Chega de Desculpa Esfarrapada

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Se quiser falar ao coração dos homens, há que se contar uma história. Dessas onde não faltem animais, ou deuses e muita fantasia. Porque é assim – suave e docemente que se despertam consciências.

É interessante observar os movimentos de nossas mudanças interiores. Nem sempre sabemos identificar o nascimento da inadequação que gera todo o processo. O fato é que um dia a gente acorda e percebe que a roupa não nos serve mais. Como se no curto espaço do descanso de uma noite a alma sofresse dilatação, deixando de caber no espaço antigo onde antes tão bem se acomodava. É inevitável. Mais cedo ou mais tarde, os sonhos da juventude perdem o viço. O que antes nos causava gozo, aos poucos, bem aos poucos, deixa de causar.

Padre Fábio de Melo
Tempo de Esperas - O itinerário de um florescer humano

Não é a ocasião que faz o ladrão, dizia ele a alguém; o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: "A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito".

Machado de Assis
Esaú e Jacó (1904).

A vida é uma ópera, e uma grande ópera. (...)
Deus é o poeta; a música é de Satanás. (...)
O êxito é crescente.
Poeta e músico recebem pontualmente os seus direitos autorais,
que não são os mesmos.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).

...Quero ser amado por e em tua palavra...

Há um comportamento de eternidade nos caramujos.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

"O homem forte cria os acontecimentos e o fraco suporta aqueles que o destino lhe impõe."

Afundo um pouco o rio com meus sapatos.
Desperto um som de raízes com isso
A altura do som é quase azul.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Toda a busca do ser está fadada ao fracasso; esse mesmo fracasso, porém, pode ser assumido. Renunciando ao sonho vão de nos tornarmos deus, podemos satisfazer-nos simplesmente em existir.

Simone de Beauvoir
BEAUVOIR, S. Balanço Final. Nova Fronteira, Rio de Janeiro

Você bem que podia me aparecer nesses mesmos lugares, na noite, nos bares. Onde anda você?

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da música Onde anda você.

Tomou-me vossa vista soberana
Aonde tinha as armas mais à mão,
Por mostrar que quem busca defensão
Contra esses belos olhos, que se engana.

Por ficar da vitória mais ufana,
Deixou-me armar primeiro da razão;
Cuidei de me salvar, mas foi em vão,
Que contra o Céu não vale defensa humana.

Mas porém, se vos tinha prometido
O vosso alto destino esta vitória,
Ser-vos tudo bem pouco está sabido.

Que posto que estivesse apercebido,
Não levais de vencer-me grande glória;
Maior a levo eu de ser vencido.

Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Não há pior vilão que o vilão consciente.

Espalhe o amor por onde você for: antes de tudo, em sua própria casa. Dê amor a seus filhos, sua esposa ou seu marido, a um vizinho próximo... Não permita jamais que alguém se aproxime de você sem viver melhor e mais feliz. Seja a expressão viva da bondade de deus; bondade em seu rosto, bondade em seus olhos, bondade em seu sorriso, bondade em sua terna saudação.

E assim é tudo nela; de contraste em contraste, mudando a cada instante, sua
existência tem a constância da volubilidade. Na vaga flutuação dessa alma, como no
seio da onda, se desenha o mundo que a cerca; a sombra apaga a luz; uma forma
devanece a outra; ela é a imagem de tudo, menos de si própria.

É no ínfimo que eu vejo a exuberância.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Eterna Presença

Este feliz desejo de abraçar-te,
Pois que tão longe tu de mim estás,
Faz com que te imagine em toda a parte
Visão, trazendo-me ventura e paz.

Vejo-te em sonho, sonho de beijar-te;
Vejo-te sombra, vou correndo atrás;
Vejo-te nua, oh branco lírio de arte,
Corando-me a existência de rapaz...

E com ver-te e sonhar-te, esta lembrança
Geratriz, esta mágica saudade,
Dá-me a ilusão de que chegaste enfim;

Sinto alegrias de quem pede e alcança
E a enganadora força de, em verdade,
Ter-te, longe de mim, juntinho a mim.

Mário de Andrade
ANDRADE, M. Poesias completas: Volume 2, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres
em mim ressuscitados

Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino

Roupa e tempo jaziam pelo chão
E nem restava mais o mundo,
à beira dessa moita orvalhada,
nem destino.

O Verbo de Deus se torna sujeito em cada criatura humana.