Coleção pessoal de RosangelaCalza
No silêncio do fim do dia
Silenciosamente o sol desaparece numa fenda no horizonte
Tento...não consigo... não consigo meu amor confessar
parece que só o silêncio torna possível,
possível exprimir....
só o silêncio consegue esse amor traduzir.
É tão difícil...
Vencer o silêncio?
Não... não é um silêncio pra ser vencido...
O silêncio entre nós é audível,
é todo o nosso dizível....
é visível e todo colorido.
É tão silencioso....
Entre nós tudo,
tudo é tão intensamente silencioso.
Sabe o que é tão difícil?
... a tristeza que o fim do silêncio pode causar,
estou achando mais fácil
suportar um silêncio que não para de falar...
um silêncio que não cala
porque tem medo de ouvir e não suportar.
só pra me alegrar....
Quem sabe?! No silêncio do fim do dia ouço você me dizer que pra sempre irá me amar?
... e todo meu medo dessa escuridão apagar?
Que o vento leve
Que o vento leve todas as recordações tristes da minha vida...
Que todas as coisas que me fizeram mal sejam esquecidas...
Que nenhuma delas encontre em meu peito guarida.
Sepultei-as sem flores... sem lágrimas...
Quero seguir sem sofrimentos pela vida.
Noites serenas... madrugadas plenas.
Novos dias e eu feliz em cena.
Sorriso que não morre.
Doses de felicidades que não sejam pequenas...
Que o vento leve tudo o que fere minh’alma.
Que as cicatrizes sejam apenas leves lembranças
... que não tirem minha paz e minha calma
O que me causou sofrimento, definitivamente, lembrar não vale a pena.
Ante o silêncio
Um silêncio de pura agonia...
Tu te foste daqui
Deixaste um silêncio mortal...
Levaste todas as minhas alegrias.
O céu se faz grande sobre nós.
O céu sabe tudo sobre nós.
É hora de partir,
o caminho em frente seguir.
Hora da despedida,
o dia se faz noite.
triste é a partida.
Hora da chegada.
Como toda madrugada,
antecede o sol
que brilhará em toda a sua jornada.
O céu se enche de nuvens
leves, branquinhas como algodão.
Durante o dia, espalha o calor do sol
pra aquecer seu coração.
Chega a noite toda estrelada
brilha a lua toda iluminada
exclusivamente pra alegrar sua caminhada.
Dia ou noite
não importa
o céu guia seus passos
retos, em vias tortas.
Silêncio se fez total por esses dias
Olhares
Chove... e chove torrencialmente.
As ruas estão atravancadas de carros
As calçadas, de pessoas...
Guarda-chuvas coloridos
colorem tudo em todo e qualquer sentido.
Ouço uma sirene
Coração acelera.
Na boca um gosto de fel.
O barulho da cidade grande é ensurdecedor.
Ainda sinto dor...
Olho atentamente para os rostos que passam por mim...
Ninguém fixa os olhos em mim.
Zumbis?
Busquei por olhares que demonstrassem compreensão, comprometimento... compaixão.
Não vi nenhum...
Sussurro teu nome... como um lamento.
No teu olhar eu encontraria
Tudo o de que precisasse... lá com certeza estaria.
Um diário em minhas mãos
Madrugada fria
A vida quase vazia.
Chove lá fora.
O quarto jaz numa penumbra que me arrepia.
Folheio lentamente um diário.
Nem sabia da existência dele...
O acaso colocou-o em minhas mãos.
Sinto-me como se estivesse
um altar profanando.
Dúvida cruel a me assaltar...
Ler ou não ler
aquelas linhas
... tão certinhas?
Olho-o... descuidadamente...
Como quem não quer olhar...
Como que por acaso...
Dou uma espiadinha.
Vejo o meu nome mais de uma vez escrito
naquelas folhas que vou folheando bem devagar.
De partes em partes há datas...
Uma lágrima rola.
Nossos instantes vividos estão todos aí
Meu eterno amor registrou tudo quando ainda estava aqui.
Há um bater de asas
O sol nasce devagarinho
Seus raios lentamente aparecem por detrás do montes...
Uma brisa suave traz até mim o perfume inebriante de flores...
Mais um dia começa...
Longa será a jornada.
Eu aqui parada... estagnada.
Não tenho forças pra começar o dia...
A noite foi de completa agonia.
Partiste...
Me deixaste tão triste.
Pergunto-me: de que adianta estar pelo mundo se não estás do meu lado?
Meu coração está desconsolado.
A cortina levemente balança com a brisa que entra...
Um pássaro pousa no peitoril da minha janela...
Fica alguns segundos a me olhar com se me dissesse: ‘há tanta vida lá fora’.
Minha alma no peito chora...
Há um bater de asas...
Um bater de asas que me move... meu coração se comove...
Há vida... me decido... vou vivê-la...
Meu coração tão padecido... apertado no peito...
Minha razão: ‘levanta-te... pra toda dor sempre há um jeito’.
Muralhas
Vivo dentro de muralhas...
isso não pode estar acontecendo...
até há pouco tempo,
por bobagens eu estava
me debatendo.
Eram coisas tão bobas, triviais
que me incomodavam...
hoje é questão de sobrevivência
um coquetel único de anomalias...
tudo foge à norma, tudo é diferente do normal...
do habitual...
Saudades de quando tudo era tão normal e eu pouco caso fazia.
Não, eu não perdi.... nós perdemos.
De tão apavorados, preferimos viver uma vida vazia
de nós...
Poetar
Um pensamento contínuo...
Sensações que de longe vêm...
Ideias bem definidas
que aos poucos vão criando vida.
Partículas de emoções.
Deslizam leves por mim.
Virando palavras...
Poesia concreta enfim!
Reminiscência do vivido.
Lembranças do já esquecido.
Rotina que se repete...
Esperanças de um futuro incerto...
Presente, passado, futuro.
Tudo embaralhado... indefinido.
Poeta e seu poetar...
Vivendo a imaginar!
Água lamacenta
Esta raiva que arde dentro de mim
é um fogo que queima e não se apaga.
É a barreira que me impede,
de atravessar pontes que me levem ao outro lado de mim.
Preciso descalçar esse furor...
Perigoso inimigo de mim mesma...
Polui de ferrugem minhas entranhas.
Faz-me a mim mesma uma pessoa estranha.
Não há voz de lucidez.
Não há equilíbrio no meu caminhar.
Escorrego até o calabouço
Vejo minha vida nas águas barrentas se afundar.
Sem nada de mim
não queria ter sido parida...
trazer em mim essa ferida...
nem o amanhecer... nem o entardecer de mim deveriam ter palavras ouvidas...
não haveria riozinhos com águas quentes pra me banhar...
eu ali jamais iria estar...
secar ao sol
um vento o corpo refrescar
nada disso quisera eu ter de experimentar...
um olhar a se perder na distância
sem alma pra abarrotar de dores dessa eterna inconstância...
sem partículas de mim nos caminhos de espinhos desfloridos...
ao pó caídos... numa eternidade sem fim destituída de mim
Da vida
E é a vida a se tecer.
Fios que se entrelaçam.
Noites e dias que se sucedem.
Faz frio.
O vento sopra forte.
As folhas das árvores caem.
As flores florescem deslumbrantes por aí.
A estrada que se faz.
A vida se tece entre sinapses...
Um pensamento aqui.
Um pensamento lá... bem distante do aqui e agora.
A vida que se fez.
E a alma permanece perdida nos labirintos do ser...
ou do não ser.
Tanto faz. Tudo realmente tanto faz.
A vida se tece. Simplesmente acontece.
Levo minha vida no meu ritmo
Muitas vezes o ritmo do mundo ignoro...
Vou mais depressa... ou mais devagar...
O que acompanho é o teu caminhar.
Contigo é tudo o que me envolve.
Tua companhia é o que me conforta.
Ruas retas... ou ruas tortas...
Pouco... ou nada influem.
Não tenho pressa por algo...
Teu ritmo é o ritmo perfeito.
Depois que chegaste em minha vida
Não há mais portas de saída... minha moral nunca mais está em baixa.
Estou tão bem... como peça de quebra cabeças que se encaixa.
Todas as manhãs tento não te buscar.
Pois já sei que nem adianta...
Em lugar nenhum vou te encontrar.
Não sabes o quanto sonhei minha vida contigo.
Não consegui... terrível castigo.
Procuro por ti nas tuas coisas que por aqui ficaram...
São sombras... fantasmas... espectro que permanece ao meu lado.
Às vezes penso só quero isto: estar contigo.
Outras vezes nem quero.
Baralhas a minha mente...
Sinto-me quase o tempo todo demente.
Quem plantou em nós a semente?
Por que só em mim vingou?
Toda esperança virou fumaça...
Esperança é coisa que passa?
Olho-me no espelho.
Olho meus olhos.
Olhar cansado... magoado
Olhos que procuram o tempo todo em todo lugar por ti.
Se era pra partir tão cedo, por que passaste por aqui?
Se era pra me amar um amor tão passageiro,
por que me pediste um amor inteiro?
Meu mundo é cinza.
A aquarela de cores foi-se contigo.
Hoje sou solidão.
Sobrevivo em um mundo de fantasias...
Miragens, ilusões... só isso pra não parar de bater meu coração.
A sabedoria se encerra no saber o momento certo.
Se vais agir ou se vais ficar quieto.
Desespero... anarquia... some o chão.
Atropelo mental... irracional.
Desgoverno... confusão geral.
Atrapalhadas as coisas do coração.
Incontrolável... lastimável.
Irrefreável... lamentável.
Controle na mão.
Segura do barco o timão.
Governo... tranquilidade...
Para encontrar a melhor direção.
Vida em escuridão
Em momentos de descontrole
O mundo dele virava do avesso...
E por mais que as pessoas orientassem
Ele sentia como se coisa alguma tivesse fim... nem mesmo tinham começo.
Ele dizia que o que via era só escuridão.
Sob seus pés areia movediça.
Na boca um gosto de fel...
Um castelo sem ponte levadiça.
Ele sentia bater acelerado seu coração.
O mundo girava sem parar...
Sentia-se tonto, desnorteado.
Como se tudo estivesse fora de lugar
POR UM MUNDO MELHOR
Que alegria...
poder acordar todo dia
e estar sempre na melhor companhia.
Minha vida de criança
é feita de pura esperança
acredito num lugar colorido
onde todos estarão bem unidos.
Tenho um pincel mágico.
Vou pincelando aqui e ali.
Te convido, amiguinho querido,
a comigo esse caminho seguir.
Juntos colorindo a estrada.
Juntos fazendo brilhar nossa estrada.
Juntos somos mais fortes...
Abraçamos nosso mundo com muito amor...
Espalhamos alegria, paz e carinho...
Fazemos um mundo melhor pra todo mundo dispor.
Sempre é fim
É sempre assim
Encurta-se o tempo.
Que chegue logo o fim da história.
Afinal, é sempre a mesma história.
Começo. Meio. E fim.
Diz pra mim...
Alguma vez foi diferente?
Há alguma coisa que dure pra sempre?
É o peso dos dias que nos quebra.
Força-nos aos erros.
Não, não me diga que você se importa.
É sempre a mesma história:
alguém abre a porta.
Entra a luz.
De repente... vales obscuros.
Alguém sai e bate a porta.
Essência
Fatigada da existência
Vejo ao fundo trevas crescentes...
Glórias passageiras...
Um barco à deriva.
Névoas a cobrir meu cenário.
Medo de estar a fazer tudo ao contrário.
É a noite afogando-se em chuva intermitente…
Procurando a saída
desta grande encruzilhada que é a vida…
Sinto-me acuada
Quero sarar as feridas
Olhando o passado…
Sinto que fui iludida.
Abro brechas em minha mente.
Vejo laços que me prenderam.
Tento abrir passagem...
Esvaziar-me dos sentidos.
Tento no curso que sigo
encontrar da minha vida o real sentido.
O que tem o tempo pra me dar?
O alívio da brisa?
Calmaria no mar?
Ou um fundo tão fundo que vai me afogar?
Vou te achar…
E, com alegria, fechar os olhos, e me esquecer de tudo.
Vou embrulhar o tempo.
Fazer um laço perfeito.
Viver o amor que pra nós foi feito.
Talvez na beira do mar
Vendo as ondas que vêm e vão sem parar.
Num dia quente de verão.
Talvez numa praça num canto secreto.
Vou te achar...
Vivo desenhando cenários.
Sentindo pensamento inquietos espiando-nos nas sombras...
Vou te achar.
A bem da verdade, pouco importa o lugar.
Importa mesmo é que vou te achar.
Poeira estelar.
Céu noturno
Pra onde se dirige meu olhar.
E fico a me perguntar: de que partícula sou... como aqui vim chegar?
Mergulho profundamente nos processos cósmicos que moldam este mundo...
Vou em busca de respostas...
E vou até o fundo.
Chego à minha raiz – nuvens cósmicas gigantes... as nebulosas.
Entrelaçaram-se elas num balé cósmico.
Chegam a um frenesi sem igual.
Explodem numa explosão fenomenal.
Olho o céu noturno.
Em busca do meu passado.
E repito sempre palavras que em algum lugar li: “eu, universo de átomos, um átomo no Universo”.
É estranho estar aqui agora simplesmente a fazer disso versos.