Coleção pessoal de flabrito

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A gente se apega a tanta coisa efêmera, tanta coisa. A gente, na verdade, se apega ao apego.

PEREGRINAÇÃO

amor

vagueador

vagueia

dor

Eu não sei de nada. Não sei de nada. E eu gosto dessa ignorância, dessa quase inocência de desconhecer as coisas para me permitir não depender delas.

ATO DE CONTRIÇÃO

Que para todo amor pagão
haja salvação

porque gostar é incerto
e se entregar é incerto

e ser gostado
e aceito
é incerto

e a única certeza é esse coração que ignora

e arrisca

e bate

E nesse hábito meu de escancarar doçuras, tudo vira afeto - mesmo o que ainda não existe.

Tantos amores eu tive. E grande parte deles eu nem reconheci.

Fale-me de qualquer coisa que possa, como um dedo carinhosamente pousado sobre um lábio incerto, fechar meus olhos para o mundo que não nos pertence.

TRECHO

Encontro num pedaço de vida
um pedaço de mim
que desimpediu-se
ganhou fôlego
e aventurou-se correndo trecho

agora
tampouco sei do pedaço de mim
que ficou

é que por onde andam
pedaços desimpedidos
de passos despedaçados
nem mente
nem lente
alcançam

Cultivo aquele tanto de dor necessária para ser feliz. Porque é impossível reconhecer que se é feliz sem, em algum momento da vida, ter sido sensibilizado pela dor de uma ou outra coisa.

Solidão, solidão mesmo, é dentro.

Na vida, a gente (es)colhe o que planta.

A verdade é que eu não seria a mesma sem as minhas (des)ilusões.

Eu não espero que a vida seja fácil. Eu espero que a vida seja justa.

Não sei não esperar. E o faço meio disfarçada, meio olhando pelo buraco da fechadura para ver se o que desejo chegará sem me flagrar à sua espera, mas espero.

Mesmo com toda carga de quase insanidade, mesmo quando há um dedo permanentemente na ferida, eu ainda prefiro a dor à indiferença.

Aquelas coisas inapropriadas que às vezes acontecem tão apropriadamente.

A gente anda tão dependente de relacionamentos que muitas vezes confunde estar apaixonado com querer estar apaixonado - por um medo irracional da solidão ou do preconceito subliminar que determina ser socialmente inaceitável estar só e ser feliz assim.

"Tem jeito de chuva fininha em fim de tarde solar isso que eu sinto e que é meio saudade, meio vontade. Coisa mais linda.

O que adoece a lucidez da gente é esse vício besta de procurar sentido em tudo. Pra quê? Deixa não fazer sentido. Deixa e vai lá fora viver.

Não fazer tantos planos, porque a vida não é de planos. A vida é de desencontrar.