Coleção pessoal de lskato

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⁠Conexão.
Uma palavra tanto quanto ambígua nos dias atuais.
Estar conectado nas redes sociais e estar conectado com as pessoas à sua volta, tudo ao mesmo tempo, é praticamente impossível.
Conectar-se pessoalmente a alguém significa estar totalmente presente e disponível naquele momento vigente, de corpo, de mente, de coração, de sentimento, acessível energeticamente, possibilitando o vínculo da conexão física, mental e psíquica. A conexão ocorre pela qualidade do tempo oferecido, e é percebida pelos que escolheram estar ali, naquele instante de sua curta existência.
Um encontro acontece quando há uma vontade unânime de todas as partes envolvidas em sintonizar um momento no tempo, no espaço e no coração, para dar e receber. Ás vezes, acolher, ás vezes, ser acolhido. Um encontro é um presente incomparável, pois não há nada mais valioso do que o tempo que alguém dedica a outro alguém. Um encontro é, além de reunião de corpos, uma junção de almas.
Conectar-se a alguém virtualmente significa deixar de estar presente pessoalmente, para estar “interligado” em uma rede de ausentes, porém, urgentes. É, portanto, escolher estar em outro lugar que não aqui, e também que não lá. É proporcionar o afastamento do real, da vida que está acontecendo no tangível, para divagar no intangível do virtual.

⁠Estou com o coração partido por deixar tantos que amo, mas é isso que torna tudo tão especial: saber que amei, e que fui amada e, por isso mesmo, é que me dói tanto a partida e a despedida.
Porque deixo um pedaço de mim, mas também levo um pedaço de todos vocês, aqui comigo, para sempre.

Hoje, estou só.
E este estar só estava sendo solidão... mas hoje, transformei em solitude.
Estou só na posição do sentir, e do ir.
Do ir, e do sentir este ir, e irei só, e sinto... e este sentir, não é compartilhado. E este ir, tão menos.
Busquei, no outro, uma identificação, um sentir igual ao que eu estava sentindo, mas ao contrário.
E aí, encontrei solidão.
Eu tive frio, medo, e insegurança. Neste lugar de buscar, no outro, alguma semelhança e equivalência. Alguma aproximação, suporte e assistência.
Mas percebi que, assim como eu, o outro também está só. E se ele está indo, ou se está ficando, ele também está desacompanhado. Todos estamos.
Portanto, a identificação que tanto almejamos, está justamente em raciocinar e entender que, apesar das inúmeras histórias diferentes que estamos a construir,
Estamos todos nós e sem exceção, indo, vindo, ficando, ou partindo, a sós.
E, dentro deste raciocínio e consciência, encontrei-me com minha solitude.
E a solidão, pode então, partir de mim.
Estar a sós com a solidão é se sentir desabrigado de si e de todos.
Estar a sós com a solitude é estar desabrigado de todos, mas agasalhar-se a si mesmo.
É poder se abraçar e se compreender, e se acolher... é se aconchegar.
E para partir, foi preciso, algum dia, chegar.
E esta chegada também foi, anteriormente, partida de algum outro lugar.
E em todos estes movimentos, ir e vir, chegar e partir, ficar ou sair,
Nos encontraremos, primeiramente, com a solidão.
É como se, entre o lugar de partida e o lugar de chegada, houvesse sempre um deserto para atravessar.
Mas hoje, encontrei-me com a solitude deste momento. A solitude que mora em mim...
A solitude não é um oásis, pois é fonte interior.
É como ser cacto neste deserto a se atravessar.
O cacto, que simboliza resistência, força e adaptação,
É capaz de sobreviver a ecossistemas muito áridos e quentes,
como desertos, caatingas e cerrados.
O cacto representa proteção, além de ser um guardião.
Com seu exterior forte e um interior belo,
possui uma simbologia de fortaleza e persistência.
E um dia, quando possui água interior suficiente,
E forte luz exterior correspondente,
O cacto, finalmente, floresce.

A flor dele é a insígnia da sabedoria,
da prosperidade e da perseverança.
Representa a capacidade de enfrentar desafios
e a força interna para lidar com a solidão.
Para mim, é a mais fina expressão
Da beleza de uma sólida
solitude.⁠

Sobre a vacina.

⁠Demorei a decidir se postaria este dia tão importante pra mim… entre dúvida e certeza, nenhuma. Sabemos que a maioria dos brasileiros ainda aguarda pacientemente o dia em que poderá ser, finalmente, vacinado. Aguarda pelos dias passando pelo calendário, as notícias das datas de vacinação, os aviões pousando em território brasileiro com mais algumas vidas armazenadas em frasquinhos… enquanto isso não acontece, ele sai à luta. Pega ônibus e metrô lotados, acorda cedo, se veste de coragem e mascara não só o rosto, mas também a sua dor. Talvez ele já tenha perdido muitos amigos, familiares, filhos, talvez já quase tenha se perdido ao perder alguém. Talvez já tenha perdido o emprego, as economias, talvez sinta que perdeu sua dignidade até. Talvez esteja se virando de Uber poraí, arriscando sua vida para sobreviver ao dia a dia. Talvez esteja no semáforo com uma plaquinha, talvez esteja vendendo quentinhas, fazendo bicos aqui e ali. Eu escutei muitas histórias entre idas e vindas nesta pandemia. De uma coisa eu sei, o povo brasileiro se vira. Um povo acostumado a ser empreendedor, motorista, pedinte, vendedor, cozinheiro, tudo em uma vida só. Acostumado a falar inglês, português e espanhol sem nunca ter ido à Wizard ou à CCAA. E a maioria te dá bom dia, pergunta com uma simpatia como anda a vida, mesmo se ele ou ela dormiu 3 horas naquela noite, com as jornadas duplas e triplas. Acostumado a sofrer para ter o mínimo para comer e sobreviver a mais uma das inúmeras crises que já enfrentou aos 30 anos de idade… e com um sorriso no rosto e um fica com Deus sempre na boca. O brasileiro que não teve educação básica, que não teve os nutrientes necessários para se desenvolver, se desenvolve sem pensar, rasgando-se e se desdobrando em seis para pagar as contas no fim do mês. Este é o povo que aguarda na fila pacientemente a sua vez. Aguarda a sua dose para talvez recuperar a dignidade mais uma vez, e continuar sobrevivendo a este massacre hediondo da insensatez. Espera enquanto se recupera sozinho de uma depressão que não pode chegar, afinal, ele precisa continuar a lutar. Ele não tem tempo para pensar, ele tem contas para pagar. E assim amanhece de novo e outra vez, anoitece uma vez mais. Sentar naquela cadeira e sentir o braço doer me trouxe paz por ter a sensação de ter deixado pra trás estes dias sombrios… mas me doeu saber que ainda existe um Brasil inteiro à espera de um Brasil melhor para todos… à espera de não passar mais fome, sede, frio, de não sentir-se mais só e desamparado nesta terra de ninguém. Eu vi o número de mendigos aumentar dia após dia nas ruas e vielas, vi as famílias se instalarem na beira da praia, na porta dos bancos, debaixo das árvores, pontes e viadutos, no chão, nas esquinas, nas portas dos supermercados, nas portas dos edifícios com alguma cobertura que oferece alguma falsa proteção. E assim se passaram as horas, meses e dias desta agonia que está longe de terminar. Sim, a vacina salva, mas para salvar ela precisa estar no braço das pessoas, e para já. Pessoas que estão espremidas nos transportes públicos, pessoas que estão deprimidas e que são invisíveis para a maioria de nós. As pessoas que não estão sentadas esperando, mas que esperam sentar-se para receber o que lhe é justo. Sou muito grata por ter conseguido uma oportunidade de continuar vivendo, espero que eu possa ter recebido não só uma dose de vacina, mas uma dose de consciência de que é preciso fazer a nossa parte para um coletivo melhor. Que graças a Deus existe vacina para a Covid-19, mas ainda não existe vacina para a fome e a sede, para a miséria e a nudez. Não existe vacina contra a desorientação de nossos superiores, contra a má gestão e a falta de sensibilidade e empatia. O custo de tudo isso está evidente no record de mortes, na miséria do povo, no luto e na luta de tanta gente para não morrer. Aqui se luta contra a Covid-19, contra o desemprego, contra a indigência. A vacina para estas lutas precisa ser construída e constituída por cada um de nós, eleitores e eleitos, nós, brasileiros. Vacina para todos, contra o coronavírus, mas também contra a desigualdade, a miséria, a má gestão, e a falta de amor. Aliás, assim como a vacina contra a COVID-19 já existe, existe sim vacina contra a fome e a miséria, e o desamor. Só é preciso aplicá-la em todos nós.

⁠Um ano sem carne... alguns meses sem açúcar... (reduzindo iogurtes e ovos, consumindo ovos free range certificados).

O processo de desconstrução de si mesma (de padrões antigos, de pensamentos, de hábitos, de ideias, da mente, do corpo, da alma) pode ser doloroso, em partes, mas reconstruir-se pode ser um processo fascinante e divertido.

Há um ano, me via tão desconecta e desconexa... desconectada de mim mesma, do meu chão, do meu não e do meu sim, perdida de mim e em mim, distante do meu mundo interior e do mundo exterior que não correspondia ao meu mundo, enfim... Quanto de mim, de fato, ainda existia? Quanto disso eu ainda queria? Há tantos de outros em nós... tantos outros, ocupando espaços imperceptíveis, porém que têm grande força, o suficiente para não sermos mais tão donos de nós assim...

Se imaginarmos, pra ficar mais fácil, que tudo é energia, inclusive os alimentos, como se sentiria consumindo o que consome hoje? Sejam alimentos, coisas, produtos, conteúdos... estamos tão estressados, sobrecarregados, que nossa mente anda anestesiada enquanto nossos corpos são viciados em "coisas" que o mundo deseja que consumamos... e isso nos consome, além de consumir o próprio mundo, o planeta... estamos sendo engolidos, enquanto engolimos tudo.

Se parássemos para nos ouvir, se a gente congelasse todo o resto e deixasse nossa intuição falar... Já pegou um produto e desconstruiu? Mapeou as entrelinhas, fez o caminho inverso para saber de onde vem, o que tem de fato nele, qual é a história até chegar na embalagem, até chegar no prato, ou no estômago, e, enfim, em sua vida? O que ele fará ao entrar no seu corpo (e na sua alma, na sua preciosa casa)?
Deveríamos fazer este exercício com absolutamente tudo, os objetos que compramos, os alimentos que consumimos, produtos e conteúdos que lemos ou ouvimos ou assistimos, e pessoas com quem nos relacionamos.
Se fôssemos capazes de ver a energia... e, sim, podemos (recomendo o filme e o livro A Profecia Celestina para começar a expandir a mente e a visão).

Bem, este post não é para promover uma dieta plant based, low sugar, vegana, vegetariana, low carb, etc etc etc... é sim, um convite para o conhecimento de si... para uma reflexão de quem anda governando a sua mente, a sua vida, o seu ir e vir, o seu dinheiro, o seu tempo, o seu corpo, uma reflexão de quem é você... sabemos bem mapear o planeta terra, mas não sabemos mapear a nós mesmos...

É um convite para um processo de desconstrução... tirar o que não cabe, o que não pertence, limpar a casa, a vida, a mente, a célula, principalmente a mente... e as ideias.

E refundir... refazer, reerguer. Remodelar, moldar, consertar... recriar com mais consciência de si mesmo, e do mundo ao nosso redor.
Acredito que, dentre outras coisas, cada um de nós deve vir ao mundo para melhorar a si mesmo e deixar o mundo um pouco melhor do que encontramos.

É isso.

Caminho, livre-arbítrio, escolhas, prioridades, e possibilidades.

Será que liberdade é consumir tudo o que quisermos, ou, na verdade, é não consumir?

⁠Amo fazer ciência, mas lidar com pessoas… é uma ciência que ainda não domino.

⁠Silêncio.

O silêncio é privilégio.

Fico imaginando Deus a ouvir todos os sons da terra se propagando em ondas até o céu, e invadindo o seu universo, todo dia e toda noite… sem parar e infinitamente… infinitamente barulhento e ruidoso… sete bilhões de vozes, mais bilhões de ruídos de animais, e folhas e ventos e objetivos que se chocam, sons estridentes, músicas boas e ruins… buzinas, gritos, e orações. Pensamentos… preces silenciosas para os ouvidos, mas que soam ao coração. Sons de tiros, sons de gaitas e foles, o som de um parto, de uma obra qualquer… todos estes sons somados um a um, espalhando-se e multiplicando-se até os ouvidos de Deus. Meu Deus! Impossível de imaginar…

O silêncio é liberdade. É libertador.

Mas é quase utópico.

Estamos sempre acompanhados de sons… do mundo todo, e dos pensamentos, vozes, imaginação, inconsciente… até quando pensamos estar em silêncio… será, que de fato, estamos?

O silêncio é necessário…

Porém, ele, na verdade, não existe…

Falamos em silenciar o exterior, sempre na perspectiva de calar uma voz para ouvir outra (no caso, a interior), mas nunca para que não escutemos nada, de fato.

Como silenciar o externo, o interno, o consciente, o inconsciente, como é que podemos estar realmente, em silêncio absoluto?
Se silenciarmos tudo, ainda assim, a batida de nosso coração produziria som…

O silêncio absoluto significaria, então, a morte?

Nesta vaga reflexão,

Chego à conclusão de que atingimos o silêncio quando, na verdade, calamos a nós mesmos, aos outros tantos, e nos permitimos ouvir a voz e o som de Deus… é quando o som, seja interno ou externo, vem cheio de paz e alegria para a alma, para a mente e para o coração. Quando ele simplesmente conforta…

Silêncio é quando nos permitimos sentar no banquinho do jardim de Deus.

Feliz dia das crianças aos adultos que carregam sua criança interior no coração


⁠Quem era você, quando criança? Ainda tem os mesmos sonhos da infância? Quais eram as coisas que tinham realmente importância?

Você perdeu a sua inocência… a sua pureza...

Você perdeu a sua inocência quando o mundo te contaminou.
Quando passou a odiar mais do que amar…
Quando pensou que elogiar é algo ruim… e criticar e falar mal é algo bom.
E hoje, é algo comum pra você.
Você perdeu-se de si mesmo quando pensou que ajudar o próximo é desnecessário, ou perda de tempo…
Ou que ninguém merece a sua ajuda, que todos querem te
enganar ou se aproveitar de você.
Perdeu-se quando te ensinaram
Que pensar em si mesmo é o melhor caminho.
Você se distanciou de sua essência quando se distanciou das
pessoas que ama…
Quando o mundo te fez acreditar que ele é mais importante do que sua família e amigos… Quando a urgência das coisas te consumiu, e você nem
Notou…

Você perdeu-se de si mesmo quando te ensinaram que precisa ser melhor do que os outros… e de que pode julgar os outros. No fundo, está a julgar a si mesmo, o tempo todo. E a sua vida se vai.

Perdeu seu propósito quando aprendeu erroneamente que seu objetivo é ter. Status, coisas, poder. Quando colocou isso à frente das coisas importantes, como amar, ajudar, transformar.

Quando não pensou que sua vida custa caro à natureza, ao planeta… e que tudo o que veio fazer é amar e contribuir com opróximo. E que tudo o que vai levar desta terra é um total de nada destas coisas que te custam muito caro ter e sustentar. Porque te custam o tempo, e este se vai por entre os dedos, para nunca mais voltar.

Você se esqueceu do seu caminho, quando se deixou trilhar o caminho dos outros, do mundo todo, menos o teu. Quando se vê a fazer tanta coisa que, na verdade, não fazem sentido algum.
E que amanhã tantos outros poderão fazer, enquanto se esquecem de você.
Pois você foi se deixando ser apenas mais um… deixando de ser você para se parecer comum… querendo tanto pertencer, e não pertencendo a lugar nenhum.

Que neste dia tão importante e significativo, nós possamos refletir e dialogar com cada criança que um dia morou dentro de nós… e que representa a pureza de nossa alma, a inocência de nosso espírito, e que desde o princípio sempre soube e carrega consigo o real propósito de nossas vidas.

⁠Existem pessoas que deixam uma saudade na alma.

Sim… após tantos meses, tantas conversas, toques, palavras e pessoas… após ir e vir, caminhar livre poraí, após sorrir demais ou também chorar, após viver e viver uma vez mais, me pego sentindo saudades de um lugar… e este lugar é você.

Uma saudade sem maiores explicações, sem uma razão aparente de ser. Sim, sem nenhum fundamento. Uma vontade de saber apenas: como vai você? Teria conseguido voar? Teria conseguido voltar? Estaria já em um novo lugar? Não sei dizer. Nunca mais eu disse, e nem você. Mas sem dizer, eu sinto. E neste sentir, bate uma saudade.

E é uma saudade bem estranha de ser. Afinal, me pergunto… será mesmo que chegamos, de fato, a nos conhecer? E seria isso, assim, tão necessário?
Eu julgo certamente que não… não este conhecer que conhecemos. Pois é como se eu já te conhecesse profundamente. E é só isso que sei dizer.
Que te conheço mais do que conheci qualquer outra pessoa… e que a falta que você me faz é uma falta que jamais vou compreender… porque não é pra ser entendida. Somente se sente… e eu sinto na alma, sim. Você me falta de uma maneira diferente.

E eu sei que você não acredita em nada destas coisas… terá mudado de opinião?

Talvez. Mesmo assim, eu gostava tanto de conversar sobre todos estes assuntos malucos com você. Com as outras pessoas, não é assim. E eu sei que a gente conversa, mesmo no silêncio de uma noite qualquer.
Eu não sei porque eu encontrei qualquer coisa de correspondência em você. Sentir saudades de você é sentir saudades de mim mesma.

O que será que você pode estar fazendo, neste momento? Eu só queria saber o pensamento que pode estar passando poraí, agora. Sabe, jogar conversa fora, bem aleatória, como costumávamos fazer? Nada clichê. Era somente vontade de dizer o que vinha, o que se sentia.

Será que você tirou o lixo pra fora, hoje? Será que estendeu as roupas ou as recolheu? Aqui está chovendo… lá fora e também dentro. Será que você ainda lê aquele livro do vampiro? Eu penso e dou um suspiro… é uma vontade apenas de saber.

A melhor parte é que eu não tenho vergonha de dizer. De dizer que tudo isso é e sempre será estranho… e é isso que torna tudo isso tão único e especial.

Eu sei que a sua vida é tão diferente da minha.... mas quando a noite cai na cidade, quando você olha pro céu daí, e eu daqui, ele é o mesmo céu.

Boa noite. Eu espero realmente que esteja tudo bem.

Como você disse um dia que gosta de ler minhas mensagens… no auge da minha sinceridade, sim, este texto é sim, pra você. E eu sei que você sabe.

⁠Se eu pudesse te proteger...

Ah, se eu pudesse te proteger
De todas as dores,
grandes e pequenas deste mundo.
Eu estaria lá...
Quando você sentiu medo.
Quando se sentiu sozinho, em meio ao escuro.
Quando você sofreu os seus primeiros traumas,
Violências, injustiças,
quando viu pela primeira vez,
E uma e outra vez, e mais de uma vez,
Que o mundo não é assim
tão bom de se estar,
E de se habitar.
Para que isso fosse, enfim, possível,
Você, talvez nem nasceria, talvez,
Talvez nem estaria aqui.
Porque para nascer, já é preciso chorar...
E para sofrer, basta se estar vivo.

⁠“Minha alegria não está no sucesso,
Nos resultados alcançados,
Nas coisas adquiridas,
Ou ainda nos lugares visitados,
Ou somente nas pessoas ao redor...
Está primeiramente em Deus,
Que caminha comigo, lado a lado,
Que sopra o ar que eu respiro,
Que me mostra a direção dos ventos,
Que me ensina, em cada luta,
E me transforma a cada vitória.
Gratidão à luz que ilumina o mundo,
As mentes e os corações.
Que este trecho possa inspirar,
De alguma forma, a quem o lê.
Que leve a mensagem de que
A persistência sempre vale a pena,
Apesar das dificuldades e percalços,
Da aridez do deserto,
Ou da braveza dos mares,
Tudo vem para nos ensinar a ter
Resiliência, sabedoria, esperança e determinação.

Obrigada.”

⁠Conversa de almas

Em meio aos silêncios que decidimos trocar,
Nossas almas conversam em outro plano, bem longe daqui.
Nossas almas se encontram,
Se entrelaçam, se beijam,
Se cuidam... e a gente só sente um queimar...
No mais profundo do nosso coração.
Em meio ao abismo que existe entre nós,
As nossas chamas gêmeas construíram seu próprio ninho
Em um lugar que é só delas...
Sinto a telepatia perfeita ocorrendo entre eu e você.
As palavras que nunca foram ditas,
Os beijos que nunca foram dados...
Os abraços que nunca foram trocados.
O filme que a gente nunca terminou de ver,
O passeio de mãos dadas que nunca fizemos...
As promessas que nunca cumprimos.
Nossas almas já estavam lá,
Antes mesmo de desistirmos de estar.
Elas passearam pelos parques, praias, e ruas desertas
No jardim, elas leram o livro que eu ia te entregar,
Se beijaram, e se abraçaram
Se sentiram, e se falaram
Ouviram música,
Assistiram todos os filmes (Titanic, The Thruman Show),
Conversaram sobre tudo, discutiram as cenas,
Deitaram-se abraçadas,
Fizeram carinhos nos cabelos uma da outra.
Contaram como foi o dia,
Os medos, os anseios e os segredos.
Elas se despediram com um até logo,
Mesmo que a gente não tenha feito isso...
E elas se reencontram em outra dimensão.
Cada vez que oro por você,
Que sinto um arrepio subindo em mim...
Eu sinto... sinto que a gente se encontra,
Mas não neste plano.
Eu sei que você também sente...
Você também pensa.
Você também procura
Entre as fotos do seu aplicativo,
Mas não encontra uma que seja igual.
Não com o mesmo sorriso,
Não com o mesmo mistério,
Com o mesmo jeitinho de andar,
De falar, e de ser.
Você tenta encontrar uma que se encaixe,
Mas sempre faltará uma peça neste quebra-cabeças.
Eu sei que você se pergunta
Por que disse não querendo dizer sim...
E eu também me pergunto o mesmo.
A gente se encontrou duas vezes,
Não se tocou, não se beijou,
Mas as almas faziam a sua própria dança,
E tinham o seu próprio encontro,
Com tudo o que era para ter sido neste plano,
Mas não foi.
Eu sei que você imagina como teria sido
Se tivesse se permitido ir ao nosso último encontro.
Talvez fosse o último,
Talvez fosse o primeiro.
E se a gente se apaixonasse, de vez?
E se o beijo fosse tão perfeito que mal iríamos sentir os pés tocarem o chão?
Teria sido mais difícil partir?
Teria sido mais difícil ficar?
Não tenho coragem de assistir o final daquele filme...
Não tenho coragem de te deletar do meu celular,
E nem da minha vida.
Não tenho coragem de ir ao parque sozinha...
Não tenho coragem suficiente para te falar
Tudo que sinto no meu peito.
Dizer que tenho saudades de tudo,
Do que passou, e do que nunca aconteceu...
Que me arrependo de não ter
Olhado para você mais uma vez...
Que me arrependo de não ter dado aquele beijo,
De não ter ouvido aquilo que você estava tentando me dizer
Naquela conversa meio maluca que a gente teve.
Me arrependo de não ter visto que você ia pisar
Em alguma coisa que poderia ser um cocô de cachorro.
Me arrependo de não ter confiado em você,
E subido no elevador, para tomar aquele chá.
Me arrependo de não ter te perguntado para onde você estava indo,
De não ter pedido para você vir me ver e eu ter te entregado o livro.
Me arrependo de tanta coisa...
De não ter saído com você naquela quinta-feira que você estava livre.
De não ter pedido para você me ensinar Mandarim.
De não ter deixado a minha mão se demorar embaixo da sua...
Quando você ousou tocar em mim.
Me arrependo de ter tido tanto medo,
Mesmo que você não oferecesse nenhum perigo.
Me arrependo de parecer fria e distante,
De ter passado a impressão de que não te queria.
Eu queria, sim... ter vivido tudo com você.
Eu queria ter te mostrado a frente da igreja,
Queria lembrar da cor da camisa que você estava vestindo,
De como era o seu queixo, e o seu cheiro
Queria ter te falado dos meus arrependimentos,
Queria ter te perguntado se você gostava de mim,
Tanto assim, como eu gostava de você.
Eu ainda gosto de você...
Eu sei que você nem sonha que eu goste tanto de você, assim.
E eu tenho medo de te dizer,
E você achar que sou meio maluca.
Mas a nossa história foi meio maluca, enfim,
Sem começo, sem meio e sem fim,
Mas, ao mesmo tempo, foi tão intensa
E tão única para mim.
Só queria saber,
Se você também se sente assim.
Se você sentiu o mesmo que eu senti,
Se você também tem vontade de conversar comigo,
Se sente este vazio que eu sinto longe de você.
Queria saber se você torce por mim,
Se me vê online no aplicativo
E sente vontade de dizer olá...
Eu fico aqui sentindo
Que o que sinto por você não é correspondido.
Será que você também pensa o mesmo, que não foi recíproco?
Enquanto isso, nossas almas seguem abraçadas...
Tenho centenas de conversas no aplicativo,
E a única que eu espero é a sua...
Neste mesmo aplicativo que nos encontramos pela primeira vez...
É onde a gente se reencontra todos os dias...
Mas não dizemos nada um para o outro.
Eu vejo a sua bolinha verde,
E me sinto mais perto de você.
2439 pessoas querendo conversar comigo,
7 bilhões de pessoas no mundo,
E eu só quero uma única pessoa: você.
As nossas histórias são diferentes,
Mas as nossas almas... ah, são tão parecidas.
Almas livres... que sonham alto.
Almas que não se prendem em qualquer lugar,
E sempre buscam saber mais e mais.
Almas que não sabem direito como conciliar
Família e liberdade.
Pés no chão e sonhos...
Que idealizam uma relação,
E são seguras de si,
Apesar de parecer que não,
Elas sabem muito bem quem são,
E o que querem.
Eu, como um labirinto que sou,
Como guardiã de um tesouro,
Como um oceano volúvel e misterioso,
Reconheço quando estou diante de outro labirinto,
Outro guardião, tão oceano quanto.
Nossa história parece aquele filme antigo,
A História sem Fim...
Inclusive, lançado no ano em que você nasceu.
Será que nossas almas vão trabalhar
Para que nossos corpos possam, um dia, se reencontrar?
Será que um de nós terá coragem suficiente para dizer um olá?
Será que, hoje em dia, faço parte da sua lista de esquecidos?
Nenhum dos dois disse adeus, nem se desfez dos números...
A gente vai sufocar o sentimento, até ele não existir mais?
Eu oro a Deus, todos os dias, por sua vida... por sua felicidade.
Eu escrevi a nossa história, com cada detalhe possível, para não me esquecer.
Eu tenho medo de nunca me esquecer, mas tenho mais medo ainda de me esquecer
De tudo o que vivemos, de tudo o que você significou para mim.
Se um dia você sair do aplicativo, se um dia mudar o número do celular...
Se um dia...
Não sei como isso tudo vai terminar,
Você viajou por milhas e milhas,
Atravessou o mar, e foi navegar em outro lugar
E eu fiquei aqui, com todas as lembranças,
Com todos os lugares a preencher
com nossa presença única.
Às vezes, penso que você nunca ficou, realmente, disponível para se apaixonar.
Você evitou muitos vínculos para não criar intimidade.
Eu acho que você se protegeu de amar.
E eu... eu não. Eu me deixei levar, eu me deixei pensar,
Eu fiquei livre para sentir o que viesse.
Você sabia que, cedo ou tarde, iria partir.
Mas será que você conseguiu não pensar em mim?
Eu sei que nossa conexão foi real.
Só não sei ainda, qual será o nosso grande final...
Mas as nossas almas...
As nossas almas... ah, eu tenho absoluta certeza que elas se amam.
E que este amor é incondicional.

⁠Quando estou sozinha com meus pensamentos...
Às vezes, viajo pro meu interior, onde só existe a mim e mais ninguém. Fico um tempo conversando com meu próprio eu... tentando achar respostas perdidas sobre a vida, a lei que a reje, tentando entender porque algumas coisas acontecem e outras simplesmente não acontecem. Já construí tantos castelos de areia que nem sei mais dizer. Já chorei ao pé de todos eles, varridos pelos ventos ou banhados pelas águas... viraram apenas uma grande desconstrução no espaço.
A verdade é que nunca saberemos ou teremos o controle sobre tudo.
Já tive uma fé tão grande sobre algo que nunca aconteceu. Já nunca acreditei em algo que acabou acontecendo.
Tentando achar um sentido nisso tudo, melhorar a mim mesma, mas a verdade é que nunca saberemos o que vai acontecer daqui a um segundo. Este é o mistério da vida.
Alguns preferem acreditar que podem tudo. Outros preferem acreditar que é questão de sorte. Ou má sorte. Minha teoria é que existem coisas que simplesmente não são pra acontecer.
Eu tenho lutado bastante para aceitar isso. Normalmente, apenas não aceito a realidade sobre alguma coisa que vai doer muito se eu deixar ir.
Mas sempre acaba indo, por mais que eu aperte com todas as minhas forças...
A vida acontece com toda força. Ela vem, tanto para os que a vivem quanto para os que a evitam.
É muito difícil encontrar uma única resposta e um sentido pra isso tudo.
Algo que funciona pra mim pode simplesmente não funcionar pra você. Mas... tem uma coisa que tem feito sentido pra mim.
Eu criei uma história, ou melhor, li esta história, ou estória, e acabei acreditando nela. E ela foi ficando e foi virando realidade.
A história é que existiam alguns reinos no céu, governado por anjos recrutados por Deus. E todos nós fazíamos parte desses reinos. Acontece que, um dia, um anjo se rebelou contra Deus... ele queria ter autonomia, e queria ter poder absoluto, como Deus, ou mais do que Deus. Passou de reino em reino vendendo a sua ideia, e conseguiu convencer alguns. Então houve uma batalha no céu, e Deus, com seu grande poder, expulsou este anjo dos céus. E disse que se ele estava contra Deus, contra o bem, então só poderia ser o mal. Se estava contra a luz, só poderia ser a escuridão. Mas Deus teve compaixão de nós, aqueles que faziam parte dos reinos que se juntaram ao, agora, diabo. E Deus criou um plano para nos dar uma chance de voltar para o Seu reino. Então, nos mandou para cá. Viemos inconscientes, mas todos têm a chance de saber a verdade, para poder escolher de que lado gostaria de estar. Se quer voltar para o reino de Deus, ou ficar do outro lado, lado que já pertencia anteriormente, antes de encarnar. Sabeis da verdade, e a verdade vos libertará. Mas este plano entristecia Deus. Muitas vezes, Deus chegou ao ponto de destruir tudo, por não aguentar ver tantas coisas ruins. E, então, Jesus interveio. Veio ao mundo para poder mostrar para todos a verdade. Veio nos ensinar o caminho de passar aqui e vencer o pecado e todas essas coisas. E voltar para os céus, ao lado de Deus. Por conta disso, agora temos nossa chance. Já estávamos condenados, mas Jesus teve misericórdia e nos amou, apesar de nossa maldade e de nosso pecado. E por isso, hoje estamos aqui, eu e você, e temos a chance de nos salvar. Não só isso. Temos a chance de salvar a tantos outros que encontrarmos no caminho. Apesar do livre arbítrio. Você gostaria de ver o seu vizinho são e salvo no céu, junto com você? Seus pais, amigos e colegas de trabalho? Chegará um dia em que todos irão confessar que Deus é Deus e reina sobre todas as coisas... mas, para alguns, será tarde para se arrepender e escolher o lado de Deus. Portanto, a missão é passar por este vale, não só a cada segundo lutando para salvar a si mesmo, mas para salvar a todos os outros. Seus irmãos. Quão grandioso seria alcançarmos a glória e vermos todos os nossos amigos lá também, pessoas que cruzaram nosso caminho, as quais podíamos ter amado e falado do amor de Deus? E quão doloroso poderá ser ver aqueles que podíamos salvar, em um lugar horrível e sofrendo dores que nunca cessam?
Às vezes, ficamos presos ao nosso próprio mundinho, buscando tantas coisas, prazeres que só duram pouco tempo, felicidade que vem e que vai em um piscar de olhos... todos nós temos uma missão na terra, mas além disso, levamos esta grande missão dentro de nós. Estamos aqui para vencer ao mundo e voltar para onde nunca deveríamos ter saído. Não viemos aqui para sermos melhor que o nosso colega de sala. Pra vencermos uns aos outros em uma competição. Para sermos promovidos no emprego. Para termos status ou andar de primeira classe no avião. Tudo isso não irá significar nada quando virar uma rotina. Ou quando o grande dia chegar. Pense nisso.
Enquanto Deus está te chamando de um lado, o mal está te chamando de outro. O caminho de Deus é estreito, o outro é bem largo e mais fácil de passar. Pra qual lado você vai caminhar? Na mão de quem você irá segurar?
Procure algo que faça mais sentido do que simplesmente ter mais curtidas no Instagram, ou pra mudar o status do seu LinkedIn, ou pra ter o carro do ano. Nenhuma dessas coisas vai te levar até o céu de verdade. Think about it.
Há tantas outras coisas acontecendo somente agora, pessoas precisando ouvir uma palavra de salvação antes da morte. É preciso falar sobre isso... é preciso fazermos a nossa parte. A verdade é que temos sido egoístas na maior parte do nosso tempo, ou invejosos, ou maus, ou ruins... e a verdade é que temos tão pouco tempo aqui. Muito pouco tempo, e todo o tempo representa uma chance de poder mudar uma vida eternamente.

⁠Soul connections... the purpose of connecting heart to heart.

Conexão de almas… o própósito de conectar coração com coração.

1 Samuel 18:1 “E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma”.

Conectar seu coração com o coração de outra pessoa... existe sensação melhor?

Nos referimos ao coração quando queremos dizer sobre emoções e sentimentos... sabemos que tudo está e ocorre na mente, mas o coração é o símbolo universal das sensações e do amor que pulsa em cada um de nós. A conexão entre corações é a transferência de amor, é sentir-se responsável pela vida do próximo, no sentido de propagar o seu dom em servir uma dose de amor, seja ela qual for.

Gosto de contar minhas experiências, quando me permito amar, com o propósito de trazer luz ao que foi bom, a um momento de conexão e irmandade, em que a expressão de que somos todos um só, ou que viemos de um só ser, de que somos todos irmãos, de que estamos todos conectados, se torna real e palpável aos olhos deste mundo.
Estava retornando da igreja tarde da noite, e resolvi passar no mercado, apesar de estar cansada, algo me puxou para dentro daquele estabelecimento. Peguei alguns itens, e estava já me dirigindo ao caixa, quando uma mocinha se aproximou e me pediu se eu podia comprar-lhe um biscoito para comer. Eu olhei para ela, e lhe disse: pode escolher o biscoito que você tem vontade de comer. E ela me olhou surpresa, e escolheu um salgadinho desses Elma Chips... aqui vemos o poder comercial que rege este mundo natural... sim, toda criança/adolescente nasce com o desejo de consumir estes salgadinhos, e sei bem o quanto é difícil esta fase (não que adultos não continuem sendo crianças, apenas trocam Elma Chips e brinquedos por outros itens de consumo... ou nunca trocam). Ela me acompanhou até o caixa, e olhava capisbaixa para os próprios pés, como se estivesse constrangida de pertencer (ou de sentir que não pertence) àquele lugar. Eu perguntei: está tudo bem? E ela me olhou, novamente surpresa com a pergunta, e disse: na verdade, mais ou menos. E eu a indaguei sobre o que a deixava triste. Ela me contou que tem o sonho de ser maquiadora, e queria estudar e fazer um curso para poder trabalhar com isso em algum lugar. O curso custa R$ 300,00 por mês, e ela havia conseguido uma bolsa de 50%, e tinha saído de seu bairro (Complexo do Alemão), para estar ali pedindo ajuda para se matricular no curso, que teria o prazo máximo de matrícula até o dia seguinte. Mas que havia conseguido somente R$ 15,00, o que mal pagava suas passagens de metrô e ônibus para retornar para casa. Contou que viera com os 4 irmãos pequenos e a mãe, que tem problemas na perna e procura emprego, mas não consegue. Ela disse que não gostava de pedir ajuda, ou de pedir coisas para as pessoas, mas que a situação estava muito ruim. E eu disse: mas você explicou para as pessoas sobre o seu sonho? E ela disse que as pessoas estavam sempre ocupadas demais para ouvir sobre isso, e, também, que ela não gostava de incomodar as pessoas que estão sempre tão apressadas.

Ali eu encontrei a conexão com a alma dela. Quem nunca se sentiu assim neste mundo? Sozinho envolto em pessoas ocupadas demais para ouvir, para ajudar? Quem nunca se sentiu incomodar por precisar de ajuda? Quem nunca teve um sonho e desistiu por parecer impossível demais? Quem nunca terminou o dia triste demais para continuar tentando uma vez mais? Quando digo que nossas carências e necessidades são todas parecidas, é isso... e é isso que nos liga uns aos outros.
Ela não havia me contado sobre isso. Havia desistido. Somente queria algo para aliviar a frustração... um salgadinho para dividir com os irmãos. Quem nunca terminou o dia enfiado em um balde de porcarias? Perguntei se ela acreditava em Deus. Ela disse que sim, que frequentava uma igreja no bairro dela. E eu disse: por ter Deus no coração, você tem a melhor porção... muitos tem muitas coisas, mas não tem o que você tem... e isso é o bem mais precioso que alguém pode ter. Deus. Fé. Humildade. São valores que se encontram somente em pequenos tesouros poraí. Nada mais é tão importante. E ela me escutava perplexa. Eu lhe disse para esperar um pouco. Fui até o caixa eletrônico, e falei: porque você tem Deus no coração, é que eu estou aqui. Porque o seu Deus é o mesmo que o meu, e nos conectou para que eu pudesse te ajudar no desejo do teu coração... porque este Deus que você segue é o mesmo que me ensina a servir o próximo... a amar o próximo como a mim mesma. Pois eu posso facilmente ser você um dia, e você ser eu... o mundo é um moinho, uma roda-gigante, onde não há garantias. Enfim, eu disse que os estudos, e os sonhos, são tudo o que ela tem na vida, e isto é o que movimentaria a vida dela para poder ajudar os seus, verdadeiramente. Falei com lágrimas nos olhos, e ela perguntou meu nome. E eu o dela. Me agradeceu por ter conversado com ela, por ter ouvido, por ter dado atenção, e pela ajuda. Disse que ia fazer o curso. Eu não sei se realmente ela foi fazer, ou não, não posso ter controle das coisas todas, somente entreguei o que podia e orei pela vida dela. Ela era tão linda... por dentro e por fora, tão humilde, cheia de sonhos. Perguntei se era ela esses dias pedindo um chinelo na farmácia (quem lê meus posts irá entender a pergunta), e ela disse que não. E eu disse que havia encontrado uma garota como ela pedindo um chinelo na rua, e que havia ficado triste por não ter podido ajudar, mas que me sentia muito feliz em tê-la ajudado, desta vez. Disse para nunca perder a fé em Deus, a humildade, e a esperança, que não se deixasse influenciar pelas coisas do mundo. E fui embora enquanto ela corria feliz para dividir o salgadinho com os irmãos. E eu corri feliz para casa, muito mais feliz do que ela... um milhão de vezes mais feliz por ter tornado a vida de alguém melhor naquele dia. Por ter feito minha parte, independente das circunstâncias, dos resultados, de querer algo em troca. Eu ganhei muito mais do que ela naquela noite... infinitamente mais.

O livro da vida, que guarda as mensagens de Deus para nós, diz:

E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior.
Mas Jesus, vendo o pensamento de seus corações, tomou um menino, pô-lo junto a si,
E disse-lhes: Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me receber a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo será grande.
Lucas 9:46-48
Portanto, quando vejo um menino, uma menina, ou uma pessoa, vejo Jesus.
Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram'. "Então os justos lhe responderão: 'Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?' "O Rei responderá: 'Digo a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram'.

Mateus 25:35-40

Quão melhor seria o mundo se pensássemos que nossa família não se trata somente de quem carrega o mesmo sobrenome que nós, mas que nossa família é, em si, toda a humanidade, todos os seres vivos, e que estamos todos interligados por fios de energia, conectados pela nossa essência única de estarmos compartilhando um mesmo plano, em uma mesma dimensão, em um determinado tempo, e que somos todos iguais, com as mesmas carências, praticamente o mesmo estágio evolutivo, e que nossa responsabilidade é a de nos reequilibramos uns com os outros em um ato de amor, portanto... dividir-nos, responsabilizarmo-nos, repassarmos ensinamentos e recursos, servir e dar, em atos de amor, ajudar, evoluir em conjunto, e, finalmente, partir, deixando, então, novamente, somente o amor, e levando conosco somente o amor.

Daqui, só se leva o amor.

⁠Oceano
Me defino como um misterioso oceano...
Profundo e nada raso,
Ora escuro, ora claro...
É preciso navegar,
Mergulhar,
Respeitar as águas,
Velejar as mágoas,
Encarar as tempestades,
Decifrar os 7 mares...
Ora sou Índico, ora Pacífico
Feito areia, feito sereia...
Nada é simples,
Mas tudo é belo...
Se tiver paciência
E calmaria para descobrir...
O Titanic perdido em mim,
Um tesouro, indecifrável, escondido, enfim...
Sou assim,
Complexa, serena,
Revolta, grande e pequena,
Doce e salgada,
Odiada e amada.
Maré e Tsunami,
Vapor, vento e gelo,
Iceberg, amor e zelo...
Fome e sede,
Árvore e semente,
Ninfa e serpente,
Complexa, diferente.
Excêntrica e deserta,
Fechada e aberta...
Vulcão submarino,
Enigma infinito.
Há tanto a se descobrir,
Muito além da superfície
Quilômetros e quilômetros
Milhas e milhas
Ondas e ilhas
Rios que desaguam
Barcos e navios que atracam
Segredos, medos, desejos...
Face virginal,
Lugar descomunal,
Criatura angelical,
Descobertas que nunca chegam ao final...
Um oceano é assim...
Um contínuo desvendar,
Um incessante aprofundar,
Flutuar, surfar e mergulhar
Em águas intensas e intrigantes
Transcendentes e transbordantes
De um azul salgado penetrante,
Que cabe a somente um único amante
Desnudar.

É tempo de internalizar.
Devemos ter lido e visto muitas coisas sobre o Coronavírus poraí. Reflexões, pensamentos, coisas boas, coisas ruins. Hoje temos, talvez sem muito custo, a opção de poder ter um tempo a mais para ver e ouvir, ler, refletir, parece que o tempo entre ir e vir, o tempo do trânsito, do ônibus, da academia, está finalmente sobrando em nossa agenda. E o que temos decidido fazer com este tempo? Tempo conosco. Tempo a sós. Tempo com, talvez, estranhos: nossa própria família. É tempo de encarar. A si mesmo, e ao cônjuge. Aos filhos. Aos pais. Sim, estranhos, afinal, passamos mais tempo longe destes e perto daqueles com quem trabalhamos, com aqueles que deveriam ser os estranhos, mas a verdade é que conviver com os nossos e com nós mesmos pode ser uma tarefa árdua, porém, necessária.
Eu acredito que nada nos acontece por acaso. Acredito que este tempo que estamos vivendo é sim, um grande aviso. A gente foi obrigado a parar, por um instante, para refletir. Para respirar, para encarar a nossa vida. Para pensar.
É um tempo em que não podemos nos tocar. E aquele abraço que parecia um ato tão simples, hoje é raro... por isso mesmo, deveria ser mais valorizado. Estamos convidados a enxergar que, diante de um problema como este, o que importa, na verdade, são as coisas simples. Uma doença que pegou rico e pobre e colocou tudo junto, no mesmo balaio. Uma doença que veio nos mostrar que o dinheiro não compra a cura e salvação. Nem da vida, nem da alma, nem da ferida e nem do vazio do coração.
Aqueles que possuem um emprego e que, talvez, reclamavam deste, devem se sentir gratos, hoje, se ainda possuem um. Aqueles que possuem uma casa, que talvez não seja a mais bonita, nem a maior, nem a mais rica, devem se sentir avantajados por ter uma proteção. E, assim, aqueles que possuem comida, saúde, que pode respirar sem um vírus a lhes atormentar e a lhes roubar o básico: o ar.
Aqueles que desprezavam os encontros, os beijos, abraços, o ouvir, o tocar, que negligenciavam as companhias, os risos, as prosas do dia a dia, devem melhorar a sua percepção do que realmente importa nesta vida.
É relevante, também, que possamos enxergar as coisas boas. Muitos mobilizaram o coração em ajudar o próximo, percebendo que, em tempos assim, o dinheiro no banco não trará a humanidade de volta. Nem o parente, nem o fã, nem o cliente.
Considero que Deus está nos pondo a internalizar. Espero que, quando tudo isso passar, a Sua mensagem tenha sido sentida no coração e na vida de cada um. Como ocorreu na passagem bíblica de Lucas 10, 41:42 que diz “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.”
Que não sejamos como outrora, agitados e preocupados com as coisas vãs e passageiras deste mundo, mas que sejamos, a partir do agora, como Maria, que escolhe as coisas elementares e essenciais desta vida, como aprender a estar mais perto de Deus, a entender que esta vida é somente uma passagem, mas que a gente não perca a viagem... que sejamos gratos pelo ar, pela saúde, pelo amigo, pelo filho, pelos pais... que valorizemos o abraço apertado, o aperto de mão... que a nossa energia que está sendo armazenada, seja melhor utilizada quando estivermos novamente em comunhão. Que a gente aprenda a lição, de apreciar a vida enquanto ainda temos a oportunidade e a ocasião. Que tudo isso não seja, portanto, em vão... deixo aqui, com humildade e inspiração, uma oração pelo despertar de todos nós.

Criatividade.
Existe um lugar dentro de cada um de nós em que podemos criar e imaginar o que quisermos... a vida, o riso, o corpo, o mundo, o espaço e o tempo. Tudo.
Deus, quando criou o mundo, o fez com tanta criatividade, que é difícil para nós concebermos e entendermos tanta beleza, tanta perfeição, tantos mistérios, tanta inovação.
Se olhamos para o céu, o azul inexplicável nos faz flutuar... se olhamos para os mares, o infinito e a imensidão nos torna pequenos e insiginifcantes... são tantos enigmas e criaturas fantásticas, imersas em um oceano de segredos e incógnitas.
Se por um instante nos deixamos mergulhar na vastidão dos desertos, contemplamos um universo de paisagens tão improváveis e solitárias, ao mesmo tempo tão divinas e fascinantes.
Se escapamos deste plano e nos deixamos flutuar no espaço, veremos uma legião de estrelas, planetas, e a ilimitada escuridão que nos deixa a imaginar mil coisas além.
Se nos direcionarmos aos pólos da terra, nos perderemos em uma alva paisagem cristalina, tão branca e pura que nos lembra a inocência e a ingenuidade que mora em cada um de nós.
Se voarmos com os pássaros, sentiremos o prazer do vento batendo no rosto, e descansaremos ao flutuar sobre todas as criaturas incríveis que existem neste mundo.
Se caminhamos com as formigas, nos daremos conta da amplitude da vida, e dos tantos caminhos diferentes que podemos explorar todos os dias.
Se observarmos uma célula ao microscópio, ficaremos perplexos com tantos mecanismos, tantas organelas interligadas que funcionam em uníssono e com exatidão, permitindo a existência da vida.
Deus permitiu-se ser criativo, e por poder sê-lo, foi que criou coisas tão geniais e com tamanha maestria.
E, portanto, todos nós, que fazemos parte da criação divina, carregamos a criatividade intrínseca em nosso mais profundo eu. Uns a utilizam quando estão em um gramado com uma bola de futebol. Outras quando tocam um violão. Outros quando sentam-se em um computador. Outros quando tem tinta e papel à mão. Alguns quando possuem argilas, outros enquanto conversam e acolhem alguém... alguns quando voam em um avião, ou quando saltam de pára-quedas... outros quando estão com reagentes e vidrarias trancados em um laboratório... alguns enquanto dão uma palestra, outros quando conduzem uma orquestra... e assim, cada um em sua função, mas juntos, contribuímos para que o mundo seja ainda mais colorido, belo e primoroso, descobrindo a cada dia uma cor diferente, um pensar divergente, um olhar ímpar e desigual...
A obra de arte de Deus foi criar o mundo tal como ele é... a obra de arte de Da Vinci foi a Monalisa... a de Mozart foi a Sinfonia nº 35 e tantas outras mais... Einstein deixou suas inúmeras teorias e fórmulas, Marie Curie as suas descobertas sobre a radioatividade, Pasteur nos apresentou ao universo dos microorganismos, Miguel de Cervantes nos fez saborear as aventuras de Dom Quixote, Galileu nos presentou com sua ciência e invenções, Buda nos regou com seus ensinamentos e evolução espiritual...
Quando nos permitimos criar com a força divina, e trabalhamos com a singularidade de nosso profundo ser, entregamos o que de melhor há em nós para o mundo. Devemos submergir em nossos mistérios aprofundando-nos em nós mesmos, em busca do que somos e do que temos de mais singular e especial, de encontro com nossa originalidade e capacidade de nos desenvolver. Naquilo em que colocamos toda a nossa criatividade e nos deixamos levar com grande gozo e prazer, mora a nossa intenção, e o nosso propósito de estar e fazer, em que permitimos verdadeiramente que Deus e sua poderosa essência se manifeste em tudo através de nós. Assim como diz a própria palavra em si: criatividade, o criar em atividade, para elevar-se, superar-se e transcender.

Ontem fui caminhar sozinha à beira-mar. O entardecer estava curiosamente especial, o sol levemente me tocava a pele com seu calorzinho, e o vento trazia um frescor necessário para manter a temperatura agradável. É interessante observar as pessoas correndo, caminhando com seus cachorros, jogando vôlei na praia, deitadas na areia tomando uma cerveja, ou lendo um livro. As crianças brincando como se não houvesse amanhã. Sentei-me em meio às pedras para escutar o mar, as ondas quebrando nas rochas, e senti aquele momento, à paisana com minha solidão. O que será que ela poderia me dizer daquela experiência única da minha vida?
Foi quando algo no mar me chamou a atenção. Um pássaro se divertia mergulhado no oceano. Apesar de poder voar, ele se permitiu estar em meio aquele plano. Analisei e senti profundamente aquele momento. Ele, inteiramente sozinho, não havia nenhum outro pássaro por ali, mergulhava e depois voltava a colocar sua cabecinha para fora. Talvez procurando por algum peixe, ou somente para se divertir em meio às águas, parecia tão entretido em seu objetivo. Às vezes, vinham ondas bravas e o mar ficava mais revolto, às vezes ele somente ficava a boiar no mar tranquilo. E mergulhava e voltava. Por alguns momentos se permitiu ir mais longe e mais a fundo, e às vezes voltava próximo às pedras para se assegurar de não se perder no caminho. Ele parecia tão despreocupado, tão sozinho, mas tão cheio de vida, apenas sentindo o movimento do mar, a dança das águas, e o entardecer a chegar. Poderia ficar por horas ali, só a observar.
Foi aí que parei para pensar. Alguns animais vivem suas vidas inteiramente solitários, como é o caso do lobo-guará, do urso polar, ou do ornitorrinco. Aquele pássaro poderia até viver em bando, mas naquele momento permitiu-se cuidar de si mesmo sozinho, a se aventurar. De vez em quando, a vida irá nos trazer momentos assim. E é preciso parar para refleti-los, pois acredito que a vida nos traz aquilo que realmente estamos carecidos. É preciso colocar nosso barquinho no mar, e passar pelas tempestades, fortes ondas, ou aproveitar os momentos de calmaria. Em nossa própria companhia. É preciso descobrir-se em nossa profunda força, nossa inteligência e capacidade de nos cuidarmos, e de nos revelarmos a nós mesmos como seres únicos e singulares que somos. Gostamos de cuidar dos outros, mas é tão difícil cuidarmos de nós mesmos com o objetivo de exclusivamente nos agradarmos de nós. Estamos sempre precisando de um motivo exterior, ou de um movimento de outrem, de um elogio, ou incentivo, estamos sempre querendo dividir-nos. E assim, nunca nem nos construímos, nunca nem escutamos as nossas próprias necessidades, ou o nosso próprio coração. Vivemos, muitas vezes, aos pedaços, ou levados pelo deslocamento das multidões. É necessário nos entretermos de nós mesmos, rirmos de nossos tropeços, ou nos alegramos de nossas vitórias. Sem precisar dos aplausos de alguém, pois duas mãos já podem se tocar e produzir o som de nossa própria aprovação. Mergulhados em nosso mar de solidão, podemos traçar nosso próximo plano de voo, mais direcionados e conectados com o profundo de nosso próprio coração.

A importância de cortar o cordão umbilical

Tempos atrás eu vivi uma mudança em minha vida, pouco tardia, mas vivi.

Troquei de cidade, de emprego, sai da casa dos meus pais.

Mas como toda boa mudança vem com dificuldades, comecei a senti-las. O começo sempre é o mais difícil.

A zona de conforto não existe mais, dando lugar a todos os desconfortos possíveis e inimagináveis.

E aí dá aquela saudade da casa dos pais, da proteção, do bálsamo que é ser somente um filho. Em que todas as responsabilidades são, na verdade, de nosso pais.

Dia desses, liguei pra casa. Minha mãe não estava, então falei com meu pai.

Comecei a chorar as mazelas. Surpreendentemente, ele me disse com toda a sabedoria, mesmo com a perceptível dor, que um pai pode tirar de suas mais profundas entranhas: filha, você tem que enfrentar. Todo mundo está passando por isso. Aqui era muito fácil! Você tem que seguir em frente. Tudo tem seu tempo certo.

Eu estranhei, pois até o último dia, antes de eu sair de casa, ele tinha esperanças de que eu não fosse partir.

Mas eu concordei. E depois, refletindo sozinha, eu percebi a riqueza daquele momento em minha trajetória.

É preciso cortar o cordão umbilical, se quisermos crescer e ter uma vida fora do útero de nossas mães, e fora do telhado de nossos pais. É preciso ralar os joelhos e aprender a passar o mertiolate sozinho. E assoprar.

É preciso queimar os navios ao desembarcar na praia, e enfrentar a guerra sem a opção de voltar. É ganhar ou ganhar.

Mas eu percebi que, se dependesse de alguns pais, os filhos pegam os navios, mas eles sempre ficam atracados lá na margem, pra que os filhos possam, um dia, retornar.

É preciso, papai e mamãe, riscar o fósforo, e incentivar. É preciso dar a tesoura para os filhos para os encorajar a cortar. É preciso deixar os filhos navegarem, e diante das tempestades, apenas dizer: filho, você consegue ultrapassar.

A importância desta atitude não tem preço, é bonito ver um pai que sabe que, por mais que doa em seu coração, o filho não nasceu para ser uma lagarta dentro do casulo, precisa ser borboleta e aprender a voar.

Uma das maiores dores do ser humano é, sem dúvidas, a de dizer adeus a alguém que amamos ou que, por muito tempo, foi o amor da nossa vida.
A nossa alma, embora machucada, ou cansada, ainda está conectada àquela energia, um tanto quanto desgastada e apagada, mas está. Quando decidimos romper o relacionamento, o rompimento se dá em todas as esferas possíveis. O choque é inevitável na área da memória do que foi bom, dos lugares por onde andaram e foram felizes... das comidas que dividiam, do cheiro, das conversas, de tudo o que compartilharam e, que, naquele exato segundo de tempo, fazia muito sentido. Milhares de fotos, vídeos, milhares de lembranças de um tempo bom em que tudo parecia que ia durar para sempre. Parece um desmembramento, um corte profundo, parece que leva um pedaço de você. E, de fato, leva.
Tudo, absolutamente tudo o que foi bom, faz falta. E como faz. O som da voz, o rosto, a velha camiseta em que você deitava a cabeça, e se pegava imaginando como seria o futuro entre ele e você. Embora, no final dos tempos, as imagens na sua cabeça fossem mais duvidosas e incertas, era bom estar naquele conhecido cantinho tão seu, quentinho e confortável.
Mas a vida muda. As pessoas mudam. Você muda. Os planos passam a não ter o encaixe perfeito. As discussões se tornam cansativas. A realidade fica pesada. E você já não acha tanta graça andar naquele jardim bonito de mãos dadas com seu amor... já não tem tantas expectativas sobre o futuro. As incertezas insistem em aparecer quando se olha no olho do outro. Para onde foi aquele casal tão perfeito e cheio de energia e esperanças de um futuro bom? Deu lugar a um casal desanimado, com medo de falar de planos, por medo de ver o quanto discordam e o quanto estão desconectados.
Se você já chegou no rompimento, sabe que, primeiro, teve de aceitar o peso da derrota. Teve de encarar que o futuro que desenhou na cabeça não iria nunca mais acontecer. Nem de verdade, nem em pensamentos. Os sinais já nos foram dados lá atrás, no passado, e agora tudo vem à tona, daquilo que você nunca quis enxergar. Este lugar é sombrio e frio. Você não sabe se sente culpa por não ter enxergado, ou se sente tristeza por não ter conseguido, ou se sente bem por ter, finalmente, percebido. E como é difícil a aceitação de ter que deixar ir. O cérebro nos leva para a lógica do desapego, mas o coração nos leva para o aconchego da ilusão. Será que não poderá, ainda, dar certo? Será que não tem mais chances?
Você pega a última esperança que existe, pega toda a força do ar que entra e sai de um suspiro, pega o que é de mais sagrado nas suas entranhas e profundezas e tenta mais uma vez, tenta consertar o que já tá quebrado, tenta sentir aquilo que sentia antes, tenta resgatar as boas memórias e ressuscitar a imagem errônea que você tinha do outro e do relacionamento. E aí, mais tarde, o choque da realidade é mais bruto do que o anterior. A briga se torna mais feia e mais desconexa, a vida fica sem total sentido. As dores aumentam a cada conversa, a cada palavra trocada. Dói ter que desistir, mas ficar parece que dói eternamente. Parece que doerá mais a cada dia.
Você percebe que chegou a hora de mudar. Aquele ciclo já se encerrou, e você se machuca demais tentando caber nele. Machuca o outro por não soltar. Você imagina os rostos dos parentes e conhecidos, assombrados com seu rompimento. Imagina aquele lado do guarda roupa vazio. E o seu coração mais vazio ainda. Imagina os sonhos daquela viagem junto indo embora, como uma nuvem que se dissipa no céu. Imagina a caminhada sozinha. Imagina ir à padaria sozinha. Imagina passar o final de semana inteiro sozinha. Imagina a sensação de abandono ao ir ao mercado e não ter ninguém para segurar a segunda sacola.

E, depois, você se dá conta de que você sobrevive, afinal, você precisa continuar respirando. Se dá conta de que existem milhares de pessoas se desconectando diariamente e que irão sobreviver também. Você se lembra de ter sobrevivido a isso uma vez, duas vezes ou mais. Se lembra de que ainda dá para ir à academia sozinha e cuidar de você, que dá para achar sentido em fazer o cabelo no salão, em fazer as unhas e colocar aquele vermelhão, que dá para ir ao cinema e gostar da pipoca e do filme. Você continua vivendo, de maneira diferente, mas continua vivendo. Você não entende por que, mas continua em frente.

Até que, lá na frente, com o homem certo, abraçada na chuva recebendo o melhor beijo do mundo, você obtém, finalmente, as respostas, e todas as vezes que você foi desconstruída, fazem total sentido, e o mundo poderia acabar ali. E o melhor de tudo é que ele não acaba.