Carta a um Amigo Especial

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Se ...

Se te sobra um pouquinho de amor, manda-me
em uma carta,
em uma mala,
em um caminhão,
ou somente com o pensamento ...
Que importa como venha?
Porque eu o receberei alegre e o guardarei
em meu trenzinho estragado,
ou dentro do soldado desconhecido,
ou talvez o guarde debaixo de minha almofada ...
Porém não te preocupes que não o tirarei.
Porque sabes o que espero?
Só isso, um pouquinho de amor.

Inserida por irai_morales_carneiro

Carta de um Coração
Hoje acordei sentindo algo estranho e precisando dele, não sei o que esta acontecendo comigo, por isso resolvi escrever esta carta, para que todos conheçam minha história, pode ser que daqui há algum tempo quando alguém á encontrar eu nem esteja batendo mais.
Há tantas coisas nessa vida passageira que eu gostaria de entender, mas quando faço as perguntas a resposta é sempre a mesma: “Isso tudo é culpa sua”, sempre sobra para mim, será porque ¿ Mas é como diz um amigo: há coisas que simplesmente não tem um porque. Eu estava bem, em paz comigo mesmo, em plena sintonia com o resto dos órgãos e de todos os membros até que de repente sinto como se estivesse sendo invadido, como aquilo me incomodava, ainda mais eu tão acostumado a viver sozinho, daí me deparo com tal situação, de fato havia sido invadido, como aquilo era estranho, já não sabia como me portar, como agir, o que achar então, nem se fala e o que sentir afff eram turbilhões de emoções, alegria, medo, raiva, frustração, a principio lutei com todas as minhas forças para me livrar daquilo, mas fui vencido pelo cansaço. Que Agonia!!! O tempo passou e por incrível que pareça começamos a nos dar bem e até passamos a conviver harmoniosamente até que um dia aquilo passou a ser parte de mim, quantas experiências incríveis, quantos momentos inesquecíveis, caramba eu viva nas nuvens parecia sonho e eu tinha muito medo de acordar.
Mas infelizmente um dia eu acordei e ele não estava mais lá, procurei por todos os lados e nada de encontra-lo, pois é, ele tinha ido embora, da mesma forma como havia chegado, achei que não suportaria, como era grande aquela dor, o pior é que eu estava incompleto, literalmente faltava um pedaço de mim, ele tinha levado com ele, porque fez isso ¿ juro que não sei, só sei que achava que jamais recomeçaria novamente. Naquele momento preferia morrer do que seguir pulsando sem ele. Mas havia outras razões pelas quais ainda valiam a pena pulsar . O tempo passou e aqui estou. Querem saber o seu nome¿ Nome daquele que fez todo esse estrago em mim, me tornando alguém frio, insensível, solitário e que levou com ele todos os meus sonhos. Seu nome é AMOR, algo que eu de fato desconhecia.
Mas hoje eu sei que por amor ninguém morre, nem por ele, nem pela falta dele, sigo minha jornada e ainda espero um dia ser feliz de novo. Aliás esperança é algo que tenho e ela nunca morre dentro de mim. Será que algum dia encontrarei respostas para minhas questões internas ¿ Espero ansiosamente que sim e aguardo por esse dia.
Att: Coração

Inserida por jannam

CARTA DE UM BRASILEIRO PARA UM ESPELHO

Eu tento respirar, mas, as toxinas exaladas pelos ventos da corrupção me asfixiam...
Eu gostaria de poder ajudar o meu País...
Mas, a lama me impede de chegar aos confins do bom senso (que não existe) do sistema...
O Povo sofre...
Eu sofro junto...
Eu faço parte do Povo...
Eu sou o Povo...
Já fui obrigado a experimentar todos os pecados capitais, os quais foram empurrados goela abaixo...
Amarguei (e amargurei) o doce sabor do veneno...
Veneno destilado ao bel prazer de um certo Ser...
Um Ser, que se diz ser, Humano...
Deve ser este o motivo da frase "partiu desta para melhor"...
Afinal, o que poderia ser pior?
Falta educação...
Sobra corrupção...
Falta um pouco de tudo...
Falta de tudo um pouco...
Falta vergonha na cara...
Sobra vergonha no bolso do trabalhador...
Falta pouco para o fim...
Mas, o que é o fim para quem vive recomeçando?
Enfim...
Falta amor...
Falta paixão...
Falta, principalmente, união...
É como dizem, o Povo unido jamais será vencido...
E meu Povo está dividido...
E, como me falta educação, eu bem que poderia falar que o Povo está Fud...(interrompemos nossa indignação para comunicar que a Poesia está aqui para nos livrar da tragédia - a rima, acima, fica por conta do sentimento do leitor).

Inserida por GilbertoPBatista

Carta de um filho ilegítimo
Papai, quero começar te pedindo desculpas, minha mamãe fala o tempo todo que eu sou uma benção e mereço todo amor do mundo, mas mesmo assim desculpa por ter vindo dessa forma, eu sei que o senhor já tem seus filhos, a mamãe dos seus filhos e sua família , mas não me odeia desse jeito, eu não tenho culpa. Eu te escrevo essa carta para dizer que também preciso de você, sinto a tristeza da minha mamãe quando ela chora escondida nas noites escuras, eu tento dizer pra ela que vai ficar tudo bem, sei que o amor dela é gigante, mas sei o quanto ela sente falta da tua mão sobre a barriga, ainda pequenininha papai, mas eu estou aqui dentro, ela sente falta não por ela, mas por mim, ela tem medo de não conseguir sozinha, de não dar conta, se sente culpada por estar tão triste e mesmo sabendo que ela é forte, eu também tenho medo de sentir sua falta, quando eu entender os motivos que te fizeram não ligar pra saber se eu estava bem, em não ter se preocupado da mesma forma que se preocupa com seus filhos legítimos, em não sentir o mesmo amor que eu sinto por você, eu entendo que tenha a sua vida, suas obrigações e que o tempo é corrido e meus irmãos precisam de cuidado e atenção, mas não precisa mudar a sua rotina por mim papai, só peço que me ame também, que de vez em quando pergunte pra mamãe como eu estou, diz pra ela que quando eu nascer você vai aprender a me amar só pra ela não se sentir tão cabisbaixa.
Eu não faço por mal, mas de vez em quando eu deixo a mamãe parecendo dodói, ela enjoa, sente dores, tonturas e incômodos, se sente frágil, esses hormônios que eu trago junto com meu crescimento deixam ela bem sensível, e tudo isso sozinha, eu estou com ela mas não posso ajudar quando ela se sente mal, ela conversa muito comigo quando está se sentindo só, diz que vamos ficar bem só nos dois, que ela vai me amar por ela e por você, que seremos melhores amigos e que ela não precisa de você, sei que é da boca pra fora, ela precisa sim, nesse momento tão delicado em que as coisas são tão novas e estranhas, ela se sente insegura e com medo, e isso tudo ela passa pra mim, espero ser forte e saudável, mas ainda assim eu preciso de um papai.
Quero poder realizar o sonho da mamãe de me ver dormindo no seu peito, da minha primeira palavra ser "papai", de torcer pro seu time, de segurar tua mão nos meus primeiros passos, de vestir a camisa "sou do papai", de comer a primeira papinha, ir na escolinha e aprender a andar de bicicleta com você, a mamãe ainda nem sabe se eu vou gostar de pipa ou boneca, rosa ou azul, mas chora quando pensa no meu nome, será que eu vou ter o seu sobrenome papai? Eu espero que sim, espero poder conhecer os meus irmãos e que eles também não me odeiem.
Eu te amo papai, sei que não faz isso tudo pra magoar a mamãe, é só por que ainda não aprendeu a me amar, talvez ainda não tenha caído a ficha de que serei sangue do seu sangue, carne da sua carne, tão seu filho quanto meus irmãos, mas por favor papai, entende logo de uma vez por todas, o tempo passa tão rápido e você está perdendo a magia que é amar alguém sem nunca ter visto seu rosto, se faz presente que cedo ou tarde eu serei o seu maior presente, eu prometo. Posso ser a mistura sua e da mamãe, ou ser a cópia fiel de só um de vocês, mas quero ter o colo dos dois, sentir o cheiro dos dois e reconhecer as suas vozes, conversa comigo enquanto eu ainda estou aqui dentro, canta pra mim, não tenha vergonha de demonstrar quando aprender a me amar, se mantenha perto papai, eu preciso de você.

Inserida por jessica_fernanda_2


Carta de um filho para um pai ausente.

Olha pai como eu cresci forte e saudável sem você.
Olha só como minha mãe cuida bem de mim.
Eu até já sei andar...
E se às vez eu caio, a mão protetora da minha mãe me ajuda a levantar.

Sabe pai? Às vezes eu não durmo direito a noite; tenho febre, sinto dor quando me nascem os dentinhos...
Eminha mãe fica sempre ao meu lado, enquanto você dorme tranquilo sem preocupação nenhuma comigo.

Sabia Pai? Minha mãe parou de comprar muitas coisas pra ela, pra poder me vestir me alimentar, me educar e me comprar brinquedos...tenho muitos brinquedos!

Pai, você nem sabe, amo carrinhos...
Claro que não sabe, e nem pode saber, não faço parte da sua vida e nem da vida da sua família.

Sabe pai? Quando eu for grande vou tentar proteger a minha mãe de gente como você. Mas sou grato, por você ter me dado essa mãe tão batalhadora e maravilhosa que faz tudo pra me ver feliz, egraças a Deus não precisamos de você!

Espero que você esteja bem porque apesar de tudo não te guardo rancor, cada um dá o que tem, e você nada tem ou teve pra me dar.

Espero sinceramente que se sinta feliz por eu não fazer parte dos seus projetos de vida.
E se em algum momento você pensar em pensar em mim, não se preocupe, você me deixou em muito boas mãos.

Eu tenho mãe, a minha mãe tem pai e mãe, eu tenho tio, tenho amiguinhos, tenho madrinhas, padrinho, tenho tanta gente ao meu redor...tenho tanto e muito amor!

Ah, ganhei um Papai e vou ganhar um irmãozinho.

-Sou uma criança muito feliz!

Benício Gabriel Vieira Coutinho
24.10.2023

Inserida por HareditaAngel

CARTA ABERTA AO NOSSO DIA

⁠Por onde começar a falar!? Eu sempre imaginei em encontrar alguém que me completasse, que eu pudesse dividir a minha vida, ter um futuro brilhante, conquistar as nossas coisas de pouco em pouco e que tudo acontecesse devagar e de uma forma especial. Imaginava em encontrar uma pessoa que me trouxesse paz, que me trouxesse conforto e que me aceitasse exatamente como sou.

Aí eu conheci você, e você não era nada disso! Rs😄 Ao invés de paz você trouxe um monte de novidades para minha vida. Ao invés de conforto você trouxe um novo modo de pensar; novos lugares para conhecer. Ao invés de me aceitar como eu sou você me fez descobrir que eu poderia ser muito melhor. Nós somos muito diferentes em várias coisas, mas somos diferentes de um jeito que eu acho perfeito, porque a gente se completa, você é tudo que estava faltando na minha vida e espero sinceramente ser o mesmo pra você.

O normal seria eu dizer agora, nunca mude e continue sendo essa pessoa que amo, mas na verdade eu vou dizer, continue mudando porque assim você continua mudando a minha vida!❤️ Essas palavras descrevem somente 1% de todos esses sentimentos que correm dentro de mim. Sentimentos únicos, verdadeiros, sinceros, singulares e de um jeito que nunca tinha sentido antes.

Agradeço tanto ao meu Deus, por te-la colocado no meu caminho. Obrigado por existir, por ter me escolhido e pela decisão de me escolher todos os nossos dias daqui para frente. Feliz nosso dia, e parabéns pela vida que nos proporciona tudo de bom! Eu amo você ursinho.👰🏻‍♀️🐼😍❤️

Inserida por MariaVih

Carta para as mamães que perderam seus filhos como eu😓💔

Queridas mães,❤️

Hoje venho escrever a vocês com o coração apertado e uma dor que, embora única em cada uma de nós, nos une em um laço invisível de amor e saudade. Sei que este Natal não é como os outros, e que a ausência dos nossos filhos transforma esta época, que deveria ser de alegria, em um momento de lágrimas e um vazio que parece impossível de preencher.

A dor que sentimos é indescritível, e sei que muitas vezes parece insuportável. Há momentos em que tudo o que queremos é desistir, pois a ausência deles parece roubar o ar que respiramos. No entanto, mesmo diante de tamanha escuridão, precisamos acreditar que ainda estamos aqui por um propósito, mesmo que ele nos pareça sem sentido agora.

Nossos filhos, embora fisicamente distantes, continuam presentes em cada batida de nossos corações. Eles vivem em nossas memórias, em nossas histórias, em cada sorriso que ainda conseguimos esboçar. O amor que temos por eles nunca será diminuído, e, de alguma forma, eu acredito que eles ainda nos abraçam de formas que não podemos ver, mas que sentimos em nossos momentos mais difíceis.

Neste Natal, desejo que Deus, em Sua infinita misericórdia, console o coração de cada uma de vocês. Que Ele nos dê forças para enfrentar mais este dia, para suportar mais uma noite, e para continuar caminhando, mesmo com o peso da saudade. Sei que nada será como antes, mas que possamos encontrar em nosso interior uma fagulha de esperança, uma pequena luz que nos guie por entre as sombras da dor.

Que Deus seja justo. Que aqueles que causaram tanto sofrimento sejam responsabilizados, e que a verdade prevaleça. Que neste novo ano que se aproxima, possamos testemunhar, ainda que desacreditadas, o milagre da justiça, pois nossas lutas não serão em vão.

Mães, quero que saibam que não estão sozinhas. Mesmo em meio à dor, há uma força que nos conecta, e é essa força que nos ajuda a continuar, mesmo quando parece impossível. Que neste Natal, entre as lágrimas e a saudade, possamos encontrar um pouco de conforto, mesmo que pequeno, no amor eterno que jamais será apagado.

Com todo meu carinho e solidariedade.

Patrícia Ribeiro dos Santos 💔

Inserida por PattyRibeiro29

“ – Marco Polo, o mundo em que você vive é um teatro. As pessoas freqüentemente representam. Elas se observam o tempo todo, esperando comportamentos previsíveis. Observam gestos, suas roupas, suas palavras. A liberdade é uma utopia. A espontaneidade morreu.
Marco Polo jamais pensou que poderia encontrar sabedoria num maltrapilho. Recordou a primeira aula de anatomia, as palavras preconceituosas do seu professor, da psicóloga e da assistente social. Percebeu como somos superficiais ao julgar pessoas diferentes. Compreendeu a própria superficialidade.”

(O futuro da Humanidade - Página: 28)

Definição de poesia

Um risco maduro de assobio.
O trincar do gelo comprimido.
A noite, a folha sob o granizo.
Rouxinóis num dueto desafio.

Um doce ervilhal abandonado
A dor do universo numa fava.
Fígaro: das estantes e flautas –
Geada no canteiro, tombado.

Tudo o que para a noite releva
Nas funduras da casa de banho,
Trazer para o jardim uma estrela
Nas palmas úmidas, tiritando.

Mormaço: como pranchas na água,
Mais raso. Céu de bétulas, turvo.
Se dirá que as estrelas gargalham,
E no entanto o universo está surdo.

Boris Pasternak
My Sister - Life

O gato e o pássaro

Uma cidade escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da cidade
E foi o único gato da cidade
Que o devorou pela metade
E o pássaro deixa de cantar
E o gato deixa de ronronar
E de lamber o focinho
E a cidade prepara para o pássaro
Funerais maravilhosos
E o gato que foi convidado
Segue o caixãozinho de palha
Em que deitado está o pássaro morto
Levado por uma menina
Que não pára de chorar
Se soubesse que você ia sofrer tanto
Lhe diz o gato
Teria comido ele todinho
E depois teria te dito
Que tinha visto ele voar
Voar até o fim do mundo
Lá onde o longe é tão longe
Que de lá não se volta mais
Você teria sofrido menos
Só tristeza e saudades

É preciso nunca fazer as coisas pela metade.

Fomos contagiados por um vendedor de ideias que nos ensinou a não negar o que somos.
Antes desse contágo, éramos todos "normais", estávamos todos doentes. Queríamos de alguma forma
ser deuses, sem saber que ser deus é andar sobrecarregado, tenso, pesado, com o compromisso neurótico
de ser perfeito, de se preocupar com a imagem social, de dar importância vital para a opnião
alheia, de se cobrar, se punir, exigir. Perdemos a leveza do ser. Parecíamos zumbis engessados pelos nossos
pensamentos estreitos. Fomos educados para trabalhar, crescer, progredir e infelizmente
também para ser especialistas em trair a nossa essência no diminuto parêntese do tempo em que
existimos. Em que fábrica de loucura vivemos?

O caminho do meio

O monge Lucas, acompanhado de um discípulo, atravessava uma aldeia. Um velho perguntou ao asceta:
“Santo homem, como me aproximo de Deus?”
“Divirta-se. Louve o Criador com sua alegria”, foi a resposta.
Os dois continuaram a caminhar. Neste momento, um jovem aproximou-se.
“O que faço para me aproximar de Deus?”
“Não se divirta tanto”, disse Lucas.
Quando o jovem partiu, o discípulo comentou:
“Parece que o senhor não sabe direito se devemos ou não devemos nos divertir”.
“A busca espiritual é uma ponte sem corrimão atravessando um abismo”, respondeu Lucas. “Se alguém está muito perto do lado direito, eu digo ‘para a esquerda! ’ Se aproximam-se do lado esquerdo, eu digo ‘para a direita!’. Os extremos nos afastam do caminho”.

A UM GATO

Não são mais silenciosos os espelhos
Nem mais furtiva a aurora aventureira;
Tu és, sob a lua, essa pantera
que divisam ao longe nossos olhos.
Por obra indecifrável de um decreto
Divino, buscamos-te inutilmente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
É tua a solidão, teu o segredo.
O teu dorso condescende à morosa
Carícia da minha mão. Sem um ruído
Da eternidade que ora é olvido.
Aceitaste o amor desta mão receosa.
Em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.

Quem nos dá as maiores alegrias?
Quem nos faz amargar dores sem remédio?
Quem dá um espirro e nós que ficamos gripados?
Quem, com um soluço, nos faz desmontar em lágrimas?
Com um sorriso, faz o dia mais cinzento brilhar como só num impossível caribe?
Quem mora na nossa cabeça, como um ocupante bem-vindo e eterno?
Quem nos mostra, com todas as letras, que não somos nada, não servimos para nada, além de servir?
Quem, com uma nota baixa, consegue despertar nossa fúria?
Com um biquinho, acaba com nossa marra?
Quem nos criva de preocupações?
Nos rouba noites de sono, por uma palavra não dita, pelo telefone que não toca?
Quem nos faz acordar antes do sol, para que não se perca a hora de dizer, sem falta: presente!?
Quem nos reapresenta à vida e nos faz ver o mundo como se fosse pela primeira vez, de novo?
Quem nos revela nossa velhice e decadência?
Por quem seríamos capazes de morrer?
E ainda assim, quem nos faz imortais?

Um cara difícil exige uma paciência oceânica.
Ele vai ser romântico e muito bruto. Ele vai ser generoso e muito casca-grossa. Ele vai dizer a verdade e vai mentir às vezes. Ele vai fazê-la se sentir uma eleita entre todas e depois vai dar
mole para muitas. Ele vai implicar com as mínimas coisas, e com as grandes também. Ele vai exibir qualidades que você nem sabia que um homem poderia ter, e em troca vai abusar de todos os defeitos que você sabia que todo homem tinha. Ele vai ser ótimo na cama. Vai ser um perigo dirigindo um carro. Vai ser gentil com sua mãe. Vai ser um brucutu com a mãe dele. Ele mudará de humor a cada 20 minutos, ele vai brigar por nada, vai beijá-la demoradamente por horas e, com essa bipolaridade bem ou mal disfarçada, ele a deixará tão tonta e exausta que você pensará que foi atropelada por um trem descarrilhado. – Quem sou eu? – será sua primeira pergunta ao acordar sobre os trilhos.
No primeiro encontro, pergunte: – Você é um homem difícil? Se ele responder que é, procure imediatamente um psicanalista. Para você, santa.

TEU CORPO

O teu corpo muda
Independente de ti
não te pergunta
se deve engordar.

É um ser estranho
que tem o teu rosto
ri em teu riso
e goza com teu sexo.
Lhe dás de comer
e ele fica quieto.
Penteias-lhe os cabelos
como se fossem teus.

Num relance, achas
que apenas estás
nesse corpo.
Mas como, se nele
nasceste e sem ele
não és?

Ao que tudo indica
tu és esse corpo
-que a cada dia
mais difere de ti.

E até já tens medo
De olhar no espelho:
Lento como nuvem
o rosto que eras
vai virando outro.

E a erupção no queixo?
Vai sumir? Alastrar-se
feito impingem, câncer?
Poderás detê-la
com Dermobenzol?
Ou terás que chamar
o corpo de bombeiros?

Tocas o joelho:
Tu és esse osso.
Olhas a mão.
A forma sentada
de bruços na mesa
és tu.

Mas quem morre?
Quem diz ao teu corpo – morre –
quem diz a ele – envelhece –
se não o desejas,
se queres continuar vivo e jovem
por infinitas manhãs?

Jardins

Comecei a gostar dos livros mesmo antes de saber ler. Descobri que os livros eram um tapete mágico que me levavam instantaneamente a viajar pelo mundo... Lendo, eu deixava de ser o menino pobre que era e me tornava um outro. Eu me vejo assentado no chão, num dos quartos do sobradão do meu avô. Via figuras. Era um livro, folhas de tecido vermelho. Nas suas páginas alguém colara gravuras, recortadas de revistas. Não sei quem o fez. Só sei que quem o fez amava as crianças. Eu passava horas vendo as figuras e não me cansava de vê-las de novo. Um outro livro que me encantava era o “Jeca Tatu“, do Monteiro Lobato. Começava assim: “Jeca Tatu era um pobre caboclo...“ De tanto ouvir a estória lida para mim, acabei por sabê-lo de cor. “De cor“: no coração. Aquilo que o coração ama não é jamais esquecido. E eu o “lia“ para minha tia Mema, que estava doente, presa numa cadeira de balanço. Ela ria o seu sorriso suave, ouvindo minha leitura. Um outro livro que eu amava pertencera à minha mãe criança. Era um livro muito velho. Façam as contas: minha mãe nasceu em 1896... Na capa havia um menino e uma menina que brincavam com o globo terrestre. Era um livro que me fazia viajar por países e povos distantes e estranhos. Gravuras apenas. Esquimós, em suas roupas de couro, dando tiros para o ar, saudando o fim do seu longo inverno. Embaixo, a explicação: “Onde os esquimós vivem a noite é muito longa; dura seis meses.“ Um crocodilo, bocarra enorme aberta, com seus dente pontiagudos, e um negro se arrastando em sua direção, tendo na mão direita um pau com duas pontas afiadas. O que ele queria era introduzir o pau na boca do crocodilo, sem que ele se desse conta. Quando o crocodilo fechasse a boca estaria fisgado e haveria festa e comedoria! Na gravura dedicada aos Estados Unidos havia um edifício, com a explicação assombrosa: “Nos Estados Unidos há casas com 10 andares...“ Mas a gravura que mais mexia comigo representava um menino e uma menina brincando de fazer um jardim. Na verdade, era mais que um jardim. Era um mini-cenário. Haviam feito montanhas de terra e pedra. Entre as montanhas, um lago cuja água, transbordando, se transformava num riachinho. E, às suas margens, o menino e a menina haviam plantado uma floresta de pequenas plantas e musgos. A menina enchia o lago com um regador. Eu não me contentava em ver o jardim: largava o livro e ia para a horta, com a idéia de plantar um jardim parecido. E assim passava toda uma tarde, fazendo o meu jardim e usando galhos de hortelã como as árvores da floresta... Onde foi parar o livro da minha mãe? Não sei. Também não importa. Ele continua aberto dentro de mim.

Bachelard se refere aos “sonhos fundamentais“ da alma. “Sonhos fundamentais“: o que é isso? É simples. Há sonhos que nascem dos eventos fortuitos, peculiares a cada pessoa. Esses sonhos são só delas: sonhos acidentais, individuais. Mas há certos sonhos que moram na alma de todas as pessoas. Jung deu a esses sonhos universais o nome de “arquétipos“. Esses são os sonhos fundamentais. O fato de termos, todos, os mesmos sonhos fundamentais, cria a possibilidade de “comunhão“. Ao compartilhar os mesmos sonhos descobrimo-nos irmãos. Um desses sonhos fundamentais é um “jardim“.

Faz de contas que a sua alma é um útero. Ela está grávida. Dentro dela há um feto que quer nascer. Esse feto que quer nascer é o seu sonho. Quem engravidou a sua alma eu não sei. Acho que foi um ser de um outro mundo... Imagino que o tal de “Big-Bang“ a que se referem os astrônomos foi Deus ejaculando seu grande sonho e soltando pelo vazio milhões, bilhões, trilhões de sementes. Em cada uma delas estava o sonho fundamental de Deus: um jardim, um Paraíso... Assim, sua alma está grávida com o sonho fundamental de Deus...

Mas toda semente quer brotar, todo feto quer nascer, todo sonho quer se realizar. Sementes que não nascem, fetos que são abortados, sonhos que não são realizados, se transformam em demônios dentro da alma. E ficam a nos atormentar. Aquelas tristezas, aquelas depressões, aquelas irritações - vez por outra elas tomam conta de você – aposto que são o sonho de jardim que está dentro e não consegue nascer. Deus não tem muita paciência com pessoas que não gostam de jardins...

Menino, os jardins eram o lugar de minha maior felicidade. Dentro da casa os adultos estavam sempre vigiando: “Não mexa aí, não faça isso, não faça aquilo...“ O Paraíso foi perdido quando Adão e Eva começaram a se vigiar. O inferno começa no olhar do outro que pede que eu preste contas. E como as crianças são seres paradisíacos, eu fugia para o jardim. Lá eu estava longe dos adultos. Eu podia ser eu mesmo. O jardim era o espaço da minha liberdade. O jardim era o espaço da minha liberdade. As árvores eram minhas melhores amigas. A pitangueira, com seus frutinhos sem vergonha. Meu primeiro furto foi o furto de uma pitanga: “furto“ – “fruto“ – é só trocar uma letra.... Até mesmo inventei uma maquineta de roubar pitangas... Havia uma jabuticabeira que eu considerava minha, em especial. Fiz um rego à sua volta para que ela bebesse água todo dia. Jabuticabeiras regadas sempre florescem e frutificam várias vezes por ano. Na ocasião da florada era uma festa. O perfume das suas flores brancas é inesquecível. E vinham milhares de abelhas. No pé de nêspera eu fiz um balanço. Já disse que balançar é o melhor remédio para depressão. Quem balança vira criança de novo. Razão por que eu acho um crime que, nas praças públicas, só haja balancinhos para crianças pequenas. Há de haver balanços grandes para os grandes! Já imaginaram o pai e a mãe, o avô e a avó, balançando? Riram? Absurdo? Entendo. Vocês estão velhos. Têm medo do ridículo. Seu sonho fundamental está enterrado debaixo do cimento. Eu já sou avô e me rejuvenesço balançando até tocar a ponta do pé na folha do caquizeiro onde meu balanço está amarrado!

Crescido, os jardins começaram a ter para mim um sentido poético e espiritual. Percebi que a Bíblia Sagrada é um livro construído em torno de um jardim. Deus se cansou da imensidão dos céus e sonhou... Sonhou com um ... jardim. Se ele – ou ela – estivesse feliz lá no céu, ele ou ela não teria se dado ao trabalho de plantar um jardim. A gente só cria quando aquilo que se tem não corresponde ao sonho. Todo ato de criação tem por objetivo realizar um sonho. E quando o sonho se realiza, vem a experiência de alegria. Nos textos de Gênesis está dito que, ao término do seu trabalho, Deus viu que tudo “era muito bom.“ O mais alto sonho de Deus é um jardim. Essa é a razão porque no Paraíso não havia templos e altares. Para que? “Deus andava pelo meio do jardim...“ Gostaria de saber quem foi a pessoa que teve a idéia de que Deus mora dentro de quatro paredes! Um coisa eu garanto: não foi idéia dele. Seria bonito se as religiões, ao invés de gastar dinheiro construindo templos e catedrais, usassem esse mesmo dinheiro para fazer jardins onde, evidentemente, crianças, adultos e velhos poderiam balançar e tocar os pés nas folhas das árvores. Ninguém jamais viu a Deus. Um jardim é o seu rosto sorridente... E se vocês lerem as visões dos profetas, verão que o Messias é jardineiro: vai plantar de novo o Paraíso: nascerão regatos nos desertos, nos lugares ermos crescerão a murta (perfumada!), as oliveiras, as videiras, as figueiras, os pés de romã, as palmeiras... E lá, à sombra das árvores, acontecerá o amor... Leia o livro dos “Cânticos dos Cânticos“!

Pensei, então, que o ato de plantar uma árvore é um anúncio de esperança. Especialmente se for uma árvore de crescimento lento. E isso porque, sendo lento o seu crescimento, eu a plantarei sabendo que nem vou comer dos seus frutos e nem vou me assentar à sua sombra.... Eu a plantarei pensando naqueles que comerão dos seus frutos e se assentarão à sua sombra. E isso bastará para me trazer felicidade!

O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Seu olho exagera o azul.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir…
Que se sonhasse a chorar…

Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca… um lamento…

Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte

Despedaçar esses laços!…
…É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços

Eis o homem sentado à mesa
Diante da folha branca.
Um longo, longo caminho,
Da vida para a palavra.
Decantação, purificação
Para chegar ao pássaro.

O homem que está à mesa
Atravessou muitos desertos
Virou do avesso a certeza
Naufragou nos mares do sul.

Entre ditongo e ditongo
Para chegar ao pássaro
Tu próprio terás de ser
Cada vez mais substantivo.

Irás de sílaba em sílaba
Ferido por sete espadas
Diante da folha branca
Serás fome e serás sede
Como o homem que está à mesa,

O homem tão despojado
Que a si mesmo se transforma
No pássaro que busca a forma.

Este é tempo do homem
perdido na multidão
Como ser desintegrado
Na folha branca da cidade.

Tempo do homem sentado
À mesa da solidão.

Há palavras como asas,
outras mais como raízes

O pássaro voa por dentro
Do homem sentado à mesa.
Vai de fonema em fonema
Sobre as cordas dos sentidos.

Se vires o homem que passa
Como se fosse no ar
Já sabes: é o homem que está
Diante da folha branca.

Às vezes levanta vôo
Para outro espaço, outro azul
E deixa dentro das sílabas
Um rastro como de sul.

Quando recordas,
Quando a tristeza
toca demais as cordas do coração

Quando um ritmo começa
Dentro das palavras,

Um sapateado inconfundível
(Malagueña, malagueña!)
E a folha branca é uma Espanha
Para cantar, para dançar
Para morrer entre sol e sombra
Às cinco em sangue...

Então verás chegar
O homem sentado à mesa
Às cinco en sombra de la tarde
Malagueña, Malagueña!
Diante da folha branca
Como por terras de Espanha.

Nos descampados deste tempo
Nos aeroportos auto-estradas
Nos anúncios sob as pontes
Talvez no marco geodésico

No fumo do lixo ardendo
No cheiro do alcatrão
Nos dejectos de lata e plástico
Nos jornais amarrotados
Nas barracas sobre a encosta
Na estrutura de betão
Sobre o gasóleo e a tristeza
Sobre a grande poluição
Onde nem folha ou erva cresce

Seco, duro, estéril tempo
Diante da folha branca
Da solidão suburbana
Onde a multidão se perde
Entre tristeza e tristeza

Às vezes um coração:
Talvez um pássaro verde
Ou talvez só a canção
Do homem sentado à mesa

O homem que está à mesa
Tem qualquer coisa que escapa
Qualquer coisa que o faz ser
Ausente quando presente

Às vezes como de mar
Às vezes como de sul

Um certo modo de olhar
Como atravessando as coisas
Um certo jeito de quem
Está sempre para partir.

O homem sentado à mesa
Não está sentado: caminha
Navega por sobre os mares
Ou por dentro de si mesmo.

Vem de longe para longe
Do passado para agora
De agora para amanhã
Está no avesso da hora!

Solta o pássaro, não pára,
Tem outro espaço, outro azul
Às vezes como de mar
Às vezes como de azul

E não se tem a certeza se está do lado de cá
Ou se está do outro lado, deste lado onde não está.
Mesmo se sentado à mesa
Não é possível detê-lo
O homem que tem um pássaro
É sempre um homem que passa.

Tem qualquer coisa que nem se sabe
O quê nem de quem

É talvez um mais além
Algo que sobe e que voa
Entre o Aqui e o Ali
Algo que não se perdoa
Ao homem quando ele tem
Um pássaro dentro de si...

Há um tocador a tocar
As harpas de cada sílaba

Diante da folha branca
Tudo é guitarra e surpresa.

Escutai o pássaro e o canto
Do homem sentado à mesa!

✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.

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