Um domingo para sempre Deitados ao sol,... Felipe Sandrin

Um domingo para sempre

Deitados ao sol, no gramado verde de um clube o qual nasci frequentando. Um belo domingo para se pular na piscina, para se deitar sobre a toalha e olhar o céu.
- Quando eu era guri eu vinha aqui, deitava neste mesmo lugar e olhava o céu.

Enquanto meu pai falava relembrando sua juventude eu o ouvia atentamente, mas não o suficiente para esquivar-me de meus próprios pensamentos.

Uma nuvem no céu, uma única nuvem branca em meio ao profundo azul o qual parecia não ter fim, o qual se fazia imaginável pudesse ter outra cor além do azul. Tudo que eu via era o céu, tudo que eu ouvia era a voz de meu pai, tudo que eu pensava era: preciso guardar essa cena, preciso levar comigo este pequeno, porém tão rico momento. Imaginei meu pai não estando mais aqui, imaginei-me deitado, sozinho, neste mesmo lugar pensado em como passam anos, passam pessoas e o céu lá segue azul. Imaginei meu pai jovem, pensando o que a vida lhe reservaria, e agora o que ele sentia estando aí comigo, podendo dizer isso.

Talvez possa parecer um erro, antecipar sofrimentos, mas não é mágico carregar dentro de si tal momento? Dizer para você mesmo “preciso levar isso comigo”.

É provável - não certo - que a vida leve meu pai antes. E quando este dia chegar como irei recordar dele? O que restará dele para mim? Acredito que neste lindo domingo de verão eu descobri um tesouro, algo que me faz ter vontade de chorar, algo que me leva ao simples de nossa existência, mas ao complexo de um sentimento muito maior do que essa simples existência, o amor.

Enquanto meu pai falava sobre sua infância, sobre este mesmo lugar que ele deitava para olhar o céu, eu pude voltar ao passado com ele onde eu não estava presente, pude ir a um futuro com ele onde ele não estava presente. Não é incrível? Não é a vida fluindo? Imaginar que quem tanto nos ama um dia não foi cercado pela nossa existência, e que um dia nós é que não usufruiremos dessa pessoa que tanto nos amou?

Algumas pessoas dizem que eu tenho um dom para escrever, mas e eles? Não tem? A questão ao fim não é usar as palavras que outros entendam e achem bonito, mas sim que você próprio entenda e possa recordar o tanto de sentimento que lhe invadia no exato momento em que escrevia aquilo.

Por um breve momento senti saudades de meu pai mesmo com ele estando ali, do meu lado. Pude imaginar como será quando não o tiver mais, pude sentir a dor, mas também pude entender que existem lugares onde você pode deitar e olhar o céu, pensar nas pessoas que você ama e imaginar um dia alguém também pensando em você.

Ao fim, deixarei a meus filhos um pouco de mim, e sem que eles imaginem... um pouco de meus pais.

E basta isso para a morte nunca ser maior do que a vida.