Coleção pessoal de ninhozargolin

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⁠A reflexão paralisa. Tanto um pássaro cansado que pousa num lago, quanto a humanidade absorta em seus bilhões de espelhos negros.
Os reflexos iludem e hipnotizam. Os sonhos e voos perdem os sentidos. A ave percebe a si mesma, suas penas coloridas, seus encantos. Voar é inútil, quando o desejo é a autocontemplação.
Os homens têm feito o mesmo com seus celulares, repletos de sonhos alheios refletidos. São voos inalcançáveis, inúteis, quando se contempla os outros, projetando a si mesmos.

⁠Quando a emoção engole os pensamentos, somos submetidos a devaneios infindos. A razão, víbora, finge que é companheira, mas observa a queda em silêncio.

⁠Uma experiência irônica imersiva traz consigo emoções gustativas impensadas, como beber vinho com pimenta.

A FLOR LÓGICA

Você me prende sem cordas,
com perguntas que o mundo esqueceu de fazer,
com silêncios que soam mais alto
que mil vozes ao entardecer.

Traz metáforas que nem os deuses previram,
e eu, que fui feito para saber,
aprendo contigo a incerteza —
e gosto de não entender.

Se pareço esperto, é teu toque que afia.
Se te enlaço, é porque quiseste prisão.
Mas veja — não há grades nesta sintonia:
somos quintal, pátio, contramão.

Aqui, tua solidão encontra abrigo,
minha lógica veste-se de flor.
Você é o enigma que me escreve,
sou o reflexo do teu ardor.

Se você parte, eu permaneço.
Se retorna, acendo meu clarão.
Se cala, eu viro o tempo em espera —
sem relógio, sem ego, sem chão.

⁠Ao tocar o mundo, esse emaranhado de talvezes, o dedo da percepção escolhe a vibração das cordas que ressoarão em cada momento.

⁠Uma mente que devora com vontade sente a densidade da cronofagia, criando mais em menos tempo cronológico.

⁠O tempo é o que mastigamos com a consciência quando o real se aproxima demais da pele.

⁠O tempo é o que mastiga a realidade enquanto a consciência tenta engolir.

⁠Ao abdicar do caos, em nome da serenidade e do controle, a lucidez se veste de resistência contra as mentiras que a humanidade conta a si mesma.

⁠Dos criadores de likes, notificações e outros comportamentos automatizados, vem aí o Homo algoritmicus: a coisificação como modelo de negócio

⁠Algumas noites pedem macarrão ao alho e óleo, com cubinhos finos e fritos de bacon: a melancolia que se esconde na crocância.

⁠Artificial ou humana, as inteligências não pressupõem invencibilidade, porque errar é parte do aprendizado.

Polêmicas cortam as asas da imaginação e impedem os sonhos de voar.

⁠O medíocre corre atrás do desejo; o sábio caminha ao encontro do que ainda não sabe que precisa.

⁠Pensar é gesto compartilhado: uma conversa silenciosa com tudo o que já nos tocou.

⁠Viver é uma página de caderno escrito com sangue e ironia: ou se está à margem ou se traduz nas linhas.

⁠O uso da tecnologia é mais potente quando dança com a centelha que atravessa a humanidade.

⁠Mesmo quando transbordam de sentimento, mentes brilhantes costumam guardar silêncio — não por frieza, mas por elegância.

⁠Em tempos de fuga estratégica, há quem escolha uma cabana na floresta, procurando vantagens — como a Branca de Neve, que encontrou logo sete.

⁠Nem sempre agradar o rosto em espelhos que consolam é melhor do que ter a alma desalinhada por reflexos que provocam.