Coleção pessoal de PietroKallef

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Não é que eu seja depressivo é que na minha história há um grande buraco, uma enorme depressão na planície de meus sentimentos.

Hoje me faltou um amor. Eu que acreditava que já tinha tudo, percebi que sem o amor não tenho nada. Observei ao meu redor que todas as coisas são movidas para o amor e por ele, e foi assim que a força se esgostou dentro de mim este dia, quando senti que estava sentado no final de domingo com minhas malas e uma passagem na mão. Tenho ido e voltado diversas vezes e não trago comigo um sentimento de cura e libertação, pois, ainda estou aprisionado em velhas feridas, mas neste dia me bateu uma vontade de esquecer o passado e conquistar um amor, ou então, ser conquistado pelo acaso. Decidi me abrir pro simples e notório, para o amargo doce, para o desejo e abdicação, para o sorriso e lágrimas, para a voz do coração e o som lúdico dos pássaros nos ouvidos. Vem amor, que estou aberto para recebê-lo e tome todo meu corpo, porque, finalmente o aceito.

Aspas

"Tudo que digo é entre aspas. Uso de maneira exacerbada, provocada e intencional. Nela falo tudo o que me vem a cabeça, com exageros e sem preocupação de me encontrarem, co-autuarem ou me responsabilzarem, não quero compromisso e muito menos apego ao que penso. Tem política, música, poesia e uma nota de nostalgia e todos se perguntam: Quem disse isso? As aspas funcionam como esconderijo, pois, me falta coragem de assumir aquilo que acredito e grito, por isso, é confortável usá-las. Preservo meu nome e sobrenome, nem é preciso codinomes, nem mesmo siglas. Quem sabe um dia saio das aspas e de meu casulo e escancaro as palavras sutis e grosseiras também." Quem escreveu isso? Porque se está entre aspas foi dito por alguém, que não foi eu. Quem foi que disse? "Eu".

Queria escrever algo positivo, como um novo amor, um reencontro com um velho amigo, uma frase que me caísse como uma luva, um sorvete de pistache, um beijo quente, uma música que me fizesse embalar mais uma vez ou uma grande viagem dentro de mim mesmo, mas, nada disso foi real, tudo passa tão igual e repetitivo. Odeio minhas rotinas e as circunstâncias pelas quais recorro, porém, o que mais me deixa irritado é essa minha insistência em querer mudança sem nada fazer para atingí-la.

Esperei uma palavra confortável, uma verdade inquestionável, uma liberdade indescritível, um gesto raro, uma memória que me inclua, uma abraço quente em dias de desespero, uma sanidade insana, uma ousadia singular, um olhar fixo e doce, um fôlego que me trouxesse vida, uma novidade boa, um sorriso com riso e dentes, um toque suave sobre meus ombros me mostrando que estará sempre que eu precisar, noite com estrelas, novos ventos, sem a poeira do passado, uma fotografia para provar que um dia tudo esteve bem, um livro com um bilhete seu dentro, um telefonema me dizendo onde esteve esse tempo todo, uma visita do São Jorge direto da lua, um lugar que houvesse encaixe, um lado da cama que eu me acomode sem sentir sua falta, um grito no portão, dizendo: cheguei, um doce de leite com ameixa, um amor que trouxesse a cura e uma fidelidade particular. Hoje não espero por nada, vou enfrente à procura do tão esperado, porque, tenho um botão pronto pra continuar do instante em que parei, que deixei de ser para reviver e reconstruir. Quero as mesmas coisas, mas com uma pessoa diferente, pois, o erro não estava naquilo que almejei, mas na forma em que acreditei que seria capaz de ser tudo o que apostei. O caminho é só e é preciso andar descalço para sentir durante a jornada cada pedra furando seus pés para perceber que há um final e a dor de cada encrave lhe fará jamais esquecer o que palavras doces ou um toque ao rosto pode fazer. O foco não está na boca que lhe diz palavras doces, mas sim, nos olhos onde a verdade habita.

São nos momentos em que você cai e precisa de um olhar sem condenação que se lembra que eu possuo algo verdadeiro para lhe oferecer. Esses momentos me fazem tão feliz e aceitável ao ver luz onde só haviam corvos negros. Seu corpo vem entregar ao meu e aproveito cada parte como um compromido que faz a dor recuar, é uma sede da saliva, uma necessidade do cheiro azul e tranquilo. O que me deixa triste ao final é observar em meio ao êxtase o seu arrependimento e as palavras que tentam disfarçar o verdadeiro sentido de tudo, como se tentasse me fazer acreditar que aquilo foi apenas raiva aculumada ou uma vingança que tácitadamente participo de forma cruel. Aprendi que não sou a redenção, nem o que te salvará dos seus desvaneios sentimentais, pois, é preciso aceitar, não como condição, mas sim, como vontade expressa em amor.

Não venha me dizer que isso é errado. Errado é eu morrer sem levar comigo nem sequer um beijo ou corpo seu. Aqui é onde tudo começa e termina, não levarei lembranças, muito menos concepções do que foi certo ou errado nos sentimentos que vivo e viverei, pois, quero sublimar como se não me restasse o amanhã ou o depois de amanhã. Se quiser deixar de lado o que outras mentes expurgam me diga apenas: sim, não precisa ser em palavras, o simples gesto de segurar minhas mãos bastará.

Pedro, o personagem único de sua única história, disse pra si mesmo que era hora de partir e essa viagem não haveria retorno, nem deixaria saudades às paredes e móveis que deixara, pois, a solidão os faria compania entre a poeira e o cheiro de mofo que a casa teria. As janelas se fechariam pra sempre, como sempre estiveram: fechadas. Ele deitou sobre o chão da cozinha agarrado com uma garrafa d'água - acreditava que passaria sede, e ali esperou a sua hora, mas não havia naquele momento dor, sintomas ou qualquer sinal de morte, porém, esperar era sua única escolha, era triste ver o que o existir causaria àquele homem fiel de suas crenças e valores. A agonia de fechar e abrir os olhos lhe tomou por conta uma vontade de gritar, e assim fez, gritou! Quem o ouviria Pedro? Quem se importaria com você velho Pedro? Então, desistiu de morrer por hoje e se apoiando nas gavetas do armário foi libertando do chão o seu peso e insatisfação. Sentou no sofá com seu livro de Machado e regogitou ódio nos dedos tentando quebrá-los com sua fraqueza. Sempre vejo Pedro fazendo essas mesmas coisas todos os dias, mas tenho medo de dizê-lo que a morte não era algo de que precisasse almejar, pois, já havia ocorrido, o que faltara era aceitar de que não mais existisse em lugar algum, o que ficara foi sua projeção, seus fantasmas e uma possibilidade de tentar enquanto vida, um despertar à alguém que pudesse lhe dizer: sinto saudades sua. Vá Pedro, o Senhor precisa descançar, sai Pedro de mim.

Antes um ponto de interrogação, sobre quem era, o que queria ser e onde estaria, mas quando finalmente vieram os pontos de exclamações, o entedimento, a grande sacada, a percepção do real e a felicidade no vibrato me veio um ponto final para terminar uma história mal sucedida: a minha vida!

O fracasso não é ruim. Ruim é não querer notá-lo.

Pedi pra ficar, pra beijar meus lábios com vontade, pra me desejar com desejo, pra me tocar com sinceridade, pra segurar minhas mãos e os meus medos, pra me olhar com fome, pra me embalar em noites de desespero, pra cantar aquela nossa música, pra fugir de suas sombras e simplismente permanecer. Hoje, aprendi o que é rejeição e objeção e somente assim pude perceber que já era hora de desistir, de sair de cena, de desmontar o espetáculo e finalmente me retirar, esse é o momento de me respeitar!

Não venha esconder sua maldade, seu plano terrível, sua culpa amarga e seus gestos grosseiros à palavra "amizade", pois, ela é mais que vocabulário: é uma verdade inquestionável.

Conjugar

Eu amarei.
Eu amo.
Eu amei.
Tive que conjugar para acreditar que o amor advém de amar.
Amar o que se quer ser
O que se quer ter
Amar o que não se tem, ou pensa que tem: em comum.
O anverso é o lado certo
E certo é o universo que vive a conspirar.
Amar é deixar entre-linhas, escrever recados anônimos, é querer ir a lugar nenhum.
Amar é ficar, permanecer, insistir e por fim desistir.
Desistir de seus velhos planos, de ser si mesmo, de dizer o que quiser, de não querer dizer o que se sente.
É escancarar , demonstrar e ferir.
É ter que aceitar sem pestanejar, é fingir que não sente ciúmes, é se abandonar e principalmente suportar.
O amor tem aconchego, tem cheiro, tem riso, tem beijo, tem até vocabulário próprio: amorzinho, benzinho e docinho.
Tem tudo, menos você.
Abdicar é tornar exclusivo o que não se pode deter.
A vontade vem do ócio e da monotonia.
O amor esfria
E torna quente antigos desejos.
Eu amarei.
Eu amo.
Eu amei.
Tive que conjugar para acreditar que o amor advém de amar, amar a si mesmo.

Não sou amargo, é que você levou consigo toda a minha glicose.

Pé esquerdo

Que os raios me destrua ao meio, que o trevo da sorte seja um só envolto a uma grande plantação deles, que o carro passe e me jogue lama em dias de chuva, que o trânsito esteja literalmente infernal, que meu sapato fure e logo em seguida eu pise em fezes de cachorro. Que passe em minha frente uma ninhada de gatos pretos e sempre haja escadas para eu passar por debaixo e que os espelhos que quebrei surtam efeitos imediatos. Desejo azar, pois, o amor não é sorte, algo divino, cheio de luz e esperança. "Isso", que prefiro nem falar pra não atraí-lo novamente é descrença, é atraso, é medonho e superfial, portanto, prefiro tudo de ruim a entrar nesse transe novamente. O amor é pé esquerdo!

Levante a cabeça, aconselho. Agora levantar os olhos e encarar as pessoas que feriu é com você e isso deve partir de sua vontade. Tem que se perdoar, se colocar no lugar, dedicar-se e buscar coragem para receber as desconfianças que virão, pois, não adianta nada erguer a cabeça e mantêr os olhos fixados ao chão.

Estava sem escrever por alguns meses, é que eu estava feliz e esse estado de graça não me permite produzir, apenas sentir. É algo tão raro em minha vida que me entrego, dedico e submeto. A desgraça me inspira.

A minha essência está em não ser, em não me deixar ser, porque há muitos que acreditam que essa é a sua verdadeira essência.

Como vocês conseguem sorrir quando estou aos prantos? Como conseguem sobreviver no instante em que desisti de viver? Como conseguem sonhar quando não consigo ao menos dormir? Como conseguem amar no exato momento em que fui desiludido? Derrepente veio uma voz caquética bater aos meus ouvidos pra me dizer: O mundo não gira em torno de você e nem de suas conspirações. Calei-me a boca e começei a observar a rotação das coisas e dos sentimentos.

Acorde! Já é o fim! Agora você pode ser o que sempre quis ser: humano.