Coleção pessoal de Marcelaninon

Encontrados 20 pensamentos na coleção de Marcelaninon

Às vezes, sentimos saudade de alguém presente,

Porque não encontramos mais aquela criança,

Aquele eu te amo,

Aquela energia protetora,

Aquelas atitudes tão dela.

Não encontramos mais.

Não nos encontramos mais.

Às vezes, a vida nos tira aos poucos.⁠

ADEUS

Passar pelo ADEUS
É uma dor imensurável,
Dilacerante,
Incessante.
Só o tempo diminui a intensidade da dor
E transforma a saudade em algo que acaricia nossa alma.
E o tempo não é o mesmo para todos.
Dias podem ser meses,
E anos podem ser apenas dias.
É a intensidade do amor que muda as folhas do calendário.
Passar pelo ADEUS é inevitável
Assim com inevitável foi
Amar aquele ser tão importante
Que foi entregue A DEUS.

Mais um ano, mais um dia, mais um sopro
Anunciando mudanças.
Sempre estamos assim:
Mudando.
Não me lembro de todas as mudanças,
Só sei que elas ocorreram.
Algumas foram procuradas,
Outras provocadas,
Mas a grande parte naturalmente trazida pelo vento.
De repente, eu não era mais a criança que desenhava suas próprias bonecas,
E não sei dizer onde ficaram aquelas bonecas nem a criança.
De repente, eu não era mais a adolescente que escrevia suas próprias peças
E interpretava os papéis que não lhe cabiam na vida real,
E não sei precisar quando as cortinas se fecharam.
De repente, mudanças.
E passagem de pessoas e pessoas de passagem...
Novos que chegavam, velhos que partiam,
Velhos que chegavam, novos que partiam,
E novos velhos...
E novos novos.
E estamos sempre assim:
Mudando.
E as bagagens se acumulam,
Algumas precisam ser deixadas pelo caminho,
Servirão a alguém.
O importante é ter sempre consigo o essencial,
Já que estamos de passagem.
Mais um ano, mais um dia, mais um sopro
A comemorar.
E as mudanças seguem
E hão de vir até a partida,
Porque inevitáveis.
Então sinto o vento neste rosto de agora
E me permito a emoção que aflora.
O hoje é para comemorar a estada.

Seja você!

Seja você mesmo!
Seja de verdade,
Sem máscaras,
Sem amarras,
Sem molduras.
Seja você
Sem se frustrar,
Sem se reprimir,
Sem se anular.
Seja seu exército e seu rei,
Sem temer batalhas,
Sem fugir de lutas,
Sem se render.
Seja você
Sem pensar em como, apenas seja.
Seja você, mesmo que em você haja vários,
Seja uma constelação então.
Seja você, nem despido do pior, nem vestido do melhor,
Sem preocupação com estampas,
Seja apenas.
Suas melhores e piores partes são você.
Seja o que é, não o esperado.
Seja e viva você
Sem personagens,
Sem dublagens,
Sem falsas imagens.
Se parecer ser tarde,
Seja ainda você;
Se o tempo não para,
Sim para você.
Se parecer de nada valer,
Ser você mesmo já terá valido tudo.

2007 e 2008 marcaram a minha vida. Naquele, morri um pouco; neste, nasci de mim mesma. Precisei morrer para me permitir nascer.

NAQUELE AGOSTO

Naquele agosto, chorei tanto
Que nem a mais baixa umidade deste lugar
Seria capaz de irritar meus olhos.
Naquele agosto, eu me senti secar
Como o solo, o verde, as coisas deste lugar.
Naquele agosto, senti uma dor tão intensa
Que não sabia precisar o lugar.
Naquele agosto, acabou a minha esperança
De que nós voltássemos para o nosso lugar.
Naquele agosto, senti o amargo do desgosto
Com a poeira comum deste lugar.
Naquele agosto, vi o que meus olhos não conseguem apagar:
Você deitado para sempre naquele lugar.
Naquele agosto, precisei loucamente de setembro
Para tentar ver novamente alguma beleza nas coisas
Com a chegada da Primavera.

FAZ DE CONTA

Quando a gente é criança, vive no mundo do faz de conta.
Quando adulto, muita gente faz de conta
Que não enxergou o que viu,
Que não escutou o que ouviu,
Que é feliz,
Que é importante para várias pessoas,
Que é inesquecível.
E se perde em tantas contas com tanto faz de conta.
Mas esse faz de conta não tem magia alguma.
Quando criança, ainda resta a esperança.
Quando adulto, ou esquece o faz de conta
Ou faz de conta que realmente viveu.

Não se engane! Nosso espelho, às vezes, nos mente.

A saudade era abstrata até eu conhecer a perda.

Posso não ter plantado uma árvore,
Nem escrito um livro,
Nem gerado um filho.
Mas plantei sementes,
Inspirei histórias,
E dei a luz a mim mesma.

Já ouvi dizer que quem ama liberta.
Mas quem seria libertado?
Por amor, libertei meu amado,
Mas nunca consegui me libertar desse amor.

Transex

Nasci no corpo errado,
Alma aprisionada em grades de outro gênero.
Que importa se dessa forma na vida fui inserta?
O corpo a gente transforma,
A alma a gente liberta.

É muito fácil ter razão com um fuzil na mão,
Com o ouro no bolso,
Com o abraço do rei.
Mas não preciso de nada disso para ter a verdade.

Saudade concreta

Ah, meu amor!!!!
Como pode ser a saudade abstrata
Se ainda sinto o seu cheiro
E o gosto do seu beijo
E escuto a sua voz
E ainda tenho sua pele em minhas digitais?
Ah, meu amor!!! Não são lágrimas,
São gotas de saudade que brotam dos meus olhos.

Amor advérbio

Amor é um substantivo,
Mas, quando amamos, é o advérbio que se faz presente.
Desejamos muito,
Queremos sempre,
Adoramos demais.
Frequentemente, experimentamos os ciúmes
Sofridamente, sentimos as perdas,
E esquecemos jamais.

Minha riqueza

Não me importei com o diploma que não tinhas,
Nem com o lugar de onde vinhas,
Nem com as posses que não dispunhas.
De material, meu amor, só me interessava o teu corpo.
De conhecimento, só o que aprendemos juntos.
De lugar, só aquele que foi o nosso.
Ao teu lado, descobria um mundo que não está nos livros,
Chegava a lugares em que nunca havia estado,
Via a preciosidade em coisas tão simples.
De material, meu amor, só me interessava o teu todo.
E te possuir e ter sido possuída por ti foi a maior riqueza que tive.

MINHA CASA

Quando percebi...
Minha casa estava fria,
As baratas tomavam conta de tudo
Mesmo quando tudo parecia limpo.
Os cômodos pareciam maiores, mais vagos, mais escuros.
A água do pote onde nadavam estrelinhas de vela apodreceu.
Então, o musgo tomou conta das estrelinhas.
O piso branco gelado registrava apenas as marcas dos meus passos.
A mudez do telefone mostrava a inutilidade do bina.

Quando percebi...
O pássaro parecia empalhado,
A cadelinha me causava impaciência,
As plantas haviam secado.
Os anjos queriam fugir das molduras
Como as fotografias que fugiram dos porta-retratos.
Os doces permaneciam nos potes,
Mas pareciam menos atrativos, menos coloridos, menos doces.
O relógio havia parado.

Quando percebi...
Minha casa estava morrendo
E eu não sabia o que fazer
Porque não sabia que casas também morrem.
Apática, apenas me limitei a buscar a causa mortis.
Talvez já soubesse...
Minha cama também sabia: sua ausência.
Um feto morto no útero
Pode matar a mãe.

Todos podem ver as várias peles que optamos usar.
Mas nossa verdadeira pele só enxergam aqueles para quem nos despimos.

Embora não sejamos autores de nossos romances,
Devemos buscar um desfecho feliz para cada capítulo,
Pois não conhecemos a extensão dessa Obra.

Quando somos vidraças, atraímos os olhares mas também as pedradas.