Coleção pessoal de AntonioPrates
Sou de Dipo, sou vetão,
sou do clã dos visigodos,
sendo cónio, sou de todos,
desde o Tejo ao rio Vascão.
Sou fenício, sou moreno,
sou do tempo dos romanos,
sou dos nobres lusitanos,
sou de Al Gahrb e sarraceno.
Sou da Galiza, de Leão,
sem desonra, sem vergonha,
com o sangue de Borgonha
desde a minha fundação.
Sou do Brasil, seja onde for,
sou das mesclas africanas
e dessas praças indianas,
sou de Macau, sou de Timor.
Sou cigano e sou judeu,
de bretões sou oriundo,
sou filho de todo o mundo
e este mundo é todo meu.
Muitos portugueses vêem o seu país como vêem um filho. O que faz bem é mérito seu, o que faz mal é defeito dele.
Com o decorrer da idade o que antes era muito agora sabe-me a pouco, e a maturidade faz-me ainda mais louco aos olhos daqueles que têm uma loucura diferente da minha.
No meio de tanta crueldade, de tanta hipocrisia e de tanta injustiça, fazemos bailes com a música alta para não ouvirmos os gritos dos que sofrem.
Neste mundo de vinganças
e de eterna desavença,
não me admira que as crianças
chorem todas à nascença.
Na seara das ideias,
espigas chochas lá na serra
estão ao alto nas paveias,
enquanto as espigas cheias
prestam reverência à terra.
Há no mundo a elegância
de parecer uma comédia,
quando a sua substância
dá aos tolos a distância
que os afasta da tragédia.
Nesta arte tão sublime,
De palavras estridentes,
Há os poetas do regime
E os que são independentes.
Se há amor dentro do peito
que para sempre se mantém
é o amor puro e perfeito
no coração de uma mãe.
A gratidão tem um sentido
que não pode ser filtrado.
Quem é grato é instruído,
se é ingrato é mal formado.
Em todas as grandes crises há os que compram sapatos novos, os que ficam sem sapatos e os que já não tinham pés.
Toda a flor que é linda e bela
tem na alma mais perfume,
e todos olham para ela
com desejo e com ciúme.
I
Como terno amanhecer,
nasce, brota, vem ao mundo,
tem no brilho algo profundo
que a faz resplandecer…
Entre o bem e o mau querer,
vinga aqui nesta courela,
como quadro de aguarela
produzido em campo aberto,
deixa o prado boquiaberto
toda a flor que é linda e bela.
II
Suas cores um matizado
que a faz montra de beleza,
um tal lustre a camponesa,
num padrão ornamentado…
Entre as muitas a seu lado,
tem uma graça que resume
quem campeia, quem assume
a versão mais imponente,
e por ser resplandecente
tem na alma mais perfume.
III
Se é cercada por enleios,
ganha mimos, ganha abraços,
ganha tudo o que são laços
com outros que são mais feios…
Ganha ainda os galanteios
que a sua sorte revela
aos caprichos da donzela
tão castiça, tão briosa,
com a luz mais luminosa
e todos olham para ela.
IV
Seja feita a probidade
aos limites da vivência
que a sua fina aparência
transmite com claridade…
Há quem diga que é vaidade,
há quem ferva em brando lume,
com ledice e azedume
sobe feliz, cresce invejada,
sendo a flor mais cortejada
com desejo e com ciúme.
O amor que queima e tece
as saudades repartidas
é amor que não se esquece
nem por duas ou três vidas.