Coleção pessoal de cristiane_neder

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Houve, nesses anos todos, a capacidade de mudança da
colocação de poder, sendo que o poder nunca morre: ele só se transforma e se
personifica em outras espécies, como nas entidades políticas e em seus
representantes; amanhã, pode ser nos robôs, na moderna tecnologia, e depois
transferir-se para a mídia.

Na antigüidade, a religião (clero) e a nobreza (reis) simbolizavam o
poder e, para não serem contestados usaram durante séculos uma estranha
figura sem face para simbolizar Deus. Da figura platônica do paraíso
representado pelo céu, que ninguém sabe como é, ainda hoje as instituições
conservadoras mantêm essas incógnitas intactas, no intuito de resguardar o seu poder.

O problema é que há sempre, por detrás desses interesses, um boneco ou símbolo para representar seu funcionamento, como talvez Gorbachev e a Perestroika foram. É aquilo que os meios reforçam como desejo popular.

Cabe discutir em que grau de persuasão ocorre a interferência
do poder das mídias na sociedade, quais são suas influências, pequenas ou grandes, na esfera política. Independentemente se de forma civilizatória ou colonizadora, não há como negar um papel político aos meios de comunicação e que seus poderes foram ampliados com a chegada das novas tecnologias de comunicação, prolongando, aumentando e até modificando
aquilo que o rádio e a televisão já fizeram.

O discurso das falas ideológicas é mais perigoso do que as forças armadas para ocupar uma nação.

O poder não é um elemento próprio enraizado nos meios de comunicação, mas um elemento que faz parte da condição normal do ato de passar informação, da posse do saber ou da crença de saber.

Devemos analisar o quanto a sociedade se apresenta como meio de sedução para os meios de comunicação e, por outro lado, o quanto os meios de comunicação também são sedutores, por serem objetos de poder de informação e de domínio público.

O sonho do homem de estar em vários lugares ao mesmo tempo começa a se realizar por meio das novas tecnologias de comunicação. A maior influência, assim, é satisfazer sua vontade de ter infinidade na vida e no espírito, deixando seus rastros, marcas e registros históricos marcados para o
futuro.

Hoje, o mais alarmante para a humanidade não são as armas
químicas, como na Guerra Fria e nas Guerras da Terra. A Era da Informática
e da Informação é marcada pelas bombas de dominação psicológica, pelas bombas das desigualdades sociais produzidas pela globalização, mais nocivas do que bombas químicas porque derrubam e atacam nações e
governos sem demonstrar de forma transparente a arma que foi usada; formam opiniões e “estrangeirizam” nações inteiras sem mobilizar nenhum
representante do exterior. Tudo é feito por meio de imagens e mensagens de
forma estrategicamente elaborada e oficializada, como se nenhuma palha
tivesse sido movida do palheiro.

As idéias flutuantes em espaços transnacionais geram comportamentos coletivos, e são muito mais perigosas do que as forças armadas de uma nação, porque as forças armadas usam força e violência para ocupar determinado solo, enquanto os meios de comunicação usam a sedução, a linguagem ideológica disfarçada de entretenimento e informação,
e sem espaço aéreo delimitado. Porque as parabólicas e os satélites são os
melhores soldados contemporâneos.

Com o advento das novas tecnologias de comunicação, no campo
de domínio territorial, o que se vê é que hoje o mais importante não é delimitar
os espaços de ocupação territorial (como antes era por espaço físico ocupado) ou por partes de determinado solo de uma nação sobre a outra. Hoje, a ocupação de idéias nos espaços mutantes das nações é o mais importante. Espaço mutante, porque é o espaço ocupado de forma globalizada, ou seja, um pedaço de cada nação em que não há nação nenhuma.

Com a revolução digital, é possível, para populações de inúmeras nações, integrarem-se sem sair do lugar físico onde estão situadas; é uma espécie de “alma digital”, que se desloca do corpo físico através da conexão entre objeto-máquina com o ser humano, em formato cibernético, pois o ser humano deixou de ser somente um corpo físico representado em uma figura com pele e osso e passou a ser um elemento imaginário dentro de uma rede eletrônica chamada de “information superhighway”, interligando
todas as pessoas, empresas e órgãos políticos e diversos segmentos sociais
por meio da Internet, da televisão a cabo, do computador, dos satélites de
comunicação e da telefonia celular.

A imagem diferente do espelho neoliberal é a ameaça ao avanço do projeto capitalista como um todo, no final do século.

Com as novas tecnologias de comunicação, os padrões culturais
de cada país são ingredientes adicionais para uma única receita mundial, e assim se reproduz também em sua linguagem, como um pano de seda originário da China e que hoje é feito com pedaços de retalhos dos países mais desenvolvidos, tentando produzir uma única peça de seda autêntica, da mesma cor, da mesma textura e do mesmo corte.

Na busca por novos mundos e pela conquista de um padrão cultural de Primeiro Mundo, os telespectadores comuns somente aceitam a língua que essas novas mídias, reforçadas pelas novas tecnologias, falam.

A expansão dos mercados, a mesma que exige a subjugação cultural, depende da redução dos espaços críticos. A globalização passa como
algo dotado de poder adormecedor, porque acontece muito menos pelo resultado de conflitos desse processo de endoculturação (ou seja, acontece muito menos pelo tratamento organizado, justo e transparente dos conflitos entre diversos interesses e muito mais pela adesão: mais ou menos como adesão conseguida pelas línguas dominantes da TV). Enfim caminha para conseguir a unanimidade.

É sabido que a marcha de uma civilização sempre provocará a
destruição de outras civilizações, e sempre foi assim. Mas, em nossos dias, com o uso das novas tecnologias, a televisão e os meios eletrônicos não
podem ser responsabilizados sozinhos pelo estrago. Eles, porém, assumem
um papel destacado ao arrematar o serviço: são veículos de comunicação, ou melhor, veículos de globalização, os interlocutores da palavra do mais forte
sobre o mais fraco, cobrando inclusive o sacrifício dos idiomas mais frágeis.

O empobrecimento cultural dos mais frágeis não se esgota aí. Ele
parece deixar um reflexo no plano político, na cultura política. Pode-se ver isso
na questão da falta prática da crítica nos espaços democráticos ditos,
necessariamente públicos, com igual prejuízo da diversidade e da presença.

A conquista é feita pela adesão acrítica dos conquistados. As imigrações
já não acontecem apenas de uma terra para a outra como antes, mas de uma
língua para a outra, para a língua que predomina nos meios eletrônicos; com isso, há povos inteiros imigrando sem sair do lugar, na consumação de um
processo de “etnocentrização” dos padrões culturais europeus e americanos.

Tudo vai se misturando e a
igualdade nasce da anulação do diferente, através do aborto do senso crítico. A escravidão contemporânea acontece em não se saber anular a manipulação da idéia coletiva das mídias, e em aceitá-la como uma adaptação da verdade coletiva, feita por estas, fazendo com que uma metamorfose da desigualdade
vire igualdade, através da ausência da comparação entre elas.