Coleção pessoal de lucasgoncal
O homem que pensava demais
Sentado na ponta da ponte ele pensava…
Pensava se deveria mergulhar de cabeça naquele rio gelado ou esperar um pouco mais para a água esquentar.
Também pensava que se mergulhasse devagar poderia se acostumar com a água gelada aos poucos e criar coragem para mergulhar de cabeça finalmente. Resolveu esperar um pouco mais.
Enquanto esperava, começou a pensar na sua vida;
Pensou se deveria ter ligado para aquela moça de quem sempre gostou e convidá-la para sair.
Com lágrimas nos olhos, pensou também se deveria ter procurado aquele amigo com quem tinha brigado e tentar uma reconciliação e que o orgulho não deixara.
Lembrou que queria ter feito aquela tatuagem que sonhara desde criança e que não fez porque não sabia se iria se cansar dela um dia.
Permaneceu lá, pensando em tantas coisas que quis fazer durante sua vida, mas que não fez porque seriam decisões sérias demais, algo definitivo demais, e porque era orgulhoso demais.
Tomar uma decisão qualquer e realmente tornar aquilo possível o amedrontava e então pensou que deveria esperar um pouco mais para ter certeza se seria o caminho certo a seguir.
E continuou pensando. Pensou tanto, por tanto tempo, que a água do rio congelou e não daria para mergulhar mais nela mesmo. E sendo assim, resolveu se levantar e talvez fazer algo em que tinha pensado durante esse tempo.
Teve um pouco de dificuldade para se levantar, sentindo o peso da idade no corpo. Ele pensou tanto que a vida passou e ele a perdeu lá, só pensando.
E o último pensamento que lhe veio à cabeça foi: eu devia ter mergulhado de cabeça, ao invés de só pensar em fazê-lo.
Antes de partir ele lhe pergunta: e você, vai mergulhar de cabeça ou esperar a água congelar?
Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo.
Quando não se tem ideias, as palavras são inúteis e até nocivas; melhor calar-se do que falar só para confundir.
Ah! Como as entrelinhas são importantes! É nelas que estão escritas as coisas que só a alma pode entender.
Não havia ponte entre os mundos que os separavam. Haviam viajado para longe demais um do outro e não havia retorno. Não havia agora, nunca haveria” .