Coleção pessoal de nataliarosafogo1943
a Primavera chegou um pouco triste, celebrando a chuva e agitando as neves...deixa o céu condenado a perder o azul da sua origem, enquanto o sol que o marginava, perdeu a memória...
lá fora bate irado o vento, e cá dentro meu coração encosta o ouvido às paredes e mal se atreve a bater...
quando me esqueceres de vez, criarei um poema de palavras apagadas, para que se não veja a última lágrima...
Murmuram vozes que uniram gerações, há memórias germinando ao olhar estas imagens e vêm as aves e os ventos saudar-me trazendo-me o aroma da terra...
Não há nada mais amargo que viver sem sonhar dia a dia...é como se os dias já nascessem sem horizontes.
na terna desordem que há na memória, recordo um rosto como se fosse sonho...aquele que hoje sem vida, quero ignorar,
o medo aninha-se na memória onde há lembranças implorantes, que reconhecem estar a cair no perdido...
nos dedos da solidão, há palavras fugitivas do tempo...e no mutismo dos olhos, recordações que não querem renunciar...
vou plantando palavras para sustentar a minha viva presença, o aroma da infância e para acalmar a espera abrupta da morte...
escutei a memória, tacteei as lembranças, quis aprisionar os anos, e deixei-me estendida no varal do sonho num humilde anonimato...
O passado é remota fragrância existente em nós, o presente é tão inocente, tão criança, que nem a si se conhece... é um sopro cristalino, como pode saber que existe? E o amanhã é folha de trevo difícil de encontrar.
o sentimento saudade é toada batendo na porta do coração e nos deixa melancólicos como a cinza do anoitecer...