Coleção pessoal de Jorgeanesquivel
O Poder Invisível do Perfume
Para mim, os perfumes têm o poder de acolher.
Trazem conforto, paz, bem-estar, boas memórias.
Mas também podem despertar o oposto: aversão, antipatia, desconforto, mal-estar, dor de cabeça.
Tudo isso apenas com a nossa presença — sem que as pessoas consigam, de fato, entender o porquê.
Elas apenas sentem. Reagem.
O perfume aproxima. Ou afasta. Involuntariamente.
E às vezes, tudo começa com a escolha de um perfume.
O perfume tem o poder de abraçar por dentro de um abraço, de nos tornar desejáveis, inesquecíveis.
Tem cheiros que despertam vontade de morder.
Outros que fazem a gente querer ficar ali... no silêncio do afeto, no calor da pele, na paz daquele instante.
Tem perfume que acalma, que traz leveza.
Tem perfume que acende — nos coloca em chamas, em desejo, em urgência.
E sim, tem perfume que desperta euforia, fúria, desprezo, rejeição, ânsia, asco.
Por isso, a escolha do nosso perfume precisa ser cuidadosa.
Porque mais do que um aroma, ele é extensão da alma.
É presença que fica, mesmo quando a gente vai.
A PERMANÊNCIA DA ORIGINALIDADE E DA CULTURA LOCAL
A cultura de um povo é seu alicerce, sua identidade, aquilo que o torna único em meio a tantas influências externas. Manter essa originalidade não significa rejeitar referências de fora, mas preservar o que nos distingue, o que faz parte de nossa essência e de nossas tradições.
Em um mundo cada vez mais globalizado, é comum que elementos culturais se misturem e que novas influências cheguem até nós. No entanto, é fundamental compreender que valorizar o que é nosso não exige que nos moldemos ao que vem de outras cidades ou regiões para sermos reconhecidos. Pelo contrário, é no simples, bem feito, na constância e na organização que a verdadeira beleza das nossas raízes se fortalece.
A preservação cultural não é apenas uma questão de estética ou de manter costumes antigos por tradição. Ela é um ato de resistência e de identidade. Quando cuidamos das nossas práticas, festas populares, histórias e expressões artísticas, estamos assegurando que nossa essência continue viva e seja transmitida às próximas gerações.
Manter a originalidade é valorizar a memória coletiva, é reconhecer que cada canto do país tem suas próprias narrativas, símbolos e manifestações que merecem ser respeitados. A diversidade cultural brasileira é justamente o que a torna tão rica, e cada povo tem um papel essencial nesse mosaico.
Defender nossa cultura é investir em pertencimento, é criar laços entre passado, presente e futuro. É garantir que o que nos torna singulares não se perca em meio às influências passageiras. Ao respeitar e fortalecer nossas tradições, não apenas preservamos nossa identidade, mas também oferecemos ao mundo um exemplo genuíno de quem somos.
É essa permanência da originalidade que mantém viva a alma de um povo e dá sentido à sua história.
E se essa fosse a sua última semana?
E se aquele foi o último abraço que você deu em alguém?
E se ela partir, quais foram suas últimas palavras para ela?
A gente vive como se houvesse tempo.
Adia o perdão, o carinho, a verdade.
Promete encontros, inventa desculpas,
e deixa o amor esperando na porta —
como se o amanhã fosse um direito,
não um presente.
Mas e se o amanhã não vier?
Se a vida decidir fechar os olhos antes de nós?
O que restará — senão o peso do não dito,
e o eco das ausências que poderíamos ter preenchido?
Por isso, abrace agora.
Diga o que sente.
Peça desculpas, se for preciso.
Não economize presença.
O tempo é um sopro,
e ninguém sabe quando o vento muda de direção.
O Silêncio Entre Nós
Meu silêncio tem o teu nome.
Carrega tudo o que não digo,
tudo o que se perdeu entre um olhar e outro.
Já não sei se calo por medo,
ou por costume.
O amor que era verbo,
virou pausa,
reticência.
Te escuto, mas não te ouço.
Te vejo, mas não te sinto.
E, mesmo ao teu lado, há um abismo.
Não de distância,
mas de ausência.
Meu silêncio não é paz.
É refúgio.
É o lugar onde escondo o que restou de mim
depois que o “nós” se desfez em eco.
Sinto Muito
Eu não sei,
não transparecer o que sinto.
E sinto muito —
por sentir demais,
por deixar que o coração se derrame nos olhos,
na voz, no gesto.
Sinto o que não cabe em mim,
o que não se explica,
o que insiste em escapar em forma de silêncio.
Não sei fingir leveza quando há peso,
nem esconder ternura quando há verdade.
E talvez seja isso:
meu erro, minha beleza,
minha entrega.
Sinto muito.
Mas é o sentir que me mantém viva.
Despedindo-me em Silêncios
Há dias em que me percebo partindo sem sair do lugar.
Não é fuga, é cansaço de permanecer inteira.
Vou me desfazendo devagar,
como quem solta o ar e deixa o corpo repousar no intervalo.
Já não há pressa em resistir.
A resistência virou hábito, quase uma oração muda,
dessas que não se aprendem, apenas se sentem.
Deixo pedaços meus em cada esquina do dia
um pouco na roupa pendurada,
outro no copo que esqueci de lavar,
e tantos nos silêncios que deixei falando por mim.
Não há ruído na minha ausência;
há um eco que insiste em sussurrar: “ainda estou aqui”.
Mas estar tem me custado caro,
como se cada gesto cobrasse uma parte da alma.
Não quero piedade, nem perguntas.
Quero apenas o direito de ser brisa,
de existir em fragmentos,
de não precisar me reconstruir hoje.
Se um dia eu me dissolver inteira,
não busquem culpados,
apenas saibam que eu tentei.
E que, em cada fragmento que deixei,
havia uma tentativa de ficar.
Culpada de Existir
Sinto-me culpada,
culpada de pesar.
Um dia ouvi de alguém:
“você é pesada, cheia de monstros, nada vai pra frente.”
E eu acreditei.
Desde então, caminho tentando ser leve
me desculpando por existir demais,
pedindo perdão até pelo silêncio.
Vivo aparando arestas,
diminuindo gestos,
falando baixo para não incomodar o ar.
Mas a verdade é que não sei ser pouco.
Sou feita de profundezas,
de medos que têm nome e de dores que respiram.
Não sou monstro,
sou só o reflexo de tudo o que engoli para não gritar.
E ainda assim, me culpo.
Por sentir, por ficar, por tentar caber.
Um dia, quem sabe,
eu aprenda que pesar também é existir.
E que mesmo as almas cansadas
merecem um lugar para repousar.
Amordaçadas
Ah, Deus...
se cada palavra tivesse o poder de gotejar como ferida aberta —
dessas que expulsam o que faz doer —
talvez existissem curativos capazes de cicatrizar
todas as tristezas deixadas por palavras que ferem a alma.
E ela, ferida de morte,
morre amordaçada,
sem direito de gemer o próprio sangrar.
Quantas almas mortas em corpos vazios cruzamos por aí?
Tantas seguem caladas,
sem brilho no olhar,
sem o direito de falar sem ser julgadas por sentir.
E eu...
eu sou alma ferida,
perdida,
morta a vagar...
Entre o cansaço e a reinvenção
Há momentos em que tudo parece parar.
O corpo não reage, a mente pesa, e o coração se cala.
Mas antes desse vazio, vieram os dias de luta,
os de sobrecarga, de resistência, de pura tentativa.
Vieram os tempos em que foi preciso sobreviver —
reinventar-se, aprender o que nunca se imaginou,
buscar um novo rumo, mesmo quando o chão faltava.
E, sem perceber, fomos adoecendo.
Talvez não de febre, mas de esgotamento.
De tentar ser fortes o tempo todo.
A vida é isso: um constante sobreviver.
É cair, e mesmo sem forças, tentar levantar.
É seguir com os pedaços que sobraram,
e fazer deles uma nova forma de ser.
Eu tenho vivido assim: lutando,
mesmo quando o cansaço me visita.
Porque entre o desgaste e a esperança,
ainda há um fio de fé que me faz continuar.
E no meio do caos, eu me reinvento —
vez após vez,
vida após vida,
em mim mesma.
Mas, às vezes, sinto falta da mulher que fui.
Daquela que sonhava sem medo,
que acreditava no novo, que se lançava inteira.
Sinto falta da energia que me fazia criar,
das madrugadas acesas por ideias,
das vontades que me moviam.
Quem sabe seja tempo de voltar —
não à dor, não ao peso,
mas ao fogo que me acendia por dentro.
De reencontrar em mim o brilho da busca,
a alegria do recomeço,
a coragem de tentar outra vez.
Talvez esse seja o meu novo recomeço:
reavivar o que um dia me fez viva.
Mas por hoje, por agora,
apenas revisito essa eu do passado
em uma galeria lotada de momentos,
de construção, de vivências, de trabalho,
de luta, de sonhos —
imagens arquivadas, jamais vistas,
que hoje revisito pouco a pouco
e sinto falta,
mas não me encontro lá.
Hoje não
Eu luto contra esse dia todos os dias, exaustivamente.
Antes era um dia de cada vez, um dia por vez.
Hoje é uma frase que me acompanha todos os dias.
Hoje não. Não será hoje.
Mas, de forma consciente, venho me fragmentando.
Deixando pedacinhos de mim soltos.
Em tudo que faço, silencio, ouço ou digo.
Onde escrevo, onde publico.
Pedacinhos.
Talvez parte de um quebra-cabeça que não faça sentido
para quem olha hoje...
Caso, em algum momento, essa exaustão me vença,
tudo isso ganhará uma clareza e deixará de ser invisível a olhos nus.
Tudo que é invisível hoje fará sentido na minha ausência,
no momento em que todos aprenderem a ver com o coração
cada pedacinho solto de mim deixado por aí.
E isso só será possível na minha ausência.
Hoje não.
Hoje só me fragmento mais um tiquinho...
Orações Escritas
Senhor, escrevo-Te hoje com o coração cansado, mas ainda cheio de fé.
A fé sempre permanece, mesmo quando parece afogada pelos medos e pelas dúvidas.
Existem tantas interrogações sem respostas…
Sei o quanto falhei ao me afastar ou duvidar.
Tantas vezes, de maneira covarde, me amedrontei.
Sim, porque o medo nos desperta, mas também nos paralisa;
nos tira do caminho, nos faz tropeçar e fechar os olhos diante do abismo.
O medo de cair, por vezes, não nos deixa nem tentar.
Diversas vezes esqueço que estás ao meu lado — e, contra Ti, nada nem ninguém pode.
Mas o Teu amor se faz presente e me alcança nos detalhes.
Teu amor me constrange, pois sou tão imperfeita, tão pequena diante da Tua magnitude e do Teu cuidado.
O Senhor supre as minhas necessidades no meu desespero.
Como podes me amar assim?
E, ao mesmo tempo, como podes permitir tantas coisas?
Tantas ausências, tantas faltas?
Mas, ainda assim, quero Te dizer, Senhor:
a Tua presença me basta.
Eu vejo, eu sinto.
Se cada um cuidasse de si, investindo tempo em curar as próprias dores, em nutrir os próprios sonhos e conquistas, o mundo seria mais leve.
Haveria menos interferência, menos conflito.
Mais paz.
Mais tranquilidade.
Orações Escritas
Entre a Essência e o Silêncio
Em minhas orações, não consigo Te pedir muita coisa que não seja pela minha essência, minha alma e meu caráter.
Sei lá… às vezes acho que não sou merecedora; que pedir pode ser abuso ou atrevimento.
Que no meu quase nada há tanto, que mesmo em meio às minhas necessidades, eu vejo que muito eu tenho — e Te louvo e agradeço.
Eu olho o mundo à minha volta e percebo muitos com tão menos, com quase nada.
Digo isso de forma material, espiritual e até na saúde física.
Mas as minhas dores são invisíveis.
Tenho até vergonha de necessitar ou pedir algo diante da realidade do mundo.
Vivo esse conflito dentro de mim, onde a razão quer sufocar as minhas dores.
Ah, Deus, eu já pedi tanto para ser invisível.
Para que me desviasse dos olhos maus, dos caminhos tortos e das línguas maléficas.
E, de certa forma, tenho me tornado invisível de fato.
As dores da alma não sangram, não têm odor, não podem ser tratadas com curativos.
Por isso são machucadas e reabertas diariamente — como aquele dedinho do pé que, uma vez ferido, tudo parece afetá-lo novamente.
E quem pode dizer que essa dor não é real?
Só porque não é visível, não deixa de existir.
Orações Escritas
Acalma Minhas Urgências
Senhor, escrevo-Te sobre a minha alma e as minhas urgências.
Eu nunca tive pressa — sempre fui tranquila, cheia de sonhos, projetos e anseios.
Mas, ao mesmo tempo, sempre contida, ponderada, paciente.
Sempre soube esperar o tempo do outro e das coisas, respeitando a Tua soberania.
Mas, Senhor, acalma as minhas urgências ou envia socorro.
Aja, Senhor, aja.
Tenho medo de deixar-me atropelar pela ansiedade e acabar desistindo de tentar, de esperar
É cansativo, exaustivo.
Minha mente não para, tentando achar solução, mesmo quando Tu me pões à prova e dizes que sou a menina dos Teus olhos, que tudo vai ficar bem no final.
Mesmo que uses pessoas para cuidar de mim, hoje vejo o Teu amor através delas — essas que têm zelado por minha vida.
O Senhor tem me sustentado através delas, e eu não posso falhar: nem Contigo, nem com elas, nem comigo mesma.
Coloca em meu coração novamente:
O desejo que queima.
Devolve-me a sede de viver.
Traz de volta o brilho dos meus olhos e, junto com ele, a vontade de sorrir — e o sorriso que, a tantos, enchia de alegria, mas que me roubaram.
Não sei… perdi tudo em algum lugar do caminho e não posso voltar para buscá-lo.
Tenho urgências, Senhor.
Ouve o meu clamor de filha.
Pascásio Custódio da Costa e a Empada de Aratu: Um Patrimônio Vivo
Reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial de Sergipe em 2021, a empada de aratu do povoado Terra Caída, em Indiaroba, transcende o sabor para tornar-se um símbolo de identidade e memória coletiva. Seu guardião é Pascásio Custódio da Costa, conhecido como "Mestre Pascásio", que há mais de meio século dedica sua vida a essa iguaria que hoje atrai turistas e fortalece a economia local.
O que muitos não veem, porém, é que essa tradição vai além da cozinha: envolve o trabalho silencioso das catadoras de aratu, mulheres que mantêm viva a técnica artesanal de coleta e preparo do crustáceo, transmitida entre gerações. É delas que nasce o catado minucioso, base não só da famosa empada, mas também de pratos como a moqueca defumada na palha de bananeira, outra joia da culinária local.
Essa rede de saberes — Pascásio, as catadoras e a comunidade de Terra Caída — compõe um ciclo cultural raro, onde gastronomia, memória e pertencimento se entrelaçam. Mais do que um prato, a empada de aratu é um eco do passado que insiste em permanecer no presente, como testemunho vivo da força e do orgulho de um povo.
Eu deixo a maré subir até cobrir tudo.
Não me apresso a segurar o que a água leva.
Deixo que o sal lave o que não serve mais,
mesmo que, por um instante, pareça que nada reste.
Quando a água recua,
vejo o que brilha no fundo:
fragmentos de conchas, pequenos lampejos de vida,
tesouros que só aparecem depois da tormenta.
Não é preciso contar o que a corrente arrastou.
Basta o que ficou,
a beleza simples que resiste
e que só se revela quando o mar se acalma.
