Coleção pessoal de michelletrevisani

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Certa vez fiz um castelo na areia, quando ainda era bem pequena. Eu era a princesa. Imaginei cores e faixas tremeluzentes vermelhas nas torres, já que areia é uma cor só. E também me coloquei a imaginar soldados, cavalos e um rei. E tinha um vendedor de frutas. Foi por ele que me apaixonei. Minha mãe me perguntou: 'Vendedor de frutas? Mas você é uma princesa, não seria melhor se apaixonar por um príncipe?'. Olhei para minha mãe sem entender. Eu amava o vendedor de frutas, o cabelo, o jeito, o olhar... ele era o meu príncipe. Ora, ele era o meu príncipe, que carregava a vida nos ombros e suspirava cansado no final do dia... e ainda sobrava um tempinho para me dar um sorriso, que ficava na janela, olhando o sol se pôr e o seu partir. Isso era ser um bom príncipe para mim.

Sou responsável por esse sorriso enorme estampado em meu rosto. Ele sai quando quero. Ele gargalha quando se mata de tanta felicidade. Ás vezes tá murchinho. É que ele nem sempre é de ferro, coitado. Quando a lágrima cai, meu sorriso fica tão infeliz que chega a ser torto, torto. Mas daí você chega, com seus olhos cor de mar, fantasia uma piscada e o sorriso que tá torto fica todo bobo e se põe a festejar.

- 'Não faz mal que você fique. Aliás, já ia te pedir isto mesmo'.
- 'Mas porque demorou a pedir?'
- 'É que fiquei com medo do teu não. A incerteza ainda dói menos'.
- 'E agora? Tem certeza que fico porque te amo?'
- 'Tenho certeza que fica porque quer... sua presença já me basta tanto!... o amor, esse detalhe, a gente vê depois'.

Não há sentindo em ser muito boa. Só vejo desvantagem. Choro à toa, sempre amarga, fico de cara amarrada por aceitar quieta o que não agrada. Bom mesmo é ser danada. Danada de esperta, danada de brava, danada. Ter sempre uma carta na manga, uma carta mágica: uma carta 'cala boca cara, pega essa sua mala, cheia de tranqueiras, não me amola mais com suas besteiras, que eu tô o bicho – não tô de bobeira'. Bom mesmo é ser danada, danada igual pimenta.

Já borrei muita maquiagem. Mas não ligo de refazer. Levo na minha bolsa um lápis de olho poderoso que cessa as lágrimas, um batom vermelho fogo que parece sol a iluminar o ambiente. A tristeza nunca se aloja por muito tempo. Dá um “alô”, pra me lembrar de não ser tão fraca da próxima vez, deixa um chacoalhão de presente, pega as malas e parte. Mas parte sempre com um sorriso bobo nos lábios, a danada, como se velasse “se não tomar cuidado, eu volto.

Gosto de te ver respirando baixinho.
Seu coração bate compassado, a boca murmura qualquer coisa... os olhos brilham. É como ver um mágico tirar da cartola um coelho branco. A gente fica se perguntando - "como"?

Ele disse: foi sorte.
Eu disse - destino.
Ele me olhou desconcertado. Sorte se ele fosse rico não é mesmo? - então foi destino.

No meio do caminho tinha você.
Você, no meio do caminho.
Um caminho, você, um sorriso.
- Me perdi!

É que esse seu sorriso... há muda tanta coisa!
Tranforma em cor qualquer cinza,
faz chuva cair mansinha - um sorriso sabor cobertor e pipoca numa tarde fria,
um colchão, uns amassos...

Era tão divertido – tentar decifrar seu aroma bagunçado pelo vento, lutando para não fechar os olhos só para que eu pudesse te ver me beijando. Eu sempre falhava – meus olhos se entregavam e afundavam nas suas cores assimétricas – tons eletrizantes de vermelho.

Já me perdi diversas vezes nessa estrada –
Estrada tipo emboscada que se bifurca em vários caminhos: difícil decidir.
Difícil partir. Difícil trocar os pés, avançar o passo,
Quando deixo como rastro um coração partido.

Sonho com teus olhos
E tua boca reluzente.
Sinto o perfume do teu cabelo e o que me acerta são respingos de chuva
Como quando teu corpo me pingava molhado, pós-banho.

Logo volto,
Logo me entrego nos teus braços – me espere.

Havia no jardim uma garota.
Seus grandes olhos observavam o voar de uma folha outonal, que pendia duma árvore qualquer – naquele imenso quintal de sonhos.
Um rosto delicado, com sardas que pareciam pitadas pela mão de um artista renomado.
Os olhos – invadiam com ardor e trincavam a alma quando se olhava bem no centro.
Ela esboçava um sorriso, quando me via chegar.
- eu lhe tocava a barra da blusa e lhe dizia entre dentes –
“fica comigo!”.

Ela pegava a flor dos meus dedos e a enroscava no cabelo – como se enroscasse meu coração nela.
Eu sentia o pulsar da lateral de sua orelha martelando meus sentidos quando ela debruçava em mim para contar do seu dia.

E me ardia,
Ardia aquela boca tão fina – longe da minha.
Ela dizia:
“Espera o amor – se curtido, fica mais saboroso”.

Eu já tentei a liberdade algumas vezes.
Já brinquei de voar e fui tocada pelo vento –
Já abri os lábios para comer nuvens de algodão doce
E sentir o sabor tênue de lágrimas de chuva.

Mas o que faz meu coração ser realmente livre
É estar aprisionado ao teu som, impaciente pela casa;
É estar colorido dos matizes do teu riso, mesmo riso de mau humor depois de um dia cansativo no trabalho;
É saber-me tua, de algum modo.

É ter a lua bem debaixo dos pés no teu céu estrelado
– olhos semicerrados cantando-me cantigas de embalar o sono.

Sussurrar no teu ouvido
Apenas um pouco do amor que tenho.
... assim, quem sabe, te desperto dessa dúvida toda.

Tinha uma blusa
Com teu cheiro no roupeiro:
Blusa suja de saudade
Blusa suja que beijo
... e me embriago
... me alimento
- de desejo.

Ele havia desabotoado a blusa toda.
Seus olhos carregavam a canseira do dia, mas eram tenros, depositados em mim.
Ele analisava o contorno de meu dorso e tocou de leve minha cintura num não mais agüentar só olhar. Puxou-me os cabelos, com a docilidade de todas às vezes. Suspirou em meus lábios: “Já volto” que durou a eternidade de minutos incabíveis num desejo de tê-lo – insuportável a espera.
Voltou seminu envolto numa toalha branca, que contrastava com sua pele tão única. Me mordiscou de leve o queixo e praguejou como eu conseguia ficar tão linda a cada minuto que passava. Dizia ele: “Você é tanto para mim” e eu: “Mas sou tudo exatamente do que você precisa – sou esse tanto todo!”.
E a noite era tão pouco!

No mundo há amor por tudo.
Ama-se muito e com freqüência.

O meu amor, não é menor, nem maior, nem mais bonito - meu amor é líquido e transcende o imediato.

Ok, meu amor é pela escrita.

Não sei muito falar de amor.
Aliás, me dói pensar nele.
Me dói pensar em não ter mais sua voz,
Seu gesto,
Seus olhos brilhantes,
observando a chuva ainda morna que tica o telhado.

Falar de amor dói,
quando sabemos da certeza de o que amor um dia vai.
O que me alegra é saber que se não tiver o toque – pelo menos minha alma estará em sua companhia, entrelaçada num amontoado de nuvens.

Havia uma casa.
Nela um porão empoeirado.
Duas lamparinas apagadas, um resto de vaso, uma cortina rasgada, quadros sobrepostos e um cheiro de madeira adocicada.
Guiei-te pela mão. Não que estivesse suficientemente escuro, mas te guiar é como dizer – vem que sou tua.

Amamo-nos naquele chão, que ardia os pulmões – não sei se, pela necessidade dos corpos, ou se por todo aquele pó.
Pó nenhum mais incomodava, ao final.
Só havia o sorriso então, invadindo aquele espaço todo. Luzes tremeluziam do olhar e já não estavam apagadas as lamparinas. Ardiam e queimavam como meu ósculo,
molhado em suas costas.

Casamento?

Pensei em ti, como antídoto de solidão.
Me convida para dançar,
Eu pego tua mão e já não somos um – mas vários sonhos reunidos.
E flutuamos duma nota a outra de melodia, e nossos pés já não tocam mais o chão.
Sinto o perfume das madressilvas,
das rosas desabrochando vida –
pingando cores no borrado que vejo passar por mim quando rodopio em seus braços.

Meu buquê?
No meu abraço
Enlaço-te de uma ponta a outra.

Mordisca minha boca nesta cama tão imensa!
A festa já acabou,
A minha trança se desfez e o que anseio é uma noite carregada de suor e suspiro – sou sua de vez.

Sim, casamento.