Contos ou Cronicas de Mario Quintana
Leitura, musicalidade, entrega, reflexões, pensamentos, diálogos saudáveis, amar, ser amado, parar para sentir a água fria de um rio, fazer caminhadas, descansar antes de o corpo começar a gritar por socorro, não guardar mágoas no coração, perdoar quase que de modo divino, buscar o amor ágape. Tudo isso é guardar o coração de qualquer tipo de virtualidades desnecessárias, tempo em que ainda dá tempo de mudar as prioridades nas relações, respirar a beleza da vida.
Com consciência plena de que comida ainda falta em muitas dispensas, sabendo também que não falta solidariedade nas famílias periféricas, vejo, aos montes, gente levando alimentos não perecíveis para as igrejas para que sejam doados para quem não tem. Aos poucos, com muito pouco, uma gotinha em meio ao oceano de dificuldades brota em cada coração. Percebo surgir uma fonte inesgotável de bondade e amor em ajudar o semelhante.
Não nos sobra quase nada quando percebemos nossa vulnerabilidade e fraqueza diante do que antes estava em nossas mãos. Assim é a vida, não temos como saber quanto tempo ainda temos. Mas podemos desenvolver alguma certeza, a de que podemos viver todos os dias como o último e, ao mesmo tempo, o primeiro.
Em qualquer lugar que eu estiver, sentirei vontade de ler um novo livro, contar novas histórias, escrever mais um poema, compor músicas, acreditar que as palavras podem soprar para o mundo novas realidades que nunca fui capaz de criar. O que escrevo pode ajudar as pessoas a ver o mundo com outros olhos.
É na mesa do escritor e também em seu escritório que se pode ver um pouco de sua personalidade. Resquícios de sua história se manifestam através dos livros jogados. Um pouco de café fica ao lado do computador. Algumas fotos para inspirar. Uma música de fundo, para dar gosto ao que se ouve. Qualquer intromissão, ainda que seja a mais sutil, ou mesmo a mais inesperada, a que mais grita na alma, serve apenas para acabar com as ideias ou para ver surgir outras ainda com mais poder.
O silêncio de quem tem muito a dizer me incomoda. Enquanto isso, inverdades acerca do que acontece no Brasil e no mundo são disseminadas às crianças e adolescentes, formando uma geração que poderá ser mais cruel que a atual. Quero lhe chamar para participar, publicar seus pensamentos, músicas ou poesias, crônicas ou artigos formais, vídeos ou manifestações criativas. Não veja simplesmente a realidade passar. Todos nós fazemos parte do que acontece.
Dois
Eles eram dois
Mas nem sabiam que eram dois
pois os dois eram sozinhos
e se sentiam assim
sozinhos
os dois
Às vezes ficavam abraçados
testemunhando enchentes
e dividiam segredos e riam das bobagens um do outro
e telefonavam sempre
um para o outro
só numas de ouvirem
a voz
um do outro
Eles não eram felizes
E falavam alto nos bares
E contavam histórias estapafúrdias
os dois
Se encontravam
no meio de tanta gente
Eles sempre se encontravam
e sorriam tímidos um para o outro
porque eram sozinhos
os dois
e por um momento já não era tão assim
eles eram quase dois
mesmo sozinhos
assistindo filmes de madrugada
e pegando no sono
abraçando almofadas
sozinhos
bêbados
tomando comprimidos pra dormir
aviltados com a publicidade
que cercava a solidão dos dois
E eles queriam fugir
E ele queria entrar dentro dela
E ficar lá o resto de sua vida
não pra ser um
mas pra ser dois
definitivamente
de uma vez por todas
os dois
OLHAR DE MULHER
Sedutor
poderoso
quando pisca e corteja hipnotiza
Vencedor
quando irradia
faz melodia
De bem-fazer
quando energiza
diviniza
Casa sem mulher
casa não
homem sem mulher
homem vão
Dia sem mulher
dia sombrio
mundo sem mulher
mundo sem pio
Cultura sem mulher
cultura vadia
terra sem mulher
terra vazia
Olhar de mulher
olhar de emoções
entre prazeres e paixões
seduzir e convencer
Faz homem viver
regenera e cria
faz vida ser
Mãe que tudo afilia
Olhar de mulher
olhar para acreditar
ver para querer
viver para amar.
Casal da Serra, 22 de Setembro de 2000
E para não ser acusado de não estar sendo claro, quero deixar patenteada minha repulsa em ver Policiais Militares fardados submetidos a situações ridículas no programa Esquenta, da TV Globo.
Por favor, respeito à farda!
Ela é universal em seu conceito e exige protocolos formais para seu uso!
Vesti-la exige formalidades e decoro próprios! Não importa se coronel ou soldado, todos, absolutamente todos devem reconhecer-lhe a sacralidade!
Há pouco atravessávamos um conflito armado de baixa intensidade, predominantemente nas favelas do Rio de Janeiro onde as facções se digladiavam com milhares de fuzis AK 47, Ruger, AR 15, FAL, metralhadoras de mão, com bi-pé, armas individuais e coletivas que tinham e usavam para enfrentar seus “inimigos”, entre esses o Estado que já não mantinha a supremacia do território considerando o poder erguido pelo crime coletivizado que dominava e subjugava bairros inteiros.
Produzindo feridos e mortos em números absolutamente incompatíveis com qualquer conceito arbitrado para normalidade em Segurança Pública, as guerras de facção eram ao mesmo tempo consequência e causa de fatores econômicos, sociais e psicológicos, (para não afastar os motivos individuais dos criminosos para a vida no crime), considerando haver uma espécie de simbiose entre as motivações e os vetores concorrentes no conflito.
Os traficantes, na lógica apresentada por certa ONG, formam uma nova classe trabalhadora.
Os distribuidores, varejistas ou atacadistas das substâncias proibidas, cujo comércio ilícito promove toda sorte de violência e escravidão, devem ser entendidos como qualquer que vende sua força de trabalho, já que é assim que fazem os proletários e assalariados, em busca de remuneração, nas plagas capitalistas.
Isto é uma falácia. Absurda, subliminar, sub-reptícia, abjeta e ignóbil.
"Sócrates Por Acaso"
Estas coisas sem nenhum sentido,
Estes pensamentos que me confundem,
Estes desejos que me dominam
E me levam a estes atos inconseqüentes.
Parece um tanto lúdico,
Um tanto louco,
E é claro que por tudo isso: MUITO BOM!
Se não fosse eu não estaria assim.
Difícil de descrever,
Impossível de se demonstrar,
Mas o complicado mesmo
É saber no que vai dar.
Incerto? Talvez.
Concreto? Não sei.
É como Sócrates falou:
“Só sei que nada sei!”
[violet]Cante, dance, pule, grite, brigue, faça as pazes, chore,
sorria, estude, fique para recuperação, sinta saudades,
apaixone-se, deseje, ame, dedique-se, beije, abrace, erre,
aprenda, desculpe, faça amizades, tenha objetivos, ande,
emagreça, engorde, fale palavrão, brinque, ganhe, perca,
prometa, cumpra, corra, pare... Enfim... VIVA! Sonhe com o
que você quiser. Vá para onde você queira ir! Seja o que
você quer ser, porque você possui apenas uma vida, e
nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce; dificuldades e
determinação para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la
humana. E esperança suficiente para fazê-la FELIZ!
- Não quero padre. Você pode orar, se quiser.
- Eu? Acho que eu poderia, se fosse preciso... Tenho de perguntar algo importante...
- Sei o que vai dizer. Não precisa dizer...
- Não... eu preciso... preciso dizer... John... diga o que quer que eu faça. Quer que eu tire você daqui? Que eu deixe você fugir? Ver até onde consegue ir?
- Por que ia fazer algo tão bobo?
- No dia do meu julgamento... quando eu estiver diante de Deus, e Ele perguntar por que matei um dos Seus verdadeiros milagres... o que vou dizer? Que era o meu trabalho? É o meu trabalho...
- Diga a Deus Pai que foi uma gentileza sua. Sei que você está preocupado e sofrendo. Posso sentir. Mas você precisa parar com isso. Eu quero que acabe. Eu quero. Estou cansado, chefe. Cansado de estar na estrada, solitário como um pardal na chuva. Cansado de nunca ter amigo para me dizer aonde vai, de onde vem ou por quê. Principalmente, estou cansado de as pessoas serem ruins. Estou cansado da dor que sinto e ouço no mundo todo dia. É muita dor! São como pedaços de vidro na minha cabeça o tempo todo... Você consegue entender?...
- Sim, John. Acho que sim...
Lições de Motim
DONA COTINHA: Viver sozinho vicia. Chega uma hora que gente incomoda. Dá uma espécie de gastura, e é essa gastura o primeiro passo para a solidão. É claro, só gosta de solidão quem nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão. Quem vive só e não gosta de solidão não é um solitário, é só um desacompanhado. Solidão é vocação, besta de quem pensa que é sina. Por isso, tem que ser valorizada. E não é qualquer um que pode ser solitário não. É preciso ter competência pra isso. Pra viver bem com a solidão temos de ser proprietários dela e não inquilinos. Quem é inquilino da solidão, não passa de um abandonado. Não é que eu não goste de gente, eu não suporto é ser usuário, o que é bem diferente. Minha solidão tem um nome: renúncia. Eu renunciei ao gênero humano. É simples e só. Perdi a crença nas pessoas. O certo é que eu sou um descreste de gente, só isso. Tirei as pessoas da minha vida, como tirei o açúcar de minha diabete. Minha solidão é medicinal.
Diante de Compromissos
Quando assumas um compromisso honra-o com a tua presença.
Antes de aceitares qualquer incumbência, medita a respeito, a fim de que não te situes numa posição desagradável.
Sucedendo algum impedimento à tua comparência ou desincumbência da tarefa, comunica-o com antecipação, de modo a não prejudicares quem te aguarda, ou aquele que confia na tua palavra.
Sejam de pequena monto ou alta responsabilidade, desincumbe-te de todos os deveres que assumires.
A arte de sorrir
temos autonomia para sorrir
razões para chorar
motivos para se divertir
viver e amar
Compartilhar erros
criticar o voo correto
conviver com falhas e tropeços
e depois tá tudo certo
Acordar no pesadelo
caminhar pelos sonhos
enfrentar o nosso medo
e destruir seus monstros
Desenhar o verbo amar
com belas cores colorir
da pintura inspirar
a arte de sorrir
Soneto de Intimidade
Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.
Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.
Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve
Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.
Titulo: O medo de amar.
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Muitos buscam na religião, espiritualidade,
Preencher o vazio da solidão,
Outros buscam nos amigos,
Alegrar o coração,
É inegável, que na família, encontramos calor,
Mas falta algo no sentimento e no coração,
Para dar as nossas vidas, o amor e a sua cor...
O colorido da paixão.
Aquele abraço apertado,
E um beijo com ardor,
Abraço esse e beijo ardente,
Que somente um homem e uma mulher,
Que faz a alma ficar contente,
Pois, um sonho novo nasce, cuja flor tem sua cor,
A cor eterna do amor!
Mas muitos insistem, em ter medo de amar,
E aí procuram na fuga escondida,
Despistar a vontade louca de amar.
Mas enquanto o amor não chega...
Você insiste em fugir,
Com um louco medo de amar.
Esqueça o que passou,
O passado já morreu,
Abra seu coração,
Expulse o medo de amar outra vez,
E deixe um novo amor entrar!
Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.
Espera-me pelas manhãs vazias,
nas tardes longas e nas noites frias,
e, outra vez, quando o calor voltar.
Aí, nunca deixes de me esperar!
Espera-me, ainda que, aos portais,
as minhas cartas já não cheguem mais.
Ainda que o Ontem seja esquecido
e o Amanhã já não tiver sentido.
Espera-me depois que, no meu lar,
todos se cansem de me esperar.
Até que o meu cachorro e o meu jardim
não mais estejam a esperar por mim!
Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.
Não dês ouvidos nunca, por favor,
àqueles que te dizem que o amor
não poderá os mortos reviver
e que é chegado o tempo de esquecer.
Espera-me, ainda que os meus pais
acreditem que eu não existo mais.
Deixa que o meu irmão e o meu amigo
lembrem que, um dia, brincaram comigo
e, sentados em frente da lareira,
suponham que acabou a brincadeira…
Deixa-os beberem seus vinhos amargos
e, magoados, sombrios, em gestos largos,
falarem de Heroísmo ou de Glória,
erguendo vivas à minha memória.
Espera-me tranquila, sem sofrer.
Não te sentes, também, para beber!
Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.
Esperando-me, tu serás mais forte;
sendo esperado, eu vencerei a morte.
Sei que aqueles que não me esperaram
– que gastaram o amor e não amaram –
suspirando, talvez digam de mim:
“Pobre soldado! Foi melhor assim!”
esses, que nada sabem esperar,
não poderão jamais imaginar
que das chamas eternas me salvaste
simplesmente porque me esperaste!
Só nós dois sabemos o sentido
de alguém poder morrer sem ter morrido!
Foi porque tu, puríssima criança,
tu me esperaste além da esperança,
para aquilo que eu fui e ainda sou,
como nunca, ninguém, me esperou!
