Coleção pessoal de RebecaMelo

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Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.

Você me afunda em seu prato fundo
E me deixa quente.
Mistura-me em seu copo de vodka
E me deixa fria
Lambe o gelo e me delicia
Cospe fora me provocando
Cola-me no corpo e nos corroemos
Feito ferrugem mal comida
Você se precipita e acerta
Atira-se e começa...
A me deixar quente
E cospe e engole e se delicia
E age naturalmente
E fingi que é decente
E eu finjo também ser
E mais uma vez você
Afundar-me no seu prato fundo.

"Um bom poema é como uma cerveja gelada
quando você está mais a fim,
um bom poema é um sanduíche de presunto,
quando você está faminto,
um bom poema é uma arma quando
os bandidos te cercam,
um bom poema é algo que
te permite andar pelas ruas da morte,
um bom poema pode fazer a morte
derreter feito manteiga,
um bom poema pode enquadrar a agonia e
pendurá-la na parede,
um bom poema pode fazer
seu pé tocar a China,
um bom poema pode fazer
você cumprimentar Mozart,
um bom poema permite você competir
com o diabo e ganhar,
um bom poema pode quase tudo,
isso sem dizer que
um bom poema sabe quando
parar."

Língua sádica não há como se machucar ela foi feita para o amasso para chupar marcas da palpa em poupa, deixar rastros de equilibristas falhos, de mágicos bem formados em matar. Dissimula-se enquanto a espera e quanto mais espera melhor, pois a solidão ajuda a acalentar o oco do corpo. Calma, eu também espero a língua sádica, ainda espero a língua sádica, com todos os seus pulsos nervosos e suas meias veias escondidas inchadas me pedindo gelo e um pouco de sal, ainda espero a língua sádica com todos os seus amassos e machucados da morte.

Da porta pra rua um rastro de bosta
Da garganta pra dentro um rastro de rua
A vida pessoal anda meio de máscaras
Meio de porre beirando a boca.
Do estômago pra fora pessoas vomitadas
Cheirando a melancolia.
Eu não sei qual é a sua
Nem você sabe qual é a minha
Mas o pior está por dentro desta porta.
Que dar para a rua.

- Quando eu me mostro
É como se eu tivesse dançando
Uma dança rídicula
Para pessoas rídiculas.
- Quando eu me mostro
Eu me mato aos poucos
Pois bem…
Eu também sou uma mulher rídicula
Com vontades rídiculas
Que morre de medo de se mostrar
De mostrar o seu frágil
O seu ponto fraco
Expor o seu rídiculo
Ao ponto de ser rídicula.
- Quando eu me mostro
Na verdade eu não queria me mostrar
Queria permanecer fechada
Como uma concha solitária
Que esconde a sua preciosa esmeralda rídicula.
- Quando eu me mostro
Eu me mato
Ao ponto de ser um ser rídiculo.

- O espinho que incomoda
A espinha que comoda
O espinho que grita
A espinha que geme
O espinho que inflama
A espinha que flama
O espinho que doe
A espinha que move
O espinho que chora
A espinha que ama.

- Sou uma poeta analfabeta
E do resto eu jogo aos porcos
E nesse jogo de porcos
Eu sou o resto do analfabeto
De um poeta.

- Eu sou a Beca. O Beck. E o baque.
Entre… Fique á vontade
Serei o seu porto. O seu corpo. E o seu ápice.
Quando se for me leve no beck.
Quando chegar me leve pro baque.
E se ficar… Me chame de Beca. Já basta.

- Eu estive pensando e estou perdida em mim e em todos
Eu me arranquei diversas vezes de dentro de mim
Como um vírus maldito e escroto
Eu me contaminei sozinha
Eu sou o meu próprio veneno
E não tenho cura, estou marcada com o meu ponto de fulga
Um ponto quente e frio que arrepia e esquenta
Os músculos a pele e a maldita espinha
Que foi acariciada pelos loucos que me provaram
Eu sou o que ninguém ver o que ninguém pode tocar
Eu sou o podre e o bruto o fraco e o sujo
A linda e a doce que encanta e que se torna maldita
Ao tocar a sua pele ao me misturar aos outros.

- A timidez é uma questão de íntimo.
De espaço de beleza.
De mulher de camarim.
A timidez é uma questão de sedução.
Entre o início e o fim.

- A mulher muda que muda de olhar de sentir de gostar.
Quem muda a muda? Senão não mudar!
De tão branca disfarçou – se de vela
De tão magra disfarçou – se de pena
De tão linda disfarçou – se de sapo
De tão triste resolveu ser poeta.
Uma poetisa muda intimamente sem sal
E assim resolveu ser invisível…
Resolveu brincar, brincar de amar.
Resolveu ter garras, resolveu sorrir, resolveu, resolveu mudar.

- E quantas mãos você tocou?
Depois de um doce vem sempre um copo d’agua
E o sal grita para ser devorado.
E quantas bocas você beijou?
Depois do arroto vem sempre uma desculpa
E um sorriso pior que o outro
E um novo gosto de amargura.
E quantas noites você dormiu?
Depois das vidas longas
Vem sempre as mortes curtas
E uma saudade imensa de tocar mãos.

- Eu acordo limpa e durmo suja
Eu acordo suja e durmo limpa
Eu acordo e durmo
Eu sujo e limpo
Eu, suja e limpa.
Eu esqueço e recordo
Eu garganta seca.
Recordo-me dos rostos, dos restos, dos riscos.
Esqueço-me dos mundos, dos mudos, dos mitos.
Seca garganta seca, seca garganta seca
Boca com boca seca, boca com boca beca.
Eu me afasto e me aproximo
Afasto-me dos fatos e feitos antigos
Aproximo-me dos leigos dos loucos dos livros
Chora tristeza cheia
Cheia tristeza chora
Rebeca chora de risos
Risos mal vistos mal lidos. Risos.

- Sentei esfreguei os olhos
primeiro um depois o outro
antes de um longo suspiro
quis me assegurar se
eu era de carne de vidro ou de aço
vulnerável ou só incapaz
eu feita de couro branco
com sorrisos inflamados
me estiquei estralei os dedos
me encostei no primeiro lugar
tomei um copo de água
a garganta ardeu
outro lugar inflamado
estou presa no chão
e eu sempre estive no céu
estou no vigésimo andar
incomodada e acomodada
em uma carcaça errada e errante
parcialmente inflamada
outro lugar ferido
querendo ser livre
dedos e polegares presos
em uma caneta suada
em folhas de papel incardidas
quase amareladas
eu pintei o teto as paredes
com o resto do azul marinho
pintei a alma exibindo meu fôlego
estou caindo do vigésimo andar
o cigarro acabou
o café está quase pronto
e não vai dar tempo
eu sei que estou quase caindo
antes de escrever mais um verso
mesquinho e inquieto
sentei esfreguei os olhos
primeiro um depois o outro
antes de um longo suspiro
quis me assegurar
que alguém me leria
e como em um sopro
me joguei tentando ser livre
completamente inflamada.

- Teria feito o melhor amor e dado um melhor coração
Mas só tinha esse podre e inútil comedor de carnes
Batedor miséravel que nem amar sabe direito.
Se eu soubesse que o destino escreveria você
na minha linha torta da mão prestes a se acabar
teria cuidado muito bem dela, cuidado bem de mim.
Se soubesse que você chegaria depois dos meus cigarros
Guardaria meus pulmões semi surrados semi negros.
Teria feito o melhor amor e dado um melhor coração.

- A beira da janela suja encosto-me na teia de aranha,
ouvindo aos grilados da noite que logo me pedia
alma, colo e uma declaração de horror.
Enquanto pensava em tragar meu 1 cigarro da noite
Uma indeçisão! De me domar e me dominar compulsivamente.
Que a fumaça que eu solte seja a minha alma amargurada indo embora
Que essa seja a oração de um ateu que morre de amor
Que a maldição que eu carrego comigo faça alguém feliz
Porque a minha infeliz maldição não me deixa ser.

O carinha de cabelo bagunçado.
Quis me pagar um café. Eu não gosto de café.
Quis me pagar um chá. Eu não gosto de chá.
Exceto o chá maotai.
Na verdade eu gosto mesmo é de coisas geladas.
Gosto de cervejas. Sorvete de chocolate de máquina.
Jujuba e mentos. Cubos de gelo miúdos.
O carinha de cabelo bagunçado.
Esqueceu um bilhete no meu livro
Talvez tenha sido de propósito.
Um poema? Mas ele não gosta de poemas.
O carinha de cabelo bagunçado.
Carrega em seu pescoço uma corrente com uma chave
Que soa a algum tipo de amuleto. Não sei.
Sempre que ele me abraça
Sua corrente de chave dourada rosca em meu colo
É ameaçador como ele me toca.
O carinha de cabelo bagunçado.
Olha todos os meus textos e imagens
Todos os dias pontualmente entre a 00h00.
E me manda o e-mail todas as noites
Explicando todas as minhas fraquezas
E os meus sentimentos.
O carinha de cabelo bagunçado.
Nunca percebeu que eu não gosto de café ou de chá.
Todos os dias passou a esquecer bilhetes no meu livro
A enroscar sua corrente de chave dourada no meu colo
Desvendar-me naquilo que escrevo e naquilo que fotografo
Pontualmente entre a 00h00.
O carinha de cabelo bagunçado.
Nunca soube o segredo da sua corrente
Do esquecimento dos seus bilhetes
Ou da sua pontualidade em mim a 00h00.

-Boneca de porcelana delicada.
Gosto de arranhar as unhas pelas paredes
Por onde passo e nunca volto.
Gosto de avisar que estou chegando
Que estou por perto ou indo embora.
Mesmo que me confundam com o gato da Rua 87°.
- E como eu gosto de bocas.
- E como eu gosto de mãos.
- E como eu gosto de olhos.
Ponto fraco, que me fascina.
Encanta-me o nu e as curvas
Acho puro e encantador.
Os dedos passados por eles
Parecem agulhas de vitrola
Tocando o último LP do Cartola.
Em tom suave e sussurrante.
-Boneca de porcelana delicada.
Como gosto de arranhar as unhas pelo seu corpo
Onde passo e nunca volto.
Gosto de avisar que estou chegando
Que estou por perto ou indo embora.
Mesmo que agora me confundam com a gata da Rua 78°.
É que gosto de bocas, de mãos e de olhos.
Esse ponto fraco me fascina.
Encanta-me o sujo
E o desencanto do nu e das curvas.
Onde os dedos passam
E as unhas parecem agulhas de vitrola.
Tocando afiadamente o último LP do Cartola.
Em tom suave e sussurrante.
-A boneca de porcelana delicada.
Quebra.
E foi embora.

- Meus dentes não são perfeitos, completamente desalinhados, tende a amarelar com o tempo pelo o uso fatigante do cigarro. Meu cabelo liso caramelado e tingido pelo preto do luto são rebeldes e tende a intensifica a cor da minha pele, branca feito à neve do polo norte, me fazendo parecer com a flor copo de leite. Eu como toda Zantedeschia aethiopica tendo a ser venenosa, em contato profundo causo da queimação ao inchaço aos lábios, a boca e a língua. Sendo essa inocência tóxica causo asfixia em ambiguidade. Meus pulmões já estão fatigados e eu ainda não sou tão velha assim, ainda tenho pulmões, pois ainda há combustão, para mais uma embriaguez do marasmo ao ápice de um fumo qualquer sujo e cinzento engavetado. Minhas mãos já estão enrugadas, porém ainda é lisa e possui uma macies agradável ao toque. Meu rosto pálido e branco continua encantador apesar da dor e das espinhas. Tenho um rastro de sinais formidáveis e secretos, da lateral da orelha esquerda, ao colo, ombros, braços, barriga, quadril e ao dedão do pé esquerdo. Os sinais são como os pontos das estrelas que no final sempre pertence a alguma constelação, o meu de capricórnio sendo visível o dia inteiro. Sou um epílogo ardente deliberadamente morta, com gosto de licor, que deixa a voz enrouquecida, fazendo o corpo tombar no sangue do meu corpo pálido que clama, ama e continua belo.