Concreto
Eu só queria achar um motivo concreto para te amar, além do "ter certeza de que você foi feito minuciosamente para mim". Eu pensei em dizer que te amo por você respirar, mas isso seria de um exagero bobo demais. E eu não admito ser mais boba do que eu já sou só por procurar um motivo para amar você. Aí pensei: vou te amar por você sorrir. Porque sorrindo você faz alguém feliz e isso te torna uma pessoa boa. Então eu vou te amar por você ser uma pessoa boa. Depois me lembrei que a pessoa que você faz feliz por sorrir não sou eu. Aí eu te achei um vilão. Só que eu também não sou mocinha. Porque as mocinhas amam exageradamente sem pedir nada em troca. E eu peço, eu grito e eu quero: você. Se for como mocinhos, podemos comprar uma casinha no campo de cercinha branca, passar o dia namorando, vendo filminho, tomando vinho, ouvindo música e comendo porcarias. Se for como violões, poderíamos assaltar a cidade e rir de todo mundo em frente à Torre Eiffel e depois dar um daqueles beijos de cinema de deixar qualquer um morrendo de inveja do quanto nós somos felizes. Mas, se for como nós somos, pouco importa como seja. Importa só que seja. Porque você sabe que o mundo de verdade só vai existir onde nós dois estivermos juntos.
O homem tem construído e acreditado no que é concreto e natural. É preciso adotar a sensibilidade e libertar o imaginário, a fim de estabelecer sonhos e crenças que vão além do que é possível e alcançável.
Mimética
Sou da mata, não me acerto na cidade.
Defendo-me do cativeiro de concreto,
Num desejo violento de liberdade.
Desamarroto as asas do pensamento,
Extrapolo pés automotivos, passivos,
Sedentos... Olhos de onça pintada, radar de morcego,
Patas de guará correm no cimento.
Naturalmente anti-cibernética, instintiva, apelativa,
Permissiva... Sou bicho-palha, macaco-prego,
Saci de duas pernas, Caipora, trilha refrescante.
Toda mata vive no meu corpo, plagas verdejantes.
Em mim vivem formas selvagens,
Sonhos que devoram ansiedade, viragens:
Bosque de mil segredos e folhagens.
Minh’alma ponteia verde estandarte.
Disfarçada na anacrônica Campinas fumegante,
Sou anti-vigas de aço, primitivamente blindada.
Naco de floresta oculta por pele esbranquiçada.
Mimética, simbiótica, defendo-me da morte.
Mas se um talho, um corte...
Verão que é seiva meu suporte.
As paredes são como nossa mente, as vezes colocamos muito concreto e deixamos de sentir o que realmente importa e de ouvir o coração.
Escudos
Apesar desse concreto que te protege de mim..
Te sinto linda, doce e frágil…
Continuo a te buscar…
Ainda derrubo estes teus escudos…
Difícil ter algo mais concreto do que um bloco de concreto e nada tão abstrato quanto um bloco de abstrato.
Minucioso, quiçá, precioso - o silêncio: quando bem executado sucedera um concreto comando sinfônico de corais.
A vida... Essa mistura de suor de sangue com mingau de concreto, nesta desconcertante passagem do tempo através desta caminhada de dores pelo deserto desses anos.
E eu que achava que meu jardim seria só concreto
Houvera um grande engano de certo
Engano esse que passo a me enganar cada vez mais
E nesse engano eu me embolo até não poder mais
Gosto tanto de me enganar! (Trechos do Poema '' Engano)
- Relacionados
- Poema sobre a Chuva e o Vento
