Coleção pessoal de AilaSampaio

41 - 60 do total de 111 pensamentos na coleção de AilaSampaio

A gente esquece o nome quem têm algumas dores. Sim, porque algumas delas têm nome e endereço fixo, mas não têm remédio. Daí as cartas que escrevo ao tempo, pedindo que passe passe passe, de mãos dadas com o vento, e leve as histórias mal contadas daquele amor que gostava dessa rima pobre. Que não fique sequer um pé de esperança aonde não pode brotar flor. Que seque toda seiva que se derrame em vão e sobreviva apenas a poesia soberba da vida tatuando em cada poro o cheiro desse amor nascente. Esse tem asas que não são descartáveis e só sabe rimar com felicidade. Sua tristeza é sincera, sua alegria não é postiça. Seu esconderijo, por enquanto, são as minhas palavras, mas, em breve, será o meu corpo... os sapatos já saíram da caixa. Falta muito pouco para saírem andando por aí.

Aíla Sampaio

Às vezes pensamos que é amor e é só uma emboscada. Armação do destino para nos enrolar, para testar nosso fôlego num mergulho demorado. Imergimos, emergimos e, desfeito pelas ondas revoltas aquele sentimento escorre, vira espuma. Se esfuma diante dos nossos olhos incrédulos. Aí a gente vê que foi só uma emboscada... Amor de verdade é sempre à prova d'água!

Talvez um dia nem seja preciso falar: ele já adivinhe. Pode ser também que, de outro modo, ele jamais seja capaz de ler o meu silêncio. Nunca se sabe de que prerrogativas gozam os sentimentos, para que as palavras sejam desnecessárias.

O tempo alonga o nosso pavio, diminui as inseguranças das nossas mãos, coloca menos grau nos espelhos. O tempo diminui o nosso fogo, põe rugas em nossa testa e coloca lentes em nossos olhos. O tempo faz e desfaz sem pedir licença... é generoso e tenebroso. Depende do lado que a gente olhe.

Há dias em que o coração acorda saudoso, como se a neblina do tempo pusesse penumbra pelas frestas da janela. Não há tristeza, tampouco desespero. Há, sim, o mormaço dos momentos vividos transformados em lembranças... há a memória trazendo de volta o que foi bom e deixou pegadas leves no coração.

Ex-amores devem ser como verbos no pretérito perfeito: um passado consumado, afinal, recaídas são como filmes já vistos: o enredo é previsível e o final já é bem conhecido.

Lembrar de não esquecer a hora de sair de cena, o chá de hibiscos antes de dormir. Lembrar de esquecer os pés na bacia de água morna e a velha mania de sofrer por tudo. E as saudades...aonde colocá-las quando escancararem suas portas e ganharem minhas ruas, minhas interditadas ruas ladrilhadas com lembranças de dias nublados e covardias?! O que fazer com esse amor moribundo que não morre nem vive?!

Vesti um sorriso para receber-te, desarmada como um guerrilheiro rendido, mas vieste como para um combate. Fugi à luta por princípio: no amor, se houver disputa de poder, a batalha já começa perdida.

Desinteresso-me fácil pelas coisas muito difíceis. Tamanhos e larguras de que as minhas mãos não dão conta, lonjuras que os meus olhos não alcançam, são apenas motes para a minha poesia. Gosto mesmo é do palpável, do possível, do que se pode prender num abraço.

Minhas dores, guardo todas no porão da antiga casa. Padecerão de abandono na minha coleção mais bizarra, mas nunca de esquecimento.

Sinto-me tão sem mim quando me faltas, que durmo e acordo pensando que já morri!

Do livro DE OLHOS ENTREABERTOS

Atitudes grosseiras são como pancadas no corpo... a diferença é que os hematomas ficam na alma e não na pele.

Por carência afetiva, damos a algumas pessoas bem mais valor do que o que elas realmente têm.

Não adianta impor interditos aos meus sonhos, com portas lacradas e fechaduras sem chave... as minhas vontades atravessam paredes!

Não jogo mais o cabelo pro lado esquerdo nem pinto a boca de nude pra não manchar a tua camisa... tudo esgarçou feito tecido vagabundo. Agora só uso cabelos curtos e batom vermelho pra espantar os pensamentos sem cor que ficaram.

Eu voo de asas quebradas, mas voo; não desisto de enfrentar as nortadas. Sou carregada pelo vento, despedaço-me contra os rochedos, caio no mar, e saio a nadar... Renasço todos os dias, os pés fincados no chão, sob a égide de um novo tempo, reinventando a vida e seguindo... A poeira que fica na alma
dissipo em poesia...

Só pode voar quem tem asas... no corpo ou no pensamento.

A esperança é um pássaro que voa mesmo sem asas.

Quando meus sonhos adormecem, um anjo sempre me acorda e me dá as suas asas para que eu não desista de voar.

Não tenho asas, mas tenho sonhos e, dentro deles, cruzo os espaços e transponho as distâncias, matando as saudades e vivendo os desejos que a realidade interdita.