Coleção pessoal de ranish

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Potentosa a lua cheia vigiando minha volta.
Um luzeiro na cor amarelada das lamparinas projetava contornos nas árvores e na beirada da pedreira.
Meu pensar naufragava nos desesperos passados.
A vacaria magra parindo um fim de seca amargo e difícil.
Atinei no capim de palmo brotado no sereno e falei pra dentro:
há de chover,
novembro já vem colorir de esperança essas bandas dos gerais.
Firmei meus olhos:
a D20 mastigava vagarosamente os poucos quilômetros faltantes. Já era quase em casa.

Tenha sua vida
e eu farei parte dela.
Senão você será apenas
parte da minha.

Eclipse.
Fiquei ali sentado, debaixo do pé de baru. O sol havia sumido na anágua negra da noite. Ficavam para trás, esquecidas, algumas flamas avivadas dos seus cabelos de fogo. Firmei que ela vinha de lá do alto do guarirobal do compadre Amâncio. Nada. Noite feita avistei uma estrela rutilante. Atinei: lá'em vem ela amarrada na linha do imaginado. E nada. Virei as costas e fui guarnir os cochos. O tuivú dum curiango me fez torcer de volta os meus olhos. Estrela não: era a dita. Mirei com ciência e entendi um cutelo fino. Retardei o meu olhar já concluindo: a coisa demora, dá tempo de tudo. Quando atravessei o mata-burros ela era uma goiaba mordida. A volta pra cidade não teve outro pensar. O granulado da poeira foi avermelhando mais e mais a tal lua-de-sangue, refletindo nostalgias no para-brisas da D-20.

Para um sonhador
qualquer escolha
é sempre
uma escolha ruim.

Aquilo que se elege
jamais será
o que se imagina.

ELA

Escorrem as gotas da chuva
nas janelas dos seus olhos.
Sua ausência nos meus braços
se multiplica em lembranças.
Vislumbres amarelados das nossas bocas
matraqueando sorrisos.
Agora a tablatura ficou cheia de pausas
com o seu olhar naufragado
na imensidão das palavras imaginadas.
Sua lágrima escorre na minha face.
Nela sinto o sal da desesperança
tocando meu lábio.
Seguimos assim
respirando o tempo que resta
nesse mar de melancolia.
Na terra onde habitam os deuses
e os sonhos
haveremos de aportar.
Então poderei ainda uma vez
escutar os seus sussurros.
E saberei das coisas que os seus olhos
me dizem a todo momento.

Rereading Lola.

Parolando com Lola.
...
Eu continuo a esperar pela chuva.
Fico triste na demora.
Vem um calorão besta,
de arder, de suar as tampas.
Na planície é assim.
Dia desses vou morar na montanha.
Respirar mais alegrias..
Faz um friozinho ruço..
Não.
Jeito não tem não.
Só vontade.
A vida não é a gente que governa.
Andei muito por aí.
Quis fazer morada noutros cantos..
As minhas raízes me firmaram
e eu voltei pras minhas vacas.
Agora calço botinas de chumbo.
Qualquer distância ficou muita.
A vontade é um quase poder tudo.
Só que por dentro,
no imaginável.

... a respeito de John..

Continue correndo atrás dos seus sonhos.
Crie raízes senão o sacrifício não terá valido a pena.
E lembre-se: nada, nada mesmo é definitivo.
Precipite-se, oras! Erre..
Depois você corrige tudo.
Assim você terá alguma coisa
pra contar para os seus netos...
Lembre-se que você está escrevendo a sua história.
Isso se faz com atitudes.
Imaginação e pensamentos são efêmeros e mudam com o tempo. Ninguém se lembra de coisas que nunca existiram...

Orar
é sorrir diante
do espelho
com os olhos
fechados

Me desculpe!
Foi apenas um intervalo.
Um intervalo entre o real
e a minha vontade de dizer coisas.
Um arroubo de coragem
no meio dos meus medos declarados.
Passou.
Não sei mais.
Não mais sou eu.
Voltei o outro.
O outro que dorme.
Me desculpe o susto!
Já deixei o desejo
me adormecer os meus olhos.
Noutra noite desperto os seus risos,
noutra noite te chamo,
meu espelho vermelho.

Sandálias.
A madrugada beija os meus dedos
por debaixo das suas fivelas.
O som grave do dial
embala o meu desespero.
Cinco minutos
e o sol queimará
alguns dos meus pecados.
Apenas um instante
para o leite achocolatado
do domingo

Continuava nadando no espelho,
alheia à minha agonia.
Vamos, voltei a lhe dizer.
A hora urge.
Espere ela redarguiu,
mergulhando nos próprios olhos:
- O prazer dilata o tempo.
- Chegaremos antes do sol.

Alvissareiras as vísceras
da galinha gorda
que zunzinza na pressão
da panela.
Prenúncio de almoço
temperado pela demora.
Saborosos:
oveiras
e fígados
e tripas
passados na pimenta verde,
respingados pelo limão galego.
Cheiro fumegante
das alegrias da mesa.
Música maravilhosa
o tilintar das travessas.
Domingo.

Que a ternura do silêncio
acalante todos que te amaram.
RIP

Afogando a noite
no lago dourado
da saudade.

A vida é um tronco rumo ao sorvedouro.

Onde há fartura
tristeza não faz morada.

A esperança
e os
seus olhos
nunca maduram

Da ginga eu ginguei,
nas ladeiras doutro tempo,
miles de sonhos atinei,
mas vida correu depressa,
apenas com a poesia fiquei.
Saudades da Bahia, da Ritinha,
da capoeira que joguei,
daqueles olhos amanteigados,
daquela boca que beijei.

É muita espuma pra pouco
chope.
Bem melhor alardear realidades
que promessas.

Só não gostamos daquilo
que ainda não aprendemos a gostar.
Os chineses gostam de tudo:
a necessidade lhes molda o paladar.
Embora tenha lá minhas preferências
muito amargo na vida
eu aprendi tolerar.