Coleção pessoal de PalavraMotriz

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⁠SOM E SILÊNCIO
A voz que ressoa pelo canal da tua garganta
pode ser a chave que abre a cela em que um
ou milhares estão aprisionados.
Ou o som da tua própria alforria.
A quebra da mudez torturante
que asfixia.
A força do teu silêncio
pode ser o estardalhaço da tua serenidade
sobre a ignorância ruidosa
que se vangloria.
Mas o som da tua fala pode ser também o cadeado
que tranca a boca das minorias.
A manifestação do autoritarismo
que se sobrepõe aos gritos dos desvalidos.
A mudez da tua indiferença
pode perpetuar por séculos a servidão
e a manifestação multiforme da violência.
Se por medo,
o calar da tua fala
produzirá também feridas na tua essência.
Há silêncio profundo e fala revolucionária.
Há fala excessiva e silêncio covarde.
Há escuta que salva e palavra que arde.
A voz que soa pelo canal da tua consciência
pode parar o bumbo do marchar da tirania
ou o mutismo que a sustenta.
O bom uso do som ou do silêncio
reside no exercício da tua sabedoria.

MÃES MARIANAS

Lá vai a incansável mãezinha,

carregando as dores dos seus filhinhos.

Abrigando-nos sem julgamento,

em seu amoroso ninho.

Relevando nossos tropeços em desesperos.

Embalando nossas esperanças em recomeços.

Energia da Mãe Maior

que consagra todas as formas de vida.

Transfigurando-se em muitas Marias,

Lourdes, Fátimas, Aparecidas…⁠

⁠O CÍRCULO

O pai maltrata a filha.
O marido maltrata a esposa.
A mãe maltrata a filha.
A filha maltrata a mãe.
O filho imita o pai.
E todos maltratam a mulher

⁠POESIA QUE ME ESPANTA
Do momento em que a razão não consegue comportar,
a poesia nasce.
Do esquivar das algemas da mente a espreitar.
Do olhar além do além que a sutileza capta.
Do que não se expressa pela oralidade chula e gasta.
A poesia condensa os sentidos.
Mimetiza-se na escrita de um livro
em qualquer estilo literário.
Entrega-se a um pedinte.
Não se rende a um mercenário.
Desconstrói a narrativa fática.
É música
que vibra no espectro da sonoridade.
E por ser ritmo e compasso,
também é matemática.
Torna a pequena palavra vasta.
Guerreira de um só
ou de exércitos de Ghandi,
conquista sem armas.
A poesia basta!

DESPEDIDA
Despedir-se é dar adeus a uma parte de si.
É amando ainda a presença,deixar partir.
É alimentar-se da constância da ausência.
Emoldurar cacos de vivências,
irrelevantes, na memória.
Mantendo, em desespero,
a força contínua de uma história.
É aquecer-se solitário no frio.
É deixar voar,entulhando com retalhos de afetos
o ninho vazio.
É disparar-se numa via em sentido contrário.
Despedida é a nobreza calada do amor libertário.⁠

⁠SELENITA

Para cada solidão noturna há uma lua.
A crescente
para evocar os ausentes.
A minguante
para ruminar a vida de antes.
A cheia
para comportar a ansiedade que corre nas veias.
E a nova
para lembrar de novos ciclos depois das provas.

⁠ESTOU EM OBRAS, DESCULPE O TRANSTORNO!

Meu alicerce é forte,
embora a edificação
seja vulnerável às intempéries.
Sucumbo, às vezes,
aos ataques dos que me ferem,
mas me recomponho sempre,
rebocando ocos com aprendizados
nos golpes que me desferem.
Entre, mas atento para não se ferir
com a oralidade das minhas cruas verdades,
pois meu piso ainda é rústico
e há entulhos por toda parte.

⁠DOMINGO
Inundação de pausa.
Incômoda calma
lembrando a mente insone
que ela tem alma.
Domingo,
em que o segundo se alarga
para suportar a segunda
que nos aguarda,
escancara, sarcasticamente,
que nosso tempo se vai,
ao pôr a vida
em modo stand by.

ESTADO DE FOME

Há fome de fama e dinheiro.

Há fome de ascensão.

Há fome de domínio e revanche.

Há fome de ostentação.

Todas insaciáveis,

disfarçadas de saudável ambição,

ao tempo em que cresce a fome do estômago,

curável com alimentos em justa distribuição.

Nesse desequilíbrio,

parte da humanidade padece

por enfermidades da alma e compulsão,

enquanto a outra parte morre indigente

pela ausência de pão.

* Estado de fome é um conceito budista que caracteriza o baixo estado de vida em que pessoas são controladas por seus desejos insaciáveis, vivendo em estado de contínua insatisfação.⁠

QUANTAS VEZES JÁ MORREMOS NESTA VIDA?

Morremos e renascemos

de rupturas e desfazimentos,

em ciclos encadeados

por morte e renascimento.

Partimos por vontade própria

de histórias vividas

com validade vencida,

ou expulsos do paraíso

mesmo agarrados feito carrapicho.

Coisas, pessoas, status indispensáveis

são tirados de cena à nossa revelia,

substituídos por novos,

que serão depostos por outros,

e outros…

O eu que fomos,

se recompõe em novos prumos

mesmo arrastado contra a vontade

para outros rumos.

Assim seguimos vivendo,

no mesmo corpo,

morrendo e renascendo.⁠

META UM VERSO:

quando a realidade dura te inquietar;

quando tudo o que parecia sólido desmoronar;

quando tiver que se recompor,

remendando teus esforços chutados

por quem não soube valorizar.

Já há dentro de ti um metaverso,

uma consciência capaz de alterar

o ambiente coletivo

a partir do teu próprio universo.

Para cada dor existe uma cura.

A cada lágrima, meta um verso.⁠

O tribunal da internet apenas tornou digital o que existe há milênios: a rejeição por pré-julgamento do que não é nosso espelho.⁠

⁠Quando alguém disser que te conhece bem, peça a esse gênio que te apresente a você mesmo então. Conhecer o outro, quando sequer conhecemos a nós mesmos, é pura pretensão.

⁠Em eleições, deposite seu voto de confiança retornável. Isso também é sustentabilidade!

⁠Tem reunião de condomínio que vira Chá Revelação de Vizinho...

⁠Lugar de fala é de quem não cala!

⁠Agradeça teu dedo podre. É ele que te aponta o que deve abandonar!

⁠O autoconhecimento não é estimulado pelos donos do poder porque o nosso olhar se volta para dentro, desviando dos atrativos externos que monetizam suas estruturas.

⁠A mágica dos pontos: um ponto final somado a dois, forma reticências... um ponto de vista ponderado por dois ou mais, liberta a consciência!

⁠Ser suave em um mundo rude é que é sinal de valentia!