Coleção pessoal de nanacae

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Deve ser a textura, não sei, das palavras, eu as sinto na boca, é verdade, não fica rindo assim das minhas metáforas, mas elas tocam minha língua, então os dentes se cerram, as serram ao meio, trituram as verdades e eu sem ter o que fazer mastigo suas mentiras também.

Fico correndo pelos dois cantos, por dois becos extremos, encerrando discussões com vírgulas, sem saber como usar um maldito ponto final.

Os signos apenas me cercam, não me favorecem, particularmente a casa em que o meu habita desmoronou, ali não importa a destreza ou o olho bom com medidas, as paredes ponteagudas se desequilibram e escorregam no chão.

Falamos de crianças como se não fossemos infantis, como se estivéssemos disputando quem voa mais alto no balanço, sendo que sabemos que desastrosamente sempre caímos de costas no chão.

Empurramos o medo com a barriga, enchemos a barriga com qualquer besteira, nos enjoamos de desculpas para podermos vomitar com maior facilidade todo resto ressentido.

Para os braços nunca marcamos hora na agenda, compromissos, estão sempre ocupados segurando o mundo junto com as mãos.

Mas ainda somos minúsculos, quase ninguém, e as mãos, pequenas, não importa o tamanho do coração, da força, ou da rapidez, elas ainda não poderão segurar todo peso por alguém, e isso inclui você.

Eu finjo também que penso, quando na verdade eu bem mais que desejo, a sustentabilidade das palavras, não me refiro a estruturas espirituais, de ética ou moral. Preciso que cada palavra que escrevo se transforme em roupa, comida, o recibo do meu pagamento do aluguel de fim de mês.

As conversas foram tecidas em linho de cobre e você ainda jura que suas palavras atingem meu rosto como seda

Todo instante você pensa em ser só, mas vindo de você soa tão pueril

Talvez você ainda precise mesmo da infantilidade do seu passado

Você ainda não cresceu

Quer realmente amar? Mostre seus ossos, cansa as vistas ver apenas alma e conceitos.

Inteligência é pré-disposição genética; depois das 3 da manhã, mero esforço para ir contra a burrice, empenho na aprendizagem de um conhecimento universal. E isso é base, básico, vestido preto no guarda-roupa.

Estreito compasso dessa desengonçada sinfonia
Estreito desenredo dessa sintonia sem jeito
Estreito espaço entre o fardo
E a métrica da constante
Ausência
Sua

Estreito
Apertado
Coração

Se chegar mais perto tinjo com aquarela o que conseguiram pintar apenas de preto e vermelho

Não se preocupe Lola
Se abstenha
De toda cena armada
O duro papelão que bateu em sua cara
Amoroso papelão sentimental

Somos pessoas flexíveis
Vulneráveis
De papel
Machê ou cartolina?

Compreender é passo dois da cartilha, primeiro vem o esforço de desembaçar as vistas.

Compreender é passo raso em rio de aparência funda. Apenas quando adentramos é sabida a facilidade de caminhar.

Como se os olhos fossem páginas escritas em braile de trás para frente, eu insisto no estudo de te ler sem óculos.

Quando sonho com você desenvolvo ânsias precárias, refluxos eufóricos, vomito as palavras-resíduos que me forçou a engolir.

Na fabricação do litígio entre estranhos conhecidos, o olhar preso por três segundos é intimidade desnecessária, proximidade a ser ignorada.

Quando sonho com você não há lugar para o surreal, não possuo asas, borboletas não se transformam em dragão. Apenas a realidade dominando o onírico, eu de um lado, você do outro, quando queremos muito mudamos de calçada é pedida a permissão, sem o atrevimento da palavra a própria presença estabelece o cumprimento, determina a distância.

Quando muito, uma ninharia agridoce de rancor me ataca, o amargo se torna forte, o melífluo não chega a lugar algum.

Como se fosse fruta verde, a língua reconhece, distingue, arrebata no apertar da boca, o ranger dos dentes, travamento completo da mandíbula, endurecimento do coração.

Quando sonho sempre me vem um gosto. Não de amor, menta ou saudade. Sabor acre, enjoo, dor pungente de estômago vazio, não me alimento das lembranças, não me satisfaço mais de você.