Coleção pessoal de rebecaalmeid
Eu vejo ruas vazias iluminadas por uma luz alaranjada que rompe a névoa da madrugada. Semáforos tentando controlar um transito que não existe como nós, no controle ilusório da realidade. Janelas que mudam em tons variados de azul graças a uma televisão ligada para alguém que dorme no sofá.
Toda essa solidão, todo esse brilho para olhos fechados e essas famílias e esses gatos vadios, e não sabemos até quando vamos durar. O vento canalizado vindo do mar, cortando ruas como se o mundo estivesse respirando fundo. A realidade um jeito de ver e achar. O trivial sendo o palco que, de tão indispensável, nem consideramos não perceber.
Parece tudo tão momentâneo, tudo tão perecível. E nos confundimos, porque sabemos que a vida é curta demais para se preocupar, mas igualmente curta para que não nos preocupemos com o agora, que é o que nos é certo e palpável - enquanto equilibramos com cuidado um pilar de objetivos futuros.
Apesar de tudo, há eternidade em todos os lugares onde as solas de calçados já pisaram, naqueles pedaços de concreto e pedras portuguesas. A mesa de bar com amigos que já se mudaram - ou apenas mudaram - que já teve tantas marcas molhadas circulares de copos. Um grande e esperado (re)encontro. O momento em que aqueles dois se olharam nos olhos pela primeira vez e tudo mudou. A mulher de meia idade que passeia com seu poodle e pensa em seus filhos que, quadras atrás, vêem naquela prova de matemática o maior desafio de suas vidas.
Sombras de existências que se acumulam ao longo de décadas, e logo mais, séculos. Histórias que atravessaram o fim e o começo de milênios, romances que nunca aconteceram, desejos perdidos cravados em bancos de praça que, também, têm neles memorizados a impressão de um pedido atendido. Cadeiras de cinema que foram o cenário de momentos tão sublimes.
Todos vivemos e nos acabamos, nos abandonamos, mas a nossa eternidade está por aí, invisível, só podendo ser identificada por olhos acoplados a tantas memórias. Essa é uma madrugada de ruas cheias de histórias, e muitas ainda por contar. Se há certeza da morte, há que a vida é eterna e os momentos dela – e apenas dela - ecoam de existência em existência.
você caminha defendendo-se de medos criados pela sua mente, você caminha como se ninguém quisesse te ver e, então, termina por esquecer-se de enxergar os bons olhares.
Somos mesmo incríveis, apesar de todos os erros. O desejo pela sobrevivência que fez pessoas se unirem e a procriação da espécie que fez casais foi além da coisa natural, a engrenagem virou a máquina em si. E na ilusão de sermos queridos e especiais, às vezes cometemos o erro inocente de ocultarmos nossa natureza real de quem tanto desejamos o reciproco sentimento. É desse jeito que acabamos esquecendo que amor só funciona com aceitação. E nós, meu velho, só queremos um pouco de carinho. Só muda o jeito como cada um o busca.
Não se trata exatamente do chavão "seja você mesmo", mas de "aceitar você mesmo... e o outro." Só dá certo se você for capaz disso, se não for, é porque essa pessoa não é A pessoa... ao menos por enquanto. E também não é como se tivesse só uma "A" pessoa. Existem várias ao longo da jornada e todas elas acabam contribuindo e te transformando de alguma forma, como se você fosse gesso e sua família, seus amigos e relacionamentos, canetinhas.
A grande ironia é que, no fim, ceder a própria essência para que alguém se sinta bem ao seu lado - ainda que seja para que você se sinta bem no fim - é um dos atos mais altruístas que alguém seria capaz de fazer, ao contrário da aparência (ou proteção?) arrogante do "amar a si mesmo", mas que parece ser o único jeito de se guiar a própria existência.
Mas quer mais uma ironia? Muitos que amam a si mesmos profundamente acabam fazendo isso para que possam amar outro. No fim, por mais que você se sinta completo e o copo esteja meio cheio, você ainda deseja aquela presença ao seu lado, a mão que caça a sua e um "ei, eu gosto de te ver". A gente só esconde, o que faz com que um monte de gente pense que estão sentindo sozinhas.
Digo que a vida normal não é normal porque a maioria das pessoas as vivem, mas sim porque as pessoas querem vivê-la. Cresça, case, se reproduza e todo esse conjunto de clichês que inexistem quando você pode ver, profundamente, a vivência de alguém.
Apesar de todo avanço, ainda temos em maioria na mente ideias patéticas como a de que o homem naturalmente é um traidor. E, a mulher, na maioria dos casos em que trai, é aplaudida e considerada independente e de atitude. Ainda dizem que ela fez isso porque o homem não prestou.
O despertar do eu interior
“O eu interior é tão secreto quanto Deus e, como Ele, escapa a todo conceito que pretenda captá-lo completa e totalmente; é uma vida que não pode ser tomada e estudada como um objeto, porque não é 'uma coisa'.(...) Tudo que podemos fazer, por meio de qualquer disciplina espiritual é produzir em nós mesmos algo do silêncio, da humildade, do desapego, da pureza de coração e impassibilidade, que são elementos necessários para que o eu interior nos dê uma tímida e imprevisível manifestação de sua presença.”
O amor é o nosso verdadeiro destino. Não encontramos o sentido da vida sozinhos, e sim com outro. Não descobrimos o segredo de nossas vidas apenas por meio de estudo e de cálculo em nossas meditações isoladas. O sentido de nossa vida é um segredo que nos tem de ser revelado no amor, por aquele que amamos. E, se esse amor for irreal, o segredo não será encontrado, o sentido jamais se revelará, a mensagem jamais será decodificada. No melhor dos casos, receberemos uma mensagem embaralhada e parcial, que nos enganará e confundirá. Só seremos plenamente reais quando nos permitir-nos amar – seja uma pessoa humana ou Deus.
A vida chega em um ponto em que vc não tem como ir pro seguinte paragrafo sem corrigir os erros que ficaram pra trás.