Coleção pessoal de JacquelineBatista

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Quando um corpo feminino é violentado brutalmente
É certeza que falta humanidade numa sociedade
Viciada, hipócrita e que se safa impunemente
Homens que representam a podridão
O descaso, o desrespeito, o esvaziamento
Porque se sentem no direito de machucar
Denegrir, ofender e humilhar
Seres desprezíveis que caminham livremente
Assediam, "brincam", diminuem, batem
E consideram normal, porque são homens
São miseráveis escrotos, débeis criaturas
Habitando um corpo racionalizado
Agindo como bicho irracional
Não é o que vestimos, dizemos, fazemos
Não é o meu comportamento que dá permissão
O NÃO é imperativo sempre
O que uma mulher é
Homem nenhum tira
Mesmo machucada, humilhada
Consegue ser muito mais forte
Do que qualquer homem
Talvez por isso estejam despertando
Tanto medo e insegurança
Em uma grande parcela masculina
Que ao não reconhecer seu empoderamento
Buscam através da crueldade seu desmerecimento
É preciso viver bem na diversidade
Não existe melhor ou pior, existe o diferente
Homens e mulheres, juntos, com direitos iguais
Livres para serem o que desejarem
Para ir e vir como quiserem
Não há perdão para a desrazão
Uma sociedade humana e decente
Só se fará através da educação

E da dor me transformo em flor
Metamorfose ausente de pudor
Do líquido espesso e sem rigor
Essa mistura de corpo e flor
Se vê viva ao se expor
Não há qualquer resquício de rubor
Não se compra, não tem valor
É mulher
É flor
[independente de amor]
Mas se amor flor for
Me despetalo ao seu dispor

Romper
Permanência do ser
Distorção sentimento corpo
corpo
Ilusão fantasia escuridão
Ausência que se faz luz
luz
Nudez de pele de carne
Pudor de vestes reforço
esforço
Na tua minha imagem
Desenho que se funde
Finge
Já não sou o que ontem fui
Mas flui
Perturba castiga aflige
Imaterial intocável
Inefável

Um tic tac ao longe lembra que o tempo passa
Lento, constante e ritmado
No abrigo da noite, na companhia
Do copo, da pena, do papel
Devaneio na madrugada
O gosto amargo é doce no final
Me consola como beijo
Deixado na espera da noite passada
Lamentos de horas vãs
Transcritos em versos desconexos
Palavras que dançam à minha frente
Como bailarinas desprovidas de rima
Criaturas noturnas despertam
E se deixam comigo compartilhar
Risos soltos, afagos e sentidos
Noite alta, estou absorvida pela magia da escrita
Alma alerta, desprendida
Um sorriso me vem e sorrio de volta
Nessas voltas um encontro
[entre tantos desencontros...]
Sentimentos enevoados
Deixados ao lado, cobertos, recobertos
Último gole... Dourado
Bolhas de sabor explodem na boca
Anúncio de finitude
De tempo necessário...

Uma coisa eu tenho que dizer
Não há outro igual a você
Ninguém até hoje
Bagunçou minha vida assim
Desarruma tudo, deixa uma confusão
E saí de fininho como se não tivesse intenção
Me deixa largada, desamparada
Recolhendo os pedaços no chão
Não olha para trás, e eu fico vagando
Não sei se te enfrento ou sigo te amando
Não decifro seu sorriso, ou seu olhar angustiado
Você é uma mistura, uma pintura abstrata
Pincelada em tons diversos
Tem ranhuras, mas não me permiti tocá-las
O destino nos propôs um reencontro
O mais inútil ou intenso de todos,
Mas você não me deixa chegar perto
Não sei se choro, se sofro
Ou se dou muita risada
Histeria ou mero desabafo
Não estamos juntos, o que é um alívio
De tão diferentes somos iguais
Te sinto até quando não o percebo
E é nessa ilusão realista
Fábula de poetisa
Que sinto em todos os meus poros
Amor que não pede troca
Você é essa estrela distante
Fonte de meus devaneios constantes

E fui deixando pedaços pelo caminho
Um olhar distraído, perdido na beleza
Um afago no coração aquietado
Vesti-me com a leveza dos sonhos
Compartilhei carinho
Na manhã ensolarada
Ou no entardecer silencioso
Regozijei-me em agradecimento
Descalcei os pés e senti o poder da terra
Mergulhei no espaço esquecida do tempo
Na encruzilhada do caminho
Escolhi o menos gasto
Fechei os olhos da carne
Enxerguei com os olhos da alma
Tão longa a viagem
Tão curto o tempo
Enquanto realidade fui apenas fantasia
Enquanto sonho desabroxei minha verdade
E no despertar do augusto dia
Dei asas a minha liberdade.

O incômodo está sempre nas entrelinhas
Nas etecéteras, nas reticências...
Nem sempre cabe uma vírgula,
Nem tudo se resolve com um ponto.

E ela cuidou da dor
como criança ainda no colo
Acariciou, limpou, alimentou
Enquanto adormecida
A dor era quase inexistente
Mas ela soube suportar
Na exasperação de momentos
À quietude morna
E assim quando ela percebeu
A dor havia crescido e partido
E em repouso ela adormeceu
Agora ela estava livre
E poderia, enfim, apropriar-se
Do que realmente era seu

O corpo descansa na maciez da sombra
Ora e outra brinca com a luz que
Toca-lhe em pequenos segredos
O olhar apagado e a face sem forma
Revelando o que não se permite
Escondendo o que é um total
Despindo-se da máscara do dia
Na certeza perdida por frestas de luz
Que desenha o imaginário em face do real
Sombra e luz tecem a roupa
Que recobre o corpo e liberta a alma
O corpo despido de vazios
E preenchido de histórias
Tantas vezes transformado em memórias.

O coração segue os pés
E vai lenta e delicadamente
Seguindo rastros
Não se apega a obstáculos
Sofre um baque aqui outro ali
Mas é linha que não se desfaz
E juntos, ora a frente, ora atrás
Coração e pés seguem o mesmo caminho
Saboreiam o doce e o amargo
Desse nosso incansável destino.

É chegada a hora
Hora de fazer balanços, deletar lixos, apagar histórias mal resolvidas...
Hora de preparar a terra para semear novas histórias
Limpar a poeira do tempo e organizar prioridades
Hora de deixar no armário do fundo o que ainda pode vir a ser usado
Lançar fora o que nunca serviu direito
Abrir a janela dos olhos e limpar a vidraça embaçada
Dos medos e inseguranças que nunca foram necessários
A hora se faz nesse resto de tempo que ainda resta.

Tudo que criamos para nós de que não temos necessidade se transforma em angústia, em depressão...

A sua irritação não solucionará problema algum. As suas contrariedades não alteram a natureza das coisas. Os seus desapontamentos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar. O seu mau humor não modifica a vida. A sua dor não impedirá que o sol brilhe amanhã sobre os bons e os maus. A sua tristeza não iluminará os caminhos. O seu desânimo não edificará a ninguém. As suas lágrimas não substituem o suor que você deve verter em benefício da sua própria felicidade. As suas reclamações, ainda mesmo afetivas, jamais acrescentarão nos outros um só grama de simpatia por você. Não estrague o seu dia. Aprenda a sabedoria divina, a desculpar infinitamente, construindo e reconstruindo sempre para o infinito bem.

Insônia...
Você chega do nada e toma conta de mim
Me irrito, esbravejo, mas não tem jeito
Quando você vem, vem com determinação
Olho o relógio e os ponteiros parecem preguiçosos
Forço o olhar e um segundo vejo passar
De segundo em segundo o tempo se esvai
Assim como toda minha paciência
Mas já percebi que me irritar com você
De nada adianta ou alivia minha ansiedade
E acabamos travando uma luta
Você com sua sufocante necessidade de me aprisionar
Eu usando de todas as minhas forças para me libertar
Você deixando tudo desperto e alerta
E eu entro no seu jogo...
Se é assim que terminaremos nossa noite
Não importa...
Viva nessa sua ilusão
Hoje você pode me vencer
Mas amanhã...
Amanhã quem lhe vencerá serei eu
E tu, solitária e abandonada
Contará sozinha os segundos do tempo
Pois no sono que me repara
Dormirei na paz que busco e me pertence
Tu és insônia...
E eu...
Eu posso vencer-te no tempo presente.

Quando você se sente só
Acreditando que tudo está perdido
Que aquela nuvem cinza sobre sua cabeça
Ficará lá para sempre
Quando você já perdeu a esperança
Que já se esqueceu de como é ser criança
Acreditando que precisa crescer e vencer
Lembre-se que você pode fazer a diferença
Só você pode mudar o seu mundo
Esqueça o cinza das nuvens
Existe um sol depois delas
Se alguém te menospreza, problema dela
Você é o único responsável por você mesmo
E daí para o que os outros pensam
Você é mais importante
Corte a corda, liberte-se
Alce vôos mais promissores
Vá à busca de outros amores
Não se limite a meros instantes
Você é a parte mais importante
Da sua história, é a única coisa que conta
Não se iluda, não espere
Abra os braços vá ao encontro
Do que você acredita e merece

Todo vício pede um tempo para desintoxicação,
Assim eu também preciso de um tempo
Para poder me livrar de você.
Não é fácil devo dizer.
Quando a saudade vem o corpo sofre,
Sinto dores em lugares que nunca imaginei.
Choro!
O choro lava a alma e ameniza a angústia,
Depois do sofrimento vem a melancolia.
Encolho-me abraçada às pernas
Em um canto qualquer da minha alma.
Ali, sozinha, espero a dor passar
Mais um dia se vai.
Ainda é muito forte o que sinto,
A abstinência de você não é fácil
Mas a amanhã será outro dia.
Um pouco mais de sofrimento
E chegará um dia que meu corpo estará limpo,
E eu poderei caminhar livremente
Sem dor ou sofrimento.
Haverá muito mais luz em meu caminhar
E talvez algum dia reencontre o prazer de amar.

Tenho medo...
Medo de acordar e não ter mais
Um sol para iluminar meu dia.
Medo de atravessar a rua
E me desencontrar do outro lado.
Tenho medo...
Medo dos excessos que tumultuam
Meu simples existir.
Medo da jornada longa e,
Em alguns momentos,
Tortuosa e escura do
Meu enorme desejo de evoluir.
Medo de não conseguir sair
Da ilusão criada para a
Realidade povoada.
Tenho medo...
Medo das transformações
Que me acontecem
Independente da minha vontade.
Tenho medo dos olhos se
Fecharem para o azul que
Colore minha vida cinza,
Tão necessitada de um arco-íris.
Tenho medo...
Medo da solidão que
Escraviza e ameaça a
Serenidade dos meus sentidos.
Tenho medo que meus pés criem
Raízes na aridez da terra
Infértil e seca.
Tenho medo...
Medo que as penas
Que sustentam as asas da
Minha liberdade se percam
No caminho e nunca
Mais retornem ao seu estado de origem.
Tenho medo de partir
Em uma tarde de sol e
Não encontrá-lo do outro lado do horizonte.
Tenho medo...
Medo da eternidade
Vazia de sentimento
Medo de nunca mais vê-lo
Nem sentir os calores que
Aquecem a fragilidade do meu corpo.
Tenho medo...
Medo... Medo... Medo...

Quanto tempo dura uma saudade?
O tempo necessário para tirar da alma
A imagem da beleza, dos pulmões o
Cheiro extasiante, da boca o gosto adocicado
Das palavras ditas com amor e carinho.
O tempo que dura uma saudade é o
Mesmo tempo que leva a luz de uma estrela
Distante para brilhar em teus olhos.
Saudade dos pequenos momentos regados
A gargalhadas e palhaçadas.
Saudade do colo que tantas vezes acalentou.
Saudade do beijo doce e do abraço apertado.
Saudade das brigas que sempre terminavam
Em um sorriso tímido que aos poucos se tornava enorme.
O tempo que dura uma saudade não se mede
Pelos ponteiros do relógio ou pelos dias do calendário
Saudade não se mensura.
Saudade sente-se e pronto, embora nem sempre
Possa, ao final do dia, colocar um ponto.

Quero gritar, mas a minha voz insiste em se calar
Meus poucos instantes de felicidade acabam
Murchos em algum canto da alma
Não sei lidar com esse vazio que cresce
Maltrata e me deixa seca como uma figueira
Que levou do tempo apenas o vento
Soprado nas noites quentes e adormecido
No quase nada de dias partidos
Iludir-me parecia ser a coisa certa a fazer
Mas como um vício, percebi que necessitava
Do estado de alma momentâneo para logo
Em seguida voltar a sofrer o vazio angustiante
Lamber as feridas causadas pelo orgulho e
Arrancar da pele as marcas deixadas por toques
Que dificilmente abandonarão os recônditos da memória
Ver-me sufocar na noite engolindo lágrimas
E acordar para o dia cinza com restos de ontem
Loucas as minhas vontades e absurdamente infeliz
Minha verdade transvestida de nada com luz
Bruxuleante e esmaecida
Pobre vida desperdiçada e esquecida.

Todo dia é assim
Ele senta na janela e conversa com o vento
Ninguém sabe do seu pensamento
Já tentei chamar sua atenção
Mas ele nem olha pra mim
Já compus até uma canção
Propus entregar meu coração
Mas ele é indiferente
Sequer me vê na sua frente
Faço desenho na calçada
Com meus sapatos barulhentos
E ele só da atenção para o vento
Finjo ter perdido alguma coisa
Lanço-lhe um olhar pedindo ajuda
Ele olha, mas não enxerga
Sigo caminhando na calçada
Vou pedir ao senhor do tempo
Que por misericórdia venha
Transformar-me em vento
Assim aproximo-me de teu rosto
E beijo os lábios que queria
Ver sorrir para mim
Ao me dizer um simples bom dia!