Contando os Dias

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Um dos maiores fermentos de um relacionamento é a admiração. É desanimante atravessar os dias sem sentir orgulho da pessoa que está vivendo ao nosso lado. É prioritário seguir para sempre pensando que ele é um bilhete premiado. A cada observação perspicaz que ele faz sobre um fato, a cada gesto de solidariedade para com o irmão, a cada bola dentro que ele dá no trabalho, é um alívio pensar: este é o cara que escolhi para estar comigo. Um sujeito legal.

Martha Medeiros
Crônica: Aos olhos dos outros - Livro: Montanha Russa

Só tem dois dias no meu diário: Hoje e aquele Grande Dia.

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

Só é merecedor da liberdade e da vida quem tem de conquistá-la de novo todos os dias.

Os dias mais recuados de sua infância, o dia em que dissera: "Serei livre", o dia em que dissera: "Serei grande", apareciam-lhe, ainda agora, com seu futuro particular, como um pequenino céu pessoal e bem redondo em cima deles, e esse futuro era ele, ele tal e qual era agora, cansado e amadurecido. Tinham direitos sobre ele e através de todo aquele tempo decorrido mantinham suas exigências, e ele tinha amiúde remorsos abafantes, porque o seu presente negligente e cético era o velho futuro dos dias passados. Era a ele que eles tinham esperado vinte anos, era dele, desse homem cansado, que uma criança dura exigira a realização de suas esperanças; dependia dele que os juramentos infantis permanecessem infantis para sempre, ou se tornassem os primeiros sinais de um destino. Seu passado sofria sem cessar os retoques do presente; cada dia vivido destruía um pouco mais os velhos sonhos de grandeza, e cada novo dia tinha um novo futuro; de espera em espera, de futuro em futuro, a vida dele deslizava docemente... em direção a quê?

Jean-Paul Sartre
SARTRE, J., A Idade da Razão, 1945

Foi na França, durante a Segunda Grande Guerra. Um jovem tinha um cachorro que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do trabalho. Postava-se na esquina, um pouco antes das seis da tarde. Assim que via o dono, ia correndo ao seu encontro e, na maior alegria, acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta a casa.

A vila inteira já conhecia o cachorro e as pessoas que passavam faziam-lhe festinhas e ele correspondia, chegava a correr todo animado atrás dos mais íntimos para logo voltar atento ao seu posto e ali ficar sentado até o momento em que seu dono apontava lá longe.

Mas eu avisei que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado. Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo? Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar ansioso naquele único ponto, a orelha em pé, atenta ao menor ruído que pudesse indicar a presença do dono bem amado. Assim que anoitecia, ele voltava para casa e levava sua vida normal de cachorro até chegar o dia seguinte. Então, disciplinadamente, como se tivesse um relógio preso à pata, voltava ao seu posto de espera.

O jovem morreu num bombardeio, mas no pequeno coração do cachorro não morreu a esperança. Quiseram prendê-lo, distraí-lo. Tudo em vão. Quando ia chegando àquela hora ele disparava para o compromisso assumido, todos os dias. Todos os dias.

Com o passar dos anos (a memória dos homens!) as pessoas foram se esquecendo do jovem soldado que não voltou. Casou-se a noiva com um primo. Os familiares voltaram-se para outros familiares. Os amigos, para outros amigos. Só o cachorro já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua esquina, com o focinho sempre voltado para aquela direção.

Lygia Fagundes Telles
A Disciplina do Amor

E todos os dias ficarei tão alegre que incomodarei os outros.

Clarice Lispector
Minhas queridas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

Nota: Trecho de carta escrita em 29 de janeiro de 1945 a Elisa Lispector.

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O pesadelo era o descanso do desespero. Passava noites a sonhar e os dias a cismar.

Vale a pena despender dias juvenis e horas preciosas para se aprender algumas palavras de uma língua antiga, que se erguem da trivialidade das ruas para se transformarem em perpétuas sugestões e provocações.

Henry David Thoreau
A desobediência civil. Porto Alegre: L&PM, 1997.

Devias estar aqui rente aos meus lábios para dividir contigo esta amargura dos meus dias partidos um a um.

Eugénio de Andrade
ANDRADE, E., Poesia e Prosa, 1987, Círculo de Leitores

Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.

Uns dias, cheia de tédio, enervada e triste. Outros, lânguida como uma gata, embriagando-se com os menores acontecimentos. Uma folha caindo, um grito de criança, e pensava: mais um momento e não suportarei tanta felicidade.
(A bela e a fera – trecho da crônica Gertrudes pede um conselho)

E depois ando meio bonita, sem o menor pudor: vem do bem-estar.
(A descoberta do mundo – trecho da crônica Facilidade repentina)

A felicidade deveria ser assim mesmo, sem data, sem encomenda, medo de existir. Os dias mais felizes são aqueles com menos planos na agenda.

Fé pra mover a vida. Fé pra colorir os dias. Pra enfeitar o ser. Aumentar o amor. Fé pra manter um sorriso no rosto, pra brindar a alegria. Fé pra hoje e pra todos os dias.

Estou tendo uns dias difíceis, mas nada, nada de grave. Vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor.

Dias sim, dias não.
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão.
Da caridade de quem me detesta.

Há dias que as portas não deviam ser abertas.Há dias que a compainha que toca é um sinal de alerta e não nos damos conta disso.Mas ninguém foge do próprio destino.

Ser adolescente é: acordar todos os dias tarde e ainda achar que dormiu pouco; ficar horas com amigos ao telefone e ainda chatear-se quando a mãe reclama; deixar seu quarto todo bagunçado e dizer que não o arrumou por falta de tempo; achar que o mundo gira em torno de si e não o contrário... mas ser adolescente também é: Querer resolver os problemas do mundo, lutar contra as injustiças sociais, fazer loucuras pelo seu ídolo, amar da forma mais intensa possível, estar rodeado de amigos, ser espontâneo e explosivo…

Tenho dias ruins. Fico mal humorada, irônica e bruta com qualquer um. Respondo com grosseria e não suporto ouvir besteiras. Falo demais e me estresso sem motivos. Fico com raiva, choro, grito, fecho a cara. Porque eu sou humana, cara. E isso é normal na vida de qualquer um. Será que dá pra entender?

Já teve aqueles dias que você acordou achando que não aguentaria mais nada e que não tinha ninguém pra te dizer que iria melhorar.