Cecilia Meireles Poemas Sonhei com Voce
Passarinho na Gaiola
Na prisão dourada que a mão construiu,
Um canto ecoa, mas é canto vazio.
Olhos pequenos, tristes a mirar,
O céu lá fora que não pode tocar.
As asas sonham com o vento a soprar,
Com a dança livre do voo no ar.
Mas as grades frias vêm recordar,
Que o mundo é vasto, mas não pode estar.
Ah, passarinho, por que te prender?
Teu canto é livre, teu dom é viver.
Quem ama escuta, deixa-te voar,
Pois só no infinito é que vais cantar.
Um dia, talvez, a porta se abra,
E tu encontrarás o caminho da alma.
Voarás ao alto, sem medo ou dor,
Levando contigo a mensagem de amor.
A Cidade Dorme
Quando a noite se estende em véu profundo,
E a lua banha a terra com seu pratear,
São Luís se aquieta, deixa o mundo,
Em um doce silêncio a respirar.
As ruas, antes cheias de vida e passos,
Agora repousam em quietude plena.
Sombras suaves desenham seus traços,
Enquanto a brisa embala a cena.
No casarão, um candeeiro vacila,
Guardando histórias de tempos passados.
O mar ao longe sussurra e oscila,
Cantando segredos jamais revelados.
Nas praças, o vento dança sozinho,
Entre palmeiras que sonham também.
A cidade dorme, traça seu caminho,
Na paz que só a madrugada contém.
E assim, sob o manto da calmaria,
São Luís repousa, tão serena e pura,
Guardando em seu peito, dia após dia,
O encanto eterno de sua ternura.
Guerra de Flores
Em meu sonho, a guerra é outra história,
Não há sangue, gritos ou destruição,
Os homens lutam com outra glória,
Armados de flores, paz no coração.
Os campos não se enchem de feridas,
Mas de cores que a terra abraçou,
Rosas, jasmins, em batalhas floridas,
Cada pétala um gesto de amor que brotou.
Soldados marcham com ramos em mãos,
Espalhando perfume ao invés de temor,
E ao invés de dor em seus clarões,
O brilho é de esperança e calor.
As trincheiras são jardins secretos,
Onde lírios crescem em cada canto,
E o som da guerra, doce e completo,
É um hino cantado por pássaros em encanto.
Se o mundo vivesse essa utopia,
Onde o combate fosse doar e cuidar,
A guerra de flores, com sua poesia,
Seria a única que iríamos desejar.
Lembranças de Infância
Ah, que saudade da rua encantada,
Onde o tempo corria sem pressa ou temor,
Nos pés descalços, a poeira dourada,
E no peito, a alegria em seu mais puro ardor.
Bolas de gude brilhavam no chão,
Como estrelas num céu de cimento,
Pipas no alto, riscando o azul,
Guiadas por sonhos ao sabor do vento.
O futebol era a lei do momento,
Traves marcadas com chinelos jogados,
Um grito de gol rasgava o silêncio,
E o mundo parava, nossos olhos brilhados.
Brincadeiras sem fim, risos soltos no ar,
Amigos, irmãos de uma vida inventada,
Cada esquina guardava um lugar,
Onde a infância deixava sua marca sagrada.
Hoje, adulto, caminho sozinho,
Levando comigo o que ficou pra trás,
Mas no coração ainda há um cantinho
Que guarda pra sempre aquele tempo de paz.
O Bicho
Na rua estreita, o breu fazia morada,
as lixeiras reviradas em estranha balada.
Passos cautelosos, silêncio a pairar,
o mistério na noite me fez hesitar.
Que ser seria aquele, que ali remexia?
Um animal furtivo em busca de energia?
Talvez um gato, um cão em desespero,
no lixo, seu banquete, um sonho tão efêmero.
Mas ao me aproximar, tremi de assombro,
o que vi não era fera nem monstro do lodo.
Era um homem, dobrado, retorcido de fome,
o "bicho" era humano, sem nome, sem sobrenome.
Olhos vazios, um grito calado,
pele marcada, um destino estragado.
Vi nos seus gestos o peso do mundo,
um eco que grita num abismo profundo.
Meu Deus, pensei, que ironia tão fria,
a cidade dormia, mas sua dor fervia.
O bicho é um homem, e o homem é o bicho,
um ciclo cruel, um abismo sem nicho.
Voltei ao silêncio, mas nunca esqueci,
do rosto marcado que ali descobri.
Que futuro nos resta, que mundo sem chão,
onde homens viram bichos na escuridão?
Nascer, Crescer e Morrer
No ventre da mãe, o primeiro pulsar,
um sopro divino a nos moldar.
Chegamos ao mundo em frágil chorar,
um início de vida, um mistério a trilhar.
Crescemos aos poucos, em passos lentos,
aprendemos com erros, vivemos momentos.
Dos risos na infância à pressa da idade,
somos ventos que correm na vastidão da verdade.
E o tempo implacável, senhor do destino,
marca nossas faces com traços divinos.
Na juventude, ousamos desafiar,
mas a velhice nos faz refletir e parar.
Morrer... não é o fim, mas um recomeço,
um ciclo eterno, um profundo endereço.
De pó viemos, ao pó voltaremos,
mas o amor que plantamos, jamais perderemos.
Que a vida, tão breve, nos ensine a amar,
a ver cada instante como um doce luar.
Pois somos poeira, viajantes do ser,
no ciclo divino: nascer, crescer e morrer.
Por onde andam as cartas de amor?
Por onde andam as cartas de amor,
Que carregavam em si o calor da espera,
Palavras dançando, feitas à mão,
Tatuadas em papel, uma doce quimera?
Eram versos de saudade e suspiros,
Seladas com beijos, perfume discreto,
Mensageiras do coração aflito,
Que voavam pelo tempo, num afeto completo.
Hoje, o brilho da tela se impõe,
Com frases curtas, instantâneas, sem cor.
O romantismo cedeu, quase se escondeu,
Mas onde está o sabor do escritor?
As cartas guardavam segredos eternos,
Dobras macias, confissões agridoces,
Um mundo que o tempo quis silenciar,
Mas em cada linha, deixavam suas vozes.
Quem sabe um dia voltem a ser
A ponte que une almas distantes.
Pois cartas não morrem, só dormem no peito,
Esperando mãos que as façam vibrantes.
Se hoje pergunto, com dor e fervor,
Por onde andam as cartas de amor?
Talvez estejam, tímidas, nas gavetas,
Ou esperando coragem, em novos poetas.
O Bilhetinho do Amor
Era um rabisco apressado,
Num papel quase esquecido,
Mas trazia o mundo encantado
De um amor correspondido.
"Te espero às seis, no portão",
Ou talvez um "sonhei com você".
Eram frases de quem, com paixão,
Dizia tudo sem muito dizer.
Escondido no bolso da blusa,
Ou entregue com o coração na mão,
O bilhetinho era a prova confusa
De um amor sem complicação.
Hoje trocamos por telas brilhantes,
Mensagens rápidas, frias, banais.
Mas faltam as dobras, os riscos constantes,
Que davam às palavras sentidos reais.
Ah, que volte o papel rasgado,
Com garranchos e cheiro de flor,
Pois nele cabia, dobrado,
Todo o encanto do amor.
Krakatoa, o Rugido do Mundo
Nas águas do Sunda, serena morada,
Repousava a ilha, em sua jornada.
Sob o manto do tempo, adormecia,
Um gigante de fogo, em letargia.
Mas o silêncio, como um trovão, rompeu,
O ventre da terra em fúria cedeu.
Krakatoa ergueu-se em brasas e dor,
Um grito que o mundo jamais apagou.
Céus tingidos de cinzas e fogo voraz,
O dia virou noite, um luto tenaz.
E as ondas, imensas, como muralhas,
Levaram histórias às terras distantes.
Seu eco ressoa além da história,
Guardado nas páginas da memória.
Krakatoa, eterno em sua erupção,
Um lembrete do poder da criação.
Hoje, do silêncio, um novo brotar,
Anak Krakatoa, a vida a se renovar.
Das cinzas renasce, a lição guardada:
A força da terra é indomada.
Krakatoa, a Voz do Abismo
Em mares calmos, sob o azul profundo,
Repousa a fera, em sono a meditar.
Mas seu rugido abala todo o mundo,
O ventre rasga e o fogo vem dançar.
A terra chora em cinzas e tormento,
O céu se cobre em luto, escuro véu.
O dia foge, um grito corta o vento,
A luz se perde, a noite toma o céu.
Das ondas vêm muralhas que consomem,
A vida curva-se ao poder da criação.
Krakatoa, teus ecos nos renomeiam,
Lembrando o homem: frágil é sua mão.
Do magma surge o "Filho" a se erguer,
Das cinzas, nova vida a renascer.
Aço que cansa
Hoje não escrevo.
Durmo sorrindo.
Há um alívio bom
em adiar a dor
porque, por um instante,
a alma está quieta
e inteira.
SETEMBRO (PARABÉNS)
Meu nome é setembro
Permita bater na sua porta.
Trazer boas novas
para me alegrar com você.
Meu nome é setembro
Sorria! Sorria! Sorria!
Cheguei para comemorar
dizer o quanto é sublime
a tua companhia.
Meu nome é setembro
Presentes, flores e amor…
CADÊ O ZÉ?
O Zé não tem café
não tem pão
não tem arroz
não tem feijão
não tem dinheiro
não tem família.
Quem cuida do Zé? Ninguém.
Cadê tu Zé?
Zé cadê tu?
Ah! Minha gente,
o Zé não responde
porque morreu de fome
nos cantos da cidade.
BILHETE PARA A MALDADE
A quem devo amar se já não tenho mais coração.
A quem devo amar se roubaram de mim o amor e a paixão.
Já não tenho ninguém para dá esperança ao meu dia.
Não é que até as lágrimas roubaram de mim
(nossa que mundo cruel).
Peço para a maldade que tenha piedade.
Deixe-me ao menos a morte para consolar minha solidão.
LUTO
Hoje não ouvi os cânticos dos pássaros
nem vi o brilho do sol
os risos se tornaram triste
enquanto o pranto descia pelo rosto.
Sofre silenciosamente o meu
coração em luto
porque você "morreu"
(mesmo estando ainda em vida.)
Estou sempre mudando,
Uma constante evolução
Um tanto frio e homicida
Matando resquícios do tempo
Memórias padecendo intensa e diariamente
A vida cobra, elas morrem.
A menina que toma um gole de felicidade a cada dia, foi ela ... (¹)
Em harmonia com a vida, ela mais que vive . Investe a alma nos proprios pensamentos, e que se dane o resto ...
Ela só quer pensamento ...
Essa menina, que sorri chorando, quase nunca chora, não fala de alegria, não tenta explicar o amor em vão as pessoas surdas deste mundo...
Ela só quer filosofia ..
Essa menina linda, que me alegra com suas ideias estranhas, que não diz que está feliz e nem se mostra triste ...
Ela so quer ideologia !
E essa menina seria apenas mais uma garotinha, com medo de se entregar ao mundo ? Ou estaria tentando nos mostrar que assim como eu e voce, ela é muito mais que uma peça de xadrez neste lugar que ainda chamamos de mundo ...
O homem só será consiente do que faz quando descobrir que os planetas não são descartaveis e como o homem é burro, só vai descobrir quando a seringa já estiver infectada; pelo virus da poluiçao e da destruiçao causada pela nossa própria força ...
... (¹) .. que me embriagou com sua ideias, viciantes ..
Ideias que me inspiram e me faz refletir, muito mais do que eu posso, mais do que eu consigo...
Eu escrevo o que eu quero porque não sou pago pra pensar, posso pensar sem limites que não serei cobrado por nada..
Tem gente que vende ideias aos humanos, humanos que pagam por ideias e tem gente que faz as proprias ideias ...
Nesse caso, não é ruim ser a 3ª opção .
Me conjuguei em você no tempo pretérito imperfeito
Tudo ficou oculto, agora o sujeito está determinado á dar continuidade
Assim pede um novo tempo verbal...
Tanto sentimento me liga a você
O laço do teu abraço unindo nós
Fiz ninho no teu peito por querer
Meu perpétuo amor desamarrado
Como dois passarinhos libertados...
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