Coleção pessoal de pirafraseando
As minhas cicatrizes não se mostram.
As visíveis, não me pertencem;
são dores que o tempo sentiu
e escolheu a mim, superfície,
lugar-sintonia de sua impressão.
O chamado ‘desamor’,
não é o amor que se foi.
Na verdade, é desencanto.
É o encantamento que se foi,
antes mesmo de tornar-se amor.
Não sei dizer, ao certo,
se o poeta é alguém confiável,
para si mesmo.
Basta sentir alguma coisa,
com mais intensidade,
que já vai logo contando tudo,
e em detalhes,
para todas as linhas
que encontra pela frente!
Sou um pouco louco
com relação à minha sanidade,
mas muito lúcido
quando se trata de meus devaneios.
“Se meus sonhos fossem reduzidos
a poucas letras ou sílabas,
dariam somente
para soletrar o seu nome.”
Mais importante que ‘paz eterna’, que não nos compete, é cuidarmos mais da paz interna, que está ao nosso alcance.
AQUELA QUÍMICA:
Diziam que tínhamos ‘aquela química’.
Como na natureza tudo se transforma,
todo aquele sentimento evaporou-se
e a lágrima que cai é o estado líquido
daquilo que parecia ser tão sólido.
Penso que a inspiração não seja uma espécie de ‘acaso’, ou algo de fora que nos invade. Acredito que, depois de nos permitirmos conectar com a sensibilidade do mundo, ela simplesmente aflora do fundo do nosso interior e transborda para além de nós.
Dissabores?...
Ora, seja o ramo que deixa cair as folhas secas
e entrega-se por inteiro, incondicionalmente,
ao inevitável vicejar da primavera!
Quem trata os outros como ‘lixo’, dificilmente carrega dentro de si material humano capaz de reciclar atitudes e sentimentos.
As estações não entendem;
como pode o ser humano
deixar de florescer-se,
mesmo quando chega a primavera?
(A)VENTURA
Para sentir-se perdido,
não é necessário constatar-se sem rumo.
Se estiver à deriva,
mesmo que à pouca distância da praia,
próximo à segurança de um porto,
estará perdido se não tiver objetivo.
O que nos leva a navegar não são as velas,
nem os ventos que as fazem avolumar,
muito menos a força das correntezas,
e tampouco o acaso em busca do incerto.
Para estar perdido, basta navegar contra a vontade,
mesmo que em águas rasas e calmas.
Para encontrar-se, é preciso sede de navegar,
para saciar os desafios do desconhecido.
Vontade de aquietar-se, quando calmaria,
ou disposto ao galope dos zimbrados.
Navegar não é somente uma grande aventura;
é, apesar de tudo e de todos, enorme ventura!