Coleção pessoal de PalavraMotriz

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⁠"Polarização política só existe na base de apoio. Minha humilde e sábia mãe já dizia: enquanto vocês brigam, eles (os políticos) comem no mesmo cocho."

⁠A falta de humildade para aprender nos faz enxergar a própria arrogância no próximo, mesmo que ele tenha apenas a intenção de compartilhar para aproveitamento alheio o que já experienciou.
Vivemos a era da arrogância muito bem disfarçada sobrótulos. Qualquer opinião vira julgamento, qualquer ensinamento bem-intencionado vira "caga-regra", e tudo o que é antigo virou inaproveitável. Estariam as palavras sendo reféns da nossa falta de sabedoria coletiva?

⁠ARREDIA
No armagedon digital
o cliché cospe na sabedoria.
Proliferam-se escritas sem alma,
métricas perfeitas sem poesia.
Frases de efeito simulando profundidade.
Moralismo decadente sob a aura de verdade.
Romantismo velhaco
retirando das mulheres seu valor
na conversa fiada do que se supõe amor.
A produção literária continua patriarcal.
Overdose de postagens cômicas
disfarçando nossa decadência cultural.
O exibicionismo corporal
fazendo das palavras escadaria.
A miserabilidade educacional de um povo
disfarçada de alegria.

⁠NÃO OLHE PARA DENTRO!

É o comando tácito dos “donos do poder” no domínio da tua atenção, abocanhando-a para a vida virtual, para a jaula dos confinamentos humanos chamada reality show, para a polarização político-ideológica, para o consumismo, para a competitividade social, para a neurose da beleza física... enfim, para tudo o que não seja a vida consciencial que pulsa, ainda enigmática, dentro de ti.
Portanto, olhe para dentro e decifra-te, antes que te devorem...

⁠SE A TUA POESIA NÃO VINGAR...

Come os frutos das tuas palavras
que outros não quiseram provar,
sorvendo o líquido doce da tua intenção
que jorra da tua fonte de criação.
Se a terra em que plantaste o poema é ressequida,
sorri, dentro de ti, pelo solo fértil que ofertas à vida.
Se a tua poesia não vingar em plateia ou publicação,
outros tantos poetas,
no ofício gratuito e incessante da palavra talhada,
por certo te vingarão.

O QUE DEVERIA TER SIDO DITO

Palavra guardada

é navalha que nos corta por dentro.

É sangue pisado.

O indigesto não transbordado.

É morte que se faz presente em vida.

É carne crua

que apodrece escondida.

O som invertido

ecoado no íntimo.

Sem ruído.⁠

A PARTIDA DA MENINAZINHA

A menina só

caminha pela cidade bela.

E a cidade

ri e zomba

da menina velha.

Os olhos tristes

da meninazinha têm vida.

Romperão ciclos sistêmicos de desamor

sobrevivendo à presença esquecida.

A perspicácia do olhar,

camuflada em azul do céu noturno,

vai furar o cerco que a aprisiona ali.

A menina não sonha

apenas cria outras realidades para existir.

Ignora príncipe encantado.

Prefere se armar com palavras para fugir.

Levará consigo uma bomba de melancolia

que, quem sabe um dia,

explodirá em poesia.⁠

⁠AVISO

Antes de vir me foi dito:
Não terás nada de seu
nessa passagem.
Entenderás que a vida terrena
é só uma viagem.
E tudo que te pareça
material, sedutor e intransponível
é apenas miragem.

⁠SOLTE AS RÉDEAS DA TUA POESIA

Tua poesia não se restringe
às letras encadeadas do poema,
que escreveste ou não.
Tua poesia sorri
na gratidão da tua paciência aos esquecimentos do pai.
No humor ao olhar de tua mãe, que te eterniza na infância.
Na amorosa tolerância aos defeitos dos teus amigos.
E na tua resignação ao ninho
vazio pelo voo justo dos teus filhos.
A poesia, que te é inerente,
mora em ti quase anônima
e exala na tua humanidade manifesta
em meio ao caos e o improvável,
feito florada fora de época.

⁠ANDARILHOS

Somos andarilhos no tempo
trocando de roupa a cada nova jornada.
Vestes masculinas e femininas
em predominância ou mescladas.
As cores se alternam entre branca, preta, amarela
e todas as cores da aquarela.
Levando conosco, das escolhas, as pegadas.
Evoluindo a largos passos
ou refazendo trajetos
na busca de uma nova estrada.
O tempo infindo corre conosco
e se amalgama em nós.
Paralisa quando nos detemos nos nós,
até desatarmos os apegos,
vencermos os medos,
qualificados para uma nova morada.
Há que se caminhar
com o livre-arbítrio que nos valida a vida,
podendo ser andarilhos de trilho ou de trilha.

⁠LETRAS MORTAS NO PORÃO

Houve um tempo em que letras
eram soterradas a sete palmos do chão.
Junto a corpos dizimados
pela ignorância de fuzil na mão.
Letras sem fala, sem grafia.
Esmagadas por coturnos
em um país soturno.
Nas ruas, o carnaval passava
enquanto a vida sem plenitude agonizava.
Mas ninguém notou.
Ninguém viu.
E uns ainda clamam,
renunciando à própria palavra,
por esse carnaval sombrio.

⁠POEMINHA DA ALEGRIA

De quantos versos preciso
para compor meu poema
sobre a força revolucionária da alegria?
Apenas um: “a mim basta que você sorria.”

*Para meus filhos Isabele e Rodrigo.

⁠O VULTO QUE VOCÊ VÊ

Uma pena que não note a profundidade do meu riso.
Como ainda trago a menina na alegria que improviso
sobre uma trajetória intensa,
em que recriei com arte
a tristeza, sob disfarces.
Lamento que não veja a beleza que tenho,
e que não é pouca.
Que não morre na extensão da minha idade.
Que rebenta nas ondas da inquietude
e nos despertares repentinos,
extrapolando o que expresso pela boca.
O que você enxerga é ilusão de ótica.
Minha imagem recriada pelos tolos
e reduzida a um vulto,
porque os meus verdadeiros versos estarão sempre ocultos.

⁠LÍNGUA DE MULHER

Ferina
é a língua do poder que nos enclausura.
É assediadora, virulenta e dura.
Lambe o corpo
e xinga nossa aparência.
Maldiz nossa presença
e tortura nossas cabeças
até que a anima feminina feneça.

*Poema do livro "Quem tem ódio das borboletas"?

A MÁGICA DOS PONTOS

Um ponto final somado a dois,

forma reticências…

Um ponto de vista ponderado por dois ou mais,

liberta a consciência!⁠

⁠SOM E SILÊNCIO
A voz que ressoa pelo canal da tua garganta
pode ser a chave que abre a cela em que um
ou milhares estão aprisionados.
Ou o som da tua própria alforria.
A quebra da mudez torturante
que asfixia.
A força do teu silêncio
pode ser o estardalhaço da tua serenidade
sobre a ignorância ruidosa
que se vangloria.
Mas o som da tua fala pode ser também o cadeado
que tranca a boca das minorias.
A manifestação do autoritarismo
que se sobrepõe aos gritos dos desvalidos.
A mudez da tua indiferença
pode perpetuar por séculos a servidão
e a manifestação multiforme da violência.
Se por medo,
o calar da tua fala
produzirá também feridas na tua essência.
Há silêncio profundo e fala revolucionária.
Há fala excessiva e silêncio covarde.
Há escuta que salva e palavra que arde.
A voz que soa pelo canal da tua consciência
pode parar o bumbo do marchar da tirania
ou o mutismo que a sustenta.
O bom uso do som ou do silêncio
reside no exercício da tua sabedoria.

MÃES MARIANAS

Lá vai a incansável mãezinha,

carregando as dores dos seus filhinhos.

Abrigando-nos sem julgamento,

em seu amoroso ninho.

Relevando nossos tropeços em desesperos.

Embalando nossas esperanças em recomeços.

Energia da Mãe Maior

que consagra todas as formas de vida.

Transfigurando-se em muitas Marias,

Lourdes, Fátimas, Aparecidas…⁠

⁠O CÍRCULO

O pai maltrata a filha.
O marido maltrata a esposa.
A mãe maltrata a filha.
A filha maltrata a mãe.
O filho imita o pai.
E todos maltratam a mulher

⁠POESIA QUE ME ESPANTA
Do momento em que a razão não consegue comportar,
a poesia nasce.
Do esquivar das algemas da mente a espreitar.
Do olhar além do além que a sutileza capta.
Do que não se expressa pela oralidade chula e gasta.
A poesia condensa os sentidos.
Mimetiza-se na escrita de um livro
em qualquer estilo literário.
Entrega-se a um pedinte.
Não se rende a um mercenário.
Desconstrói a narrativa fática.
É música
que vibra no espectro da sonoridade.
E por ser ritmo e compasso,
também é matemática.
Torna a pequena palavra vasta.
Guerreira de um só
ou de exércitos de Ghandi,
conquista sem armas.
A poesia basta!

DESPEDIDA
Despedir-se é dar adeus a uma parte de si.
É amando ainda a presença,deixar partir.
É alimentar-se da constância da ausência.
Emoldurar cacos de vivências,
irrelevantes, na memória.
Mantendo, em desespero,
a força contínua de uma história.
É aquecer-se solitário no frio.
É deixar voar,entulhando com retalhos de afetos
o ninho vazio.
É disparar-se numa via em sentido contrário.
Despedida é a nobreza calada do amor libertário.⁠