Coleção pessoal de MariaAlmeida
Existia algo indefinido na minha alma. Só entendi agora. Neste momento. Talvez por fazer as coisas de coração e sem qualquer outra intenção. Talvez por distração. Ainda tenho muito trabalho a efetuar em mim própria. Eu gosto de crianças. Independentemente de serem filhas de quem são. E o que mais me cativa nelas são as gargalhadas, o riso, o sorriso e a felicidade dos seus olhos. Apenas e só. Nada mais.
O sabor de fazer tudo o que os outros receiam fazer é o que confere o gosto louco à seriedade da vida.
Tudo o que é credível não é bem-sucedido. Existe um atropelo pelo que é estereotipado. Ninguém quer olhar para si e assustar-se. Quem vive na porta da frente? De quem é a porta detrás?
Existem pessoas tão lindas por dentro que a gente não sabe que fazer com o enorme e luminoso sorriso bobo que rasga os nossos lábios.
Às vezes sentimo-nos esquisitos, como se um aranhiço tivesse passado pelo nosso rosto ou como se o cocó de um pombo, no seu voo plácido, se reconstituísse na nossa cabeça.
Oh, perdoem, são muitos os lapsos de tempo em que divago sobre coisas sem nexo.
Uma gargalhada genuína cortou o ar e, ainda assim, continuava entremeadamente de olhos semicerrados.
- Que surpresa – disse para ninguém.
Flutuaria?
Mas a vida é mesmo assim.
Todos nós temos momentos em que nos rimos desalmadamente. É quando as gargalhadas dão lugar à serenidade e quase se chora. Saltamos do nosso corpo através da hilaridade.
A intensidade com que às vezes te sinto obriga-me a amarras de mim. São ondas quentes que invadem os meus sentidos e me lançam num abismo saborosamente sem fim.