Casemiro de Abreu Poemas
E talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e as inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas, e lentamente falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente quebro, e lentamente falho, e lentamente caio cada vez mais fundo e já não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas histórias longas, essas histórias tristes, essas histórias loucas como esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez não viesses e me cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que não acaba nem assim nem agora nem aqui.
Conto para você, porque não sei ser senão pessoal, impudico, e sendo assim preciso te dizer: mudei, embora continue o mesmo. Sei que você compreende.
A nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir mais fundo, de não sentir medo desse mais fundo. Parece difícil de você enxergar que insistir nisso é perda de tempo, é perda de vida em uma causa perdida. Ouça aqui, mocinha. Não fique pensando que o mundo lhe pertence não. Não caia nessa onda. E outra coisa – não se esforce. Pelo menos não tanto, não fique aí remando contra a maré, dando murro em ponta de faca. Veja – se não fora pra ser, não vai ser. Acredite em mim. Coisa boba essa sua tentativa de ir além. E olhe, eu não estou pedindo pra você desistir não, não é isso. Eu só quero que você pense mais, que leia mais. Que tenha argumentos melhores. Você é muito imatura ainda. Cresce!
Hoje estou com uma moleza por dentro, uma coisa que não sei bem explicar como é, parece um imenso tapete de algodão embranquecendo tudo.
Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas.
Tinha desejos violentos, pequenas gulas, ciúmes que doíam, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos. Ouvia canções lamentosas, bebia para despertar fantasmas distraídos, chorava excessivamente, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausto então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos.
- Mas porque gosta "às vezes" dele ainda?
- Por gostar. Me apeguei à ele como nunca me apeguei a ninguém... Prendi e não quis mais soltar.
Suponha que um anjo bata à sua porta. Não se espante: é final de ano e tradicionalmente (...) esta data é propícia ao aparecimento de anjos.
(...)Nessa trajetória também há lagos vermelhos preenchidos com gotas de sangue, todas minhas que derramei quando arranquei meu coração e o trancafiei num baú que só pode ser aberto por meu grande amor desconhecido. Há também o lago transparente, de lágrimas do pranto que chorei agradecendo a mim mesma por não ter colecionado gotas de sangue inimigo no rio vermelho!
Os magnetismos das pessoas cruzam-se e descruzam-se, acho, meio que aleatoriamente, por algum tempo, por nenhum tempo, por muito tempo.
Ele gostava quando ela dizia: “Sabe, nunca tive um papo com outro cara assim que nem tenho com você”.
Me dói não ter podido mostrar minha face. Me dói ter passado tanto tempo atento a ele — quando ele nunca ficou atento a mim.
Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis… Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa… Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim.
Devo esclarecer que, para mim, piscar é uma espécie de vírgula que os olhos fazem quando querem mudar de assunto.
Então a suspeita bruta: não suportamos aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós.
Estou morando, trabalhando, estudando e amando. Esses são os 4 foles da minha vida e sobre cada um deles eu teria milhares de páginas a preencher.
Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes. Mas venha. Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates… Apague minhas interrogações.
Agora, suponho que sim: tanto o filme quanto o poema ou a música falam dessa nossa louca necessidade de ilusão. Porque a imaginação do homem foi feita, acho, para imensamente mais do que aquilo que o cotidiano oferece.
