Coleção pessoal de FRANCISCOJUVANSALES

Encontrados 18 pensamentos na coleção de FRANCISCOJUVANSALES

A SAGA DE UMA MOÇA RETIRANTE

Altura mediana, fina e frágil; cabeça bem formada; cabelos claros ondulados lhe escapava pelos ombros indo até os quadris; olhos intensos, cor de mel de tons amarelo âmbar ou dourado transparente; faces rosadas, sorriso cativante, predicados de beleza que faziam dela a moça mais bonita do lugar em que morava.

Mergulhada em uma vida de modéstia, recatada, reservada, era uma moça romântica, sentimental, inteiramente relaxada pela ociosidade, livre de tudo, vítima fácil de sedução pelo drama da pobreza e da ingenuidade por parte dos amantes de ocasião.

Caminhava por caminhos tortuosos de aclive áspero, solo pedregoso, pouco fértil pela escassez de chuvas, farnel ao ombro, a túnica arrepanhada à cinta, beirando as margens dos riachos secos com cacimbas de águas salobras e escuras pelas folhas dos arbustos e pelos gravetos retorcidos. Voltando os olhos por extensão sem fim, viu a noite baixar o seu manto escuro pela vastidão do espaço, onde só se ouvia o cantar agudo e alto da cigarra nas árvores de mata seca. Saiu-lhe do coração um suspiro profundo, quando a lua e as estrelas iluminaram radiosamente o céu com pequenos lumes que piscavam no alto do céu.

Acordou num certo dia, sentindo um silêncio sepulcral em seu entorno, pôs o saco nas costas e foi-se embora para a cidade grande e nunca mais retornou à terra natal.

Na nossa caminhada diária, vamos nos afastando lentamente, vagarosamente, pausadamente e, num certo dia, percebemos que a nossa presença ou ausência não faz diferença.



No final, restam-nos a roupa que confeccionamos com os fios que tecemos com esforço e a casa de madeira como pecúlio perpétuo.

Antes, merecemos desfrutar as coisas boas que nos são emprestadas aqui na terra.

A ideia da vida me instiga, me incita - não no sentido de querer compreender a espécie ou natureza humana antropologicamente, ecologicamente ou nos demais campos de estudo científico -, mas naquelas situações em que a metade da nossa vida depende de nosso controle e a outra metade escapa do nosso monitoramento, quando todas essas circunstâncias são complexas, complicadas ao entendimento do homem comum, pois tudo está misturado, coligado em seus elos de difícil domínio por nossa parte. Mas o que está ao alcance da minha ignorância, tento rabiscar as mais simples apresentações de ocorrências existenciais, quando possível, de maneira comparativa a diversas formas como se manifestam ou ocorrem.

Comparo a vida com um rio, porque ambos têm nascente, corrente e foz.

A vida também é muito semelhante à uma árvore quando ambas nascem de uma semente, criam raízes, desenvolvem o tronco, produzem caules, folhas, flores e frutos, florescem e reflorescem muitas vezes e, finalmente, retornam à terra, como é o propósito da natureza da vida.

OS FIOS QUE TECEM A VIDA

Não é nada fácil entender a vida diante os incontáveis laços que se conectam no mundo inteiro, quando são muitos os fios que tecem suas tramas múltiplas e complexas que desafiam a capacidade humana em encontrar soluções para as diversas versões do jogo da realidade nua e crua e a sutileza do imaginário de sonhos e ilusões.

Ao desenrolar os fios do novelo chamado vida, esta é como um labirinto, cheio de entradas repletas de curvas e paredes, que nos levam - diferente de Teseu que conduzia um novelo de linha para sair do labirinto - a caminhos desconhecidos e a novas alternativas sem a certeza de superação dos desafios.

Na luta constante da tecelagem cotidiana dos inúmeros fios necessários à fiação, semelhante a navegar em mar revolto, a pergunta que se faz necessária é: qual o porto seguro do continente, da cidade, da ilha ou do abrigo, indicado no mapa do atlas da vida, a ser seguido pela humanidade, pela sociedade nesse trânsito inseguro da violência que banaliza o crime e a morte e faz terra arrasada na infinita provisoriedade da vida do ser humano, nos tirando a calma, o sossego e a tranquilidade?

Na eterna busca pela sobrevivência, os homens se mostram Prometeus teimosos, com semelhanças e diferenças, ao transgredirem os limites da harmonia social e da felicidade individual. Tudo o que o homem pode fazer, ele está fazendo, cedo ou tarde, a custo e risco elevado para sociedade, que alguns dizem não está ainda preparada; outros, que sim.

A principal consequência desse processo é permitir que os fios sejam tecidos através das tecnologias e ligados com maior profusão até agora não vista à uma rede infinita de máquinas inteligentes com novas possibilidades de manipulação da natureza, acarretando possíveis riscos irreparáveis a todas as espécies de vida do planeta.

O HOMEM E A NATUREZA

A natureza não pode ser vista simplesmente como um conjunto de belas paisagens, animais, plantas e elementos naturais. Evidente que a definição de natureza depende da percepção que temos dela, de nós próprios, da finalidade que damos para ela, não se restringindo apenas aos animais, às plantas, aos rios, às montanhas etc., mas também ao modo como enxergamos essas coisas, integradas a um conceito que chamamos de natureza, referindo-se a toda matéria e energia do universo físico contidas em um processo dinâmico de regras próprias estudadas pelas ciências naturais, como a física, a química e a biologia.

Homem e natureza estão em íntimo relacionamento de encontros e desencontros, por isso precisamos ousar travessias mais arriscadas através da reflexão sob uma superfície firme no propósito de um caminho certo e garantido sem a crença única num destino pré-determinado.

É a experiência que nos ensina o valor dos encontros e desencontros que a vida permite com o todo. Por isso talvez nada mais seja do que uma provocação do disso e daquilo associados à ideia do amanhã cheio de interrogações, de tantas perguntas que o tempo não respondeu ou que teremos qualquer garantia de uma resposta adequada.

Pelo fato do homem e a natureza não serem perfeitos, estamos em constantes partidas e chegadas, idas e vindas, seguindo à deriva como num barco à vela içada pelo vento entre tempestades e calmarias, altos e baixos, nos surpreendendo todos os dias com situações diferentes de escolhas sob os riscos de erros e acertos que a vida nos proporciona, parecendo que cada ser vivo cuida de sua própria vida, sem influenciar ou ser influenciado por outros, não há dúvida nenhuma de uma íntima interdependência entre os seres vivos e a natureza com um todo.

De que nos valerão o dinheiro, o ouro, os diamantes, palácios, ciência, tecnologia e riquezas outras, quando não existirem mais florestas, montanhas, rios, enfim, atingirmos a ruptura entre o mundo natural e o social, para só aí abrirmos os olhos e enxergarmos os problemas que não existiriam caso não chegarmos ao consenso para a solução possível entre desencontros e encontros da natureza e do homem?

O CAMINHAR PELA VIDA

Como imaginamos ser hoje a nossa vida?

Essa pergunta não me parece fácil de resposta, pois de repente a vida vai ficando para trás como estivéssemos observando uma estrada através do espelho retrovisor do carro em que viajamos, pois quanto mais seguimos à frente mais as coisas ficam para trás. Com o carro sempre andando sem parar e as imagens se distanciando, dando lugar a novas paisagens às quais tendemos nos adaptar a cada viagem da nossa existência.

Em nosso caminhar pela vida, as coisas normalmente não aconteceram de acordo com o que acreditávamos que elas fossem. Desejamos muito “sucesso” e possivelmente já tenhamos experimentado o que desejávamos tanto tê-lo.

Quanto aos planos traçados – na época passava um turbilhão de coisas nas nossas cabeças - podemos identificar algumas realizações pelas quais nos orgulhamos de ter feito ou participado. Mas também muitas perguntas com respostas parciais e até mesmo sem resposta. Entre essas perguntas, quais os passos dados em direção à realização dos nossos sonhos? Quais os limites que a vida nos impôs quando poderíamos ter feito tudo o que queríamos e não fizemos? Quais as situações ou obstáculos que simplesmente achamos intransponíveis? O que realmente pesou no nosso dia a dia? Foi uma tarefa, uma atitude ou uma condição qualquer que nos impossibilitou aliviar das costas o peso do fardo que carregamos?

A essa altura da vida, podemos até ter identificado algumas coisas como, por exemplo, a perda de tempo que nos privou descobrir o caminho mais iluminado em nossos passos a procura do nosso objetivo. Nossas dúvidas ou hesitações certamente serviram de obstáculos às nossas realizações ou na verdade optamos pela leveza insustentável quando o peso da responsabilidade falava mais alto na subida da montanha.

Aprendi que a vida não nos dá limites, mas sim obstáculos. Os limites são impostos por nós mesmos. O maior obstáculo da vida é achar que não conseguiremos vencê-lo e a fuga dos problemas é a maior enganação que podemos nos impor quando, ao contrário, devemos nos fortalecer nas dificuldades e nunca sermos vencidos pelos obstáculos ou pelas limitações de nossas crenças inconfessáveis.

A VIDA É O MAIOR LIVRO

O título VIDA É O MAIOR LIVRO deste texto tem o sentido mais amplo do que o período decorrente entre o nascimento e a morte da espécie humana, significando o estado de atividade incessante comum a todos os seres que já existiram e existirão.

Desse modo, a vida é o maior e o mais eloquente livro do mundo. Para ele tentei encontrar as palavras que pudessem dar uma definição exata do seu conteúdo, mas não encontrei uma definição clara, concisa, exata devida a sua incomensurabilidade e complexidade. Então, apelei à sensibilidade, à imaginação, à inspiração da simplicidade, da intuição e conclui - mas nunca a resposta intuída será a certa ou próxima da verdade - que o livro em foco não se serve do código linguístico escrito, esse normalmente utilizado pelos grupos sociais para efetivarem a comunicação, quando é necessário descodificar os signos para a obtenção da mensagem a ser dada. Ficou-me entendido que não foi com a invenção da palavra escrita que o maior livro – a vida – começou a ser escrito. O seu início não fora escrito em nenhum lugar, e o que foi escrito a muitos séculos atrás, fora destruído pelo tempo, uma grande parte permanece enterrada, está sendo procurada e ainda não encontrada. Então, diferente do modelo convencional dos livros usuais, no livro da vida não é possível separar a introdução do desenvolvimento e o seu final ou a sua conclusão, lógico, não temos previsão nenhuma como será.


Também não conhecemos o real significado de tudo que foi ou está sendo escrito pela autora. Temos apenas uma tênue ideia do seu roteiro, do enredo, dos personagens, pois incontáveis páginas são acrescentadas em cada momento ao seu conteúdo composto de incontáveis, ilimitadas partes de todos os saberes conhecidos pela humanidade e, como principal entre elas, os livros menores escritos por cada um de nós, que se juntam ao livro maior e aqui ficarão para sempre. Ou não?


Na escola, em que o livrão é adotado, estamos todos previamente matriculados. As lições são autoexplicativas. Os ensinamentos transmitidos ao mundo têm a marca, o timbre distintivo da experiência (sabedoria), não que seja a única, mas, talvez, a melhor que temos.

O que nos basta é inteligência para interpretarmos as matérias lecionadas em suas aulas pela mestra-mor - a mais sábia, culta, erudita - e fazermos os exercícios, os trabalhos que nos competem como alunos inteligentes e responsáveis pelo cumprimento de seus deveres.


Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.

Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies.

⁠VIDA: UMA VIAGEM DE ESTAÇÃO À ESTAÇÃO
A vida é assim: começo, meio e fim, também uma sequência, sem intervalo. Dada a partida, percorremos estação por estação até chegar à última, onde descemos para descansar, sem retorno.
Viagem fascinante onde percorremos estradas, lugares, vales e montanhas, vislumbrando paisagens e imagens encantadoras que só terminam na linha longe do horizonte. Os caminhos são planos, íngremes, retos e sinuosos. Os lugares com seus tons coloridos, seus sons e seus cheiros e sua gente. Os vales e montanhas com seus cimos e abismos, suas flores em cores e fragrâncias mil.
Nessas viagens percorremos diferentes estações efêmeras marcadas em todos os momentos por suas características específicas em que se faz necessário saber chegar, ver, aprender, ousar, conquistar a sobrevivência em ocasiões de calmaria e tempestade, de calor e frio, de dor e sofrimento, quando em cada uma as paisagens se modificam, as pessoas mudam, as necessidades se alteram, mas o trem segue adiante de estação à estação.
A primeira estação é a infância, estádio de inocência e proteção; a segunda, a adolescência, época de intranquilidades, de mudanças e incertezas constantes; a terceira, período da maturidade, onde flutuamos entre estabilidade e instabilidade; e a quarta, a velhice, tempo de experiência e sensatez.
Além dessas quatro estações de passagem obrigatória, há as estações intermediárias, aquelas em que pensamos que a vida poderia ser outra e não somente outra, mas um número infinito de opções, como uma vida em outro lugar com pessoas diferentes, pensando e fazendo outras coisas. Então, descobrimos que a cada momento temos inúmeras possiblidades e aí nos damos conta que fazemos uma única coisa, que é aquela de percurso de rotina automática, operando de segundo a segundo, numa simplificação cruel, feroz, atroz, desumana ante as infinitas possibilidades de mundos possíveis e não uma única e rudimentar vida. Isso é como renunciarmos a todas as opões possíveis e optarmos por aquela que conseguimos encontrar como solução de vida melhor. Então, se é assim, sabemos o que queremos e onde queremos chegar. Ledo engano.
Em cada estação, o caminho nunca é em linha reta e não temos o controle total do tempo. Muitas vezes, chegamos fora do horário e, no espaço de alguns minutos, perdemo-nos no decurso da nossa estada, ficando inelutavelmente esperando numa determinada estação em que cada minuto é precioso e a vida passando inexoravelmente com seus mistérios profundos, sendo absolutamente impossível sabermos contar a nossa história por limitados que sejam os fragmentos em que nos dividimos.
Independentemente da estação em que nos encontramos, é importante lembrar que a vida é uma jornada em que cada dia o sol nasce e se põe em seu crepúsculo na linha do horizonte entre o azul do céu e o manto da escuridão clareada pela lua e pontilhado pelas estralas, quadra para aprendermos com as mudanças, seguirmos em frente e aproveitarmos em uma delas, se possível, sentados no trem, com as nossas amizades, amores, paixões e as saudades.

⁠ILHA DE BELEZA ALÉM DA IMAGINAÇÃO (2ª VERSÃO)
O título deste texto é uma tentativa minha de reproduzir um sonho que tive de uma ilha encravada no meio de um oceano, circundada por montanhas espessas de florestas, vales e desfiladeiros íngremes, de suave atmosfera, onde havia uma cidade em forma de um condomínio de casas luxuosas e habitantes muito ricos. O lugar era de exuberante riqueza e inigualável beleza, cujo título diz, reflete, justifica bem o sonho, que ora descrevo.
Encantador é o adjetivo que se refere a algo que encanta, fascina ou envolve qualquer ser humano pela emoção da magia do caso descrito abaixo. Portanto, esse foi o termo mais apropriado que achei neste momento para classificar o lugar maravilhoso, admirável, arrebatador, atrativo e repleto de beleza exuberante, como a ilha com a qual sonhei.
No sonho, o acesso à ilha era feito exclusivamente por iates de muito luxo, e todo o lugar combinava com os habitantes do local que levavam uma vida suntuosa, opulenta, ostentada, cenário só comparável aos exibidos em filmes de ficção.
Sendo tudo fora do comum naquele lugar, um fato inusitado me chamou a atenção, que merece destaque. Entro numa casa desabitada, parecendo ter sido abandonada pelos seus proprietários, com muitas portas e janelas, todas abertas, os itens do mobiliário eram milionários e muito bem conservados, entre estes um piano de cauda de altíssima qualidade, que reproduzia ininterruptamente uma música que preenchia todos os ambientes, cuja sonoridade era a mais pura pelo encanto de emoções ali existentes. A sensação era de uma cena representada por um concerto mais prestigioso do mundo.
Em outra ocasião, tendo eu retornado ao imóvel, encontrei dois homens furtando tudo o que se encontrava em seu interior, deixando a casa completamente vazia, enquanto ninguém se importava com a ocorrência do fato.
Acordei e o sonho foi interrompido. Quem nunca teve um sonho diferente, que instiga a nossa curiosidade sobre o que ele quis dizer?
De acordo com os psicanalistas, incluindo Freud, os sonhos significam nossos desejos reprimidos, uma espécie de alucinações, uma válvula de escape de ânsias insatisfeitas. Para mim são semelhantes a filmes de engenhosas concepções insólitas, fantásticas, esquisitas, confusas, assustadoras, truncadas, surpreendentes, obscuras, surrealistas e misteriosos que, na manhã seguinte, quando tentamos reproduzi-los, oral ou por escrito, só restam poucas imagens obscuras.

⁠A VOZ DO INDIZÍVEL

O indizível é um sentimento que fascina e desafia nossa compreensão e capacidade de comunicação. É algo que está além das palavras e da linguagem, sendo muitas vezes associado a experiências emocionais profundas através da meditação, da contemplação da natureza, da prática e da apreciação da arte como a pintura, escultura, música, poesia e muitas outras expressões com a capacidade de evocar emoções e sensações que sentimos, mas que não somos capazes de externalizá-las com toda a pungência escondida em suas entranhas.

O indizível é aquele espaço vazio da experiência vivida, quando inesperadamente nos faltam as palavras no momento em que mais necessitamos para dar vazão as nossas emoções de sentimentos profundos que nos tocam o coração, quando na ocasião fortuitamente surge aquele hiato, intervalo, vácuo, omissão, para dar o recado da história inteira. Imaginemo-nos diante de uma paisagem deslumbrante, no topo de uma montanha, onde sentimos uma profunda admiração e conexão com a natureza, quando é custoso encontrar as palavras certas para descrever essa experiência num texto escrito ou falado, essa sensação se torna algo que se apresenta além da linguagem, isto é o indizível comum ao escritor, poeta e a outros amantes do pensamento além do comum.

A expressão do indizível é mais visível quando as palavras são limitantes em nossos enlevos, arrebatamentos, espantos, êxtases e fascinações, onde o silêncio nos convida a estarmos presentes e a nos conectar com o indizível de uma maneira mais eloquente, quando nos calamos como estivéssemos anestesiados por força maior dos sentidos.

A beleza do indizível reside na capacidade de nos lembrar da vastidão e complexidade da experiência humana de que nem tudo pode ser explicado ou compreendido através da linguagem, e que a riqueza de emoções, experiências e ideias estão além das palavras, que dizem quase tudo, mas não suficientes para falar do inefável que se encontra abaixo do estrato de muitas coisas existentes, mas que não estão tão claras nas nossas comunicações, quando imprescindíveis, essenciais.

Mesmo que o indizível não possa ser totalmente expresso através das palavras, isso não significa que devemos desistir de tentar a busca pela expressão do indizível, parte essencial da experiência humana. Para isto temos à nossa disposição as figuras de linguagem, como metáforas, as alegorias, os símbolos, enfim as artes, que também são formas de comunicação não verbal e que servem para transmitir nossas mais íntimas sensações veladas, latentes, obscuras, sentidas pela nossa alma e nosso coração, quando o indizível se faz presente.

Texto inserido no meu segundo livro ainda não editado.

⁠NOSSA CAMINHADA PELA VIDA

A nossa vida não tem um propósito específico. Ela é uma oportunidade para experimentar a existência em sua totalidade e que cada indivíduo deve encontrar seu próprio caminho para a realização pessoal. A vida é uma jornada de conhecimento e crescimento pessoal, que cada um de nós deve buscar sua própria verdade individualmente, estando presente no momento necessário e consciente do que está acontecendo ao seu redor.

A vida é uma oportunidade para experimentar a existência em sua totalidade no que fazemos ou deixamos de fazer, como experimentamos cada momento de nossa existência. Importa-nos vivermos o momento presente e estarmos conscientes do que está acontecendo ao nosso redor. Às vezes perdemos a vida por estarmos presos ao passado ou preocupados com o futuro.

Temos a nossa experiência interior e ela é uma parte do todo de nossa vida, desde a origem até o fim. Se conhecemos esta fração da nossa natureza acontece é possível mergulharmos nos mistérios do universo da vida e enxergarmos suas variáveis de várias maneiras possíveis.
A ideia é buscarmos, aprofundarmos a nossa busca, perguntarmos de todas as maneiras e ângulos, insistirmos na obtenção das respostas. Se dizemos "eu não sei", então vamos atrás da possibilidade de conhecer as questões abertas de nossa vida.

O mais importante propósito da vida é encontrarmos felicidade – implica alegria, saúde e paz - e isso só pode ser alcançado quando estamos bem consigo mesmo e com o mundo, evoluirmos e crescermos como seres humanos na busca do conhecimento, da sabedoria, conscientes e dignos em nossa caminhada pelos caminhos e pouco tempo a nós reservados.

“Uma das trágicas coisas que eu percebo na natureza humana é que todos nós tendemos a adiar o viver. Estamos todos sonhando com um mágico jardim de rosas no horizonte, ao invés de desfrutar das rosas que estão florescendo do lado de fora de nossas janelas hoje.”― Dale Carnegie

⁠AÇUDES QUE SANGRAVAM SEMPRE

As memórias latentes, insondáveis, da infância rebrotam como imagens projetadas em telas grandes de cinema e uma dessas eram os açudes de paredes de areia erguidos com as mãos quando a água da chuva corria pela terra, o que representava uma grande emoção do meu mundo infantil.
Grande era felicidade do menino vendo a água presa alongando-se ao longe. Mas, de repente, o açude arrombava; reconstruía-o e, logo depois, vinha outro arrombamento, e assim, mesmo após repetidos esforços, a parede encharcada não sustentava a correnteza, indo tudo de água abaixo, ficando só o cadáver da barragem sangrante para a tristeza do menino construtor de ilusões.

Quanta semelhança tinham esses açudes com a vida de todos nós. Vivemos invariavelmente erguendo as paredes da nossa existência, enquanto a correnteza nos escorre rapidamente. Isso mesmo, os caminhos são difíceis e as andanças não nos deixam dúvidas que os açudes estão sempre arrombando e as calafetações das sangrias, indubitavelmente incompletas.
A vida tem muito de uma pintura em estado inacabado.

Olhando para trás, sinto que as dores sentidas eram lufadas de ventos acariciando a minha face, sem vislumbrar a corrosão que estava para chegar com a tempestade ou o fim da chuva. Não há como não chorar nas noites tempestuosas, sem a esperança de um sol radiante no dia seguinte.
Não sei para que serve o retrocesso, mas gostaria de ver essas imagens do tempo como lembranças ternurosas e não como sonhos esgarçados por aí para recompormos a nossa infância que se perdeu na caminhada da vida.

Tento obter respostas para a existência tão efêmera e vejo que não tenho mais tempo para pensar nela, pois tudo é muito fluido por entre os dedos.
O fato é que nada se sustenta, tudo se dissolve no ar, ficando apenas a imagem da correnteza que levava as construções de areia, só ficando poucas raízes agarradas à terra, que ainda não se deixaram ser levadas, que nada mais são do que visões de sonhos durante sonos profundos.

Nada melhor para expressar o que balbuciei acima do que os dois tercetos extraídos do poema Prelúdio, de Bernardo Guimarães, que transcrevo abaixo:
“Quando o presente corre árido e triste/E no céu do porvir pairam sinistras/As nuvens da incerteza, Só no passado doce abrigo achamos/E nos apraz fitar saudosos olhos
Na senda decorrida”.

O presente texto faz parte do meu primeiro livro intitulado REFLEXÕES TECIDAS EM PALAVRA, editado pela Amazon, tanto digital como impresso.

⁠NO BAR OU À SOMBRA DA CASTANHOLA

Anos atrás, havia uma taberna à beira de um açude que um homem a frequentava, sempre aos sábados e domingos, ali permanecendo do amanhecer ao entardecer, bebendo na mesa ou à sombra da castanhola e o olhar fixo na paisagem, diante do seu dilema de sentimentos e emoções, não havendo para tais sensações palavras que o exprimam, pois não tenho os recursos necessários de linguagem para representarem fidedignamente a percepção de tudo em sua forma e conteúdo, no seu conjunto, em sua síntese, de seu entorno.

Terra, céu, sol, água, tudo era encontrado com abundância naquele grande lago que empolgava o coração e a alma de quem vivenciou todos os elementos ali dispostos.

Essa paisagem parece não ceder em seus pensamentos, no espaço e no tempo de sua vida existencial. A história pessoal é semelhante a um filme que não sai da nossa mente, nos perseguindo com severidade pelo que fizemos ou deixamos de fazer, onde cada um encontra o seu próprio significado ou o propósito do movimento e oscilações de seu mundo individual, conforme sua própria compreensão, experiência e seu código de valores.
Todos nós trazemos marcas da vida, principalmente ferradas no corpo e na alma pelos momentos de alegrias e tristeza, dores, perseguições, falsidades, inveja, decepções etc., também oportunidades de novos desafios para recomeços para irmos em frente.

Tudo que tem ou faz relação à nossa terra natal são flagrantes imprevistos transfigurados de momento a momento pela varinha mágica da natureza de tudo o que existe, mostra-se e manifesta-se em nosso mundo, que nada mais é do que um grande teatro, onde todos somos apenas espectadores.
Quem tem a mania, o jeito severino de se encantar com as belas coisas da sua terra, onde conhecemos sua gente, seus cantos e recantos de mil encantos, sente, sim, muito orgulho por aquilo que ela representa em nossas vidas.

Vão rareando cada vez mais as oportunidades de visitar esse lugar, mas que de todo não se apagou o gosto do passado em que o homem teve ocasiões e oportunidades preciosas para conhecer histórias genuínas contadas por pessoas com as suas mais variadas experiências de vida.
Nesse quadro remoto no tempo, moro junto com as minhas lembranças de momentos bons do passado que não voltam mais, podendo ser chamadas saudade, que me acompanha silenciosamente em todos os passos até o último dia de vida.

Hoje, o boteco já não existe no local. E, à sombra da castanhola, jaz um monumento de um peixe (tilápia) que não olha nem vê o cenário com os mesmos sentimentos de enlevo como fazia o homem de outrora.

O texto acima faz parte do meu primeiro livro intitulado REFLEXÕES TECIDAS EM PALAVRAS, editado pela Amazon, tanto digital como impresso.

⁠ILHA DE BELEZA ALÉM DA IMAGINAÇÃO

O título deste texto é uma tentativa minha de reproduzir um sonho que tive de uma ilha encravada no meio de um oceano, circundada por montanhas espessas de florestas, vales e desfiladeiros íngremes, de suave atmosfera, onde havia uma cidade em forma de um condomínio de casas luxuosas e habitantes muito ricos. O lugar era de exuberante riqueza e beleza, cujo título ILHA DE BELEZA ALÉM DA IMAGINAÇÃO reflete e justifica bem o que quero descrever.

As palavras são poderosas para expressar nossos pensamentos. Têm um poder incrível para inspirar, evocar imagens, emoções, e ilusões sentidas ou vividas em nossa vida ou na mente. No entanto, às vezes, as palavras não são suficientes para transmitir tudo o que sentimos, como algo que está além da imaginação de tão surpreendente, inesperado ou grandioso, difícil de conceber e mais ainda de exprimir através das palavras de que dispõe a minha cápsula craniana de tal grau desprovida de uma substância chamada neurônios inteligentes.

Pois bem, encantatório foi o adjetivo que se refere a algo que encanta, fascina ou envolve qualquer ser humano de encantamento ou magia, portanto, o termo mais apropriado que achei neste momento para classificar o lugar maravilhoso, encantador, admirável, arrebatador, atrativo e repleto de beleza exuberante, como a ilha com a qual sonhei.

No sonho, o acesso à ilha era feito exclusivamente por barcos de muito luxo, o que combina, se encaixa com os habitantes do local que levavam uma vida suntuosa, opulenta, somente ostentada, exibida em filmes de ficção.
Sendo tudo fora do comum naquele lugar, um fato inusitado merece destaque: entro numa casa desabitada, todas as portas e janelas abertas, os itens do mobiliário milionário e muito bem conservado, entre estes o sistema de som ligado ininterruptamente, parecendo tal propriedade ter sido abandonada pelos seus proprietários por causas desconhecidas. Em outra ocasião, tendo eu retornado ao prédio, encontrei dois homens furtando tudo o que se encontrava em seu interior, deixando o imóvel completamente vazio, enquanto ninguém se importava com a citada ocorrência.

Dizem que os sonhos são uma espécie de alucinações de desejos e segredos inconfessáveis, uma válvula de escape de ânsias insatisfeitas. São semelhantes a filmes de engenhosas concepções surreais, insólitas, fantásticas, que na manhã seguinte nos restam poucas imagens nítidas, quando tentamos reproduzi-los, oral ou por escrito. Em geral são esquisitos, confusos, assustadores, truncados, surpreendentes, obscuros, surrealistas, herméticos e misteriosos. Uma história por demais confusa, sem exatidão, fora da realidade, com início e fim imprevistos.

O texto acima faz parte do meu segundo livro ainda não editado.

Perdemos o apetite de viver quando nossas paixões são saciadas.

⁠O alpiste com que alimentamos o pássaro preso na gaiola é como que fosse o pagamento pela renúncia da sua liberdade submetido à humilhação do cativeiro, mas que nada o compensa, pois ele já tem o campo como morada e o céu sem limite de espaço para voar.

Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todos os vernizes que nos aplicaram e que nos impede de avançar pelo caminho mais curto já desbravado, balizado e pavimentado?

Há coisas que nos trazem boas e ruins recordações pelos insondáveis caminhos que provocam uma forte inquietação nos alicerces dos nossos sentimentos, estimulando-nos o plasma do delírio, no sentido de tudo querer dizer, ficando tais sensações desses tempos vividos e sentidos em nossas vidas.

Podem me chamar de ingênuo, mas é assim que imagino o meu jardim cultivado de flores raras: quanto mais colorido e perfumado, mais belo será o mundo em que vivemos. E é através da simplicidade que conseguimos o belo que nos enche os olhos e nos leva ao enlevo da vida.

Às vezes, decidimos embalados pelo aplauso alheio e não convictos de que conhecemos o templo da nossa alma, o museu de nossos sentimentos, agindo por emoções de nossas verdades que se escondem por detrás da porta cerrada, muitas vezes sobre os sacrifícios dos mais fracos, vantagem que não nos vale a pena usufruí-la quando obtemos.

⁠A vida como a natureza se refaz, se reinventa, se reprograma constantemente, daí essa dinâmica da vida, que nunca morre.

A vegetação estava toda seca, triste com o que o ser humano está fazendo com ela. De repente, a chuva cai lavando nossos erros e a natureza nos presenteia com suas cores e nos dá mais uma chance de recomeçarmos e refletirmos sobre nossas ações que desestabilizem o meio ambiente em toda sua extensão.

Nesse quadro remoto no tempo, moro junto com as minhas lembranças de momentos bons do passado que não voltam mais, podendo ser chamadas saudade, que me acompanha silenciosamente em todos os passos até o último dia de vida.

A nossa história pessoal é semelhante a um filme que não sai da nossa mente, nos perseguindo com severidade pelo que fizemos ou deixamos de fazer, onde cada um encontra o seu próprio significado ou o propósito do movimento e oscilações de seu mundo individual, conforme sua própria compreensão, experiência e seu código de valores.

Todos nós trazemos marcas da vida, principalmente ferradas no corpo e na alma pelos momentos de alegrias e tristeza, dores, perseguições, falsidades, inveja, decepções etc., também oportunidades de novos desafios para recomeços para irmos em frente.

Tudo que tem ou faz relação à nossa terra natal são flagrantes imprevistos transfigurados de momento a momento pela varinha mágica da natureza de tudo o que existe, mostra-se e manifesta-se em nosso mundo, que nada mais é do que um grande teatro, onde todos somos apenas espectadores.

Quem tem a mania, o jeito severino de se encantar com as belas coisas da sua terra, onde conhecemos sua gente, seus cantos e recantos de mil encantos, sente, sim, muito orgulho por aquilo que ela representa em nossas vidas.

As narrativas da vida são compostas por flashes densos de lembranças que vêm do passado, atravessam o presente e se perpetuam no tempo. Enfim, são flagrantes reencenados de momento a momento por nós atores e espectadores no grande teatro da nossa vida.

Sem dúvida o tempo é um voo panorâmico em todas as direções nas assas da imaginação, lembranças para as quais não existem palavras que exprimam toda a emoção carregada de tanta significação. Esses momentos sentidos e vividos no tempo nos revigoram a vida com boas recordações.

Somente o coração, a mente, a consciência, sei lá o que, expressam, dizem e confirmam.

⁠Na realidade o tempo faz todo sentido de adeus e saudades. Vale a apena juntar pedaço por pedaço do que sobra em nós de lembranças recolhidas em nossas mentes, coração e olhos. As recomendações às vezes maltratam, mas não matam.