De Repente Nao mais que Derepente

Assusta pensar que talvez a admiração mais sincera de que gozamos seja a das pessoas que não nos compreenderam.

A moral não é mais do que a regulamentação do egoísmo.

Não há nada que determine mais o que seremos do que as coisas que optamos ignorar.

Basta... sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo.

A imaginação não é mais do que a pessoa arrebatada nas coisas.

Não se pode pedir ao artista mais do que ele pode dar, nem ao crítico mais do que ele pode ver.

O instinto do mal é extremamente forte no homem; se não é combatido cresce sempre mais e apodera-se dele dominando-o.

Não existe hóspede, por mais amigo que seja de quem o recebe, / que não comece a incomodar depois de três dias.

Não basta fugir, é necessário fugir-se para o lado mais conveniente.

Quantos anos tenho?... É evidente que um homem, na minha idade, não pode ter mais do que isso.

No amor o mais importante é não fazer mal à outra pessoa. É secundário que se atinja este objetivo pela mentira ou pela honestidade. Infelizmente quase toda a gente odeia ser enganada.

Estamos mais preparados para tentar o não tentado quando o que fazemos é inconsequente. Daí o fato notável de que muitas invenções tenham começado como brinquedos.

Não há nada mais estúpido do que um sorriso estúpido.

A minha suspeita é de que o universo seja não apenas mais estranho de quanto supomos, porém mais estranho do que podemos supor.

CANÇÃO

Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.

Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.

Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.

Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.

Que tudo o mais é perdido.

Não há época mais feliz na vida de um homem do que depois do seu primeiro divórcio.

Nada contribui mais para a serenidade da alma do que não termos qualquer opinião.

O mais grave no nosso tempo não é não termos respostas para o que perguntamos - é não termos já mesmo perguntas.

Para se alcançar, quanto mais não seja, a fama do pai, é preciso ser-se mais hábil do que ele.

O homem nasceu para o prazer: ele sente-o e não precisa de mais provas. Ele segue assim a razão, entregando-se ao prazer.