mas não é
O modo como a gente
As diferencia
Conta muito mais
Uma coisa entre o vento
que corre e que varre
E o ventre da terra
que produz e reproduz em paz; que multiplica
Entre a morte, que não morre e que não erra
E o tempo, que apesar de não ser eterno
Ao que tudo indica
Corre eterno, eternamente
A noite que se vai, pra dar lugar ao dia
A noite que chega no final do dia...e fica
Pode parecer poesia
Porém, essas são perfeitas
Outras, hoje a gente ajeita
Amanhã, as modifica
Pois precisam ser refeitas.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

Aqui na minha rua
Tem uma casa que fica
No quintal de um pé de nada
E mora debaixo da lua
Quem a vir, de olhar distante
Na hora em que brilhar de iluminada
Nem nos seus melhores sonhos
Desconfia da alegria que morava lá
Mas mudou-se, escondeu-se igual
Só que ora, distante
Sob um pé de pensamentos
Entremeado de dimensões
Mas que morreu de seco e quedou-se no próprio eco
Só que esse era mudo, era atroz qual num galope
Mas não tinha voz
Era feito de espera, era quase perfeito
Penso que quem não o conhece
Pode ser que pense que era e o compre
Pois o som não se propaga no silêncio...o rompe.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠"Aqui na minha rua
Tem uma casa que fica
No quintal de um pé de nada
E mora debaixo da lua
Quem a vir, de olhar distante
Na hora em que brilhar de iluminada
Nem nos seus melhores sonhos
Desconfia da alegria que morava lá
Mas mudou-se, escondeu-se igual
Só que ora, distante."

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠De tanto as folhas crescerem
Chega uma hora em que o galho desce
Já não existem mais escombros sob a sombra
Há paz e alegria de sobra
Só quem chora é a chuva
Mas ela nem chove agora
Houve um tempo em que sobravam dias
Agonias normais
De tanto ver cairem as folhas
Chega uma hora em que ninguém repara
E de tanto sobrarem dias
As horas, feito feras, só se maltratavam
Não havia ombro onde chorar
Tinha o ar, que se movia
Tinha a chuva que molhava, indiferente
E de tanto ver crescerem as sombras
Chega uma hora em que os olhos secam
Broncos, endurecem tanto quanto o pé de amora
Hoje, quando a chuva chora, as folhas verdejam
E o coração, na paz de um tronco, parece até que nem se molha
Agora, a tudo carrega dentro de si
De modo, que todo aquele que passa e que olha, não veja.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Eu tanto pensava em colher em vida
Um espaço entre quatro linhas
Linhas tortas, quiça tivesse
Uma horta de flores que Deus me desse
Regadas da dor doída, ao longo de uma jornada
Eu tanto quis, de querer
Um querer que me foi verdadeiro e existe ainda
Um simples canteiro de céu
Daqueles que nos ensinaram que existia
Desses, que eu tanto ensino a quem puder
Que eles existem
Um pedaço qualquer entre algumas linhas
Daqueles, com nome da gente escrito
Que ao longo do tempo é que se descobre
O quanto era pobre esse nosso pensar
Sobre dor doída ou de sofrimento
Não era, essas coisas não eram minhas
Era apenas sobre toda raiva
Que não fosse devolvida
Era sobre deixar aqui, quando voltar
A todo pedido de desculpas
Que devia ter pedido e que não foi pedida
Era sobre aprender a enxergar
Uma grande conquista
Um tanto assim de céu que já temos
Todo dia sobre as nossas cabeças vazias
Repletas de atmosferas
Era sobre saber ver apenas
Pequenas coisas que estão bem diante das nossas vistas
Pouco importa as flores que cresçam lá
Que nem cresçam, que nasçam mortas
Gira sobre a complexidade das coisas simples
Que tanto nos esforçamos em torná-las complicadas
E, no final, o mais nos interessa
Não passa de um monte de nada, de todo sinceras
É a surpresa de perceber
Que agora, quase nada mais nos surpreende
São as dores que não mais queremos
É o amor que nos ensina a não querer deixar elas aqui
Pra que outros também as sintam
E essa forma sucinta e profunda de viver a vida
É que haverá de regar ou não
Os jardins da outra vida
Porque tudo sempre recomeça
No lugar exato onde termina
Esquecer a pressa de sentir-se
Triste ou feliz
Essas coisas vem
E são sempre mais pesadas para quem não quis
Quando tudo volta e se mistura
E nada mais se encontra
É ali que se acha o segredo
As flores, canteiros, os medos da vida
Uma orquestra de letras e notas misturadas
Volta tudo pro universo enorme
Com o nome da gente escrito
Onde tudo é mais pleno e bonito
Quanto mais pequeno
E sereno é o pranto
Se eu pensar menos em mim
A vida é mais simples assim.



Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠"Estava desde sempre tudo escrito
era tudo uma ilusão sem chão que se cumpria à toa e bem
Iludir-nos
era a parte que nos cabia. "


Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Havia uma nuvem pintada
Numa parede da minha infância
Eu olhava pra tela e pensava
Que nuvens pintadas não chovem
Não se movem com o vento
Não matam a sede e nem fazem crescer as flores
Passa o tempo, isso arrepia!
As pessoas partem noutras nuvens frias
E as imagens que trazemos
Vivem à margem dessa nossa realidade
Mas, como eu disse, o tempo passa
Enquanto isso, nós passamos juntos
Apesar de juntos, sós
As nuvens de verdade, elas choveram todas
Num ciclo eternamente interminável
O mar arrebenta
Mas aquela velha amiga nuvenzinha
Ainda ostenta a mesma idade
Meu Deus, se ela me visse agora
Talvez fosse a vez dela, então, se perguntar
Por que é mesmo que as pessoas choram
Por que o tempo não demora um pouco mais
Mas, cada coisa tem o seu lugar
no espaço e no tempo
Hoje, logo cedo, os dois sairam pra brincar
Lembrança guardada
Se meus braços te alcançassem
Se hoje meus olhos te vissem
Como a vejo em meus olhares
Hoje eu te diria, minha amiga nuvem
Que é bem pouca a diferença
Nessa dimensão, cá onde estou
O tempo lento passa mais depressa
Chego mesmo a ter a impressão
Que ele, cruel, nos atravessa
Enquanto isso, você
No perene silêncio do seu céu de nuvem pintada
Atravessou comigo um universo e a vida
Choveu nos meus dias
Regou sim, muitas flores
Em cada poesia que eu lia, era ela
Soprando, nos ventos que as moviam
E foram muitas as sedes saciadas
Sim, de alguma maneira e apesar da distância
Também veio junta
Desde aquela vez, na infância
Pois não há nada na vida
Cuja função seja nada.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Sós, sob o Sol
Assim que todos nós nos sentiremos
Após muitos sóis
E depois de uma porção de céus
Não, a vida não foi tão breve assim
Nem todo céu tão leve
O segredo do deserto, que de perto é nada
é só saudade do silêncio que me viu passar
Um lugar perfeito, todo feito de verões
Onde Juntos caminhamos
Pouco importa, estamos sempre sós
Se fizemos coisas importantes
Sem deixar nem sombra
Nem lembrança e nem certezas
Nada que se vê, não temos
É só uma nuvem de pássaros a vida
Que se espalha, se desfaz
Chegam perto de vez em quando
Até parece que nos toca e segue a vida
Chega um dia em que ninguém
Nem chora mais, ensimesmados
Deixa de lado, se vai como um embriagado
Desiludidos dessa falsa embriaguês
Uma estrada descalçada, ilusória
Estrada só...sob o sol que brilha
Uma trilha escura, falsa iluminada
Deserta, que de perto é nada
Só o silêncio da saudade
Que teve um dia uma ilusão de ver passar.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Plantei-me uma semente de silêncio
Em meio a uma floresta
De outros pés de sons intensos
O silêncio, que era bom, vingou
Germinou como quem nasce
Se plantado em lua crescente
Desde então, esse só cresce
Incessante, insistente
Chega até dar medo
O outro nome que a isso se empresta
é pé de segredo
O silêncio, se é que eu sei
Não tem nenhum compromisso
Não tem lugar onde chegar, nem idade
Pois desobedece o tempo
É uma planta temporã, sem lei
Pode ser que, se plantada de manhã
Se agigante
Pode ser que se atrase
Talvez pareça até ter fases
Da lua, pra que cresça
O nome disso é verdade
Pode parecer que sim
Pode parecer que quase
Mas no fim
Um dia, numa madrugada fria
Quando todo mundo
Tá incauto e dormindo
O silêncio dá seus frutos: imbróglios
São tantos
Que os outros dez mil sons se calam
Fingem mudos, se embalam
Olhos astutos, mudos lábios
Mono silêncio, uníssono
É quando esse som grita até
Chega a ser bonito de se ver
E não se ouvir.

Edson Ricardo Paiva

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Se Deus me permitisse hoje
Dirigir uma oração
Eu a dedicaria a toda porta que se fechou
Diria para a chuva que me molha só
No fim da viagem perdida
Às janelas onde eu olho e não vejo sorriso
Eu diria que não preciso de nada disso
Que a porta se feche e me deixe aqui fora
Que a viagem se perca, porque ainda há todo um mundo
E ele prossegue e segue em frente, muito após aquela cerca
E que eu e a chuva estamos sós
Mas que nunca estivemos sozinhos
Porque ainda temos a nós
E temos muitos lugares onde ir
Temos os olhos do céu para olhar
E tantas estrelas a quem confessar
Dizer tudo que queria dizer
Mas que jamais foi escrito
Dizer que a estrada termina
E que o lugar ao final do caminho era bonito
Tinha toda uma primavera por lá
Mas que eu não preciso de nada disso
Eu tenho a chuva ainda
Ontem ela veio de madrugada
Veio assim, do nada
E eu tenho o nada, ele traz coisas que são de verdade
Coisas assim, tipo a chuva e a saudade
Pois os olhos da noite, quando brilham no sereno
São coisas que se encaixam nos meus sonhos
Nos meus olhos tristes e sem viço
Pois o fim da estrada ainda existe, ele está lá
Mas ninguém precisa vir...esquece
Não precisamos de nada disso.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Ontem fez uma noite linda
Como há meses eu não via
Não sei dizer se não atentei
Ou se foi a lua que não veio
Pode ser que eu só tenha olhado pro chão
Ou que foi o meu lado sombrio
Haja vista se era frio ou calor, nada senti
Tem coisas que a vida faz
Assim como as dores
Com o passar dos dias
Nem se reconhece mais nem flores
Não sei dizer se era dor
Só sei lembrar que doía
Chega um tempo em que não faz menos sentido
Até que, numa noite qualquer, nem mais
Se vê que a lua é linda, ainda
Mas que os seus olhos de vê-la
Não olham com a mesma lógica
Nem mesmo com a mesma óptica
Por isso não vê como a via
O coração, de forma arredia
Pede explicações da vida à ela
A vida, cansada de vivê-la, bruxuleia a lua
Qual fosse nada mais que luz de vela
A esperança traz a estrela da manhã
O cansaço trança as pernas, lança um olhar ao tempo
Com ar de cumplicidade criminosa
Um sorriso sereno, que parece inofensivo
Num truncado impiedoso que esse tudo fez da gente
Uma corrente de vento, um frio recorrente
Saudade cortante de algo que nem viu ainda
A face linda da lua escondida
Um lado desconhecido da noite e da vida
Não sei dizer se era silêncio
Ou se era apenas uma ausência de ruido em meus ouvidos
Naquela hora sagrada, em que a vida não diz nada
Onde um coração, calejado, entende tudo
E se lembra de uma frase há muito lida
Descobre que a compreendeu, com ar de sabedoria
Embora tarde, era sobre outra coisa que ela versava
Arde de forma boa, como a noite linda
E que tinha sido linda desde sempre
Pode ser que tenha sido eu a deixá-la voar à toa
Que mirei o olhar ao chão e que ali deixei ficar
Por que não há de ser o mundo assim também?

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Era uma vez, um dia que amanheceu
Simples, puro e singelo
E que nos trouxe uma poesia
Um poema que versava sobre o dia que nasceu
Onde o sol brilhou pra mim e pra vocês
Como uma folha em branco
Um tecido de linho
Um pássaro num ovo em casca
Uma garrafa ainda cheia de vinho
Uma lasca de madeira que queimava
Pra acender a fogueira do longo da vida
E que logo se espalhava
Pelo dia, pela vida toda; inteira
Era uma vez uma manhã
Que não era como outra qualquer
Era a primeira
Tão pura, a ponto de desconhecer
Que de fato nem sempre a primeira
Chega a ser a mais importante
Apesar da primazia
Com o tempo ele tornou-se
Apenas um outro qualquer
Só mais um dia
Os sinais do mundo
Espalhados pelo caminho
Assim como o branco do linho, de vinho entornado
Um pássaro que alçava voo
E o galgou pra distante do ninho
O poder sutil do tempo
Uma tarde se setembro
A flor que se abriu
O olhar que se foi
Existe uma parte na vida
Que se chama nunca mais
Tempestade em tempestade fez o rio
O leito, a corredeira
Que correu do seu jeito a vida inteira
E que um dia secava
Porque nada é pra sempre
Além do nascer dos dias
No seu ciclo eternamente interminável
Onde a ausência de regras
Era a única que se seguia
Amanhece pra que pássaros acordem
Que se entreguem a formidáveis canções
Em poemas que versassem
Sobre cada dia que corresse
E que fossem ímpares aos pares
À espera de nada, nem de olhares.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Eu não sei de nada
Queria entender
O que existe pra ser eterno
Nunca é maior que uma nuvem
Que a paisagem na lembrança
Não, não entendo esta vida
A alegria fingida de dia
Da alma que acorda rasgada
O olhar que se fecha e divaga
Veneno cortante
De flecha zunindo
Esse ar que se rarefaz
Senta, sente assim
Cada gargalhada, cada passo
O sereno cansaço
Só pressa é quem cumpre a promessa
Aquilo que destoa
É coisa à toa que não vale a pena
Resta a alma ensimesmada
O chorar só pra si
Seu sorriso às avessas
A colheita da escolha fria
Plena, pequena, perfeita, vazia.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠A galinha que um dia conheceu a companhia da águia, sentir-se-á uma águia pelo resto da vida, mas a sua natureza sempre a conduzirá à companhia dos frangos e ali ela vai ciscar e cacarejar como galinha, pois foi o que o Divino prescreveu para os da sua laia.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Não me alegra
Nem me traz alento
Chega e penso em me deixar
Não que isso seja uma regra
É só o preço da vida
Me contento
Tem dias que o pensamento carrega
Tem dias que é o vento
Sim, tem dias que venta ainda
Não me alegra, nem me alenta
Tem dias que arde o sol
Noutros caem folhas
E que a tarde cinza fica linda.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠O inverno vem
E o frio trouxe uma versão profunda
das coisas invisíveis que essa vida tem
Pois, quando a estrada foi florida
Cada qual tinha as mãos dadas
Numa ilusão acompanhada
O inverno vem
E frio traz uma versão vazia em nossas casas
Os velhos bancos de madeira
Há muito se tornaram cinzas
No calor da fogo há companhia
Verdadeira e quase que tão passageira
Quanto as mãos que seguraram velhas mãos
Não tem mais quadros na parede
Não há porque encher os cântaros
O inverno carregou também a sede
Ainda resta alguma coisa
E ela só presta pra queimar
Dentro em bem pouco
Quando anoitecer no quarto morno
Do forno triste desse inverno interminável
Que existe sim, pra todos nós
Dentro de cada um
Esperando apenas pelo escurecer.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Meio poema.

Hoje
Amanheceu assim, meio que colorido
Assim me veio
Meio que uma ideia
Meio que um acordo
Selado comigo
Por medo de um medo alheio
Se a cor do dia trouxesse
Aquela alegria
Que tem dias a gente
Palmeia na mente
Que tanto a semeia no peito
Do jeito que anseia
De tantas vezes
Que ela veio e desviou-se
Mas hoje, essa manhã tão colorida
Trouxe meio que o doce da vida
Meio que rateada
Trouxe um pouco
Um quase nada de esperança
Creio eu que seja fruto
Da sabedoria adquirida
Depois de tanto dia amanhecido em minha vida
Cuja mensagem, que vejo na imagem do dia
É a de que toda e qualquer esperança
Cuja cara de alegria faz
Sobrepuja, ultrapassa veloz
A toda experiência atroz vivida
E que a menor de todas as simplicidades
Elas sempre se sobrepõem em graça
Expondo a verdade e o sentido da vida.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Ainda se fosse
Uma tarde doce
Nem precisava ser linda
Pelo menos perdurasse
E essa nuvem me dissesse
O que é que o Sol tá querendo
Escondido atrás dela
Ainda se fosse
Uma tarde ao menos bela
Nem carecia ser linda
A chuva descia de lá pra me contar
O que é que o luar pretende, homiziado
Lá do outro lado do mundo
Ainda se essa tarde
Que mais me parece um lamento
Esse céu mais cinza que cimento ressecado
Me deixasse a par de tudo que a rosa pretende
Essa rosa seca, com cara de veludo velho
E esse ar de quem viu tudo
Mas que finge que olhou pro outro lado
Ainda se eu soubesse
Ah, Deus meu, se eu soubesse!
Nem precisava a tarde ser doce
Não fazia questão que fosse linda
Mas então a chuva veio
Meio que chuviscada
E ela não me trouxe nada
Além de partículas de tristeza condensada
Que se encontravam suspensas
Sobre as nossas cabeças despreocupadas
Só que a tarde não perdura; escurece
Por que é que não foram chover lá no mar?

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Poema de infância.

Uma folha de papel
Creio eu que era de pão
Nem chegava a ser folha inteira
Acho que meia folha não era
Creio eu que era quase meia
Era infância ainda
Talvez fosse um dia de verão
Creio eu que era primavera
Só me lembro que fazia uma tarde linda
Creio eu que depois choveu
Faz muito tempo aquele dia
E, se é que choveu
A chuva foi mais linda ainda
Era um tempo de paz, talvez
Não existe certeza de mais nada
Hoje eu penso que paz nunca houve
Então eu desenhei um peixe no papel
Me deixem chamá-lo assim, de peixe
Pode ser que fosse um golfinho
Pois não caberia uma baleia
Numa folha tão pequena, diminuta
Que não chegava nem a ser meia
Daquelas que, na alegria da infância
Se cata na ventania
E guarda pra sempre na alma
Com a calma dos anos passados
Mas agora eu compreendo
Que momentos bobos assim
São os que vão ficar eternizados
Uma tarde chuvosa
Num papel amassado
O mesmo sol, que hoje arde no céu
Mas compreenda
Que há tardes em que brilha diferente
O Sol, o céu, o golfinho, a felicidade
Na verdade essas coisas existem
Muito menos neste mundo em que vivemos
E muito mais
Aqui, no coração da gente.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva

⁠Semana Passada.

Passei a semana sozinho
Da vida passada
Só, semana inteira
A podar uma roseira
Ela está viva
Só isso valeu-me uma vida
E viva a vida da roseira
Vivam as pétalas aveludadas
Onde corre viva a seiva
Mesmo assim
Não morre a morte viva
Porque ocorre a vida
Ela é sagrada
Folhas se vão
Cansadas da vida
Nada muda a lei
Caem ao chão, sob cortes
Dando um novo norte à vida
Que por toda semana esperei
Revivida, renovada
Vívida, aveludada
Quando a luz e o colorido
Ao olhar reluzente
Que apesar de tudo
Não percebe o tempo a correr diferente
Às gentes e as rosas
Fototropismos e fotografias
Morte e vida e luz no horizonte
Passei a semana inteira
Decorando a cor do pôr-do-sol
Enfeitando o chão do coração da rosa
Ouvindo a maneira
Silenciosa e alvissareira
Fecunda e auspiciosa
E fiz vir ao mundo
Outra rosa da velha mesma roseira
Tão vermelha quanto a branca luz
Que se parte em amarela e azul
Violetas da arte divina
Cristalina luz
De maneira que este mundo
Se fizesse, ao menos temporariamente, leve
Menos cinza e menos triste a olhar pra gente
Porque é breve a vida.

Edson Ricardo Paiva.

Inserida por edsonricardopaiva