Coleção pessoal de demetriosena

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MAIS UMA RUGA

Demétrio Sena - Magé

Procurei esquecer de procurar
sua imagem na tela da distância,
pra curar a minh'alma desse amor
e conter meus calores aqui fora...
Quis demais não querer esta saudade,
mastigar minha mágoa eternamente,
pra que a mente vencesse o coração
que jamais vacilou sobre sentir...
Entretanto a procura dessa fuga
cavou mais uma ruga no meu rosto,
agravou meus estados afetivos...
Calei todos os gritos do silêncio
a gritar novamente a mesma dor,
ao cair desse andor de falso brio...
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RENÚNCIA PREVENTIVA

Demétrio Sena - Magé

Se não for pra ser leve, destravada,
divertida, sem muitos entrelaços,
não há nada que assine uma paixão
nem ateste outros laços afetivos...
É preciso fluir, planar sem peso,
ser alegre, sem pontos obscuros,
não haver indefeso em um dos lados
ou ter juros extensos pra pagar...
Nenhum laço combina com entraves,
cadeados e chaves, aguilhões
gradativos; crescentes no silêncio...
Precisamos olhar além do agora,
quando a hora sugere longo tempo
de rangidos e toxicidade...
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⁠S.O.S.

Demétrio Sena - Magé

Quem argumenta
só com gritos;
discursa aos gritos;
grita para pregar
a sua fé;
ou sua má fé;
uma filosofia;
um olhar narcisista
sobre quem é...
sobre o mundo...
sobre a vida...
Quem só defende
alguma ideia
urrando aos ventos,
às paredes,
à plateia...
ou alguém...
Quem sempre urra,
esmurra o ar,
não é ninguém
com quem se possa
dialogar...
Pois todo grito,
até de quem
diz "mato e morro",
é de ameaça
que assim disfarça
o seu pedido
de socorro...
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⁠CAMUFLAGEM

Demétrio Sena - Magé

Trago todos os tombos que alguém leva
e dos quais levantei como bem poucos,
tenho todos os loucos entre os becos
dessa treva que sabe achar a luz...
O meu sonho supera o pesadelo;
ilusões me socorrem do meu chão;
levo muita paixão neste silêncio
sob o gelo estampado em minha cara...
Levo tanta fumaça e trago fundo
as colunas do mundo em meus pulmões
que respiram temores de horizontes...
Mas me venço ao vencer a desistência,
porque sou resistência camuflada
pra ninguém precisar me suprimir...
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⁠ASAS MURCHAS

Demétrio Sena - Magé

Quero tanto perder o meu temor
de sondar novamente alguma chance;
meu amor estremece a minha carne
que parece até alma de minh'alma...
Vim parar tão alheio aos teus sentidos
e fiz tanta pirraça pelas mágoas,
tantas águas romperam essa ponte
numa queda sombria no meu caos...
Tua falta me castra de mim mesmo;
vou a esmo num sonho desbotado
sem nenhuma esperança produtiva...
Minha espera de ainda me chamares
foi pros ares e nunca mais voltou;
nunca mais consegui abrir as asas...
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⁠BERLINDA

Demétrio Sena - Magé

A saudade que sinto se une ao rancor;
as lembranças bonitas acolhem as más;
meu olhar é deserto, sem brilho nem cor;
quando rio, não posso desaguar na paz...

Sem você, meu destino virou tanto faz;
os prazeres que tenho só provocam dor,
pois a vida não segue, se não sou capaz
de calar tantos gritos internos de amor...

Talvez fosse possível retornar ainda,
mas agora, sou preso na minha berlinda
e não sei se consigo resgatar seu colo...

Esta mágoa cresceu em silêncio ferido;
hoje o meu sentimento procura sentido;
se você teve culpa, sei que tenho dolo...
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DECLARAÇÃO DE AMOR

Demétrio Sena - Magé

Quando me sinto magoado e me afasto, não é exatamente porque me sinto magoado. É porque uma; no máximo duas vezes magoado com profundidade, a próxima vez pode ser bem dura, não para mim, mas para quem volte a me magoar. Pelo meu temperamento, sou capaz de retornar a mágoa ao quadrado; ao cubo; exponencialmente... não quero isso para quem tem o meu afeto. Ninguém, nas minhas relações mais estreitas merece a natureza do meu rancor, quando sou ferido mais do que posso entender e suportar. Prefiro causar a indignação passageira do silêncio e o sumiço, a cometer o destempero do qual sou capaz, caso sinta, repetidamente, a dor da decepção com uma pessoa muito querida. Nestes casos, meu afastamento é protecionista... é a minha incompreensível demonstração de amor.
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⁠DAS QUEBRADAS

Demétrio Sena - Magé

Resido ao léu,
de rua em rua,
pedindo sempre
ao meio céu,
que a meia lua
me dilua...
E me situo.
Jamais em sítio,
mas em estado
Já capital,
de sítio...
Então me abrigo
onde há briga
pelo dia,
para que a noite
ainda venha...
Onde moro
eu não demoro
sem um susto;
sem esse custo
extorsivo
de morar...
e demorar...
No fundo eu sou
das quebradas
dessa gente
indigente
e quebrada...
e alquebrada...
Em já não ter
nem esperança
de residir,
sou assíduo...
O que me cansa
é que resido
onde resíduo...
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(PIN)GENTES

Demétrio Sena - Magé

Há quem sinta saudades do "não sou coveiro";
de governo que manda "passsar a boiada",
quando a própria boiada não sabe que passa
nem percebe o terreiro sob as próprias patas...
Muitos têm nostalgia das "filas dos ossos",
do tirano que "zoa" enquanto o povo morre;
que propõe um veneno pra "santo remédio"
e um porre de farsas pra calar as mentes...
Multidões de capachos da falácia insana,
da versão desumana de governo "brabo",
querem ter novamente o seu "dono e senhor"...
Os que pensam que pisam como são pisados,
querem anos passados de tormenta e caos;
pendurados nos maus é que se sentem bons..
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⁠AMOR DE ROTEIRO

Demétrio Sena - Magé

Foi amor protegido em arquivo profundo,
poucas vezes exposto somente pro alvo,
pois o mundo seria um recinto perverso,
corrosivo e capaz de nem deixar vestígio...
Um amor desses filmes que fazem chorar
com silêncio e leveza, num riso contido,
e nos fazem voar entre reinos dispersos
desenhados na aura daqueles momentos...
Foste a minha poesia de arquivo secreto,
que minh'alma nutria como eterno mito,
pra ser algo infinito nos instantes nossos...
Quando vinhas a mim entre névoa e magia,
em um dia longínquo de muita saudade,
só eu sei me dizer como eu era feliz...
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⁠POPULAÇÕES DOENTIAS

Demétrio Sena - Magé

Povos covardes, medrosos e fanáticos, embora saibam latir e mostrar os dentes, levantam e cultuam governantes "brabos", falastrões e tiranos, para servirem como barra-da-saia de suas fraquezas disfarçadas. Quanto mais covardia, medo e fanatismo religioso, mais bravatas populares... e quanto mais bravatas populares, maiores brechas para o fascismo rechear, se fortalecer e impor a desgraça, o atraso e a dominação. Populações que aclamam ou elegem feras humanas para governá-las, têm almas de rato que busca proteção no próprio predador.
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ESTOURO

Demétrio Sena - Magé

No momento em que tudo retrocede,
vai pra tempos que o tempo confinara,
tudo pede um momento pra pensar
que seguir é pra frente; não pra trás...
Não entendo a cegueira dos rebanhos
temerosos dos passos pro futuro;
são tacanhos, estão desenganados
pelo escuro da própria ignorância...
Um estouro que foge de si mesmo
se camufla de raiva e força bruta,
pra tentar esconder a covardia...
Nesta hora em que o mundo não procede,
por um vício de Velho Testamento,
ninguém cede ao clamor da consciência...
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⁠MARASMO

Demétrio Sena - Magé

Esse marasmo,
essa lentidão
que lentes dão
de olhar o nada...
Quase desisto
ou desexisto,
fico na fossa,
um tanto fóssil...
Minha preguiça
me pré-enguiça
e faz meu ócio
ser quase ósseo.
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⁠QUANDO NADA ME COMPLETA

Demétrio Sena - Magé

A minh'alma está pronta pra voar;
sem apego ao meu corpo já cansado;
há no ar mais encantos do que aqui,
para quem já cumpriu o seu possível...
Não conheço destinos, endereços,
mas também não os tive nesta vida;
sei vagar, ter apreços emergentes
e partir quando nada me completa...
Só preciso chegar a outro plano;
qualquer plano, sem muitas exigências;
ser humano não foi o meu melhor...
Sem bagagens e trapos cumpro fila,
sou argila que logo vai ruir,
pra minh'alma escapar e se perder...
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⁠NEM TANTO

Demétrio Sena - Magé

Uma mágoa; quem sabe, algumas mais;
uns enganos; talvez uns desenganos,
minha bolsa de afetos por alguém
leva bem entre os panos de vivências...
Mas o meu armazém não é sem fim;
ele pode ruir a qualquer hora;
tudo em mim é vencível com o tempo
e a força dos baques repetidos...
Sou longânimo, é fato, mas humano;
até forte, mas não esse titã
que põe dano após dano sob o pé...
Nem o lago sereno que pareço,
quando ponho no avesso cada linha
do meu rosto frustrado com quem amo...
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⁠BEM-TE-VI

Demétrio Sena - Magé

Desde sempre te vi, apesar de não ver,
te senti com a força da minha existência,
no vazio do ser que alimentava um flanco
sem essência possível para se nutrir...
Eu te vi no silêncio da distância infinda,
vi teus olhos tão fora do alcance dos meus,
te achei linda sem formas nem fisionomia,
sob véus de mistérios, fundos desafios...
Foste a minha vidência, minha profecia,
que minh'alma guardava temendo ilusões,
não sabia se dava para esperançar...
E te vi conquistar o meu mundo carente,
minha mente, meu corpo como não previ,
quando vi que te vi tão real para mim...
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⁠QUANDO NADA JUSTIFICA

Demétrio Sena - Magé

Sei perder discussões irrelevantes;
ter a culpa que venha trazer paz,
nos instantes que podem explodir
essas guerras de culpas progressivas...
O silêncio me serve como escudo,
barricada, quem sabe meu exílio,
quando tudo promete o caos total
por um nada que nada justifica...
Sou vilão pra tornar alguém herói;
pelos cristos forjados nos hormônios,
que devoram demônios ilusórios...
Agonizo, desmonto e reinvento
meu evento com fins beneficentes,
para gente que sofre de soberba...
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EGO

Demétrio Sena - Magé

⁠Disputamos vez e voz
e tropeçamos nos passos,
pois nem tudo é sobre nós;
às vezes é sobre laços...
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⁠UMA VEZ

Demétrio Sena - Magé

Já teria sentido que feri bem fundo
e tentado lembrar quantas vezes o fiz;
pararia um segundo pra pensar melhor,
que ferir tantas vezes pode ser fatal...
Quem tem sempre razão e justificativa
ou se auto perdoa com base no brio,
seguirá prisioneiro do espelho enganoso;
nunca vai sentir frio na própria frieza...
Eu teria encontrado coragem medrosa
de quebrar o silêncio como jamais feito
e achar um defeito em minha perfeição...
Afinal correrei o meu risco temido;
ficarei espremido na sombra vezeira;
ousarei estar certo esta única vez...
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⁠APOSENTADOS DE FATO E DIREITO

Demétrio Sena - Magé

O aposentado bem resolvido financeiramente só "continua trabalhando" no que lhe apraz. No que dá sentido real à sua vida, sua auto estima e à realização pessoal que vai além do ganhar dinheiro e se manter ou manter uma família. Não por necessidade. Seu trabalho, dentro desse critério, é um lazer e pode ser substituído por uma viagem ou um programa cultural, sempre que ele/ela quiser. E como regra, o aposentado bem resolvido está com a saúde sob controle, pois tem como cuidar da saúde com estilo de vida e com serviços médicos a contento. Quanto ao mais, a forma de viver é uma escolha estritamente pessoal.

São cruéis e preconceituosas, as falas e até matérias institucionais ou jornalísticas que incitam o aposentado modesto a continuar trabalhando, se ele sente que não dá mais. Ninguém tem o direito de tratar uma pessoa que tabalhou duro por longas décadas, como acomodada ou preguiçosa, por ela se sentir no direito de viver, ainda que precariamente, com o que recebe. Estão errados os patrões - tanto públicos quanto privados - que sempre remuneraram mal os trabalhadores. Estão errada as previdências, que reduzem cruel e drasticamente os ganhos do cidadão, no ato da aposentadoria. Estão errados e injustos os índices de reajustes que não acompanham a inflação real, decididos pelo poder público, cujos membros não têm ideia do que é viver com tão pouco.

O aposentado pobre, não. Ele não merece nenhuma censura por estar cansado e querer descansar, dentro de suas condições e às próprias custas. Quem mereceu uma aposentadoria depois de tanta jornada extenuante, humilhações financeiras e patronais entre outras, não pode ser tratado com menosprezo pelas instituições, a sociedade externa ou a família. Ter seus proventos modestos ou minguados e até recorrer a "benefícios" governamentais - sem ser constrangido - não correspondem a um décimo dos direitos de um aposentado pobre, que já enriqueceu tanta gente eternamente descansada.
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