Coleção pessoal de NatannaXavier

Encontrados 12 pensamentos na coleção de NatannaXavier

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Guarda estes versos que escrevi chorando,
Como um alívio a minha saudade,
Como um dever do meu amor; e quando
Houver em ti um eco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.

Nunca vi Anjos

Nunca vi anjos
Mas acreditei que um existia
Que velava meu sono todas as noites
E desaparecia no clarear do dia

Nunca vi anjos
Mas por acreditar que ele viria
Esperava a escuridão pousar
À ele dediquei cada traço e poesia

Nunca vi anjos
Mas imaginei que ele chegaria
Onde nenhum outro Querubim voasse
E um mortal jamais alcançaria

Nunca vi anjos
Mas entreguei o que mais valioso possuía
Esperava o menos enxergar sua luz
Meu ser a ele pertencia

Nunca vi anjos
Mas ao duvidarem de sua existência
Procurei a nuvem mais alta
Onde nada pudesse nos incomodar

Aquela em que procurei repouso se partiu
Do céu cai
Feito um anjo
Que via o inferno se aproximando

Chamei
Gritei
Num ultimo suspiro
Sussurrei

Assim como em uma oração
Pedi a ele que viesse
Que me salvasse
Mas ele não veio

Daqui do chão
O céu se torna infinito
Sentindo a dor da queda
Procuro cada pedaço meu espalhado

Fecho os olhos ao imaginar ser um pesadelo
O que na verdade seria o fim de um sonho
O seu traço virou rabisco
A minha poesia perdeu a rima

A solidão do escuro
Faz-me ver
Por fim
Que anjos não existem

Anjo meu
Morreu!
Sem nome
Sem endereço
Sem rosto
Sem verdade

NUNCA VI ANJOS!
MOSTRE-ME UM ANJO
E EU O AMAREI.

Considerações sobre Ele e eu.

Ele diz me conhecer muito bem,
Eu contrario dizendo ser ele um estranho.
Ele acha que me domina,
Eu tento convencê-lo de que o controlo.
Ele recita ser minha maior alegria,
Eu quero saber o motivo de tantas lágrimas.

Eu protesto porque ele é a coisa mais irracional do mundo,
Ele calmo responde que é a minha melhor contradição.
Eu pergunto a ele como se chega aos céus,
Ele parece fazer deboche alegando ter a chave da casa de Deus.
Eu tento explicar como minha vida seria melhor sem ele,
Ele mostra que ficar sem ele seria resignar a própria existência.

À quem espera o seu amor

Distância poderia ser sinônimo de saudade se não fosse o fato de sentirmos saudades de quem está bem pertinho de nós e não sentirmos daqueles que estão distantes.

Às vezes sentimos falta até de quem nunca esteve conosco.

Ela é antítese, paradoxo, contradição, sinestesia, tudo ao mesmo tempo.

É verdade que nos ensina, enriquece valores, desvenda amores e nos torna mais pacientes.

É magia branca e negra. Branca quando valentes, dispostos a suportar toda a dor que ela trás, em razão do mais sublime sentimento. Negra quando a tomam como fardo, se esquece o propósito e o sentimento desvanece toda a esperança.

Os olhos que choram de saudades são os mesmos que anseiam a primeira ou mais uma troca de olhares.

As palavras que não se ouve ao pé do ouvido dão voz as mais belas provas de amor.

A ausência do toque aflora todos os sentidos.

Descobre-se que a carência não é a falta da carne, é saudades de espírito.

As lembranças que trazem nostalgia são as mesmas que aproximam as pessoas separadas pelo tempo.

Tempo é outro fator importante.

Quem ama tem pressa.

Quem souber esperar viverá o amor e descobrirá que ele supera toda a distância.

Ninfa

Tu me procuras em todos estes sonhos

Eu te guio em todos teus pecados

Sou a serpente, a mulher e o próprio fruto

Jamais me ame

Não vamos perder tempo com amor eterno

Todo hedonismo do mundo ainda não me basta

Que dure apenas minha juventude e beleza

Teus desejos afogam-se em taças de vinho

Embriagados pelo mistério dos meus olhos

Que excitam os teus tão retorquidos

Em teu prazer encontra a própria sentença

Está preso a mim

Pois o meu corpo acorrentou tua alma.

Porta Aberta

Muito tempo já passou
Todo silêncio desnecessário
A porta aberta que você deixou
Nossas lembranças guardei em meu relicário

Só agora entendo o que sinto
Pois tua ausência me ensinou
Amo-te, você sabe eu não minto
Reviva comigo o que não terminou

Para quê tantas conversas de amigo?
Por favor, eu preciso que fale
Diga agora se quer ficar comigo
Essa distância é só mais um grande detalhe

Não espere o ponteiro dar outra volta
Não faça disso uma despedida
Basta dizer: eu sinto sua falta
Desta vez pra sempre, fique em minha vida!

Caixinha de Música

Ele passava por aquela rua todos os dias
Conhecia todas aquelas vitrines e nada mudara
Até o dia em que algo na loja de relíquias lhe chamou a atenção
Estava uma caixinha dessas de música aberta, parecia nova
E sua linda melodia acompanhava a encantadora bailarina
Ela rodopiava levemente vestida de branco
Encantado, perguntou ao dono quanto custava
O velho atento ao deslumbramento do rapaz resolveu presenteá-lo
Surpreso, o rapaz agradeceu e imediatamente levou o objeto pra casa
Chegando em seu quarto, deu corda na caixinha e pôs de pé a bailarina
Ficou durante minutos observando e escutando
Encontrou então uma imensa paz, que a muito não sentia
Ele a deixou em cima da estante para tê-la sempre perto de si
Bastava abrir sua caixinha para assistir um espetáculo particular
Foi assim durante muito tempo, até achar que tudo aquilo era sempre igual
A mesma coreografia, a mesma música, que sempre levara ao sono
Resolveu deixá-la ali mesmo, na estante, lhe servia como mera decoração
Antes de dormir olhava o relógio e ao lado, a caixinha permanecia fechada
Ele sabia que a bailarina ficaria la, só não sabia em que ela podia se transformar
Certo dia, ao sentir-se triste resolveu abrir a caixinha de música
Ela estava empoeirada, a bailarina totalmente sem brilho, sem cor
Após dar corda, ouviu uma música rouca, quase silenciosa
Pode então perceber como aquele velho objeto que nada lhe custara tinha valor
Já era tarde e nada podia fazer, toda a beleza esvaiu-se
Logo que amanheceu, voltou à loja de relíquias
Implorou ao velho que restaurasse o presente que lhe dera meses atrás
O dono da loja encheu-se de melancolia ao ver a bailarina
Em seguida disse que o objeto havia sofridos sérios danos
Tentaria concerte-lo, mas, demoraria certo tempo
Além de tudo, não podia garantir que ela voltaria ao seu estado de antes
Talvez não recuperasse as cores, a melodia, o brilho, os movimentos
Ao retornar à casa, encontrou pousando sobre a estante, a culpa, a saudade
Desde então ele segue pelas mesmas ruas e sempre pára em frente a loja de relíquias
Na esperança de um dia encontrar novamente sua bailarina, rodopiando como na primeira vez que a viu.

Um dia chegará

Hoje irei dirigir por outro caminho
Dispensar atalhos
Chegar mais perto do mar
Planejar de que forma irei viver esse dia

Darei bom dia aos desconhecidos
Desligarei o celular para esquecer as obrigações
Não verei o noticiário
Para que nenhum desastre me surpreenda

Andarei no fim da tarde para ver o pôr do sol
Desejarei no fim do dia uma boa surpresa
Lembrarei dos tempos de infância
Do equilíbrio de uma vida mais normal

Terminarei o dia atrás de uma boa lembrança
De algum tempo, de alguém especial
Que me faça sentir prazer em perder o sono
E sentir a ansiedade de um novo dia chegando

Ária

Se pudesse estar com você agora
Mitigaria minhas dores, as lágrimas
Acabaria um único suspiro seu, toda a minha agonia.
Se escutasse a sua voz
Suas pregas vocais vibrariam dentro de mim como um terremoto
Ao pé do ouvido causariam arrepios, dos inofensivos aos mais instintivos.
Se tuas mãos quentes tocassem meus rosto
Sentiria frio em todo o resto do corpo que não pudesse senti-lo
Se me beijasse
Deixaria-me tonta, causaria leveza, desejo, calor, combustão
Se dissesse algo depois disso
Uma frase seria o necessário
E cada palavra contida nela chegaria instantaneamente até minhas pernas, perdendo o equilíbrio
Se poucos minutos restassem
Unicamente em seus braços me refugiaria, no intuito de lhe ter sempre
Se partisse novamente
Faria uma bela melodia com o sol que toca sua pele
Uma ária que unificasse todas as sensações, transformando-as em música
Para que eu cantasse enquanto espero sua volta.

Sempre dias


Os dias passados em solidão

São como águas turbulentas

Perturbação reveladora de toda clareza

As frases contidas desnorteiam pensamentos

E de perder-se, o controle fica iminente à loucura.

Cálice

Irás me ver cantar

Enquanto estiveres chegando

Até teu mau-humor calar-me

E toda cantoria fazer desabar

A sublime sensação de tocar os céus



Irás me ver calar

Enquanto roubas o verbo

Até não te restares mais saliva

E por quaisquer motivos tolos

Pairar a desconfiança no ar



Irás me ver chorar

Enquanto me tratas com indiferença

Até não me restar algum sentimento

E calarás meu soluço

Minhas ultimas lágrimas na cama



Irás me ver sorrir

Enquanto bebe todo o vinho

Até o veneno em ultimo gole

E após um grunhido, o silêncio

Restará apenas o seu cálice no chão.