Coleção pessoal de CarlaGP
"Onde a moral natural degrada-se, o Estado transforma-se no deus que define acerca do bem e do mal, do certo e do errado".
"Destrua-se a moralidade e nascerão os piores moralismos. Cedo ou tarde, estes irão gerar o mais insano de todos: o moralismo de Estado".
"Ao sermos mal-interpretados por amigos, é razoável a presunção de que não fomos suficientemente claros, pois nem a boa vontade deles para conosco evitou o seu equívoco quanto à nossa intenção. Ao sermos mal-interpretados por falsos amigos, é razoável a presunção de que fomos claros e a malícia deles turvou-lhes o juízo, a ponto de distorcerem a nossa intenção. Ao sermos mal-interpretados por inimigos declarados, é razoável a presunção de que fomos claros, eles compreenderam relativamente bem os nossos motivos, porém não os suportam.
Um amigo pode errar mesmo julgando-nos com benevolência; um falso amigo erra sempre julgando-nos com inveja; e um inimigo declarado, julgando-nos com ódio. Nestes três casos, ainda que o erro seja o mesmo, as distintas motivações mudam a natureza moral do juízo equivocado.
As conseqüências também são diversas: a genuína amizade quando erra apenas arranha, e traz consigo pensos para fazer o curativo, se necessário; a inveja quando erra difama; e o ódio mente.
Estes dois ultimos costumam aumentar a ferida que causaram".
"Almas infladas podem ler absolutamente toda a história da filosofia, mas nunca passarão de cães que vivem a ladrar.
"Qualquer pedagogia que não considere a precedência da formação do caráter em relação a qualquer outra está fadada a produzir verdadeiros aleijões morais, cuja atuação é invariavelmente daninha.
Fadada a produzir bons intelectuais de péssimo caráter".
"A identidade de um homem revela-se com peculiar ênfase nas suas lembranças, quando ele olha para trás e se vê nas próprias pegadas, as quais lhe dão a perspectiva do caminho percorrido. Este, por mais acidentado e permeado de mudanças que tenha sido, é uno, ou, noutras palavras, possui a unidade das coisas irrepetíveis, jazentes na memória.
Envelhecer bem é tornar-se capaz de contemplar a própria identidade. Infelizmente, isto não é para muitos, visto que, em todos os tempos, a maioria dos homens se afoga na superfície duma vida medíocre. Acresça-se o seguinte, ainda neste contexto: envelhecer bem é estar em paz com o passado, aceitando-lhe os sofrimentos e as alegrias, os erros e os acertos, as boas e as más escolhas, algo impossível para quem se recusa a vê-lo e, nele, ver-se.
Em contrapartida, envelhecer mal é estar em litígio com os vestígios do passado, sinal de que o medo ou a covardia de olhar para a própria história venceu. Trata-se duma vitória funestamente enganosa, com certeza, porque ninguém aborta um remorso, nem mesmo os covardes. Não adianta, pois, a pessoa mentir com a imaginação para apaziguar-se com lembranças falsas: a dor virá, e será tanto maior quanto mais adiada tiver sido.
Só dá testemunho da própria identidade quem amadurece, e só amadurece quem tem a coragem de amar. É a maturidade esse estado psíquico acidentalmente cronológico que dá sentido a uma vida humana.
Quem não se liberta na plenitude duma vocação realizada, conhece-se muito pouco, quase nada. Não consegue enxergar as suas impressões digitais anímicas, e, portanto, mal tem o vislumbre da própria identidade. Vive de saudades sabotadas, pois precisa inventar o passado para suportar o presente e, então, amoldar tudo a um futuro amesquinhado.
O passado renegado é uma herança maldita. Por isso, é livre quem aceita estes ossos lascados que pulsam de dor".
"Cada palavra participa materialmente de um conceito; cada conceito participa formalmente de uma realidade; cada realidade participa infimamente do ser que nenhuma palavra e nenhum conceito podem expressar".
"A presunção de inocência do condenado tem como reverso da medalha a presunção de culpa do inocente.
Noutras palavras: uma sociedade que protege os culpados descamba, invariavelmente, na inculpação dos inocentes.
Isto é, a propósito, um arquétipo: os Barrabases precisam de Cristos que paguem pelos seus crimes".
"Entre o medo e a superstição há um vínculo psicológico sutil, porém forte, daí que não seja raro o medroso querer adivinhar o seu futuro próximo com o intuito de precaver-se contra perigos reais ou imaginários. Em suma, onde há muitas pessoas assustadiças, pusilânimes, abundam as crendices e decai o nível médio de bom senso e razoabilidade.
O mais dramático, porém, é que decai também o padrão do amor em sociedades nas quais há muita gente supersticiosa, pois o amor não deita raízes em almas tendentes à covardia, sendo ele próprio a expressão máxima da coragem".
"Em seu utilitarismo medíocre, o avarento vê o saber não como algo amável em si, mas apenas na medida em que possa ser lucrativo".