Coleção pessoal de RoCassimiro

1 - 20 do total de 28 pensamentos na coleção de RoCassimiro

Poesia Completa Bandeira”, editora Leya. Por motivo de direitos autorais, apenas trechos dos poemas foram publicados.

O livro sobre nada

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.

Espaço para o novo
E derrepente tudo mudou, decisões foram tomadas, direções foram mudadas.
Talvez uma forma de fazer algo nunca antes feito, derrepente a alma grita por uma chance de fazer o que sempre quiz, e ao mesmo tempo a razão tem medo do novo, porque a felicidade parece não ser merecida.
Cada dia um passo, cada passo mais próxima do caminho.
Tenho feito algo diferente, ao contrário do pessimismo, tenho focado na solução, tenho tido vários encontros comigo e me convidado a sair, tenho sido gentil e agradável, afinal, o que vale é quem eu sou na verdade, e isso eu sei bem.

É difícil dizer adeus quando tivemos por anos impregnados, é difícil desfazer laços quando a ligação foi tão apertada que mais parecia nó.
É difícil e doloroso se despedir.
Porém, a dor seria insuportável se desse um passo para trás, a destruição seria iminente.
Alguns dizem que para você conhecer quem está ao seu lado é só separar-se dele.
Nesse período, angústia e dor, tanto que respirar era uma tarefa difícil, textos, vídeos, palavras e atitudes que feriram mais que ácido na pele.
Pedi perdão, mesmo sabendo que a dor que me causou foi sem precedentes, a cicatriz pra sempre estará aqui para me mostrar que jamais deveria olhar para trás.
As atitudes foram destruidoras, impossível de recomeçar de onde se parou.
Traição de alma, de respeito e caráter.
Não, eu não posso me anular, perdoei com certeza, mas é um lugar para o qual jamais poderia voltar.
Então, adeus definitivo é o que eu tenho, e perdão é o que eu dou.

Uma corrida contra o tempo, para se ter mais tempo.
Precisamos de tempo para realizar o que ainda não foi feito e falar ainda o que não foi dito.
Me dá um tempo...
Tempo de me encontrar, de viver, de amar e correr.
Preciso de mais tempo, mas o relógio não pára, as horas avançam e eu travo sem saber se elo que eu queria fazer era o que eu deveria fazer ou se deveria mudar o rumo do meu tempo.
Quem acha que me conhece diz que estou sempre com a mochila nas costas, mas não sabe de verdade o caos de errar de novo e de novo.
Eu nunca quero ir embora, mas o receio de estar fazendo errado me impulsiona a correr, e às vezes nem sei do que estou correndo, só sinto que preciso me proteger, me bloquear e me armar.
E agora, o que faço se não tiver mais tempo???

Prece
Obrigada por estar ao meu lado e me amar a pesar de...
Obrigada por me manter em pé a pesar de...
Obrigada por me fazer lembrar o que vale a pena a pesar de...
Me mantém de pé, olhando no espelho e não me deixe me perder, suplico...
Obrigada por me confortar na noite solitária onde meus pensamentos me torturam, ou quando acordo depois de um pesadelo...
Graças te dou por me dar os meus, sendo de sangue ou não, aqueles que sempre estiveram aqui, de perto ou longe.
Obrigada pelo tempo de qualidade e os poucos sorrisos liberados.
Por fim... Agradeço por mais um dia respirando.

Ervas daninhas, como combatê-lad com a gratidão...
Se você fosse parte de um jardim, seria flor ou erva daninha? Muitas vezes teço esta comparação. Os diversos ambientes em que vivemos são como jardins com seu pequeno ecossistema. Neste jardim, podemos ter árvores, flores e também ervas daninhas. Depende de nossa atitude.
Tanto as árvores, flores e as ervas daninhas dividem o mesmo jardim. O sol banha a todos, a água também. Mas os nutrientes do solo tem que ser divididos. Vamos concordar que se houverem muitas ervas daninhas elas vão prejudicar o crescimento das flores e das árvores, pois tomam para si os nutrientes do solo, ou o deixam mais ácido ou básico, incompatível para outras plantas ao seu redor. Este pequeno ecossistema fica prejudicado, certo?
Em nossos grupos de convivência, o sol e a água são o que o ambiente oferece para todos, igualmente. Oportunidades de aprendizagem, de crescimento, de participação, afeto, prosperidade, o ar que respiramos, a casa, escola ou empresa em que nos relacionamos.
O solo e seu nutrientes, entretanto, é o que não vemos. Intangível para alguns, é a energia que cada um emana a todo instante, e que pode transformar-se em um “adubo” ou “veneno” para quem convive no ambiente.
Dentro dos grupos dos quais participamos temos pessoas que atuam como ervas daninhas num jardim. Achamos que se removermos a erva daninha os problemas acabam. Mas não é verdade. Elas voltam a crescer. Hoje usam-se métodos de controle naturais. Pequenos insetos que se alimentam da erva daninha, mas não das flores, por exemplo. Também em nossos relacionamentos – em casa, trabalho, estudos, família – não adianta removermos quem nos incomoda. As raízes estão lá, e voltam. Mas temos um modo de controle natural que você pode usar. Ele se chama gratidão.

Perde-se o direito de revolta, depois que se vai.
Acostume-se a não ter satisfação, a não ter notícias ou ouvir a voz.
As gargalhadas que outrora haviam, com chocolate derretido pelo rosto não será mais possível.
Nem os bolos no fim de tarde ou lanchinhos na madrugada.
Agora somos eu e meu caminho.
Acostume-se a não falar até altas horas, até que o sono venha ou que esteja tranquilo o coração.
De acordar sem bom dia e dormir sem boa noite.
Acostume-se com a cama gelada e os pés frios.
Acostume-se com o silêncio na multidão barulhenta.
A sentir-se só mesmo acompanhado, a estar triste mesmo sorrindo.
Acostume... Essa é sua jornada até a luz, você fez o que podia e enquanto pode.
Você tentou por anos... Quiz mais que tudo que desse certo, mas deu até certo momento.
Agora nada mais tem a fazer a não ser acostumar-se com a partida, com o caminho que escolheu.

Escrevi, li, apaguei...
Procurei respostas, porquê?
Achei o que não queria, li o que me magoaria, tive paz.
Não temos o controle de nada, engana-se quem acha que o controle é seu.
O que temos é a ilusão de acharmos que temos alguma coisa, pois aqui chegamos e vamos sem demora.
Hoje vejo que a liberdade não tem preço, ir e vir a qualquer hora, a qualquer lugar.
Mochila nas costas e espírito livre, meu presente a mim.
Minhas mãos dadas, respiração lenta e coração leve.
Legado pra vida, seja aqui ou lá.
A gente sente quando já não é nosso lugar, e se não for agora passará da hora, e o trem irá embora.

E agora... Por onde começamos quando não sabemos para onde ir?
Buscar o melhor momento, a propósito o que te lembra um bom momento?
Ah o que me tira do chão... A terra molhada, a fruta tirada do pé, o sorriso despercebido do meu pai, aquele vento que trás o cheiro de café, das flores do jardim ou do bolo recém saído do forno.
Uma boa conversa na beira do lago, ou apenas o silêncio enquanto pescamos.
A família reunida numa oração, a saudade gostosa daquele café da manhã com vista para o mundo.
Esses momentos eternizados me trazem de volta, esse breve lampejo de amor.

É estranho ouvir planos e não se sentir parte deles.
Sentir que todos acreditam em você, quando já desistiu.
Até já desisti de dizer sobre minha completa exaustão, as pessoas não querem a verdade, se contentam em ficar com os olhos fechados.
Hoje me perguntaram se eu acreditava em anjos... Respondi que sim, mas acredito que eles não interfiram nas nossas escolhas.
Miguel hoje não me deixou, me acompanhou de um lado para outro da casa, talvez ele sinta o peso da vida sendo esquecida através de mim.

Viajar é como deixar para trás nossa vida, nossas escolhas. Às vezes viver em comunidade é mais difícil do que possam imaginar. Silenciar a mente, o coração e estar longe, é como recarregar as baterias da vida, porém quando voltarmos a realidade, uma enxurrada de lembranças tomam conta... Como seria bom estar num mundo alternativo, paralelo, onde os recomeços teriam sua vez. Alguns dizem que o quê nos faz mal deve ser cortado e lançado fora... Como se fosse fácil descartar nossa vivência, separar o bom do ruim. Você não sabe do que é capaz até que esteja no auge da aflição. No silêncio e no escuro do meu quarto, sinto o aconchego de uma vida exausta, sinto paz na solidão. Sem explicar o porquê do silêncio e a tristeza no olhar, sem precisar ser quem eu não sou, sem me preocupar se estou preocupando ou entristecendo alguém... Aqui somos eu e meu travesseiro, onde sou o que nasci pra ser, sem a restrição e o aval das pessoas.

Mais uma vez, correndo para meus pensamentos aleatórios.
Mais uma vez tentado descrever em palavras o vazio que aqui está.
O que teria acontecido se caminhos diferentes fossem traçados?!
Podíamos ter uma prévia para saber qual caminho tomar, as vezes agir pela razão nos tira a sensibilidade, e por muitas vezes agir pela emoção nos embaraça o verdadeiro propósito.
Sinto saudade de algo que não vivi, de caminhos que não andei, de palavras que não ouvi...
Somos um conjunto do que vivemos com o caminho que escolhemos e a saudade que deixamos e sentimos.

Perguntaram a ela como se sentia, ela disse não ter resposta.
Perguntaram quais seus planos, ela não soube dizer, pois já havia perdido alguns dos seus sonhos.
Ela parecia presa no seu mundo, apática, nenhum estimulo a fazia sair dali.
Já não se sentia confortável perto das pessoas, cansou de falar como se sentia, cansou de se fazer entender, cansou de conviver com pessoas, cansou e cansou.
Ela tentou arduamente buscar dentro de si seus melhores momentos, tentou mesmo sair debaixo da lama, mas nem seus maiores amores conseguem tira-la dali, ela sente muito pelo desapontamento, por ser causadora das lágrimas das melhores pessoas de sua vida.
Suas últimas palavras consciente foram que não tentaria morrer de novo, porém no fundo da sua alma algo já havia morrido, nada a fazia levantar mais, ela só esperava o momento em que deixaria de existir.
Por fim, estamos aqui de passagem, para alguns existir já é um presente, para outros uma questão de deixar a vida passar vivendo aleatoriamente, outros fazem valer a pena...
Para ela viver foi um presente que ela não gostaria de ter ganhado.

Como se não bastasse a depressão que acorrenta e transborda a alma, existe ele... o tal do transtorno de ansiedade, que vem de brinde as vezes.
O transtorno de ansiedade é achar que temos o controle do incontrolável.
É como se tivéssemos um punhado de areia nas mãos e saltássemos num mergulho acreditando que a areia continuaria intacta nas mãos fechadas, praticamente impossível.
Para essa prática, costumo falar com Deus, ler, ouvir minhas músicas favoritas, assistir um filme, fazer planos mas não me prender lá, como se minha vida dependesse de dar certo ou não.
Nos frustramos quando colocamos todas as expectativas em algo no futuro.
Eu diria que viver um dia por vez, tem sido minha melhor escolha.

Ela tem um milhão de estrelas espalhadas pelo rosto, e uma vontade imensa de brilhar.

A depressão tem sido discutida por especialistas renomados.
Antes o que era tabu, hoje levado a sério.
Sempre fui uma apaixonada pela mente humana, mesmo não sendo graduada nesse sentido, sempre quis entender como funcionamos, agimos e reagimos a determinada dor.
São incontáveis as formas de sentir.
O sentir de um depressivo é quase que insuportável, tudo é em grande escala, mas sempre existe um gatilho, aquilo que nos desgoverna a ponto de perder a consciência do que é verdade do que foi criado pelo desespero.
É tudo tão intenso... A falta de ar, os movimentos involuntários do corpo, a dor física, o desespero emocional, a taquicardia, as lágrimas que regam todo rosto, é um inferno próprio, que muitas vezes temos vergonha de compartilhar.
Mas nesse momento, ao sentir a respiração ofegante, tudo o que não podemos é ficar só. As vezes perdemos o sentido do que é real, daí respirar fundo e lentamente vai ajudar.
Direcionar os pensamentos às boas lembranças também irá nos resgatar do fundo do poço, saber que não estamos sozinhos e que chegamos até aqui, irá nos motivar a continuar.
Descobrir o que nos faz sorrir.
Enterder que o perdão é uma chave poderosa, mesmo quando devemos isso a nós mesmos, pois esse ao meu ver é o jeito mais difícil de perdoar.
Nos encarar na frente do espelho e nos apaixonar por toda força que tivemos até aqui, caindo, parando e continuando, reconhecer que nem sempre fizemos o certo, mas erramos tentando acertar.
Cada um temos uma história, respeite-a.

Até as montanhas, por mais grandes e duras que sejam, sentem emoções.

Abandono-me dentro de mim
para poder reencontrar-me
sempre que me perco.

2019, José Paulo Santos
*Poeta e Autor de Aldeias em Mim

Respira fundo e vai...
Vai sem olhar para trás, vai sem ter medo, vai e sorri mesmo que seja de propósito, vai onde a esperança alcançar, onde a voz ecoar ou o canto te chamar.
Se a sensação voltar, escreva, abre o coração sem direção, até que o vento sopre por onde for, levando consigo a dor e o amor.
Vai sem pressa, mesmo que a chuva caia, continue a andar, pois a água lava a alma e leva consigo as incertezas da vida.
Volte a respirar, garota.
Volte a sentir.
Sorria e volte a sonhar, mesmo que caia da cama, volte a sonhar...

Sentir dor é uma certeza, culpar o outro é o mesmo que dizer que somos imunes ao erro.
Assim penso eu, na minha pequena insignificância.
Apontar e julgar os outros é mais fácil do que reconhecer sua parcela na dívida.
Já fiz muito isso, hoje paro, respiro, respiro de novo bem fundo e vejo onde está minha porcentagem mesmo que pequena, é pedir perdão não é retroceder, é ir adiante.
Vamos lá, pergunte, responda, escreva, gesticule e argumenta seu ponto de vista e esteja atento aodo outro, que não necessariamente estará errado, as vezes só diferente.
Ainda bem que podemos voltar atrás, ainda bem que não somos árvores, ainda bem que nem tudo o que pedimos recebemos.
Por fim, agradecida estou.