Coleção pessoal de JuliaFigueiredo7

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⁠Sob banho lunar, ela extraia o melhor de mim por⁠os afora.

⁠Assim como as digitais, o deleite é personalíssimo.

"A cada um serve aquilo que é dele"... suas delícias, suas percepções, seu desfrute... a dor e a alegria da própria existência.

Nos bastidores, a vida é solo.

⁠Dedique-se com afinco a coisas inúteis, porque são elas que oportunizam a felicidade.

Perceba: a felicidade é inútil em si mesma.
Ou você tem resposta para a pergunta:

"Ser feliz pra quê?"

É por isso que, quando algo é verdadeiramente inútil, sentimo-nos preenchidos.

Veja: balançar na rede vendo as estrelas para quê? Contemplar o pôr do sol para quê? Mergulhar no mar para quê? Dançar uma música para quê?

Para nada disso há resposta, pois é para nada mesmo. Seu valor está em si mesmo e não para um fim (objetivo).

Por isso, aconselho: INVISTA EM COISAS INÚTEIS, assim como as crianças.

Inspire-se na sabedoria dos pequenos que se concentram apenas em exercer a vida, viver sua plenitude e mergulhar na existência.

Atente-se a isto: abra mão do pragmatismo e romantize a vida, porque sua extraordinariedade merece ser venerada.

E JAMAIS transfira para a rotina o poder de acinzentá-la.

CARAÍVA

Qual é a expressão exata do sentir? Há exatidão no verbo? Qual palavra tem peito para assumir a responsabilidade de carregar a tradução?

Caraíva, como te expressarei? Como retribuirei senão devolver todo esse sentimento? Senão desaguar no outro… transferir o afeto? Meu amor, você me curou de mim mesma. Impossível fugir aí.

Caraíva é sobre encontro e autodescoberta, é sobre um rio que deságua no mar. Sobre um delta. Um canal no outro, maior, imenso, oceânico. É sobre conexão rio-mar-ser.

Caraíva é sobre navegar sem remo, deixar fluir, sem precisar empurrar com tanta força. É sobre colocar uma coroa de flor na cabeça, entrar no barco e confiar no curso do rio. Saber que ele o levará para o mar… É sobre conflito, cura, metarmofose, morte, e, principalmente, RENASCIMENTO!

É sobre não querer voltar apenas inteiro, mas transbordando (chorando, mas transbordando).

Eu nunca vou esquecer. Eu não posso esquecer. É uma questão de vida agora.

Caraíva não dá pra “desver”

E tá visto!

Relato de um renascimento:⁠

No dia 11 de agosto de 2022 eu estava com amigos na Ponta de Corumbau, que significa “Lugar longe de tudo” em Tupi. Alguns ainda acrescentam: “e perto do paraíso”.

Corumbau estava no meu roteiro por causa do seu significado. Essa praia faz parte da Rota do descobrimento do Brasil, a qual eu havia planejado fazer de mochilão à pé. A rota também foi escolhida pelo nome. Eu estava me preparando: seria a rota do autodescobrimento.

Nesse dia estávamos especialmente cansados da noite anterior e resolvemos tirar um cochilo pós almoço. Eu dormi cerca de 20 min, o suficiente para ter um sonho impactante.

Sonhei com uma tela de celular preta com um ícone de agenda de tarefas escrito assim:

11 de agosto de 2022
Evento: Morte Júlia ✝️

Eu acordei impressionada, mas não quis dar tanta atenção, apesar de que na minha mente só havia um pensamento: de hoje não passo!

Mais tarde, havíamos planejado participar do ritual da lua cheia. Seria também a inauguração da Oca da Lua na aldeia indígena Porto do Boi (uma comunidade indígena Pataxó) e a última super lua do ano.

Durante a cerimônia, eu tive uma visão, o que chamo de uma imagem ou cena fixa na mente. E foi esta:

Eu estava dentro de um pequeno barco, sentada confortavelmente olhando para o horizonte, onde o sol se punha. Era uma penumbra de entardecer, acompanhada pela mata densa de mangues às margens do rio estreito, que desaguava no mar. O barquinho fluía sem qualquer intervenção minha. Em minha cabeça havia uma coroa de flores - delicada - como um ornamento artesanal. O detalhe que mais me impressionou na visão é que não havia remos no barquinho. Eu estava fluindo com o rio, rumo ao mar, como um delta, parte dele, com ele e através dele.

O interessante da visão é quando ela vem acompanhada da interpretação.
Logo que lembrei do meu sonho, compreendi e comecei a chorar compulsivamente.

Ainda era dia 11 de agosto e eu estava R E N A S C E N DO… leve, serena, e fita no presente. Sem precisar empurrar o barco. Sem tocar na direção. Deixando-me fluir na força do rio.

Então, lembrei imediatamente de Lispector em sua feliz advertência:

“A gente tem o direito de deixar o barco correr. As coisas de arranjam, não é preciso empurrar com tanta força”

⁠Não brigues comigo.

Se eu escrever sobre dor, vou machucá-lo em sua identificação.
Mas se escrevo sobre esperança é para confrontá-lo à descoberta.

É nesse olhar que te entrego a minha empatia.

⁠Conversa de loucos:

- Você é feliz?

- Dois dias atrás eu contei quantas pétalas da roseira do vizinho havia caído no meu quintal. Percebi que até a beleza do que não é meu tem um fim, adubar o meu jardim.

- (Risos). Vamos tomar um café no meu quintal?

- Acabo de voltar do médico frustrada.
- Por que, Joana?
- Eu disse: Dr., partiram-me ao meio. E ele perguntou: O que encontraram?
- E o que cê respondeu?
- Carne, ossos e tpm.
- Mas e qual a frustração?
- Uai, eu queria que me remendasse, mas ele só receitou um colírio.

⁠22 botões na roseira do vizinho, entre lindas e exuberantes. O relatório de flora dela a salvava de seu passado caótico e um futuro ansioso.

Enquanto contava, a beleza da vida se multiplicava em sua história e, com o tempo, havia mais desabrochares do que decepções.

Era sua maneira mágica de enfeitar a vida.

⁠⁠Seu encontro com o artista interno daquela vez foi tomar banho de chuva.

No começo, os pingos desajustados a incomodava. No chuva intensa, sentia-se bem. E, com o tempo, o frio a inquietava.

Era de se esperar: até a plenitude do sentir causa arrepios.

⁠A minha escrita não é um ditado do pensamento.

Agora, por exemplo, não sei quais durezas se materializarão em palavras organizadas. O leme é o sentimento, mas das águas que navegaremos, só reconhecerei o território ao percorrer até o ponto final desta última linha.

O meu pensamento só ganha forma a partir da leitura.

Meu papel: atender ao chamado.

O do universo: se encarregar de me recompensar pelos risco que assumo em seu nome.

⁠- Não consigo respirar. Eles são muitos.

E naquela multidão de vozes do mesmo timbre, ela se sentou recolhendo os joelhos na testa. Bem baixinho começou a suplicar:

- Silêncio
- Silên...

Sem que a ordem de comando surtisse efeito, foi enfática (com leve tom de brava piedade, como se quisesse chamar a atenção sem agitá-los demais):

- SILL!!!

Com a conquista de meios olhares, continuou:

- Sssssi...

E com a ordem acatada, inspirou ar, expirou lágrimas rolando joelhos abaixo.

Era o seu deságue desesperançoso.

Ninguém podia a salvar de si mesma, nem suas vozes interior.

⁠Ela comprava poltronas caríssimas
Mas gostava de sentar nas janelas
Vestiu até um tapete confortável na sala
Mas passava suas noites balançando a rede do quintal
Instalava persianas pela casa
Mas contemplava o céu pela janela vaga da cozinha
Tinha seus eletrônicos
Mas o vinil é que cambaleava sem parar na vitrola
Cada joana que via era uma poesia em sua coletânea datilografada

E ninguém entendia nada

Era seu universo particular
Sujeito a senhas indecifráveis

⁠Essa mércia nos parece tão sagrada, tão solidária conosco, com o mundo. Você encontrou o caminho do meu sofrimento, contando meus últimos minutos nos seus lábios inclementes que, quando paralisam, aceleram minha agonia.

⁠Tu sabes bem: certas brasas só se apagam com saliva.

⁠Reconheço: mulher pujante, ferina e imponente me enfraquece só de olhar.

⁠Confesso, já dei nome para todas as suas curvas.
Um platonismo que me recuso evitar.
Desejo calado não mata ninguém.

Cada contorno do seu corpo tem em si o poder de agitar-me as sardas.

Socorro!

⁠A vida é mesmo desproporcional, basta um instante de existência para compensar todos os anos de uma idade.

⁠Comprei um par de cadeiras de praia
Na sala vazia, sem propósito, caiu bem seu lugar no cenário

Fiz o convite.

Elas vieram, sentaram-se confortavelmente, sem cruzar as pernas, e…
tomando banho de lua, no reflexo da porta de vidro,
decidiram deitar ao chão.
Lunáticas que são, era de se esperar.

A conversa deu lugar ao silêncio que escutava a música
Minha playlist "23:45" ecoava na sala cheia de vazios
Elas, as cadeiras vazias, os corpos no chão, o brilho lunar invadindo a sala…

Contemplamos, existimos, sem função, a sala não tinha propósito
Da gente, só se esperava existir…
livres, descruzadas, juntas, deitadas e enroscando as mãos em nosso cabelos

Elas foram embora.

Comprei uma poltrona caríssima para duas deitarem
A poltrona se acostumou, e eu me acostumei com seu conforto vazio, também sem propósito

Era ela para nada.
Para o mesmo que as cadeiras de praia
Mas para ser nada, custou muito e fiquei brava.

Comprei uma luminária, para iluminar seu costume na sala.
Agora existia um propósito…
a luminária, clarear a poltrona
a poltrona, ser iluminada
Mas também era para nada

Comprei uma vitrola, e era para ecoar sons na sala que já não estava vazia.
E percebi que também era para nada se não houvesse nela um vinil cambaleando

Comprei o vinil, e este era para alguma coisa.
Era para fazer funcionar a vitrola e dar a ela propósito.
E, cambaleando, percebi que também me acostumava.

Comprei um vinho para encher a taça
E enchendo a taça, a esvaziava em mim, que agora cheia dele, via alguma proposta
Eu é que estava iluminada, mesmo sem ligar a luminária na tomada.

Olhando para a sala, desci os degraus saindo de casa.
Deitei na rede, e olhando para a sala cheia, percebi que não me cabia lá.
Era tudo para nada.

Todos nós estávamos acostumados.
Tudo era para nada.

Então, desistindo de ter, existi!