Coleção pessoal de mbregianini

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Olhos sábios de um cachorro


Entro no carro, saio da garagem, fecho o portão.
Paro na esquina olho para os lados, do lado esquerdo da rua dois olhos me observam.
Sim, o olhar de um cão.
Cachorro preto, com manchas acobreadas, da raça “salsichinha”.
Os olhos fixos em mim, serenos.
Olho novamente e percebo na cabeça pêlos brancos ao redor dos olhos e boca.
Aquele olhar sereno é de um cão que demonstra já ter vivido muito.
Impõe respeito, sabedoria.
Com o carro parado espero ele passar e novamente olha nos meus olhos como a me agradecer a gentileza.
Com a firmeza de quem já viveu muito, caminha a passos lentos,
Observador, pára, olha para os lados a observar se tudo está em ordem.
O movimento das pessoas na calçada, os carros a passar.
Segue calmamente e eu parada no carro a observá-lo,
Olha-me novamente,
Seus olhos nos meus refletem um velho cão sábio e cansado.
Um bom cão de rua.
Parece ser respeitado, nenhum outro cão o afronta ou perturba.
No dia seguinte, abro a janela do meu quarto, vejo o cão com o mesmo andar do dia anterior, parado na esquina, outro carro passa, ele olha, o carro passa e ele segue o seu destino.

FUNDO DO POÇO TEM MOLA?




Alguém já perguntou se fundo do poço tem mola? Melhor, você já se sentiu no fundo do poço? Quem ainda não esteve nesta situação?
Fundo do poço retrata a sensação de buraco sem saída, de prostração, de incapacidade regada à ansiedade, prisão, desespero. Como é difícil imaginar uma saída, espera-se um milagre tal a impotência.
O que faz uma pessoa chegar ao fundo do poço? Frustrações, decepções, desencantos, desamor, traição, abandono, descaso. Mas, o mais terrível é perceber que o abandono de si próprio foi o principal causador desta tragédia na vida.
Quantos alimentam o corpo, vestem este corpo, educam e formam este corpo, tem acesso aos prazeres da carne e ao que o dinheiro pode comprar. Sem se preocuparem em alimentar a essência deste corpo que é a alma.
Sim, a alma é energia, é o dínamo que movimenta a vontade, a coragem, o ânimo. Nela habita o que de melhor possui um ser, sua capacidade de sentir o amor, a paz, a generosidade, a solidariedade, a compaixão. Somente ela é capaz de dar e receber afeto, mas, quando ela por longo tempo se deixa nutrir por sentimentos antagônicos em ambiente hostil, adoece.
Quando a alma nega-se entra em processo de autodestruição, de falência, perde o rumo sai do eixo da existência. Fundo do poço é isso vida sem rumo, sem direcionamento, abandono.
Descobrir que fundo do poço tem mola é redescobrir-se é literalmente olhar pra cima, para o alto. Impulsionar a essência da alma com a força da coragem, redimencionar propósitos, reafirmar valores, acreditar em seu potencial. Resgatar a alma é jogar fora as informações negativas recebidas, varrer o lixo interior, eliminar o negativismo a baixa autoestima, reconsiderar suas fraquezas e transformá-las em energias salutares.
É respirar fundo, encher os pulmões de ar, abastecer-se de ânimo, esticar os braços, as pernas, alongar cada músculo do corpo, expandir os ossos, mover as articulações, espichar-se longamente, sentindo a vida pulsar dentro de si. É sentir-se completamente livre das amarras, dando-se conta de que o poço ficou pequeno para tanta força e energia e que a luz é o caminho para sua felicidade, sem muletas alheias. A força de sua alma é sua mola propulsora, e mais nada pode detê-la.

O encontro no perdido


Na esquina, dois lados da rua, dois destinos se perderam. Andar feminino, pés descalços, lágrimas no rosto. Olha o vulto masculino, sem destino, arcado, o frio do vento suprime suas dores. O asfalto devolve seus sonhos.

Irrenunciável avesso


Na trama da palavra
Escrevo versos,
Afugento sonhos, distante do olhar.
Emoção teu corpo longe está.
Entranha no verbo amar,
Calor distante.
Fugia de mim e perto ficava.
Soluça meu nome repleto de amor,
Fugia de ti, pensa em mim.
Tudo era poder,
Recomeça no tropeço, se acha em mim.
Branca areia escreve meu nome.
Com tua voz o vento unia os nossos acertos.
Calmo respirava.
Assim, somos avessos, complementos,
Busca e tropeços.
No olho da noite reencontro,
Lado a lado do irrenunciável apego,
Luta e volta.
Meu calor te espera
Volta e aquece.
Aconchega, abraça, fecha os olhos e sonha.