Cronicas de Miguel Falabela

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Bom dia! Que bênção meditar no Salmo 28:7: "O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido; assim o meu coração salta de prazer, e com o meu canto o louvarei." 📖🙏Este versículo nos lembra que Deus é nossa proteção e fonte de vigor nos desafios diários do ministério e da vida cristã. Quando confiamos Nele, recebemos socorro que enche o coração de alegria e nos leva a louvá-Lo em cântico.
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Há alturas que só se alcançam quando a gente se abaixa. Descobri isso ajoelhado, diante do meu sobrinho — um pequeno mestre que ainda chama o tempo de milagre e o quintal de mundo.

Aprender a ser grande não tem nada a ver com subir, conquistar ou colecionar aplausos. Tem a ver com reaprender a ver do chão, de baixo, da inocência que a pressa desaprende. O olhar das crianças não mede, não julga, não calcula. Apenas acolhe. E quem acolhe, cresce.

Ajoelhar é um gesto sagrado: é dizer ao universo que não se esqueceu de onde veio. É lembrar que a sabedoria mora nas alturas baixas, nas perguntas simples, nas respostas que ainda não têm forma.

Ser grande, talvez, seja isso: caber inteiro num instante pequeno.
Porque quem se abaixa para amar, se eleva sem perceber.

— Douglas Duarte de Almeida

O silêncio chega sem aviso, atravessa o corpo e nos obriga a olhar para o abismo do que somos. O “eu” é apenas um fio, tecido por memórias que se apagam e ecos que nunca nos abandonam, e o infinito não está lá longe: pulsa na respiração que falha, no coração que não cabe na caixa torácica, na mente que tenta nomear o indizível.

Entre o eu e o infinito, há apenas um instante de lucidez. Um sopro onde todas as certezas desmoronam, onde a consciência se abre como pétala que não se fecha, onde o universo, finalmente, se revela dentro de nós. E quando passa, o eu retorna diferente: mais leve, mais profundo, mais inteiro.

— Douglas Duarte de Almeida

Ser estranho é uma forma sofisticada de lucidez. Uma consciência em carne viva que sente o mundo com excesso de precisão. Não é excentricidade, é viver em descompasso com o consenso, ouvir o ruído no meio da música, perceber o vazio por trás das certezas.

A dor vem da dissonância entre o que se vê e o que se finge não ver. Enquanto a maioria se protege com ignorância conveniente, o estranho sofre de clareza. Nietzsche chamaria de “doença do espírito elevado”.
E ainda assim, amar. Amar o humano mesmo quando o entende demais.

Ser estranho é viver tonto de liberdade, duvidar até da própria dúvida. Os outros chamam de “confusão”, mas é só alma demais.O estranho é o herege das convenções, o que “rompe tratados e trai os ritos”.

Há delícia também: ser inclassificável, ver poesia no que escapa ao óbvio, rir de si mesmo enquanto o mundo desaba. Perceber o padrão invisível que Jung chamaria de sincronicidade.

O estranho sente o tempo de outro modo: lento por dentro, rápido por fora. Sente o amor como místico, o tédio como luto. Nada é raso, tudo fere, tudo ilumina. E quando o chamam de “intenso”, ele sorri — intensidade é só estar vivo demais num tempo de gente anestesiada.

Ser estranho é viver num exílio fértil, criar, refletir, desobedecer. Estranheza é antecipação do que o mundo ainda não está pronto pra entender. Ser estranho é ser o rascunho do que ainda não tem nome e sorrir, discretamente, sabendo que a habilidade de lidar com o desconforto é um puro sinal de autenticidade e um atestado de maturidade.

(Douglas Duarte de Almeida)

O tempo de florescimento não se anuncia com calendários nem com relógios. Ele chega em gestos sutis: um suspiro que demora a se acomodar, um arrepio que insiste em não passar despercebido, uma palavra dita com a boca trêmula e os olhos firmes. Diante do espelho, aprendi a não correr. A gentileza que me devo não é um prêmio, é o mínimo que posso oferecer ao meu próprio reflexo. Observar-se sem pressa é um ato de coragem: enxergar a delicadeza nos ossos, a força nas veias, a poesia escondida nos gestos cotidianos.

Florescer é não se obrigar a ser mais rápido que a própria vida. É permitir que a paciência me encontre, que o respeito por mim se assente como terra fértil, que minhas raízes cresçam sem alarde. Cada dia é um capítulo, cada cicatriz, uma letra, cada sonho guardado no peito, uma semente.

Quem se respeita floresce com dignidade, quem se pressiona murcha antes do tempo. E talvez o maior ato de coragem seja sorrir para si mesmo, no espelho, sabendo que cada fissura também é parte do desenho que só você consegue completar.

No fim, florescer não é competir com ninguém. É ser inteiro em si, com toda a intensidade de uma tempestade e a suavidade de uma brisa que atravessa folhas sem derrubá-las. É aprender que a própria vida, se observada com cuidado, já é poema suficiente.

(Douglas Duarte de Almeida)

Perdoar não é esquecer, é deixar de apodrecer por dentro. Há dores que o tempo não cura, apenas decanta. O perdão não é o antídoto do veneno, é a coragem de não bebê-lo mais. É olhar para a ferida e, em vez de perguntar “por quê?”, perguntar “até quando?”.

O perdão é uma escolha sofisticada. Não por bondade, mas por lucidez. É quando a alma entende que continuar punindo o outro é continuar se amarrando na mesma corda. E há cordas que, se a gente não solta, acabam nos enforcando em silêncio.

Perdoar não é absolver o erro, é devolver o peso. É dizer: “isso foi teu, não meu”. É o ato mais elegante de liberdade.

Porque guardar rancor é carregar um corpo morto nas costas achando que é proteção. Às vezes, o perdão não vem como gesto, vem como distância. Como aquele passo que você dá pra fora da repetição, sem plateia, sem discurso, sem aviso.

Há perdões que se dão em silêncio, e há silêncios que são o perdão em estado puro. Perdoar não é voltar — é seguir. É olhar pra trás sem desejar vingança, sem querer justiça divina, sem precisar de testemunhas. É só entender que o que te feriu não merece mais residência no teu coração.

O perdão, no fim, é uma forma de amor próprio altamente evoluída — a mais discreta e, talvez, a mais revolucionária.

(Douglas Duarte de Almeida)

Quem já atravessou o próprio abismo sabe: o equilíbrio não se alcança, se habita por instantes. É quando a alma pousa, o coração desacelera e a vida parece, por um segundo, caber nas mãos. Há quem confunda esse intervalo com vitória, mas quem vive intensamente entende: a calmaria é só o fôlego antes da próxima onda. É o espaço entre o desespero e o recomeço, o instante em que a alma recolhe o que sobrou para continuar.

(Douglas Duarte de Almeida)

A dor tem ouvidos finos, escuta o som exato do teu medo. Ela percebe quando você hesita, quando sorri por educação, quando diz “tá tudo bem” só para não mostrar o caos por dentro, ainda que a verdade escape pelos dedos.

A dor tem instinto, não tem pena. Sabe onde você se esconde quando finge estar forte. Aparece de mansinho… num silêncio, num sonho, num arrepio que não se explica. E cresce ali, no intervalo entre o que você sente e o que ousa admitir. Você pode mudar de cidade, trocar de corpo, de cama, de assunto. Pode se embriagar de vozes novas e promessas antigas. A dor não se apressa, ela sabe esperar o momento em que o barulho cansa.

No fundo, ela só quer ser reconhecida. Quer um nome, um rosto, um espaço pra existir. E quando, enfim, você a encara, percebe: ela sempre foi tua. Uma mensageira indesejada, mas sábia, apontando o que ainda pulsa mal curado.

Fugir dela é correr de si — e quanto mais rápido vai, mais se encontra. Há uma beleza triste nisso: descobrir que até a dor te ama o bastante pra não desistir de te ensinar. Encare-a, ela só quer que você saiba quem tu és e te mostrar o que você insiste em evitar.

(Douglas Duarte de Almeida)

Não é uma despedida, é só uma hipótese — dessas que a gente pensa baixinho quando o peito lembra que é finito.

Se um dia eu fo, aliás, quando eu for, quero ir sem inventar desculpas. Já pedi perdão demais por ser intenso, por sentir demais, por não caber nos silêncios que esperavam de mim. Cansei de negociar minha essência pra parecer leve.

Não quero ser lembrado por “ter sido bom”, quero ser lembrado por ter sido real. Por ter misturado ternura com acidez, fé com ceticismo, coragem com medo, e mesmo assim, ter seguido. Quero que alguém, em algum momento, perceba que viveu com um pouco mais de coragem depois de cruzar comigo. Isso já me basta. Não deixo herança: deixo faísca. Se ela acender em alguém, sigo vivo.

E se perguntarem o que aprendi, direi: aprendi a me atravessar sem mapa. A perder com dignidade. A me refazer sem plateia. E a amar sem manual — porque o amor, no fim, é o último idioma antes do silêncio.

(Douglas Duarte de Almeida)

Primeiro, aprecie de longe. Deixe que o encanto te alcance antes que tua pressa o estrague. Se puder, aproxime-se com respeito — há segredos que só se revelam a quem chega devagar. Permita que teus olhos curiosos encontrem o que chama tua alma, não apenas tua atenção.

E, se estiver pronto, chegue bem perto — o máximo possível. De longe, talvez tudo pareça apenas cor. Mas quando te aproximas, há uma flor dentro da flor, veias pulsando, nuances que só existem no intervalo entre o olhar e o silêncio.

Não há um jeito certo de ver ou sentir o mundo, mas há uma sabedoria em olhar de longe, depois se aproximar aos poucos e, por fim, mergulhar até enxergar o que ninguém ainda percebeu. É assim com as flores. É assim com as pessoas, com a vida.

(Douglas Duarte Duarte)

Rasgou as velhas roupas do passado como quem corta cordas invisíveis. Cada fio que caía era um sopro de liberdade, uma promessa de si mesmo que não se enrolaria mais em nostalgias fáceis. O prazer momentâneo sussurrava em cada canto — o chamado das mesas cheias, dos abraços sem compromisso, dos consolos rápidos — mas ele fechava os ouvidos.

Escolher o melhor para si é coragem que não se veste de glamour. É se colocar inteiro diante do mundo e dizer: “Não mais me contentarei com migalhas, mesmo que doces.” Há uma dor doce nisso, um aperto nos ombros e no coração, porque renunciar é um rito silencioso que só o próprio corpo entende.

Mas há também poesia no sacrifício. Cada passo para longe do que não serve é um avanço rumo à plenitude que ninguém pode roubar. É o gosto de um vinho guardado, saboreado depois de anos, ou o perfume das flores que crescem em solo inesperado, intenso, solto, sem pressa.

Ser gentil consigo mesmo não é indulgência; é firmeza. É reconhecer que você merece o melhor, ainda que seja caro, ainda que seja solitário, ainda que precise atravessar tempestades interiores. É aceitar que a reconstrução dói, que a vida não se repete nem se empresta, e que a cada manhã há um pedaço de você que renasce.

Reviver é isso: um gesto íntimo, visceral e silencioso. É dançar com suas próprias feridas, abraçar a coragem que faz do abandono do velho uma vitória e da escolha consciente, o maior dos prazeres.

O raso tem essa crueldade: parece fácil, parece seguro, parece até bonito quando o sol acerta o ângulo. Mas não acolhe. Não sustenta mergulho. Quem vive de superfície se acostuma a respirar ofegante, como quem teme o próprio fôlego.

O tempo — esse animal indomável — merece ser gasto em abismos que valham o risco. Em encontros que te façam perder o chão, mas te devolvam o sentido. Em silêncios que não te afoguem, mas te ensinem a ouvir.

Não desperdice seus minutos em quem tem medo da correnteza.
Não negocie sua profundidade com quem só sabe molhar os pés.
Porque, no fim, a vida não é sobre colecionar respirações, é sobre o raro instante em que falta o ar e, ainda assim, você sente que valeu a pena.

Caminhar lado a lado exige um gesto raro: deixar as ideias descansarem um pouco. As ideias são bonitas, mas traiçoeiras. Nelas, todos somos perfeitos. O filho ideal só existe no pensamento. A mãe ideal também. No mundo das ideias, ninguém falha, ninguém se desespera, ninguém diz a palavra errada na hora errada. É um lugar confortável demais para caber gente viva.

Viver de verdade com alguém é aceitar que o real é meio torto. Que há dias em que a voz falha, a alma murcha, o cansaço transborda. É ter coragem de amar o que existe, não o que imaginamos. E isso é mais difícil do que parece, porque a imaginação é uma costureira habilidosa: ajusta, corta, embeleza. O real, não. O real é áspero, às vezes. Mas é nele que moram os encontros que mudam a vida.

Cada um é o que é. Faz o que dá conta. Ama como aprendeu. E isso não é desculpa: é condição humana. Amar sem tentar caber no molde do outro é um ato de generosidade. Um jeito bonito de dizer: eu te vejo, não pelo que projetei, mas pelo que você realmente é — com suas frestas, suas travessias, suas partes desordenadas.

O amor verdadeiro não exige perfeição. Exige presença. Exige humildade para desfazer fantasias antigas e coragem para ficar, mesmo quando o castelo que imaginamos vira chão. Prosseguir amando, mesmo quando a realidade desmonta o sonho, é um gesto de maturidade que poucos sustentam.

São poucos os amores que suportam a pureza do real. A maioria prefere a maquete. Eu, não. Prefiro a casa habitada, mesmo com as rachaduras. O afeto que existe, mesmo com as falhas. O caminho compartilhado onde dois humanos, imperfeitos e inteiros, aprendem a caminhar juntos — não pela ideia do que deveriam ser, mas pela beleza do que são.

Não vou mais lutar comigo mesmo. Essa guerra íntima sempre foi injusta: eu de um lado, tentando caber; o mundo do outro, oferecendo moldes apertados demais. Passei tempo suficiente tentando negociar minha existência, arredondar arestas, suavizar excessos, traduzir quem sou para ver se assim eu era aceito. Não funcionou. Nunca funcionou.

Nunca coube nas expectativas porque elas nascem pequenas demais para o que pulsa em mim. Nunca me ajustei para pertencer porque pertença, quando exige mutilação, vira cárcere elegante. Aprendi isso do jeito mais cansativo: insistindo. E só agora entendo que insistir contra si é uma forma sofisticada de abandono.

Sou o que sou. Não por rebeldia, nem como defesa. Sou o que sou como quem finalmente pousa as armas no chão e senta. Há uma paz estranha nisso. Não a paz da acomodação, mas a paz de quem para de se ferir tentando ser outra coisa. Sustentar-se dá trabalho, mas lutar contra si cobra um preço alto demais.

Escolho, então, essa trégua radical comigo. Não para me tornar imutável, mas para mudar sem me violentar. Não para agradar, mas para existir com decência. Sou o que sou — e isso, hoje, não é sentença. É abrigo.

Quanto custa ser o que se é? Pergunta besta, mas incômoda. Quem já se olhou no espelho com a suspeita de que o reflexo sabe algo que você insiste em negar sabe: a resposta dói antes de chegar.

A culpa se aloja em cada gesto ousado, em cada palavra engolida, nos silêncios que preferimos. Ela é pegajosa, insistente, um lodo que adere à pele e ao pensamento. A liberdade, por outro lado, chega quase sussurrando e exige preço: ser inteiro, visível, irreversível.

Ser quem se é significa viver com a língua raspando as feridas da própria alma. Admitir que cada escolha, mesmo mínima, é uma cratera na qual a culpa pode se esconder — e que ainda assim, é ali que respiramos.

A culpa se veste de memória; a liberdade, de coragem. Oscilamos entre elas. Algumas vezes, a culpa nos segura pelo tornozelo; outras, a liberdade nos carrega pelo peito, nos atirando contra o céu.

Ser quem somos não é leve. Não é fácil. Não é barato. Mas o preço, cada suspiro, cada nó na garganta — vale mais que fingimento, mais que qualquer paz comprada com silêncio ou complacência.

No fim, o duelo nunca termina.
Mas existe algo de radicalmente bonito em atravessar essa colisão entre culpa e liberdade: sentir cada choque, cada fissura, cada centelha — e ainda assim continuar inteiro, pulsando, crua e irreversivelmente vivo.

Há um ruído antigo em mim — não sei se nasce do peito ou das paredes internas. Um som que pergunta, sem mover a boca, se minha presença é respiro ou incômodo. Não pergunto aos outros; pergunto ao silêncio. E ele sempre responde: depende.

Depende de quê?
Talvez da sombra que ainda carrego — essa que aprendeu a duvidar do que é oferecido com ternura, como se o afeto tivesse validade curta.

E não é por falta de amor; não faltou.
É que, em algum ponto sensível da minha história, aprendi que tudo pode virar silêncio sem aviso. Cresci assim: não desconfiado das pessoas, mas das marés. Meio alerta, meio cético, inteiro faminto do que é seguro.

Há em mim um eco que hesita diante do amor mais evidente — não por falta de provas, mas por excesso de memória. Uma parte minha vigia a porta mesmo quando não há perigo.

E o curioso é que eu sei que sou querido.
Mas há uma porção antiga — leal às dores que sobreviveram — que pergunta: “e se for só gentileza?”

Às vezes imagino que essa dúvida é um animal. Mora em mim. Cheira o amor antes de deixá-lo entrar. Rosna quando alguém chega perto demais — não por recusa, mas por medo de desmanchar.

E a cura?
Talvez seja deixar esse animal cansar.
Permitir que o amor chegue devagar, até o corpo entender que não é ameaça: é colo.
Ou aceitar que essa dúvida é profundidade — alguns de nós amam em camadas, e o afeto precisa atravessar labirintos para chegar ao centro.

E no meu centro existe um lugar que sempre soube que sou amado.
Mas às vezes ele cochila — e o mundo fica estrangeiro.

Basta um olhar verdadeiro para tudo despertar.

E eu lembro, mesmo que por instantes:
não estou sendo tolerado, há morada nos amores que me abraçam.

(“O lugar onde o amor cochila”)

Há coisas que faço com grandeza quase ofensiva — levantar ruínas, atravessar vendavais, carregar mundos nas costas. E, no mesmo corpo, existe o sujeito que trava diante do pequeno: lavar a louça, lavar o corpo, lavar a alma — e nada ficar realmente lavado. A pia continua cheia, a pele continua cansada, e a alma… essa sempre deixa um canto por esfregar.

De vez em quando, meus monstros me chamam para a caverna. Eles têm boa dicção, argumentos sedutores, promessa de silêncio. Os pseudo-anjos, esses, são piores: falam em luz, mas deixam tudo enevoado; abrem a boca e não esclarecem nada — só criam sombras com asas brilhantes. Vivo assim: entre o que me salva e o que me consome, entre o que me ilumina e o que me incendeia. Um clarão que, às vezes, vira labareda.

Dentro de mim, a vida e a morte conversam. A morte que pede fôlego, a vida que implora descanso. As dores anunciam sua chegada sem som — e quando finalmente tento dizer, ninguém entende a língua em que sangro. Falo em metáforas, gaguejo verdades, engulo gritos. E sigo juntando frases soltas: as tuas, as minhas, as que se quebram antes de virar sentido. Somos dois que viram quatro, e cada um deles puxa um fio do mesmo corpo.

Muita gente em mim. Tão pouca gente pra mim. Por mim?

Minha voz anda rouca de tanto gritar por dentro. E, no entanto, aqui estou: 30 gotas de Rivotril, uma trégua temporária, mais uma noite sem enlouquecer. Amanhã acordo de novo, inteiro o suficiente para existir, firme o suficiente para não pedir licença, atento o bastante para não pisar nos ovos dos pintinhos que nunca rompem a casca.

Porque, apesar de tudo, ainda escolho viver. Mesmo quando viver parece demais para um dia só.

Ser porto seguro é uma honra silenciosa que pesa nos ombros. Cada abraço que dou, cada conselho que escuto e devolvo, carrega uma pequena parte de mim que ninguém vê. Há dias em que ser referência é como sustentar o céu sozinho: bonito, mas extenuante.

O paradoxo é cruel e belo: a confiança alheia me eleva, me dá sentido, e ao mesmo tempo me lembra do risco de ceder demais, de me perder no cuidado que ofereço. Às vezes, me sinto encurralado no canto, cercado por expectativas, olhando para fora e desejando espaço para simplesmente existir.

Há uma delícia discreta em saber que alguém respira mais leve porque eu estive ali, firme, disponível. Mas a dor mora nas entrelinhas — nas madrugadas em que olho para minhas mãos e percebo que também elas precisam de abrigo.

Ser porto seguro é ser farol e tempestade. É carregar um oceano de vidas dentro de si, com a certeza de que cada gota que dou de mim é ao mesmo tempo um presente e um peso. Ainda assim, continuamos a brilhar, porque, no fundo, ser referência é a mais humana das responsabilidades: sentir o peso do mundo, e mesmo assim, oferecer um pouco de céu.

Engraçado, as pessoas pensam que o mal que é feito aqui, só é cobrado quando estiverem "deitados eternamente em berço esplêndido",
Quando não se arrependem, começam a pagar aqui mesmo e continua pagando no além!
Assim como, pensam que, fazer mal a alguém sem ser visto, sem ser descoberto, não o torna isento de punição, pelo contrário, o vexame é muito superior!

Todo plano, mais mirabolante, secreto e mais confidencial possível, Ainda assim, pode ser descoberto, pois todo plano envolve pessoas... E pessoas se relacionam com outras, somos seres que tem a necessidade de interação, e normalmente essas pessoas costumam quebrar alianças.
Fora que, podem até esconder algo no campo físico, mas no campo espiritual, existe uma grande plateia.