Coleção pessoal de lasana_lukata
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um buquê de pedras também murcha,
também perde seus espinhos.
Tarde outonal.
Solitária e inalcançável
a flor da paineira.
em dias de garças
a vermelha buganvília
asfaltava a primavera
sabe a garça o voar pesado, voar de pedra...
embriaga-se de vento
para o voo luminoso.
garça garça
por que o desprezo ao bando
se ao voar muitas asas
a vida machuca menos?
vigia de mar
eu jogava tintura Márcia
no bigode branco do navio
e o tempo passava ao largo
distante da proa e de mim
a garça voou
sumiu nos telhados do antigo cinema
voou na cidade
às cinco da tarde
me trouxe um poema
não é hora de matricular-se no silêncio,
contra quem levanta a garça a sua lança?
sereníssima fingida
olheiras verdes
mascarada de esperança
também a garça oferece pão aos peixes
e os devora
feito pardais
os meritienses vão chegando em bandos
e das dezessete e quarenta em diante
a praça se enche de conversa e pássaros
serei poeta nem que seja por usucapião
chega um tempo de cair umas pedras de sal em nossa feijoada,
pedras que nós mesmos produzimos.
se a poesia evapora,
o lago diminui.
com o mar aprendi
como rápido se fecha uma ferida.
não basta saber-se garça,
fazer-se garça,
é preciso aceitar-se garça.
Tarde de outono
Na terra ensanguentada
banham-se pássaros.
inoportuno
na escuridão marítima
cego apoio-me na garça
vou com suas pernas
o coração aberto como uma ferida
sem rota
anda pelo mar
este grito que não tem onde atracar
absoluta
sentada no ombro esquerdo,
eu navio adernado,
ninguém no ombro direito,
para sempre desequilibrado.
poeta não é para ser canonizado,
é para ser carbonizado,
renascer das cinzas.