Coleção pessoal de MarcioAAC
Se, na qualidade de psicoterapeuta, eu me sentir como autoridade diante do paciente e, como médico, tiver a pretensão de saber algo sobre a sua individualidade e fazer afirmações válidas a seu respeito, estarei demonstrando falta de espírito crítico, pois não estarei reconhecendo que não tenho condições de julgar a totalidade da personalidade que está lá à minha frente. Posso fazer declarações legítimas apenas a respeito do ser humano genérico, ou pelo menos relativamente genérico. Mas como tudo o que vive só é encontrado na forma individual, e visto que só posso afirmar sobre a individualidade de outrem, o que encontro em minha própria individualidade, corro o risco, ou de violentar o outro, ou de sucumbir por minha vez ao seu poder de persuasão. Por isso, quer eu queira quer não, se eu estiver disposto a fazer o tratamento psíquico de um indivíduo, tenho que renunciar à minha superioridade no saber, a toda e qualquer autoridade e vontade de influenciar. Tenho que optar necessariamente por um método dialético, que consiste em confrontar as averiguações mútuas. Mas isto só se torna possível se eu deixar ao outro a oportunidade de apresentar seu material o mais completamente possível, sem limitá-lo pelos meus pressupostos. Ao colocar-nos dessa forma, o sistema dele se relaciona com o meu, pelo que se produz um efeito dentro do meu próprio sistema. Esse efeito é a única coisa que posso oferecer ao meu paciente individual e legitimamente.
O homem jamais conseguirá desembaraçar-se de si mesmo, em benefício de uma personalidade artificial. A simples tentativa de fazê-lo desencadeia, em todos os casos habituais, reações inconscientes: caprichos, afetos, angústias, ideias obsessivas, fraquezas, vícios etc. O "homem forte" no contexto social é, frequentemente, uma criança na "vida particular", no tocante a seus estados de espírito. Sua disciplina pública (particularmente exigida dos outros) fraqueja lamentavelmente no lar e a "alegria profissional" que ostenta mostra em casa um rosto melancólico.
Quanto à sua moral pública "sem mácula", tem um aspecto estranho atrás da máscara – e não falemos de atos, mas só de fantasias: suas mulheres teriam muitas coisas para contar. Quanto ao seu abnegado altruísmo, a opinião dos filhos é outra. O indivíduo tende a identificar-se com a máscara impelido pelo mundo, mas também por influências que atuam de dentro. "O alto ergue-se do profundo", diz Lao- Tsé.
As pessoas que não são envolvidas com seus egos, que conservam uma forte identificação com sua natureza animal, não temem a morte.
O vidente pode prever o futuro porque ele não consegue ver o interior da natureza das coisas. Mas Tirésias era cego: a visão do profeta não é uma função de consciência do ego, como a visão comum, mas sim do inconsciente, ou da função divina do hemisfério direito, (...).
Um terapeuta ideal seria como o profeta Tirésias, capaz de ler o caráter e predizer o destino.
Racionalizamos o impulso de poder falando de segurança, de confortos materiais, das conveniências asseguradas pelos mesmos mas, quando todas essas necessidades estão satisfeitas, o impulso para ter mais dinheiro e mais poder prossegue.
Em nossa cultura, quando uma criança não vai bem na escola, o pai considera geralmente o fracasso do filho como sinal de seu próprio fracasso. Pela mesma razão, o êxito do filho infla o ego do pai.
O pai se ressente da ideia de que o filho tenha uma vida melhor do que a que ele teve. "Por que você deveria ter uma vida melhor do que a que eu tive?" – eis aí uma sensação ignorada por muitos pais com respeito aos filhos.
Os seres humanos são os únicos animais capazes de ações ditadas pela vontade. Através de sua vontade, o homem transcende sua natureza animal e cria cultura mas, neste processo, afasta-se da natureza e se torna vulnerável a doenças.
A conduta antissocial é um grito de desespero para o sujeito que reivindica do social aquilo que lhe foi prometido.
Numa cultura em que o progresso é um valor importante, o conflito entre as gerações irá inevitavelmente se desenvolver.
Na qualidade de adultos, não podemos ser traídos a menos que sejamos ingênuos. Se somos ingênuos, traímos a nós mesmos, negando nosso passado.
A força de vontade depende da força do ego. Podemos dizer que a pessoa com um ego forte tem uma vontade forte.
"Enquanto há esperança, o paciente não está pronto para aceitar a ajuda. É necessário o desespero para que o paciente se abra à terapia."