Coleção pessoal de valdenirdelimaolivei

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É Você

É você que vem só
Todo dia aqui me ver
Dar um nó em minha vida
E me faz enlouquecer

É você que eu nem vejo
Pois é feito fumaça
E quase virando pó
Eu me atolo no seu beijo
Mas é só em pensamento
Feito pé a se atolar no brejo
Me fazendo até pensar
Dia e noite em casamento

É de você que eu tenho dó
Por ser assim uma mulher de aço
E ter no peito um coração de jiló
À me prender no seu abraço
E a nunca dar um ponto sem nó

Você me rodopia
E me faz perder a noção do tempo
Me faz crê na utopia
Acendendo em mim um lamento
Quando cruzou o meu horizonte
Com luzes de néon raiando o dia
Enfeitiçado era a água da fonte
E enfeitado ficou a nossa moradia

Você me amarrou pela boca
E me levou pra sua vida
Quis arrancar o meu couro
E usou o seu corpo no meu
Como se fosse água fervida

Você roubou o meu olhar
E me fez correr apressado
Da boca saia faíscas
E do coração
Um amar sem pecado
Mas uma corrente
Amarrava os meus pés
E uma paixão em mim
Atracava feito serpente
O amor é como um robô
Que sonha correr desimbestado
E você que saia na frente
Pra ver do que ele é capaz
Pois todo amor assim
E quase feito um complô
Ele já quer correr pro jardim
E de lá te trazer uma flor
Com um lindo sorriso nos dentes
Carente precisando de amor

O amor pode sempre esperar
E devagar a gente chega lá
Eu continuo onde estou
E você é quem vive a me espiar
Com aqueles olhos de lã
Que faz o meu corpo arrepiar.

Domingo Ensolarado

Faça de mim
Um domingo ensolarado
E que não seja
Essa ordem o meu fim
Acordar de manhã na bandeja
Ou na mira de algum soldado

Faça de mim
Um domingo ensolarado
E que não seja
Esse não confuso do sim
A se esconder no copo de cerveja
E acordar de manhã do seu lado

Faça de mim
Um domingo ensolarado
E que não seja
Esse um querer sem estar afim
Á se arrepender numa peleja
Por tudo que se tem guardado

Faça de mim
Um domingo ensolarado
E que não seja
Esse qualquer jardim
Pra que você veja
E sinta também amado

Faça de mim
Um domingo ensolarado
E que não seja
Esse qualquer jasmim
Á que se corteja
Quando estar apaixonado

Faça de mim
Um domingo ensolarado
E que não seja
Esse qualquer latim
Á dificultar o que se deseja
Como um fio de linha enrolado.

Permissão

Que seja permitido viver
Com a mesma força
Que nos leva a morrer
Com aquela mesma
Intensidade do vento
Com que cada folha cai no chão
E é levada á um caminho
A se percorrer
Que não seja como uma força
A se martelar em vão
Porque eu tenho fome
E não posso esperar
Essa multidão
Quero viver bem mais
Do que eu preciso
Pra te mostrar melhor
O que é se viver com paixão
Que seja permitido cantar
O canto de qualquer ilusão
Pra quando o meu sonho acordar
Dispertar também o meu coração

Que seja permitido voar
Com as asas da imaginação
E aonde quer que eu vá
Que tenha sempre na fé uma mão
Pra que ela nos sirva de escada
Quando o meu peito se abrir
E o coração dar risada
Que seja permitida a loucura
Quando for maior
Que a nossa criação
Pois a mesma luz
Que clareia o destino
Prevê também a nossa perdição

Que seja permitido o amor
De qualquer jeito
Por qualquer pessoa
E que ele seja livre
Como o desabrochar de uma flor
Em qualquer lugar
Ou caminho onde eu for
Que seja permitido correr
E correr bem mais
Do que se possa aguentar
E quando sentir qualquer dor
Que seja proibido parar
E jamais saber o que é sofrer

Que seja permitida amizade
Por uma pessoa que se ama
Que sonha e não é por vaidade
Um dia leva-la pra cama
Que seja permitida a verdade
Em tudo que se esconde na fama
Pois nem toda droga
Vem da cidade
E nem todo pé se atola na lama
Que seja permitido dizer
Com a mesma boca
Cheia de dente
E que não queira bancar a louca
Pra morder o seu rosto
E aquele couro dormente
Quando o seu gosto
Virar serpente
E o mês de agosto
Gerar semente
Que seja permitido beijar
E não compreender a sua mente
Por que uma parte em mim
É desgosto
E a outra parte é contente
Você pode até mudar de posto
Mas jamais de continente
E que seja comum o oposto
Se for pra te ver sorridente.

Atitude

Já é o que se foi
Já foi o que se faz
Agora acabou
E não tem como voltar atrás
Muita gente ali dançou
Tentando um dia ser feliz
Mas pra isso acontecer
Tem que rebolar um pouco mais
E tentar fazer de uma vez
O que sonho nenhum desfaz
Por isso eu entrego nas mãos
A chave do mundo ao destino
Pra ver do que o menino é capaz
E se ele tiver um bom coração
Não serar jamais um cretino
Todo amor ele há de doar
E se precisar ele até refaz.

Feitiço

Tem gente na multidão
Perdido feito bobo
Sem alma e sem coração
E feroz como um lobo

Tem gente na encruzilhada
Dizendo ser feiticeiro
Dessa vida não entende nada
E o joga o feitiço
Em quem passar primeiro
O feitiço é sempre certeiro
E mexe com o destino
Da rapaziada
Do homem que sai pra trabalhar
E quando volta já é madrugada
Do rio que corre e desagua no mar
E quando chega
Não quer mais voltar
Tem gente na corda bamba
E gente cortando um dobrado
Ele acha que a vida é um samba
E fica sonhando acordado

O medo quer te assustar
Mas os pés é sempre no chão
A vida é quem vai te ajustar
Quando tocar no seu coração.

O Brilho Da Lua

Eu vejo uma lua prateada
Tão cheia de vida
E bem animada
E quando ela brilha
Parecem dois faróis
Nos olhos da moça
Quando estar apaixonada
Eu vejo uma lua refletida na louça
E dois caracóis
Perdidos na trilha
Um se aquecendo
Com dois lençóis
E o outro em forma de colosso
Brilhando mais que o dente
Daquele cão
Quando morde o osso
O brilho da lua
Não conhece
Olhar tristonho
Ela brilha mais
Que sonho de moço
Quando ele vai pra rua
E o seu caminho ele tece
Dizendo querer sempre mais
E assim como um bom caminho
O seu brilho a gente merece.

Imprudência

Carro não atropela ninguém
Quem atropela são os condutores
Pois carro foi feito pra rodar
E não feito pra matar
Quem mata é o condutor
Que não sabe guiar
E tão cedo quer pegar a estrada
Mas seus limites
Não sabe respeitar
E sem nenhuma responsabilidade
Já quer logo enfrentar a cidade

O carro sozinho
Não invade a contramão
E nem avança o sinal vermelho
É você quem anda apressado
E na pressa perde a atenção
Pra esperar o sinal abrir
E seguir o seu caminho
Olhando adiante
Quem vem a sorrir
E depois só ver a chorar
Seguindo sem direção.

Escachar

Ninguém é feliz aqui
Por muito tempo
Há sempre uma vida que junta
E outra que separa
Há sempre uma luz que acende
E outra que apaga

Ninguém é feliz aqui
Por muito tempo
Há sempre uma gente que rir
E outra gente que chora
Há sempre uma saudade a insistir
Quando alguém vai embora

Ninguém é feliz aqui
Por muito tempo
Há sempre uma estrada que abre
E outra que fecha
Há sempre quem joga uma pedra
Ou te atira uma flecha

Ninguém é feliz aqui
Por muito tempo
Há sempre quem faz tudo sozinho
E aquele que precisa de ajuda
Há sempre quem abre o caminho
Mas precisa se benzer com arruda.

Alvedrio

Hoje eu acordei
Querendo tocar o sol
E até duvidei que a minha alma
Era quem se escondia
Atrás daquele lençol
Com tanta calma que se perdia
A procura de um só farol
Que me service de guia

Hoje eu acordei
E dei de cara com meu passado
Foi tudo tão complicado
Mas confesso que não chorei
Guardei o que tinha sobrado
Pra mim nunca esquecer
Daquilo que um dia
Tem me feito chorar
E um dia por um triz
Quase me fez enlouquecer

E o giz por incrível que pareca
A nossa história
Ele também escreveu
E tudo tão bem guardado
Ficou lá no passado
Como se fosse um museu
Pra registrar o que passou
E mostrar o que se viveu.

O Barco Da Vida

O tempo passou
E eu ja nem lembro mais
Quem foi embora atracado ao cais
E na minha vida
Quem ficou pra trás
Sem dizer adeus
Ou até nunca mais
E quem atracou á minha alma
E não me abandonou jamais

Eu já nem lembro
Quem chorou mais
Quando o barco da vida sumiu
E o meu amor
Disse adeus e partiu
Com aqueles olhos
De quem sempre volta
Mas nas voltas que o mundo dar
Veio o asteroide e nos iludiu
E me deixou com o rosto
Todo amarrotado
Iludido de tanto esperar
Quando fechou o meu coração
Com tudo que ele tinha pra te dar.

Anjo

Há um anjo em cada um de nós
Nos amando por dentro
E por fora também
Há um anjo segurando a sua mão
Quando o carro vem
E você tá na contramão

Tem anjo guardando o seu sono
E no sonho fazendo presente
Alertando de todo perigo
Que pode acontecer de repente

Há um anjo em tudo que eu vejo
Em tudo que eu penso ou desejo
Tem anjo até no telhado
Segurando vela
Durante o seu beijo

Tem anjo pelo pão de cada dia
E anjo segurando o vento
Quando a gente canta a melodia
E mexe com teu sentimento
Tem anjo até no perfume
Que faz eu lembrar de você
Mesmo com todo o tormento
Quando traz aquele ciúme

Tem anjo vagando no ar
E nos olhando dia e noite
Sem parar
Tem anjo voando no mar
E se afogando em nossa agonia
E com açoite ele sempre vem
Aqui prontos pra nos salvar.

Idílio

Como é bom sentir o cheiro
Doce de terra molhada
Junto aquele aroma
Que vem do canteiro
Remetendo a mim
Á vida passada
Em tudo que um dia
Eu já fui o primeiro

Junto á aquela beleza
De um campo todo florido
Onde sempre eu tenho corrido
Atrás daquela primavera
Que sempre deixava cair
A mais linda rosa no chão
E como se fosse uma bola
Eu pegava e segurava com a mão

Como é bom acordar de manhã
Ouvindo o cantar dos passarinhos
Pra mim já não existe o amanhã
Nem outras vidas que mostre
Esse mesmo caminho
Com aquele aroma do café
Que exala sempre
Onde você estiver
Eu não troco essa vida por nada
Nem que eu tenha
Que beber de colher
Toda a água que vem da chuva
Em uma noite de invernada.

O Velho Indio Sábio Do Rio

O velho índio sábio
Tantas vezes um homem sério
Hoje finalmente ele sorriu
Pois ele é quem guarda e conhece
Todos os segredos
E mistérios do rio
E como a palma da sua mão
Conhece também
O profundo vazio
Que cerca e invade
O seu coração

O teu sorriso vivia esquecido
Até que um dia ele se abriu
Foi como de novo ele ter nascido
E tudo que é anjo do jardim saiu

Muita história ele tem pra contar
Algumas até são de arrepiar
O indio sabia de tudo
Mas não queria falar
Por isso fingia de cego
E outras vezes de mudo
Pois tinha medo do abismo
E de ser jogado no fim do mundo

O indio sabia demais
De todos os Mistérios
E segredos do rio
Desde ali até o cais
E até dentro do navio

O indio conhecia
A alma de cada pescador
Como quem conhece a cara
Que silencia um pecador
Ele sabia onde o seu calo apertava
E quem te causava essa dor
Quem botava a lenha na fogueira
E acendia a chama do amor.

Três Caminhos

O que não se sonha
O que não se vê
O que não se sente
O que não se ganha
É fogo apagado
É mente esquecida
Quando não se crê
Ou não se pressente
Já meio perdida
E quase ausente
Por estar descontente
Não se dar por vencida
E vê tudo acabado
Entre eu e você,
E a vida da gente

Não há fogo na palha
Nem nó na gravata
Pra o corte tem a navalha
E pra o calor a camisa é regata
Quem não ajuda
Também não atrapalha
Vem de bermuda
Mas não banca o canalha
Porque a vida te derruba
E te põe numa cangalha

A vida te mostra
Sempre três caminhos
Aquele que é certo
Aquele que é perto
E aquele que é longe
Apenas um caminho
Você vai trilhar
Escolhendo o caminho mais longo
Você demora chegar
Mas quando você chega
Lhe satisfaz
Ao contrário
Do caminho mais curto
Tão logo você chega
Mas a vida te faz voltar
Pra buscar o que se escondeu
Quando quis trapacear
Sem subir nenhuma ladeira
E sem ver tudo escurecer
Achou que estava a passear
E levou tudo na brincadeira

A vida é uma escola
E te ensina muito bem
Corda por corda
Como tocar a viola
E que a nota de cem
Vinda do marajá
Vale muito menos
Que a nota de dez
Que um coração
Te dar de esmola

A vida te ensina princípios
Que nenhum município
É capaz de ensinar
A vida é um livro de sonhos
E quem não seguir
Os seus ensinamentos
Tão cedo perdarar sua vida
E todos os seus sonhos
Serão jogados no precipício.

Metade

Quis me olhar só com um olho
E apagar toda a nossa história
Deixando o meu coração
Aqui de molho
Sempre escravo da ilusão
Numa triste trajetória

Quis me ver do fim até o começo
Rasgando o meu peito
E errando sempre
O que há de direito
Naquele meu endereço
Como um rio que erra seu leito
Num breve e leve tropeço

Quis me olhar só de segunda
A sexta-feira
Isso se eu fosse na barra funda
E ficasse lá a semana inteira

Quis me ver só pela metade
E quando me olhava
Era só de lado
Não sei se era medo
Dessa verdade
Ou pra esconder algum pecado
Por dentro eu só tinha felicidade
Porque a vida
Me obrigava a ter
E aquele meu jeito delicado
Você era incapaz de ver

Corria quando eu estava perto
E voltava quando eu estava longe
A minha vida parecia um deserto
E você parecia que é monge.

O Frio Da Noite

Deixa eu tocar o meu tambor
Pra encantar o amor
E espantar essa dor
Que bole e remexe por dentro
Acompanhando
O tic, tac do despertador

Deixa eu tocar o meu tambor
Nessa noite fria
De coração gelado
Quero fazer do seu corpo
O meu cobertor
Como se a gente fosse namorado

Deixa eu tocar o meu tambor
Olhando dentro dos seus olhos
Pra te mostrar a batalha
Travada por um sofredor

De mão, braço
E perna amarrada
Congelado no breu
E no frio da madrugada.

Frutos Do Amor

O amor é fruto
Do que não se furta
É pedra bruta
A se lapidar
O amor é o fim de toda canceira
E também da triste labuta
O amor sempre corre da feiticeira
E sabe que a luta não é passageira
O amor quer sempre acordar
E ter você do seu lado
Por isso não mede palavras
E nem gasta com besteira
Com ele não tem demora
Por isso já não pode esperar
Que tanto sentimento
Se perca no ar
Virando uma cordilheira
E na boca permanecendo calado.

Fadiga

Já não dar mais pra seguir
A mesma estrada sorrindo
Já não vou mais conseguir
Com tanto chão se abrindo
Eu já não tenho tantas pernas
E nem fé que a vida seja eterna
Eu vi tudo que é luz apagar
E fiquei perdido no ar
E quando olhei pra o lado
Nenhuma lanterna
Eu vi pra mim clarear
A minha vida é uma ciranda
Que roda dia e noite sem parar
Mais alto fala é quem manda
E besta é quem cala
E para pra escutar

Eu já não tenho o mesmo rojão
Que antes eu pensava que tinha
Quando acabava a farinha
E na mesa faltava o pão
Quando infeliz
Era o inimigo que vinha
E eu mandava pra longe
Ir enfrentar a multidão
Pra que ela te desse sal e açúcar
Pra adoçar a sua vida
Ou salgar de vez o seu coração

Eu já não tenho a mesma amizade
Pra quem me deixou
Em pé no portão
Questionando a minha igualdade
E sobretudo a minha condição
Como se eu e você
Não fossemos tudo igual
Feitos de carne e osso
Uma espécie de doce
Vindo da mesma fruta
E fabricado no mesmo quintal.

Condição

Se quiser correr
Que seja só pra me ver
Se quiser me prender
Que seja no laço
Do teu abraço
Pra que eu fique
De rosto colado
E bem grudado em você

Se quiser me vencer
Que seja com teu amor
E se quiser me enlouquecer
Tire primeiro essa dor
Que fica martelando no peito
E vai do meu lado esquerdo
Direto ao lado direito

Traga pra mim
O teu olhar
Com aqueles mesmos
Olhos de sempre
E quando me olhavam
Eu arrepiava
A sua boca eu logo beijava
E do seu corpo eu ficava afim

Traga pra mim aquela boca
Tão cheia de batom
Onde sempre eu me escondia
E fazia dela a minha toca
Isso é que era alegria
E não tinha nada tão bom.

O Nosso Nascimento

A luta começa
Desde o nosso nascimento
Quando ainda nem temos idade
E começa aquele sofrimento
Nos sofrendo pra nascer
Pra buscar felicidade
E lutando pra vencer
Pra ser feliz de verdade
Mas pra isso acontecer
Ainda há muito o que fazer
É preciso muito luta
Pra ver tudo florescer

Muita mãe ainda chora
Pra ver seu filho nascer
Algumas tão cedo vai embora
E não ver o seu filho crescer

A nossa luta começa tão cedo
E a nossa mãe a gente faz padecer
E sem querer a gente
Faz a ela tanto medo
Pois logo ela se desespera
Achando que seu filho
Não vai nascer.