Coleção pessoal de jordana_buquera_1

21 - 40 do total de 42 pensamentos na coleção de jordana_buquera_1

⁠Eu tenho que odiar você
Se não te odiasse
Nessa elegia te citaria
De paixão transbordaria
Na tua folia me esbaldaria
Em um horizonte restrito te encontraria
Na tua ilha de fantasia me perderia
No mar da tua boca mergulharia
No labirinto do teu olhar penetraria
Na tua teia me enredaria
Nessa armadilha me amarraria
A esse risco me renderia
Desse regozijo me doparia
Sem pudores para ti me revelaria
Nesse frenesi de volúpia morreria
Até perder o fôlego de euforia
Se não me preenchesse de ira

Odeio o modo como você mexe em seus cabelos e reclama que eles estão uma baderna. Odeio o modo como fala comigo de modo despercebido e desligado. Odeio o modo como você finge não me notar, ou até mesmo me ignora quando o assunto acaba. Odeio te sentir tão perto, quando, na verdade, você está longe demais. Odeio querer te abraçar, dormir e acordar abraçando um bicho de pelúcia ou meu travesseiro, imaginando ser você. Odeio quando você aparece em meus sonhos, pois quando acordo sorrindo e não te vejo aqui, a tristeza diz “olá”, e tudo perde a cor. Odeio quando você fala de como foi seu dia mas esquece de perguntar como foi o meu, ou não demonstra interesse sobre as coisas que eu falo. Odeio os seus vícios, que fazem com que eu me vicie mais em você. Odeio sentir sua falta e saber que você não sente a minha. Odeio sentir ciúmes de você. Odeio o modo como você me ilude e depois me esquece. Odeio quando me sinto um peso na sua vida. Odeio tanta coisa, sabe? Mas, eu odeio, principalmente, não conseguir te odiar, nem por um instante sequer…

⁠Devora-me o seu olhar inebriado e de luxúria insinua-se

Delatando-se por sua natureza
De alguém que espreita-me como sua presa
Desnudando minuciosamente a minha alma indefesa

Entorpecendo-me com pequenas poções de sedução
Cativando-me na sua prisão de ilusão

Destilando-me no seu jogo ardiloso
Instigando meu instinto vendado e amordaçado

Hipnotizando-me de encanto
e me suprindo desse extremo veneno
Que penetra em mim e extravasa

Num fluxo complexo
Que inspira minha imaginação numa intensa conexão

Nesse ensejo domina o meu desejo em segredo
Em meio a devaneios te invoco
nos momentos insólitos

Pressente e invade o meu templo
Me envolve nesse frenesi e me viola em instantes isentos de tento

Te sinto em sintonia
a se dissolver na minha essência
Até que de amor eu desfaleça

⁠Eu sou...
O teu pecado
Refém do teu costume degenerado
Venerado cálice de veneno destilado
Apreciado como absinto que te inebria
Distinto vício que ao seu instinto
desatina
Intrínseco desejo libertino
no âmago impresso e reprimido
Sórdido delito de um "mito" sádico
Que desfruta o fruto proibido
O hábito de um ávido sátiro
Oculto um segredo conspícuo de uma efêmera e lisonjeira ilusão
Arraigada obsessão de
uma insensata fantasia abstrata
Incrustado sentimento vil e estéril
No seu insano íntimo

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Estou cansada de tanta gente me achar simpática. Quero os que me acham antipática porque com esses eu tenho afinidade: tenho profunda antipatia por mim.
O que farei de mim? Quase nada. [...] Há um limite de se ser. Já cheguei a esse limite.

Procuro o sopro da palavra que dá vida aos sussurros.

Estou cansada. Meu cansaço vem muito porque sou uma pessoa extremamente ocupada: tomo conta do mundo.

Tenho vontade de escrever e não consigo (...) O que escrevo está sem entrelinha? Se assim for, estou perdida.
Há um livro em cada um de nós.

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive,
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Eu, que simbolicamente
morro várias vezes só para
experimentar a ressurreição.

De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é.

O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então – para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa – eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto.

Apesar de sagaz, não compreendo realmente o que está me acontecendo.

Quando penso no que já vivi me parece que fui deixando meus corpos pelos caminhos.

A raiva é a minha revolta mais profunda de ser gente? Ser gente me cansa. (...)
Há dias que vivo da raiva de viver.

Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali.

Não sei quanto às outras pessoas, mas quando me abaixo para colocar os sapatos de manhã, penso, Deus Todo-Poderoso, o que mais agora?

Me sinto bem em não participar de nada. Me alegra não estar apaixonado e não estar de bem com o mundo. Gosto de me sentir estranho a tudo...

Cheguei numa fase da minha vida que vejo que a única coisa que fiz até agora foi fugir, fugir de mim mesmo, do meu nada, e agora não tenho mais para onde ir, nem sei o que vou fazer, fui péssimo em tudo.