Coleção pessoal de Raimundo1973
Eu não posso conter teus pensamentos dispersos e levianos,
despidos de afeto, atenção e cuidado.
Assim como não posso partilhar contigo
as escolhas sem rumo que te consomem.
Não me uno a ideias que clamam pela minha ruína.
São teus — pensamentos em decomposição,
não meus.
Antes que me expulsem da tua vida de conflitos,
suplico piedade:
apaga-me da tua memória,
risca-me dos teus devaneios impuros.
Que permaneçam contigo os caminhos extraviados,
sem horizonte,
onde não há respeito,
nem gratidão,
nem atenção.
Sê verdadeira, ao menos em teus delírios
efêmeros, descontrolados, sem raiz.
Não me arrastes para o pântano
onde teus pensamentos jazem adormecidos, enredados no caos.
Imploro:
até em teus pensamentos,
apaga minha existência.
Promessas pra quê?
Se ninguém compra, ninguém acredita, ninguém sustenta.
A vida não aceita cheque sem fundo,
ela cobra — e cobra caro.
Com juros, correção, e sem prazo de carência.
Cada palavra dita sem ação vira dívida.
Cada sonho abandonado vira cobrança.
E quando o boleto chega, não adianta fugir:
a vida é credora implacável,
ela não esquece, não perdoa, não atrasa.
Então, que se fale menos e se faça mais.
Porque promessa não paga conta,
mas atitude constrói futuro.
Eu cheguei a pensar tanto por você que quase esqueci de mim.
Perdi-me em mapas de desejo, tracei rotas onde só havia silêncio,
fiz do teu nome um refrão que batia no peito como maré.
Um sentimento louco, desbravado, sem porto nem retorno,
criou jardins onde não havia promessa, acendeu faróis em noites vazias.
A cada passo eu inventava um abrigo, mesmo sabendo que o vento não trazia teu cheiro.
Afinal você não ofereceu nada, e ainda assim me dei inteiro,
como quem planta flores na beira do abismo esperando que cresçam.
Doei-me em versos, em esperas, em pequenas rendições ao teu olhar ausente.
Mas há força no que sobra quando o tempo não chega:
aprendi a colher a minha própria luz, a regar o que pulsa dentro de mim.
Transformei saudade em coragem, silêncio em canção, ausência em caminho.
Hoje guardo o que fui por você como um livro que me ensinou a ler,
e não mais como prisão. O amor que me fez esquecer-me virou lição e ternura.
Com a doçura de quem sabe que merece ser verdadeiro.
Tem caminho que não volta, vai encontrar alguém que se escolheu primeiro,
um coração que ama sem se perder, que oferece afeto sem se anular.
Seguirei amando-me, doce e forte, com a paz de quem se reencontrou.
De que vale a vaidade, se no caixão não há espaço para tantas extravagâncias?
Pra que tanta ambição e avareza, se no caixão não existe cofre nem gaveta para guardar os bens acumulados por toda uma vida?
A arrogância, a ignorância e a brutalidade podem dominar este lado da existência, mas do outro lado reinam o vazio e o silêncio — e eles não vivem em guerra.
Vaidade. Ambição. Luxúria. Orgulho. Ignorância. Fiação frágil que se desfaz por aqui.
A riqueza pode alcançar os cantos mais distantes da terra, mas quando a morte chega, nem a roupa do sepultamento será escolhida por quem partiu.
Tudo é empréstimo por pouco tempo.
O corpo será devolvido ao pó.
O espírito retorna ao Criador.
Porque, no fim, nada nos pertence — tudo é de Deus.
O ser humano se ergue como um sol imaginário, desejando irradiar sua presença e ser contemplado por todos.
Busca incessantemente o olhar alheio, como se a própria existência dependesse da aprovação que recebe.
Não satisfeito em brilhar, transforma-se em espelho: reflete aparências, imita gestos, veste máscaras.
Na ânsia de ser visto, confunde brilho com reflexo, essência com superfície.
E, paradoxalmente, mesmo vivendo cercado pela luz, não encontra tempo para ser luz.
Prefere o espetáculo da aparência à profundidade da verdade.
Prefere o clarão efêmero ao fogo silencioso que ilumina de dentro.
Assim, o ser humano se perde na ilusão de ser estrela, quando poderia ser chama.
Se perde em querer ser visto, quando poderia simplesmente ser.
A força da madeira nos ensina uma lição profunda: cada peça, seja a tábua, o ripão ou a viga, carrega em si um valor único. Nenhuma é maior ou menor, todas cumprem um papel essencial para sustentar, proteger e dar forma ao que construímos.
Assim também é com a árvore. A árvore viva nos dá sombra, oxigênio e beleza. A árvore morta, transformada em madeira, nos oferece segurança, abrigo e continuidade. Uma não anula a outra — pelo contrário, ambas se completam.
A árvore que morreu se tornou base para que outras vidas floresçam. A que vive hoje nos lembra que o ciclo continua. O valor não está apenas na vida ou na morte, mas no propósito que cada uma cumpre.
No fundo, essa reflexão nos mostra que tudo tem sentido quando olhamos além da aparência: o que parece fim é, na verdade, transformação. O que parece perda é contribuição. E o que parece desigual é apenas diferença de função.
A mente confusa é como um labirinto sem mapa, um território onde cada passo ecoa em corredores intermináveis. A viagem de uma mente perturbada não conhece fronteiras, não possui destino certo, e se estende além do que a razão consegue alcançar.
Nem mesmo a tecnologia, com toda sua força e precisão, é capaz de decifrar o colapso silencioso que habita dentro de uma mente em tormento. O caos interior não se deixa capturar por algoritmos, não se deixa medir por máquinas. É um universo próprio, feito de sombras e enigmas.
Essa jornada nos lembra de uma verdade dura: diante da vastidão do mundo e da fragilidade da existência, não somos nada além de poeira em movimento. A grandeza que acreditamos possuir se dissolve quando confrontada com a imensidão do desconhecido.
E é justamente nesse reconhecimento da nossa pequenez que surge a possibilidade de paz. Não a paz superficial, mas aquela que nasce da aceitação. Aceitar que não controlamos tudo, que não precisamos vencer todos os labirintos, que o silêncio pode ser mais sábio do que a luta.
Assim, o melhor a fazer é estar em paz — não como fuga, mas como escolha. A paz é o único porto seguro na longa viagem da mente confusa.
O amor verdadeiro não é estático — ele respira, se expande, se refaz.
Aceitar mudar para melhor é reconhecer que até nas quedas há sementes de transformação.
Quando caímos na poeira, não é apenas o corpo que se marca, mas o chão que guarda nossa história. Cada cicatriz no cenário é um testemunho de que a rotina foi quebrada, que o antigo se desfez para dar espaço ao novo.
O amor, então, é essa força que não teme o impacto da queda. Ele recolhe os fragmentos, reorganiza o caos e constrói beleza onde antes havia ruína.
É no pó que se levanta a esperança, é no chão marcado que floresce a coragem de continuar.
Em outras palavras: o amor não é só suavidade, é também resistência. Ele aceita mudar porque sabe que a mudança é o único caminho para permanecer vivo.
Eu não estou perdido, nem à deriva, para que tua mudança me desloque ou me afaste da evolução.
Meu amor, somos feitos de transformações súbitas, mas nunca de rupturas radicais.
Somos o sopro da vida que se reinventa, o fogo que aquece sem destruir, a corrente que flui sem aprisionar.
Que a tua mudança não seja muro, mas ponte.
Que ela não seja pausa, mas impulso.
Que cada passo teu edifique não apenas o instante, mas o caminho inteiro das nossas vidas vividas.
Pois amar é aceitar o movimento, é dançar com o inesperado, é reconhecer que a beleza está na construção contínua.
E se somos feitos de mudanças, que sejam elas sementes — germinando futuro, fortalecendo raízes, iluminando o presente.
Porque dizer te amo,
Tenha cuidado com as tuas palavras cuidado.
Elas caem em mim como som,
caem com felicidade .
A tua simplicidade não chega em silêncio,
ela atravessa.
E na forma mais doce,
devasta a minha fragilidade sem ferir.
Sou feito de sentimentos expostos,
de um coração que sente antes de pensar,
e quando teu olhar descansa em mim,
até minhas defesas aprendem a respirar.
Ama-me sem pressa,
com gestos leves e verdades calmas.
Porque em mim,
cada palavra tua cria raiz
e floresce onde eu mais preciso de abrigo.
Terce as tuas palavras antes de dizer “te amo”,
pois cada sílaba tua é um sopro que atravessa minha pele,
um raio que ilumina a sombra delicada da minha alma.
A tua simplicidade é um vendaval sereno,
capaz de devastar a minha fragilidade,
transformando o que é frágil em beleza,
o que é silêncio em música,
o que é medo em ternura.
Não fales por costume,
fala como quem entrega o coração em cada letra,
como quem sabe que o amor é feito de gestos pequenos
mas carrega o peso de universos inteiros.
E quando enfim disseres te amo,
que seja como um segredo revelado ao vento,
como um orvalho que toca a flor sem feri-la,
como um abraço que não prende, mas liberta.
Porque em ti, amor,
até a simplicidade é grandiosa,
e até a fragilidade se torna força.
O que a boca não ousa dizer,
a vontade grita em silêncio,
um fogo que não pede licença,
um desejo atrevido, irreverente,
que rasga o espaço entre nós.
Não há amarras, não há frescura,
só a fúria doce da entrega,
um vendaval de pele e alma,
que nos arrasta para a felicidade
sem pedir permissão ao mundo.
É ousadia que se faz poesia,
é verdade que se veste de romance,
é o instante em que tudo se cala
para que nós sejamos apenas nós.
Você quer, eu estou contigo.
Mulher que fascina, presença que domina sem precisar ordenar.
Não precisa pedir duas vezes
o desejo já entendeu antes da palavra nascer.
Quando você chega, o silêncio se curva,
o olhar denuncia o que a boca não ousa dizer.
Não é insistência, é conexão.
Não é promessa, é vontade que não recua.
Eu fico porque quero,
porque algo em você chama sem gritar,
e quem sente de verdade
não espera convite, responde ao chamado.
Renascido da poeira que se assentou, algo novo começou a brotar. Uma chama tênue, quase imperceptível, que se alimentava da dor e da redescoberta de quem eu sou. O que restou de mim não é mais o reflexo de quem eu era ao seu lado, nem o eco de seus desejos. É uma essência forjada na superação, no aprendizado e na coragem de seguir adiante. Cada cicatriz conta uma história, e cada lágrima derramada regou um jardim de força interior. O que hoje sou, com minhas falhas e virtudes, com minha melancolia e minha esperança renovada, é apenas meu. E com a certeza de quem se reencontrou, afirmo: o que restou de mim, e o que ainda florescerá, não será mais seu. Será meu, exclusivamente meu, um testemunho da resiliência de um coração que, apesar de partido, aprendeu a amar-se novamente. E nesse novo caminho, encontro a verdadeira força de um amor que nunca se apaga: o amor próprio.
Foi então que naquele instante, o chão cedeu sob meus pés, e a escuridão pareceu me engolir. Todas as certezas, todo o conhecimento que eu julgava possuir sobre o amor e sobre nós, desmoronaram. Não foi o bastante, percebi com a amargura da verdade. Não fui o bastante, ou talvez, o bastante simplesmente não era o que você buscava. As ruínas do que fomos se ergueram ao meu redor, um monumento silencioso a um amor que não resistiu ao tempo e a própria natureza rezou antes do adeus.
Em um passado não tão distante, seu brilho era o meu norte, e em cada batida do meu coração, eu jurava que éramos um só. Vivi na melodia que compusemos juntos, acreditando que a partitura da nossa história jamais terminaria. Mas a vida, em sua dança implacável, revelou que nem todas as canções têm um final feliz. Houve um dia, sim, em que seu olhar se distanciou, e a percepção gelada de que eu não era mais parte de você se instalou em minha alma. Você se virou, e com esse gesto ingrato, levou consigo uma parte de mim que eu jamais imaginei superar, acordei para vencer.
o silêncio se tornou mais cruel do que qualquer palavra.
Não houve grito, não houve despedida — apenas o peso da ausência,
um corte invisível que sangrava dentro de mim.
Simplesmente se virou contra mim,
como quem fecha uma porta sem olhar para trás,
como quem apaga uma chama sem se importar com o frio que virá.
E eu, perdido
descobri que tudo o que sabia, tudo o que ofereci,
não foi o bastante.
O que restou de mim não é parte dela.
Restou-me apenas a força de continuar,
a coragem de transformar dor em poesia,
a certeza de que até o amor mais devastador se foi.
Porque amar é também perder,
e perder é também aprender a renascer.
E se um dia ela lembrar de mim,
não será do homem que ficou para trás,
mas do fogo que ardeu tão intensamente
que nem o tempo conseguiu apagar.
Quando ela percebeu que já não era mais parte de mim,
não tentou entender… escolheu se virar contra mim.
Como se o amor, ao deixar de ser abrigo, precisasse virar guerra.
Foi nesse silêncio quebrado que descobri:
tudo o que dei, tudo o que soube, tudo o que senti
não foi suficiente para quem nunca soube permanecer.
Amar não me faltou.
Faltou nela a coragem de ficar quando o encanto virou verdade.
O que restou de mim agora carrega marcas,
mas também carrega limites.
E aquilo que sobreviveu à queda, à perda e à dor
não será dela outra vez.
Não por orgulho,
mas porque quem se refaz em silêncio
aprende que amor não é retorno —
é despedida quando já não há respeito.
Quando você compreende que a sua igualdade não se mede pela vida do outro,
e que não existe espaço em você para disputar superioridade,
é nesse instante que descobre: a transformação já estava em curso há muito tempo.
Agora, não é mais sobrevivência — é vida plena.
Um recomeço firme, consciente, diferente.
Quem perdeu tudo na vida perdeu o que precisava ser arrancado, não o que merecia permanecer. Há perdas que não são castigo, são encerramento. O que cai quando tudo desmorona nunca esteve firme o bastante para seguir adiante.
Não existe repetição para certas quedas. A vida não desperdiça lições oferecendo o mesmo abismo duas vezes. Quando tudo se vai, não é para testar força, é para definir limites. Depois do fundo, não há outro fundo igual — há apenas a escolha de subir ou continuar vivendo de restos.
Nem todos os caminhos se cruzam novamente. Pessoas, oportunidades, versões de nós mesmos ficam para trás porque cumpriram seu papel. Insistir no retorno é negar o aprendizado. Quem entende a perda deixa de implorar pelo passado e passa a construir com o que sobrou de verdade: consciência, silêncio eó maturidade.
Perder tudo não é o fim. É o ponto exato onde a ilusão morre e a verdade começa.
