Coleção pessoal de pirafraseando

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As palavras não são ditas impunemente. Todas possuem uma espécie de gume. Enquanto umas ferem feito faca, outras salvam com precisão de bisturi. A leitura é uma maneira de afiar a lâmina.

Não escrevo para agradar alguém
e nem para desagradar ninguém.
Escrevo, sobretudo, apesar de mim.

O que é a eternidade
senão uma sucessão de instantes,
de momentos alinhavados pelo tempo,
feito um mosaico de casos e acasos...

(Livro “Arcos e Frestas”, trecho da página 37)

Enquanto nuvens rabiscavam o azul,
um avião riscou o céu sobre o monte.
Então, o entardecer entrou em cena
e foi tingindo de outono o horizonte.

A vida de uma cidade deve-se, normalmente, à presença de um rio nas proximidades; a morte de um rio deve-se, principalmente, ao fato de existir uma cidade nas imediações.

POETAR

Ser poeta é, por sua vez,
questionar os inúmeros “porquês”;
é roubar do tempo a rapidez
e querer o que a vida desfez.

É expressar os gritos da mudez
e fazer ouvir ruídos na surdez;
é ver no translúcido a nitidez
e saborear o doce da acridez.

É tatear o morno da tepidez
e transformar a frieza em calidez;
é despir de pudor toda nudez
e despertar a libido da frigidez.

É desembaraçar-se diante da timidez
e agigantar-se em pequenez;
é fartar-se em plena escassez
e permitir inquietação à placidez.

É tratar com suavidade a rispidez
e converter indelicadeza em polidez;
é fazer da aspereza maciez
e revelar humildade à altivez.

É propor prudência à insensatez
e buscar a cura para a morbidez;
é estar sóbrio de embriaguez
e mostrar-se demente de lucidez.

É dotar a estagnação de fluidez,
e extrair as cores da palidez;
é dar às vontades humanas solidez
e aos corações empedernidos flacidez.

E nas linhas que no papel se fez,
rascunhar, com leveza e avidez,
os desalinhos da alma, de vez,
com todas as certezas de um talvez.

(Selecionada no “5 º Concurso Nacional de Poesia”, da cidade de Descalvado-SP, e publicado na coletânea “Marcas do Tempo VIII”, no ano de 2006)

ACENO

Depois que já tiver chorado,
mais do que o suficiente,
por aquele amor que se foi,
zele pelo amor que tem por si.
Basta estender-se brandamente
pelo varal dos sentimentos...

Não somente para secar-se,
mas para, apesar de tudo,
ver-se tremulante, vibrante!
Um aceno para o que passou;
como um sinal para o acaso,
feito bandeira de superação.

Foi preciso conhecer você,
para compreender melhor
o significado de ‘dia útil’;
é aquele que eu passo ao seu lado.

No intervalo entre o pó de onde viemos e o pó para onde retornaremos, temos que nos tornar ‘pós’ graduados na arte de viver!

Parei de me cobrar tanto, quando percebi que eu nunca devi nada a mim mesmo.

Sabedoria é fazer pérolas das "pedras no sapato" que nos ferem ao longo da caminhada da vida.

Às vezes eu me inquieto com o futuro,
mas, no fundo, eu sinto pena dele;
é tão menor que meus sonhos.
Ah! Se soubessem quantos futuros
cabem na alma de um sonhador!

Nada é mais caprichoso que o tempo. Pouco responde as nossas perguntas, mas muito nos revela novas respostas.

Vivemos numa época em que fazemos tudo de maneira mecânica. Talvez, por isso mesmo, sentimos necessidade de frequentes manutenções.

O tempo se encarrega de revelar novas feições
e cuida de lapidar as eventuais imperfeições.

Se existe viagem no tempo?...
Ora, experimente
perguntar isso
para a saudade!

A paixão consegue conviver com doces mentiras. Mas somente o amor sobrevive às amargas verdades.

Amantes precisam de pouco espaço;
amores necessitam de um longo tempo.

Há quem diga que o futuro pode ser amargo. Prefiro acreditar que ele seja a sobremesa do momento que agora estou saboreando.

Os lunáticos sempre estiveram à frente dos racionais. Mesmo antes de a razão permitir que o ser humano pisasse na lua, eles já a habitavam fartamente, devidamente equipados com seus devaneios, fazendo leveza daquilo que for gravidade.