Coleção pessoal de Jorgeanesquivel

101 - 120 do total de 359 pensamentos na coleção de Jorgeanesquivel

⁠ Vestígios


Se um dia eu desistir, saiba que lutei todos os segundos; mas se um dia eu partir, deixo um pouco de mim em cada canto — nas palavras que escrevi, nas imagens que capturei e, sobretudo, nas pessoas que encontrei.

⁠O Peso de Sentir

Minhas palavras pesam. Às vezes, parecem lâminas afiadas, cortam no instante em que tocam o papel. Outras vezes, são vidro estilhaçado dentro de mim, cada tentativa de engolir me rasga por dentro. Dói tentar filtrar, tentar suavizar, tentar escolher apenas o que não assusta, o que não incomoda.

Mas a dor não desaparece só porque escolhemos ignorá-la. Ainda que eu me cale, ela continua aqui, latejando, sufocando, esperando o momento de transbordar. E quando transborda, incomoda. Porque falar sobre dor exige que o outro a enxergue.

"Não diga isso."
"Não pense assim."
"Apaga esse texto."

Como se a dor precisasse ser varrida para debaixo do tapete, escondida para não constranger. Como se o silêncio curasse. Como se não fosse exatamente esse silenciamento que nos adoece ainda mais.

As pessoas querem ignorar o sofrimento do outro para manter sua paz, para não se sentirem desconfortáveis, para não enfrentarem a própria culpa. Mas e eu? O que faço com tudo isso que insiste em existir dentro de mim? Com o que transborda, com o que escapa mesmo quando tento conter?

Eu sinto. E sentir, às vezes, pesa mais do que eu consigo carregar.

⁠A liberdade que ainda não temos

A tão aclamada liberdade de ir e vir não funciona para todas. Podemos até ter o direito, mas não a segurança.

Uma mulher sozinha sempre será alvo de olhares e julgamentos. Se viajamos, vamos a bares, restaurantes, praias ou caminhamos sem companhia, logo nos questionam: por que está sozinha? Supõem solidão ou até mesmo um problema de caráter. Para os homens, essas são atividades comuns. Para nós, um ato de resistência.

Sentar-se à mesa sem companhia não pode ser apenas uma escolha? Uma experiência consigo mesma? Mas não. O mundo insiste em nos colocar numa posição de espera – de alguém, de algo. Como se estar só fosse um sinal de disponibilidade, um convite a abordagens invasivas e cantadas baratas.

Estar só não é estar perdida. Muitas vezes, é apenas uma pausa. Um momento para silenciar o barulho externo e organizar a mente. Mas até isso nos é negado. Se caminhamos sozinhas, somos alvo de comentários maldosos. Se nos recolhemos, somos chamadas de frias. Se nos valorizamos, incomodamos.

Enquanto homens andam livres, nós calculamos riscos. Precisamos de segurança para viver a liberdade que já deveria ser nossa. Até lá, seguimos – sozinhas, mas não solitárias.

Bota na conta do amanhã.
O que não pude sentir, o que não coube no peito, o que doeu demais para existir no hoje.
Talvez o amanhã saiba carregar melhor do que eu, talvez o tempo encontre lugar para o que agora me sufoca.


Porque há dias em que viver já é pagar caro demais, e sobreviver se torna a única forma de não quebrar por completo.
Então, deixo que o amanhã seja meu credor, mesmo sem garantia de que eu esteja lá para quitar.


E se eu não chegar, ao menos deixo registrado: não foi preguiça de viver, foi excesso de sentir.

⁠O Desejo Não Se Satisfaz em Qualquer Toque

Hoje, sinto a falta de algo que não sei explicar completamente. Um desejo que vai além do corpo, que pulsa na alma e no peito, uma vontade de ser tocada, de dividir risos sem pressa de chegar ao fim. Quero ser vista em minha totalidade, ser amada, sem que isso se perca no superficial.

Mas, ao mesmo tempo, me nego a buscar essa satisfação qualquer. Não quero apenas um toque vazio, uma troca momentânea. Eu quero mais. E, ao me negar, meu corpo sente a ausência, sofre em silêncio, como se algo estivesse faltando, como se a falta fosse mais forte que o desejo.

E é nessa contradição que me encontro. Querendo, mas sabendo que o que busco não está em qualquer lugar. Eu espero, mesmo que a espera me consuma.

⁠Olhar não tira pedaço, mas mexer causa embaraço.


Nem tudo precisa ser tocado, explorado ou decifrado. Há coisas que existem para serem admiradas à distância, sem a necessidade de interferência. O olhar pode ser curioso, contemplativo, até mesmo invasivo, mas é no toque – na ação impensada – que se criam os verdadeiros desencontros.

Respeitar o espaço do outro, compreender limites e reconhecer que nem tudo precisa ser desvendado é um gesto de sabedoria. Porque, no fim, o problema nunca esteve no olhar, mas na intenção por trás do movimento.

⁠A Força que Me Sustenta

Às vezes, é preciso ser Mulher-Maravilha, mesmo quando estamos quebradas. Colocamos a armadura, escondemos as feridas e seguimos em frente.
Guardamos a vulnerabilidade no bolso, vestimos o sorriso e encaramos os holofotes, as mídias, os stories.
Não por sermos imbatíveis, mas porque sabemos quem tem nos sustentado de pé, e porque ainda há um propósito a ser cumprido.

Minha fé está em Deus, e nele encontro descanso.
Permito-me viver sob Sua graça, que me alcança com generosidade, carinho e proteção.

E se um dia eu decidir parar, lembre-se: lutei até o fim.

⁠Carta Aberta de Quem Decidiu Partir (E Ainda Está Aqui)

A quem importa,

Eu ainda estou aqui, mas não sei por quanto tempo. Já tomei minha decisão, embora o corpo continue presente. Sigo respirando, caminhando entre vocês, respondendo quando necessário, sorrindo quando esperado. Mas, por dentro, algo já se despediu faz tempo.

Não quero que sintam pena, não quero ouvir que vai passar, porque eu mesma já me disse isso incontáveis vezes. Não passou. Apenas aprendi a carregar o peso sem deixar transparecer tanto. Às vezes, ele fica insuportável.

Sei que muitos me amam, e é por eles que permaneci até agora. Mas amar não significa entender. E a solidão de não ser compreendido é um abismo que engole pouco a pouco.

Eu não busco atenção, não quero alarmar ninguém. Só quero que saibam que tentei. Que lutei cada dia como pude. Que se um dia eu não estiver mais, não foi por fraqueza, mas por exaustão.

Até lá, continuo. Não sei até quando. Apenas… continuo.

[JB]

Texto de Introdução/Reflexão: A Experiência da Fotografia


A fotografia não é apenas sobre técnica ou conhecimento; ela é sobre presença, sensibilidade e conexão com o momento. Cada clique é uma escolha, um instante de entrega, uma oportunidade de capturar não apenas o que os olhos veem, mas o que o coração sente.


Ao longo desta série, você encontrará reflexões sobre luz, composição, movimento, cor, narrativa, direção e, acima de tudo, espontaneidade. São textos que unem prática e sensibilidade, conhecimento técnico e olhar poético, mostrando que a essência da fotografia está na experiência, na emoção e na alma que conseguimos revelar através da lente.


Cada imagem é um convite: perceba o instante, sinta o movimento, observe a luz, conecte-se com o assunto. O verdadeiro aprendizado não está apenas nas regras, mas na prática, na percepção e no olhar que se entrega à vida que se desenrola diante da câmera.


Esta série é um convite para explorar, sentir e viver a fotografia de forma completa. Não importa se você está começando ou já tem experiência: cada texto é um passo na descoberta de como capturar o que realmente importa, a essência, a emoção, a espontaneidade que dá alma à imagem.


Espontaneidade: A Alma da Imagem

Costurar o Tempo


Se a vida fosse tecido, eu escolheria linhas invisíveis para bordar os dias. Cada ponto seria memória, cada nó, resistência. Costurar o tempo é remendar o que a vida rasgou, é unir o ontem ao amanhã sem perder a delicadeza do agora.


Às vezes, o fio se parte e minhas mãos cansam. Mas ainda assim insisto — porque sei que o bordado só existe no processo, nesse gesto de refazer, de alinhar, de acreditar que o tecido pode sustentar o peso da história.


Se eu pudesse, costuraria o tempo com calma, deixando espaço entre as linhas para que a esperança respirasse. Assim, mesmo que o hoje doa, haveria sempre a chance de o amanhã se encaixar sem pressa, como peça que se completa no avesso da vida.


E no fim, talvez eu descubra que costurar o tempo não é prender instantes… é libertá-los para que continuem existindo em mim.

A fotografia é mais do que o instante congelado — é um pedaço de alma revelado em luz.
Ela não guarda apenas cenários, mas imprime sentimentos, desperta memórias e conecta olhares.
Quem vê além da imagem percebe: cada detalhe carrega histórias, silêncios e emoções que pedem para ser sentidas.
É nesse espaço entre a visão e a sensibilidade que a fotografia se torna poesia para a alma.


E você, o que sente quando olha através desses olhos?

Um pensamento é semente: se fértil, floresce; se contaminado, pode envenenar o solo da alma.

O Encanto da Luz Natural


A luz natural não é apenas ferramenta: é coautora da fotografia.
Ela modela volumes, revela texturas, cria atmosfera e transforma gestos simples em narrativa viva.
Luz difusa envolve a cena com suavidade, trazendo leveza e uniformidade; luz dura destaca volumes e cria sombras marcantes que revelam profundidade. Luz quente aquece e aproxima, transmitindo intimidade e acolhimento; luz fria sugere introspecção, mistério ou dramaticidade.


O fotógrafo atento percebe o instante em que cada tipo de luz interage com o assunto, destacando detalhes e realçando a emoção que já existe no momento.
É nesse encontro entre luz, espontaneidade e direção sutil que a imagem se torna inteira, autêntica e inesquecível.


Espontaneidade: A Alma da Imagem
Autoral: Jorgeane Borges

Contrastes e Emoções: O Impacto do Oposto


Na fotografia, os contrastes são mais do que diferenças de luz e sombra, cores ou texturas. Eles são forças que dialogam entre si e despertam emoções intensas. O claro e o escuro, o suave e o áspero, o próximo e o distante — tudo isso se encontra para contar uma história mais profunda.


O contraste não apenas revela formas, mas também provoca sentimentos. Ele chama a atenção do olhar, conduz a narrativa e cria impacto visual. O que seria da luz sem a sombra que a revela? Ou do silêncio, sem o barulho que o antecede? Assim também é a fotografia: um jogo de opostos que realça a essência.


Ao trabalhar contrastes, não se trata apenas de técnica, mas de sensibilidade em saber equilibrar o peso de cada elemento. O impacto está na escolha: destacar, intensificar ou suavizar aquilo que se deseja transmitir.


Mais do que uma linguagem estética, o contraste é emoção traduzida em imagem. Ele dá voz ao invisível e intensidade ao que parecia comum, mostrando que os opostos, juntos, têm o poder de revelar verdades que o olhar sozinho não alcançaria.


Espontaneidade: A Alma da Imagem
Autoral: Jorgeane Borges

Fotografia em Movimento: Congelar e Fluir


O movimento, quando registrado pela fotografia, é a dança do tempo diante da lente. Há nele duas possibilidades igualmente poéticas: congelar o instante ou deixá-lo fluir.


Ao congelar, a fotografia revela o detalhe invisível ao olhar comum, a gota suspensa no ar, o salto interrompido, o gesto que se eterniza. É como se o tempo fosse interrompido para mostrar a grandeza de um segundo.


Ao fluir, a imagem ganha suavidade, trilhas de luz, borrões de cor e formas que evocam a sensação de passagem. O movimento se torna memória em expansão, carregando a emoção do instante em vez de apenas sua forma.


Entre congelar e fluir, está a sensibilidade do fotógrafo em escolher como deseja contar a história. Às vezes, é preciso capturar a nitidez de um momento único; em outras, deixar que o olhar sinta o deslizar do tempo.


Fotografar o movimento é abraçar o paradoxo de parar o tempo e, ao mesmo tempo, deixá-lo seguir. É mostrar que cada instante tem sua beleza, seja na pausa que revela, seja na continuidade que emociona.


Espontaneidade: A Alma da Imagem
Autoral: Jorgeane Borges

Retrato e Alma: O Olhar que Fala


No retrato, mais do que rostos, o que se busca é a alma. Um olhar, quando capturado com verdade, pode dizer mais que mil palavras — pode contar histórias, revelar silêncios, expor fragilidades e, ao mesmo tempo, guardar mistérios.


A fotografia de retrato não se limita à superfície. Ela atravessa a pele e chega ao invisível. É a tentativa de traduzir em imagem o que não pode ser tocado: a essência.


Por isso, diante da câmera, não basta posar. É preciso se permitir ser visto — mesmo que em partes, mesmo que nas frestas de um olhar distraído ou numa expressão que escapa sem querer.


O retrato verdadeiro não é apenas sobre quem é fotografado, mas também sobre quem fotografa. É o encontro entre dois mundos: o da lente que busca e o da alma que, por um instante, se deixa revelar.


Um olhar pode ser espelho, pode ser janela, pode ser abismo. No retrato, ele é tudo isso ao mesmo tempo.


Espontaneidade: A Alma da Imagem
Autoral: Jorgeane Borges

O Momento Decisivo: O Instante que Não Volta


A fotografia vive do instante. Há um segundo exato em que tudo se alinha: a luz, o gesto, o olhar, a atmosfera. É nesse ponto de encontro que nasce a imagem única, impossível de ser repetida.


O momento decisivo não é apenas técnica — é sensibilidade. É estar presente, atento, entregue ao que se revela diante de si. É confiar que, em meio ao fluxo da vida, há uma fração de tempo que guarda a eternidade.


Quando o clique acontece, não se captura apenas uma cena. Captura-se o irreversível: aquilo que não voltará a acontecer da mesma forma.


E é justamente por isso que a fotografia emociona. Ela congela a vida no exato ponto em que ela estava prestes a escapar.


A arte de fotografar é, então, a arte de estar pronto. Pronto para ver, sentir e decidir. Porque o tempo não espera — mas a imagem, uma vez feita, resiste ao esquecimento.


Espontaneidade: A Alma da Imagem
Autoral: Jorgeane Borges

Entre Luzes e Sombras: O Drama da Composição


A fotografia nasce do diálogo entre a luz e a sombra. Uma não existe sem a outra, e é justamente nessa oposição que o olhar encontra o equilíbrio.


A luz revela, expõe, dá forma ao que estava oculto. Já a sombra guarda mistério, sugere o que não se mostra por completo, trazendo profundidade e silêncio à cena.


Quando se encontram em harmonia, luz e sombra compõem mais do que uma imagem: criam emoção. É o claro-escuro que dá intensidade a um retrato, que faz um olhar falar mais alto, que transforma um cenário comum em poesia visual.


Não há fotografia sem sombra, assim como não há vida sem contraste. É nesse jogo que se constrói o drama da composição — a escolha de mostrar ou esconder, de realçar ou suavizar.


Fotografar é compreender que a luz precisa da sombra para existir em sua plenitude. É aceitar que beleza e verdade se revelam no contraste, onde os extremos se tocam.


Espontaneidade: A Alma da Imagem
Autoral: Jorgeane Borges

Reflexos e Simetria: Olhar Além do Óbvio


Reflexos e simetria transformam uma fotografia ao revelar perspectivas inesperadas e multiplicar a narrativa visual. Um espelho d’água, uma superfície refletiva ou a composição de elementos simétricos podem criar profundidade, ritmo e surpresa na imagem.


Tecnicamente, é necessário observar ângulos, luz e posicionamento, sabendo que cada detalhe influencia a percepção do espectador. Mas mais do que técnica, é sensibilidade: perceber o instante em que o reflexo ou a simetria revela algo que não é visível à primeira vista, trazendo emoção e significado à cena.


O uso consciente de reflexos e simetria permite que a fotografia vá além do óbvio, despertando curiosidade e atenção. Ele dá à imagem uma dimensão poética, conectando técnica, observação e sentimento em uma composição equilibrada e cheia de vida.


Reflexos e simetria não apenas ampliam a visão; eles imprimem alma e espontaneidade à fotografia, mostrando que o olhar atento transforma cada cena em narrativa viva.


Espontaneidade: A Alma da Imagem
Autoral: Jorgeane Borges

Detalhes que Contam Histórias


Na fotografia, os detalhes muitas vezes carregam mais emoção do que a cena inteira. Um gesto sutil, uma textura, um brilho nos olhos ou uma sombra discreta pode transformar uma imagem comum em uma narrativa intensa.


Tecnicamente, observar detalhes exige atenção à composição, foco e profundidade de campo. É preciso escolher o que destacar, o que deixar em segundo plano, e como cada elemento dialoga com o restante da imagem.


Mais do que técnica, é sensibilidade: perceber que cada pequeno elemento conta uma história, revela caráter, emoção e contexto. O poder dos detalhes está em permitir que o espectador descubra camadas da cena, despertando memórias, sentimentos e conexões inesperadas.


Fotografar detalhes é capturar o invisível, aquilo que muitas vezes passa despercebido, mas que dá autenticidade e alma à fotografia. Cada minúcia contribui para a narrativa, tornando a imagem mais profunda e significativa.


Espontaneidade: A Alma da Imagem
Autoral: Jorgeane Borges