Coleção pessoal de CaioCastro

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Não me assusta a possibilidade de abrir uma nova porta. Meu temor está em entrar, não escutar a porta fechar e ficar trancado, só, lá dentro, a mercê de alguém que sem querer também a abra para que eu possa finalmente sair.

Eu corri, sem olhar para os lados eu corri. Em disparada sem deixar o fôlego sobrar, sem pensar em nada... eu corri. Qual a minha surpresa quando percebi ter chego cedo de mais para encontrar outros, tarde de mais para saber o que eu perdi enquanto só corria.

Adormecer nos teus braços para no abrir dos meus olhos continuar sonhando.

Tenho lá minhas razões para acreditar que nunca serei ninguém, morrerei no mesmo silêncio ao qual nasci. Tenho também minhas certezas de que os passos dados me levam sempre a um lugar de plena grandeza onde tudo conspira a meu favor.

Tenho a fé de um guerreiro, mas por vezes a covardia dos sem sorte. Tenho braços e pernas fortes, mas por vezes esqueço, reclamo e sei lá por qual motivo me entrego.

Tenho a esperança, a mais estúpida admirável qualidade.

Há dias que sinto o mundo em minhas mãos, mas há outros que o peso dele é o meu desespero de não querer possuir mais nada.

Até podemos bloquear um pensamento, fazer que nada dói, fingir que somos inabaláveis. Dá sim pra brincar com o faz de conta do esquecer, dizer a si mesmo "foi, passou". Dá sim pra ficar lá no meio do oceano esperando o tsunami passar, mas e quando tivermos de voltar? Quando chegar a hora de ir novamente para terra firme? Estaremos prontos para ver tudo que um dia deixamos para trás agora destruído?

Arriscar é um sonho o qual você não esquece, nem corre o risco de ser acordado quando está prestes a beijar a amada. Correr riscos é um sonhar acordado e, se tudo se tornar pesadelo, você ainda terá no dia seguinte o mesmo sonho e outras chances para arrumar tudo.

A injustiça do sonho é voarmos sem poder voar. Já a da realidade, é nunca saber quando sonharemos novamente estar voando.

Eu não guardo mágoas nem raiva; nem o rancor e o ódio. Também não guardo palavras, sinceridade e a profundidade de minhas paixões. Eu não guardo, eu despejo tudo, sem controle, sem medo que transborde. Despejo tudo sem medo, alguns acham que para salvar outros, mas querem saber a verdade? Estou lutando para salvar a mim mesmo.

Se quer me usar fique a vontade, só não esqueça: mesmo o que nos faz bem possui contra-indicações.

Dizem que meu instinto é animal, que minha razão da lugar ao emocional. Dizem que tudo em é fisiológico e pré-programado. Me comparam a o homem das cavernas. Justificam tudo com a lei da sobrevivência... Tudo bem, eu aceito, mas agora me expliquem a saudades.

Já provei de muitas coisas fáceis, mas as que recordo plenamente são as difíceis. Pois quando o vento me beija eu não paro para sentir, agora, quando sou eu a tentar beijá-lo fico a imaginar o mágico de quando eu finalmente conseguiria.

Desconfio das coisas simples, no geral o simples é ainda mais complicado. Falo por mim quando falo em coisas simples complicadas, falo de meu coração o qual tento agarrar, mas descubro ser alado.

Olha só, ninguém escolhe ser feliz... você escolhe ter atitude, correr atrás; escolhe o risco de se ferir, sofrer, chorar, voltar para casa só. Você escolhe a quem entrega seu coração, seu tempo seus momentos.

Você não escolhe o sorriso do seu rosto, mas pode sim saber quem irá motivar um ou apenas trará lágrimas.

Ninguém escolhe ser feliz, mas todos nós escolhemos pelo que vale a pena tentar ser.

Algumas doses de sesesperança e aquele gosto ruim na boca... você saboreia sem prazer, mas espera o que mesmo tão dolorido sentir pode lhe trazer. Então acorda no outro dia, algo está diferente, o velho vício deixou uma lacuna. Ja não lhe atrai como antes o amargo da ilusão, e você está novamente pronto para o doce de outros lábios.

Por mais que a vida seja dura, ela vem em ondas e a gente nunca sabe o que a próxima pode trazer.

Se eu pedir para você ficar, desconfie.
Se eu disser para que você vá, é melhor que fique.
Agora, se eu ficar em silêncio, acredite, pois há muito mais em meu silêncio que em minhas palavras.

Casa das almas

Ó tolice!
Como fui me enganar?
Carrego mais do que cabe carregar.
Necessito mais espaço para o que não consigo deixar para trás.

Não acho espaço porque espaço não se acha,
Conquista-se como quem conquista o desejado.
Como o enlace inesperado a um romance que assim só é
Até que se torne palpável, a quebra do imaginário.

Seres encantados vêm me visitar,
Abano todos para longe, não preciso deles lá,
Há lugares apenas meus onde nem santos podem pisar,
Pois lugares sagrados não são fáceis de achar - o egoísmo sim.

Fujo do que eu estou condenado a ser.
Corro a lugares onde queiram me conhecer,
Onde eu seja quem eu quero:
E quem disse que não sou o que gostaria de ser?

Ó tolice!
Ó apetite!
Cães pardos vêm me devorar...
Sonhos sem lar, sonhos sem sono como sonhar?

Basta que não me conheçam,
Assim ganho uma casa.
Rangem as madeira na noite como os dentes da fera.
Mas amanha deixe que ranjam, não estarei mais lá.

Um domingo para sempre

Deitados ao sol, no gramado verde de um clube o qual nasci frequentando. Um belo domingo para se pular na piscina, para se deitar sobre a toalha e olhar o céu.
- Quando eu era guri eu vinha aqui, deitava neste mesmo lugar e olhava o céu.

Enquanto meu pai falava relembrando sua juventude eu o ouvia atentamente, mas não o suficiente para esquivar-me de meus próprios pensamentos.

Uma nuvem no céu, uma única nuvem branca em meio ao profundo azul o qual parecia não ter fim, o qual se fazia imaginável pudesse ter outra cor além do azul. Tudo que eu via era o céu, tudo que eu ouvia era a voz de meu pai, tudo que eu pensava era: preciso guardar essa cena, preciso levar comigo este pequeno, porém tão rico momento. Imaginei meu pai não estando mais aqui, imaginei-me deitado, sozinho, neste mesmo lugar pensado em como passam anos, passam pessoas e o céu lá segue azul. Imaginei meu pai jovem, pensando o que a vida lhe reservaria, e agora o que ele sentia estando aí comigo, podendo dizer isso.

Talvez possa parecer um erro, antecipar sofrimentos, mas não é mágico carregar dentro de si tal momento? Dizer para você mesmo “preciso levar isso comigo”.

É provável - não certo - que a vida leve meu pai antes. E quando este dia chegar como irei recordar dele? O que restará dele para mim? Acredito que neste lindo domingo de verão eu descobri um tesouro, algo que me faz ter vontade de chorar, algo que me leva ao simples de nossa existência, mas ao complexo de um sentimento muito maior do que essa simples existência, o amor.

Enquanto meu pai falava sobre sua infância, sobre este mesmo lugar que ele deitava para olhar o céu, eu pude voltar ao passado com ele onde eu não estava presente, pude ir a um futuro com ele onde ele não estava presente. Não é incrível? Não é a vida fluindo? Imaginar que quem tanto nos ama um dia não foi cercado pela nossa existência, e que um dia nós é que não usufruiremos dessa pessoa que tanto nos amou?

Algumas pessoas dizem que eu tenho um dom para escrever, mas e eles? Não tem? A questão ao fim não é usar as palavras que outros entendam e achem bonito, mas sim que você próprio entenda e possa recordar o tanto de sentimento que lhe invadia no exato momento em que escrevia aquilo.

Por um breve momento senti saudades de meu pai mesmo com ele estando ali, do meu lado. Pude imaginar como será quando não o tiver mais, pude sentir a dor, mas também pude entender que existem lugares onde você pode deitar e olhar o céu, pensar nas pessoas que você ama e imaginar um dia alguém também pensando em você.

Ao fim, deixarei a meus filhos um pouco de mim, e sem que eles imaginem... um pouco de meus pais.

E basta isso para a morte nunca ser maior do que a vida.

Ponteiros

Somos de um mesmo relógio,
Você marcando segundos eu marcando horas.
Às vezes nos cruzamos, e por um segundo somos um só.
Você parte enquanto eu aguardo tua volta.
É assim sempre, 1440 vezes por dia.
E dai nossos ritmos tão diferentes?
No fundo somos movidos pelas mesmas engrenagens,
E juntos, nos fazemos sentir controlar o tempo.

Tua ficção, minha realidade

Ultimamente tenho me visto reconsiderar... Entre a satisfação do que aprendo, das pessoas e lugares que conheço, do romance que hoje vivo: entre tudo isso um livro, a clarividência de que estou vivendo um filme. A frase que me iniciaria é "baseado em fatos reais". Sim, porque se fosse possível descrever a forma como tudo tem sido, muito eu teria de obscurecer do meu telespectador: não por poder entediá-lo com a minha vida, mas sim com a dele própria.

Antes que eu te perca

Chega mansinha...
Antes que eu te perceba,
Antes que eu perceba que posso te desejar.

Quietinha...
Bem educada, reservada.
E quem teria coragem de te encarar?

Nem tímida, nem atirada;
Nem calma, nem acalma.
Já chega distante, sem deixar se aproximar.

Chega como minha matemática:
E logo eu que odiava cálculos.
Agora tudo que faço é calcular,
Pensar quanto tínhamos de chance em nos encontrar.

Chega como o inverso, e nada se aplica.
Quando tento me afastar te aproximo,
Quanto tento te afastar não consigo.
Viu?! Logo eu que tentava tudo explicar.

Não que eu espere te perder,
Mas antes de te perder preciso dizer:
Vê? Sente? Sente sem precisar entender?
Vem? Diz que vem; contra tudo e todos, só por ti e por mim.

Trincou meus medos enchendo-me de desejos,
Não repouso mais nas dúvidas ou duvidando.
Ando acordado pescando madrugadas,
Como numa jangada, na escuridão de uma lagoa sem margens.

E agora? Agora antes que te perca digo:
Vem comigo! Sem destino: o destino a gente faz.
De qualquer forma vamos nos perder e, antes que eu te perca,
Perca-me em você de vez, preciso algo dizer.

Bem, antes de nos perdermos permita-me em silêncio,
No ouvido dos teus sonos sussurrar meu abandono.
Caminho para onde vou me perder, porque perdido te encontrei.
E agora? Agora não tenho mais medo de te encontrar,
Nem que pra isso eu precise novamente me perder.
Importante é não perder você.