Coleção pessoal de kakanascimento

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Esclarece antes de escurecer

Sabe aquela sensação de andar num lugar escuro depois de um certo tempo se habituando à ele? É como se já soubesse onde estão os móveis, os obstáculos e conseguisse desviá-los. É como se você criasse, ainda que por um instante o poder de enxergar o oculto. Pois é, aos poucos saberás que sou assim... Você vai se assustar no princípio. Sim, vai querer se cobrir da cabeça a ponta dos pés, como se estivesse a se proteger daquele monstro que sempre imaginamos que foi morar embaixo da cama depois da luz ser apagada. Depois vai se acostumar a ausência de nitidez e criar a sensação que pode ver além dos três passos da cama até a porta. Pudera, o escuro, assim como a noite, esclarece o que o dia e a claridade escondem. O bom de sensações é que elas geralmente duram pouco, um piscar de olhos em alguns casos. Você vai pestanejar e notar que o breu volta a ser o mais visível, que nada é tudo que saberás e o pouco às vezes é mais que desejado e suficiente. Intuitivamente certas coisas se esclarecem e subitamente outras desaparecem.

Trava língua

Aquela mania de me deixar sem ter o que falar... Parecia uma ação involuntária, como minha mania de passar a mão na barba enquanto converso. Aquilo era quase um escudo ativo por tempo indeterminado, que não me deixava chegar mais perto do que eu estava. Complicado, pra quem fala tanto, a tanta gente e tantas coisas, ficar sem ter o que dizer. Deixar as palavras se derreterem como sorvete no copo até virar milk shake... Enquanto isso, cada palavra que ela me dizia, me deixava mais congelado, impedido de reagir. Aquela mania de me deixar sem ter o que falar acabava me tornando mais proativo e perspicaz. Eu não precisava falar para fazer. O verbo também significa ação e dessa palavra eu gosto. Burlar o escudo passou a ser uma meta, a preocupação uma consequência e o carinho que eu criava se tornou uma bela companhia. Embora não conseguisse falar, me cabia a escrita, meu grito silencioso como um bocejo. E lembrar que isso tudo já havia sido pensado em outro momento, que meu bloquinho digital já tinha rabiscos sobre o silêncio, sobre saudade e cuidado. Agora já chega, acabei falando demais sem me dar conta que era pra você... A língua trava... Aquela mania de me deixar sem ter o que falar, ainda iria me fazer te deixar sem ter o que fazer.

Azuis ou verdes?

Eu, perspicaz como sou, certo dia acabei traído pelos olhos. Traído pelos meus olhos, que não conseguiram decifrar se os dela são verdes ou azuis. Também pudera, como se não arcoirisados cabelos para reparar, ela tem olhos que se adaptam a luz. Fui obrigado a estudar para fazer poema. Ora, porque mudam de cor? Na realidade não mudam. Cada qual nasce com olhos de uma cor única, uma marca precisa da combinação genética. Se verdes, nível médio de melanina. Se azuis, nível baixo de melanina. Mas e a sensação que ora são verdes ora são azuis? A explicação diz que os olhos claros refletem o que está ao seu redor. Isso causa essa sensação de mudança de tonalidade. Um colega que gosta de escrever, tinha em sua casa um violino sem cordas, perguntou um dia a sua vó o motivo do instrumento não ter cordas. A senhora o questionou porque escrevia, ele não soube responder. Ela falou que escrever (fazer poemas, falar, viver) é colocar cordas no violino. Penso no que se aproxima dos olhos claros... Escrever, pensar, viver perto de olhos claros, é fazê-los mudar de cor para admirar o belo e inexplicável. Azuis ou verdes? Eu digo arcoirisados.

Um campo minado de rosas

Não sei como seria se tudo tivesse normal. As coisas poderiam não ter o valor, a importância, o significado que agora tem. Não só as histórias que ainda estão por vir, mas essa que ainda não passou. De uma coisa tenho certeza: eu prefiro explodir meu coração do que fazer com o seu seja explodido. Quando entrei em sua vida, minha missão era remover o campo minado que havia no teu coração. Assim o fiz. Substitui por belas rosas e não podia sair de sua vida fazendo com que o campo voltasse a existir. É certo, as rosas podem muchar mas vão reflorescer depois das primeiras pancadas de um novo amor. E se esse novo amor não for tão novo assim, se estiver barbado e um pouco barrigudo, acredite, ele fará de tudo para que esse jardim tenha novas rosas e que elas permaneçam sob seu cuidado. Normalidade nem sempre quer dizer conformidade, acredite.

-Que nome dou a isso?
"-Prisão e Liberdade"


A subjetividade do olhar me faz ver algo belo do jeito mais feio e o feio, tenebroso da forma mais bela. Vista de longe, uma janela é apenas um pontinho num retângulo. Vista de perto pode ser mais que uma porta. Vista de dentro pode trazer imagens fascinantes e tristes ao mesmo tempo. São tantas coisas bonitas que pode se ver por uma janela... Paisagens, pessoas, a copa de uma árvore, o céu... A janela da prisão mostra o sol! Mostra também o movimento. O movimento lento do sol para dar espaço a lua. Gera uma sombra que se move lentamente até desaparecer e cair fora das grades da prisão. Foram assim que os meus olhos se comportaram quando te viram passar. Um misto de prisão e liberdade, do belo e do assustador. Fiquei sem saber o que fazer quando isso aconteceu. Curiosamente meus olhos se fecharam. Preciso compreender o que se passa dentro de mim para que assim eu reabra essas janelas e te veja por dentro.

Há pressa pra vir

Eu deixei pra lá as coisas que tinha pra fazer... Sim, não me interessava mais a papelada sobre a mesa do escritório, nem tampouco o que o chefe iria pensar da minha saída repentina minutos antes de encerrar o expediente. Eu sou mesmo um canalha. Passei dois sinais vermelhos, subi na calçada da igreja com o carro só pra cortar caminho - fui perdoado de imediato (Deus sabe melhor que ninguém como é o amor) - , abusei da velocidade entre os carros. É inevitável não calcular quanto tempo se vai poder ficar perto da outra pessoa. É típico de quem se dedica estudando pra uma prova durante a madrugada e pensa ao deitar: "tenho duas horas pra dormir antes da prova". Eu deixei pra lá o estudo, o descanso, o sofá e a rede (social). Deixei pra lá o desejo de comer, de tomar um banho e me ver antes de te ver, deixei pra lá meus medos e meu costume tosco de pensar sempre que nada vai dar certo. Deixei tudo pra lá, o que trouxe até aqui foi o que sobrou de mim. Não temas nem pense que sou migalhas ou o resto. O que me sobra é muito e todo teu.

Desaba(feio)

É por não querer ser refém de nenhuma palavra que me livro delas. Assim não posso ser considerado negligente nem tão pouco um ser centrado, bitolado ao silêncio ou fadado a meias palavras. Eu nem preciso ser ouvido, nem lido, nem interpretado... Vou falar, vou escrever e vou blefar. Sim, vou blefar. Quero minha privacidade explicita, quero ser espalhafatoso discreto. Mas não posso me negar ao grito, ao sussurro e as letras. Mesmo que não consiga dizer nada. Mesmo que nada que eu escreva tenha clareza. Quantas músicas não possuem rimas? Quantos poemas não estão sob a organização rigorosa da métrica? Quantas pinturas são abstratas? Deixo que elas surjam em minha mente. Que venham de uma experiência de vida, que venham de uma mancada, que venham da interpretação tirada de uma música, que venham do meu olhar ao céu e claridade do dia ou que venham do escuro da noite. Que venham do nada. Mas que venham... Que não me faltem palavras para musicar, para falar ou simplesmente para calar. Elas nunca estarão presas a mim.

Pedra és rocha

Não sei se são mais vivas as marcas que deixo onde passo ou as que levo de onde passei. O que sei é que, por gostar de opostos, quero que permaneçam vivas. Não fosse a sútil possibilidade de deixar marcas na areia da praia, poderia dizer que não teria apego algum pelo mar. Mas deixo marcas nele, e se outrora o mar vier a esmorecê-las eu deixo marcas também enquanto regresso. Travados em batalha pela vida, eu e o mar poderíamos passar anos a fio nesse desbravar. A areia adoraria ser pisada, socada, marcada por meus pés, como faz a mulher guerreira no trabalho doméstico com pano de chão... O mar equilibrado ficaria conformado, se recolheria e só iria voltar no dia seguinte. Não fosse a alegria, a extraordinária alegria de ver de cima, talvez nem me trouxesse tanto contento a altura. Mas não sou que marco a pedra mais alta e sim ela que marca em mim. É o relevo, o infinito limitado, o vento que chega, o misto de medo e alegria. As marcas são fortes, atemporais... Quantos anos de água até mudar sua forma? Não sei! O que sei é que: pedra és rocha e sobre as marcas que deixas em mim serás a força motriz para me fazer viver.

Tic-tac assíncrono

Impressionante como não foi rápido. A paixão que não posso negar ter sido a primeira vista. Tinha que ser assim? Valeu a pena isso tudo? Foi o que quis fazer? Foi o que quis aceitar? A resposta para essas e tantas outras perguntas é a mesma: não sei!
A realidade é que tardei, me perdi num deserto e tive que atravessá-lo, porque só assim seria possível superar ele. Mas acredite, o mapa de como atravessá-lo ainda estava em minhas mãos e eu, com muito esforço, consegui. Eu tardei, demorei a fazer a travessia e muito provavelmente sofrerei de tormentos e dores pela batalha que travei. Eu tardei mas existia alguém que estava a mesa a me esperar, que chegou cedo ou na realidade nunca se foi, que soube ser o assunto quando o silêncio imperava. Eu tardei e posso até ter sido metade, mas nunca uma metade foi tão inteira. Voltemos, então, ao clock dos inteiros...

Sobre distância

Entre a terra e o céu existe uma linha fininha que os separam. Os pingos mais fortes de chuva, quando machucam a pele, são prova disso. É por isso que Deus consegue escolher bem as coisas... Nesse palheiro chamado Terra as cabeças de agulha são fáceis de se achar. Passar a linha entre elas, é fazer com que ora ela permaneça no céu e ora na terra. Essa ideia de escolha, de lado, de divisão é o que conduz a vida. Entre grandes e pequenos, entre verdades e mentiras, medos e certezas, sorte e azar vivemos... A distância que separa essas coisas também é muito tênue, é impossível andar sobre a linha o tempo todo. Belos pingos grossos de chuva caem, e a grandiosidade de sua força nos empurra pra um lado ou outro, mesmo que depois voltemos ao que nos convém. Se o céu pode tocar a terra quando olho pro horizonte, porque teria que passear sempre por um lado ou outro? Uma criança quando está aprendendo a andar tem preferência por lados. Em sobriedade nos aproximados daquilo que consideramos opostos, mas só permanecemos ali enquanto estamos dispostos

Nos braços do vento

Eu procuro sensação melhor que a do vento batendo no rosto... Seja o vento andarilho que passa por mim e me faz ter receio de sua proximidade, seja aquele que sai das narinas eu me afirma com a vida. Eu faço do toque dela o toque do vento, que me assusta e me faz vivo. Às vezes leve outras assombroso, daqueles que batem no seu rosto como se o mundo tivesse parado de girar sem avisar e pegasse todo mundo de surpresa. Nesse turbilhão que é um misto dos extremos, me joguei. Ele me puxou, me sacudiu e me deixou tonto... O bom é que, envolvido por tudo isso, eu encontro paz e a brisa que tanto gosto. Dentro desse funil de dos lados fui jogado para o alto, me encontro no vácuo que me deixa livre sem me libertar, que tem pressão quase que inexistente. No centro desse turbilhão tenho minhas armas e meu escudo, daqui não quero sair se não for para cair sobre seus braços, vento.

ELE a encontrou! A mulher que sempre procurou lhe deu a chance de lhe fazer feliz. Não precisa fazer mais buscas descontroladas por alguém que pudesse entregar todo seu sentimento, sem medo e sem pudor. Achou em meio a tantos o seu amor verdadeiro. Criou consciência que nada o que vivera antes se supera ao que ela gera em seu coração. Ele encontrou aquele que pode não ser o seu amor eterno e que dure para sempre, mas que há de viver e se concretizar somente enquanto eles respirarem. Encontrou o amor que lhe surpreende nas manhãs e que lhe domina a noite. Que aproveita junto com ele o calor do dia e que se deslumbra com ele ao observar do luar. Se outrora procurava casos efêmeros... agora acredita que efêmero mesmo, é o tempo que deseja passar longe dela...
Com ELA suas tardes de domingo têm a mesma emoção das noites de sexta, a mesma alegria de véspera de feriado prolongado, a mesma euforia da comemoração de gol em final de campeonato. Por que todo e qualquer momento ao lado DELA, é para ELE, é o que de mais belo existe.
Beliscá-la, mordê-la ou simplesmente beijá-la... Como nunca ninguém fez antes. Como nunca ninguém fará!
ELE a encontrou e hoje seu maior objetivo é fazê-la feliz.
ELA o aceitou! Desmistificou a ideia de poder ser feliz sozinha. Passou a acreditar que o amor existe e que é diferente de tudo o que já vivera. O amor que ele lhe deu a curou de todas as mazelas, dores, finais e recomeços que um dia viveu. Aprende a cada dia o significado do amor. Que tentar ser feliz já é ser feliz. Que partilhar um sentimento é a própria felicidade. Descobre que o amor pode nem ser eterno, que eles podem nem ter filhos ou morar com os pais dele, mas que o amor DELE há de durar enquanto respirar, e que, se em outra vida se respira, ELE há de continuar a lhe amar.
Com o tempo ELA vai aprender a entregar seus segredos a ELE. Vai aprender que ELE é mais que seu homem. Mas ELA já o aceitou, e isso é questão de instantes para acontecer.
ELA não busca nele o estereótipo do homem mais bonito. Reconheceu o que existe de mais belo em alguém. Guarda seu silêncio com as verdades mais belas que ELE ouve sem necessidade de uma palavra se quer. Aprendeu a querê-lo sempre perto, junto, colado.
Quer beijar, cheirar, morder, beliscar e apertar para ter certeza que a felicidade chegou e que está ali mesmo… materializada nele.
ELA sem saber, faz a esse homem um bem que ninguém fez antes.
ELES estão por aí... Juntos, se não em realidade, em pensamento, de cabeça a coração. ELES são essas vidas que se complementam e estão ávidas para amar e fazer o outro feliz.
Ou alguém duvida que o universo traz aquilo que desejamos?

Cacau no café

Eu sou de todo grato a quem me desperta com cheiro de café fresco. Minha mãe é mestra nisso. Mas não só no turno matutino o cheiro do café me desperta. Café é como o botão play no aparelho de som, ele me inicia, me mostra que estou presente e que estou vivo. O cheiro do café toma conta de toda casa, da praça de alimentação, da sala de espera, do corredor do escritório, da sacristia, da sala de professores, da rua. Eu me sinto café também quando sinto seu cheiro. Sinto-me presença. Sinto-me real em algum espaço e não sou visto somente como pó. A combinação perfeita entre vapor e o estado de inércia, a ausência de cor da água e a combinação de todas as outras cores do café, a justaposição do amargo ao doce. Isso faz com que cheiro do café seja tão agradável e predominante. Embora nem pareça, eu gosto de ser presente, de ser presença. Não que isso seja um alimento ao ego ou coisa do tipo, longe de mim, mas é que a presença no seu sentido lato me leva aquele local, me faz parte dele e parte da história que ele já deixou no tempo. Como agora, um gole de café. Fui presente!

Talvez pela paixão dos olhos dele por extremos, nunca tenha fechado as portas que abriu. Não que existam portas erradas, mas que assim como o branco é a junção de todas as cores e o atraí, ele também é apaixonado pela ausência de todas as cores que formam o preto. Seja a total claridade ou o breu absoluto o caminho a seguir, as portas serão abertas ainda que não sejam vistas. Ah se por um descuido as forças que movem esse mundo fizessem, mesmo que por alguns minutos, a lua descer e clarear de perto os olhos marejados do homem solitário, ele, enfim, veria uma saída fechada nas portas dos olhos dela... O escuro se esclarecia e o claro se ocultaria e ainda assim, dos extremos ele não se libertaria.

Teu pouco é meu muito

Ao contrário do que pede a Malu, não quero muitos chocolates só pra mim. Nem quero que pague a conta do almoço ou do jantar japonês. Não precisa escrever pra mim. Também não precisa ler, fazer alvoroço nem me defender. Não precisa carregar minha bolsa, nem meus chinelos precisa trazer. Cortar minhas unhas e esfregar minhas costas, pra que?
Não precisa me dar casa, comida nem roupa lavada. Não precisa serviço completo. Mesmo sem saber cozinhar nunca será forçada, mas às vezes faz um nissin? Eu quero só uma coisa, mesmo que não me dê tudo, que o pouco seja só pra mim.

Mar menino

Ele existe dentro de nós, é um mar alvoroçado, de tudo faz onda. Puxa o que quer, devolve o que não quer. O mar menino reflete aquilo que ver, se enxerga olhos azuis devolve olhos azuis, se percebe olhos verdes o seu dia 'enverdesse' e se nada lhe favorece... Mar menino se enfurece. Ora quer se aproximar, chegar pertinho, ora se encolhe e quer distância e nem invente de se chegar, não vai querer se encalhar... O tempo passa e nada (,) muda. Enquanto isso acontece, vivo a tranquilidade de ser mais menino.

A simplicidade, na sua menor demonstração, me faz enxergar o sucesso.

O domingo me faz um bem enorme. Acordar no domingo é ter certeza de vida, é saber que tudo se inicia mais uma vez. É combinar para se encontrar com o sol às 5:40 AM e às vezes ver ele chegar atrasado, muitas vezes nem esperar você acompanhá-lo mas passar o resto do dia te olhando. Domingo a tarde me trás a sensação de dever cumprido, me trás uma saudade da criança que chorava, do manto azul e das luzes que já se acendem. Quando chega a noite confirmo a certeza: o domingo ainda é meu dia preferido!Mas quando me deito, ah quando me deito... percebo que odeio despedidas... Volta, domingo!

Guarde seus segredos, meu amor. Não me conte tudo.
Guarde suas incertezas, seus medos e sua insegurança. Isso não é o combustível para o meu sentimento.
Esconda, até onde der, seus defeitos. Eles não me interessam.
Mas guarde também as seguintes certezas: meu amor é amor mesmo, ele é seu e só seu, meus defeitos, incertezas, medos e insegurança não são o combustível para o seu sentimento, e não me vejo em outra realidade que não a nossa.
Endereçar algumas palavras pode ser muito perigoso e silenciar outras pode ser muito doloroso! Se conter é sadio quando se espera o momento certo para o desabafo. Mas não se preocupa, esse dia um dia chega e a incerteza transforma certeza em raridade...

Sentimento explicando sentimento

Com o tempo eu tenho percebido o quão grande é o sentimento que nos une. Dos nossos gestos retiro as explicações que preciso para entendê-lo.
O movimento frenético das minhas pernas sob a mesa de trabalho ao se aproximar a hora da “Ave Maria” nas quartas, explica meu sentimento ansioso para te ter em meus braços...
O perfume que é percebido à distância, explica meu sentimento vaidoso, exibido ...
O tempo até ser atendido... explica que o sentimento dela ensina o meu a esperar...
O abraço, aquele abraço que faz os ossos estalarem e um coração tocar o outro... explica que sentimento é, também, contato e não contado, pra se eternizar...
Ouve meu desabafo do dia, minhas preocupações... é sentimento explicando o significado de atenção...
Sentimento explica abrigo quando deito em teu colo e esqueço que além de nós existe o que chamamos de Terra...
O barulho do chinelo arrastado no chão... sentimento explicando proximidade.
Aceitar o copo d’água que é oferecido, é deixar o sentimento explicar o que é cuidado, prontidão...
Meu sentimento explica fenômenos naturais quando vejo o pelo se arrepiar cada vez que o vento lambe o pescoço...
O ritmo acelerado e compassado do coração... é sentimento explicando que não há como não ser sôfrego quando se ama e que sereno é o sujeito que não se leva pelas paixões.
Tantos outros são os gestos que nos explicam esse sentimento, enquanto todos meus tantos são teus.